Capítulo 3 Esse cara Capítulo 3º Tate

Se não fosse pelo desespero que notei em Mace, falando como louca pelo telefone bluetooth em seu ouvido, giraria em meu eixo, entraria em meu avariado carrinho e fugiria para a segurança de meu apartamento. Seriam pelo menos de duas a três horas de tormento a menos.

Então, primeiro ouvi o som rouco. Até que, pelo minúsculo espelho que usava para retocar o batom, noto quando a moto de guidom alto estaciona em frente às escadas do salão.

- Não! - murmuro involuntariamente, meus braços caindo inertes junto a meu corpo, enquanto me viro.

Assim, como todos os que estão parados junto a entrada, observo o sujeito que acabei de atropelar descer da moto, despindo o capacete, os óculos de aviador, com seu jeito arrogante.

Não! Não! Não!

Ele não pode ser quem eu penso que é! Esse cara não pode ser o padrinho, aquele que estará ao meu lado a noite toda!

Minhas esperanças se acabam quando Mace desce os degraus rapidamente, dirigindo-se ao sujeito:

- Elliott? - pergunta, afobada. - Dominic Elliott?

- O próprio, senhorita! - O sorriso dele... tem algo que faz as minhas entranhas se contraírem.

- Pai eterno! - a garota agradece aos céus, as mãos erguidas. - Eu pensei que você não apareceria mais.

- Estou aqui! É só me dizer o que fazer.

- OK. Venha comigo. - Ela o agarra pelo braço, praticamente o tirando da moto. - Alguém tire esse trambolho da entrada! - Aponta o veículo. - Agora!

Já conformada com minha má sorte, troço os lábios à espera dele. É a primeira vez que acredito em carma.

O homem parece se divertir, enquanto é arrastado e tentando ajeitar sua gravata. Então seu olhar pousa sobre mim, fazendo com que o sorriso se alargue ainda mais.

Dom

Prometi a mim mesmo que tentaria me divertir naquela cerimônia, ainda que não fosse meu tipo de festa preferido. No entanto, não contava encontrar aquela garota novamente. Esse já é um sinal promissor.

Ainda estou atordoado pelo choque, de quando ela me atropelou, mas acho que o maior impacto foi recebido assim que meus olhos pousaram na garota pálida como uma folha de papel diante de mim. Era muito bonita! Enquanto os olhos dela passeavam por meu corpo, talvez procurando um ferimento, eu tive de baixar minha cabeça para poder absorver a beleza de seu rosto. Mesmo sob a maquiagem carregada, olhos bem marcados e batom rosa na boca carnuda e muito bem desenhada, pude notar seus traços delicados. E que corpo aquela preciosidade tinha! O vestido de festa que a cobria... ou mais ou menos, pois os seios pequenos quase saltavam pelo decote, era estranho. Porém, moldavam um corpinho delicioso. O traseiro dela estava muito bem naquele tecido colado. Ela tinha hipnotizantes olhos azuis, quase cinzas. Os cabelos dourados lhe emoldurando a face. Sim, reencontrá-la é muito bom!

- Eu não tenho tempo para orientá-lo agora, senhor Elliott - volto a atenção para o que a cerimonialista diz de forma apressada -, mas a Tate aqui pode fazê-lo, certo? - Seu pedido beira a súplica.

Tate

Forçando um sorriso, assinto:

- Claro, Mace! Deixe o cara comigo.

- Graças a Deus! Você salvou minha vida! - Mace agarra meus braços me leva para um breve abraçado, antes de sair gritando orientações pelo corredor do salão.

Se aproximando, o homem sorri de canto de lábios. É com grande desconforto, que percebo que esse sorriso faz meu estômago gelar...

- Ora, ora, ora! Se o mundo realmente não é pequeno!

- E cruel, eu diria! - resmungo, cruzando os braços e meneando a cabeça levemente, ainda inconformada com minha má sorte.

A nossa volta, reparo que sou a única descontente com a presença do homem que tenta abotoar o colarinho, os cabelos em desalinho caídos por sua face. As damas de honra estão alvoroçadas, acotovelando-se e sussurrando, admirando o recém-chegado. Meus olhos giram em suas órbitas.

- Será que você poderia? - Ele se aproxima, parando bem perto de mim, apontando a gravata ainda solta. - Já faz muito tempo que usei uma dessas. Definitivamente, não levo jeito com essas coisas!

Sou pega de surpresa com a proximidade dele. Tenho de erguer a cabeça para encará-lo. É nesse momento que o cheiro másculo me atinge. Amadeirado. Forte. Tão... sexy.

Como fico parada diante dele, encarando seu pescoço, ele curva a cabeça de lado, arqueando as sobrancelhas, como quem pergunta o que há de errado.

Contendo a vontade de bater o pé, agarro o colarinho, puxando com um pouco mais de força que o necessário. Logicamente, ouço uma reclamação:

- Hey, princesa! Já me atropelou, agora vai querer me enforcar?

Um sorriso diabólico cruza meus lábios:

- Não me dê ideias!

Dom

Aproveito para examinar uma vez mais o rosto delicado. Ela morde os lábios sedutores e tem uma expressão compenetrada nos olhos azuis. Sua respiração um pouco entrecortada. Sim, ela se faz de brava, mas minha proximidade a incomoda. Isso é muito, muito bom.

Tate

Enquanto brigo com os dois minúsculos botões, porque meus dedos estão subitamente trêmulos, noto que o homem retirou um pequeno elástico preto do bolso. Então ergue os longos braços, juntando os cabelos no topo da cabeça, com as mãos. Quando concluo o laço da gravata, observo que agora ele tem um discreto rabo de cavalo.

Tenho de me conter a muito para não ficar como as demais mulheres do lugar, embasbacada com a figura do homem.

Ele correu a mão pela gravata e ajeita as mangas da camisa embaixo do terno preto. Nesse meio tempo, endereça um sorriso e um cumprimento para as demais garotas à volta. De repente estende o braço para que eu apoie o meu.

Aceito a oferta, a contragosto e me posiciono onde fui instruída para ficar.

- Dominic Elliott, a propósito - ele murmura, curvando-se para mim.

- O que? Ah, sim... Tate Sullivan.

- Tate... - repete baixinho. O som de meu nome na boca dele... por que me causou arrepios? - Posso te fazer uma pergunta, Tate?

- Desconfio que mesmo se a resposta for não, você ainda vai perguntar, certo?

- Certo. Por que só você está com esse vestido ridículo?

Nem me dou ao trabalho de protestar:

- Será que é porque a noiva me odeia?

Sem se importar em chamar a atenção, ele gargalha alto, jogando a cabeça para trás. Uma espécie de formigamento corre pelo meu baixo ventre e pelas minhas entranhas. Isso me deixa alarmada... confusa. Faz tempo que não sinto algo similar. Algo que ocorria no começo do meu namoro com Noah...

- Eu já desconfiava disso!

            
            

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