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Eu sei que estou um pouco acima da velocidade permitida. Contudo, se não o fizer, com certeza vou me atrasar e tudo o que não desejo é esse imprevisto. No entanto, se eu conseguir uma multa, envio a conta para Noah.
Num cruzamento, praticamente deserto, por ser em uma das saídas da cidade, a contagem para que o sinal vermelho se abre e é de cerca de vinte segundos. Tomando a decisão mais idiota possível, acelero um pouco mais.
Do nada, uma moto enorme surge à minha frente. Com um grito de pânico, afundo o pé no freio. Porém, a batida é inevitável.
Depois do cantar dos pneus e do estrondo de metal se chocando, o silêncio. Demoro um pouco para conseguir reagir. As mãos sobre a boca, os olhos arregalados:
- Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Eu o matei! - balbucio apavorada, observando o corpo de um homem grande jogado no asfalto.
Então ele se move e logo está de pé, limpando... o terno?
Só então sinto forças suficientes nas pernas para descer do carro, mesmo que esteja caminhando como uma galinha-cega sobre aqueles saltos:
- Você está bem? - grito, minha voz esganiçada.
- Não graças a você... - o homem começa, retirando os óculo estilo aviador, ainda cuidando de limpar a roupa.
Então se cala ao me fitar.
- Wow! - Ele estaca.
Ainda muito nervosa pelo acontecido, não percebo que sou examinada com minúcia.
- Você não está ferido? - aproximo-me, com cuidado, observando a moto caída no chão.
Não noto a demora da resposta do sujeito, que, após um minuto, sacode a cabeça, volta lentamente a alisar a roupa, sem deixar de me encarar:
- Estou bem, princesa. Sou duro na queda!
Só então de fato olho para o homem. Ele é alto. Pele morena... Um corte de cabelo diferente... As laterais são bem baixas, quase raspadas, mas é comprido no topo da cabeça, caindo por seu rosto. E que rosto! Anguloso, o queixo coberto por uma barba aparada, lábios bem desenhados, nariz proeminente e afilado. Sobrancelhas grossas e arqueadas sobre olhos claros.
"Que. Homem" penso comigo mesma.
Examino suas vestimentas. O terno sob medida que usa em nada combina com a moto de guidom alto caída no chão. A gravata borboleta, solta no colarinho, lhe confere um ar displicente.
Após um momento em que nos encaramos mutuamente, ele parece se dar conta da máquina caída frente ao carro:
- Minha moto! - exclama antes de correr até ela, não tendo de fazer muito esforço para colocá-la de pé e a examinando com cuidado.
Àquela altura, muitas pessoas já nos rodeiam, curiosos. Saindo da bolha em que estava ao admirá-lo, também vou examinar os danos no meu carro:
- O que você pensa que estava fazendo, correndo daquele jeito? Eu poderia ter te matado! Droga! - grunho ao notar o amassado na frente do conversível.
- Ah, sim! - Ele é irônico. - Somente eu estava correndo, certo?
- O sinal estava aberto para mim...
- Por questões de segundos, não?
- Ok! Eu concordo! Devia ter parado, assim como você! Os dois estamos errados, está bem? - Eu paro ao lado dele, que abaixado, ainda verifica a moto. - Tem certeza de que não se feriu? Eu posso te levar a um hospital...
- Estou bem, loirinha. Não se preocupe! Merda! - Ouço o homem balbuciar, notando riscos na pintura da moto.
- Eu vou pagar pelos danos. - ofereço. - Fique com meu cartão. - Corro até meu carro, pego a pequena bolsa de mão e logo volto até ele. Estou me sentindo culpada. Bom, sou culpada, certo?
Já montado na impressionante moto, ele olha para minha mão estendida e então para meu rosto. Agora está examinando meu vestido:
- Eu acho que você devia processar o estilista que fez esse vestido. - zomba. - Você tem um corpo que... - me admira novamente, detendo-se em meus seios que quase saltam do decote - uau! Mas, esse vestido... - ele não conclui e ri, jogando a cabeça de lado.
Bufo, reviro os olhos e tento ajeitar o decote:
- Você vai ficar com a droga do cartão ou não? - insisto.
Com um sorriso lascivo na boca bem-feita e com gestos econômicos, o sujeito estende a mão e recolhe o cartão:
- É claro que vou, princesa. Acha que perderia a oportunidade de ter seu telefone? - acrescenta rapidamente, meneando a cabeça em negação. - Mesmo que tenha tentado me matar.
- Argh! - finjo um arrepio e meus olhos voam para o relógio delicado em meu pulso. - Ah, merda! - Erguendo a saia, expondo boa porção das coxas, disparo rumo a meu carro.
O cara não perde a oportunidade de examinar minhas pernas. Então, também examina seu relógio, balbucia outro palavrão e liga a moto, partindo a toda velocidade.
Faço o mesmo. Que sujeito... estranho!
Quando chego à porta do imenso salão de festas a coordenadora de casamentos quase desmaia de alívio:
- Tate, por Deus! Onde é que você estava? Devia ter chegado à meia hora atrás!
- Estou aqui agora, Mace! Vamos seguir, OK?
- Ah, sim! Eu o faria, se o padrinho não tivesse decidido se atrasar também!
Franzo o cenho. Aquele padrinho é um mistério. Sei que é um amigo de Noah, mas, ele não apareceu em nenhum dos ensaios do casamento. Mace inquiria, preocupada, se ele saberia o que fazer, quando e se aparecesse. O noivo dizia que sim e que eu poderia orientá-lo, já que será meu par. Sem entrar em detalhes, Noah afirmava que o amigo era muito ocupado por isso só poderia estar ali para a cerimônia.
Enquanto retoco o batom ali mesmo, na porta do salão, me pergunto de novo, o que tenho na cabeça por aceitar o pedido do meu ex. Merda! Só pode! Quis mostrar a ele que o havia superado e aceitei o convite que, no primeiro momento, considerei uma afronta. Então, com calma, conclui que era, na verdade um teste. Meu ex estava se casando com outra, mas queria afirmar que ainda tinha poder sobre mim. Por essa razão, lhe enderecei um largo sorriso e entoei um musical sim. Para desgosto de Esther, que, ao lado do noivo, de quem não largava por um segundo sequer, desfez seu semblante confiante diante da resposta dada. Me senti vitoriosa e superior naquele instante. Fiz questão de dar um abraço apertado nos dois, dizendo o quanto estava feliz por eles. Porém, no momento atual, sinto-me ridícula, incomodada e furiosa. Para piorar, tenho de ignorar os olhares curiosos que me são lançados.