Capítulo 4 Esse cara Capítulo 4º Tate

Do que mesmo ele está falando? Por um segundo, fico desorientada. Ah, sim. O vestido. A noiva.

- Longa história! Esqueça. Lá vamos nós! - sussurro quando Mace começa a nos instruir ao início da cerimônia. - Por favor, não me envergonhe! - imploro. - Minha intenção é passar despercebida essa noite.

Dessa vez ele ri baixinho, correndo uma mão pelos lábios e então queixo, enquanto me examina:

- Isso será impossível, com esses seus pei... com esse vestido.

Deixo um suspiro exasperado escapar e tento, pela enésima vez ajeitar o decote do maldito vestido.

Enquanto caminhamos pelo longo corredor, meus olhos admiram a beleza e leveza da decoração. Mace é a melhor! Tudo está tão lindo! Parece um conto de fadas. E pensar que fui eu quem a descobri e contratei para organizar meu casamento! E foi muito difícil conseguir uma data, já que a empresa dela é muito concorrida. Quando tive de cancelar, Esther e Noah ofereceram à organizadora uma verdadeira fortuna para os aceitar em meu lugar. Irônico, muito irônico.

Tudo o que está aqui, até mesmo a cor escolhida, é a mesma que eu usaria em minha cerimônia. A cadela de Esther não se contentou somente em me roubar o noivo, mas roubou também minha ideia para a decoração. Vadia!

Odeio o nó que se forma em minha garganta. Não posso deixar a tristeza me invadir nesse momento.

Então avisto Noah no altar. Inferno! Merda! Maldição! Inferno mil vezes! Por que ele tem de estar tão quente naquele smoking? E por que me encara como se eu fosse a noiva? Pervertido! Safado! Idiota!

Se tudo aquilo me foi roubado, não foi sem a colaboração do idiota parado a poucos metros de mim.

Sentindo toda essa mágoa me tomar, não retribuo o sorriso que ele me endereça, desviando meu olhar, erguendo o queixo apertando mais o braço de Dominic, que me encara por um instante.

O observo franzir o cenho, como quem pergunta o que há de errado e eu apenas meneio a cabeça em resposta.

Dominic cumprimenta o amigo com um caloroso abraço e tapinhas nas costas. Esquivo-me como posso, contornando por trás de meu acompanhante. Não darei a Noah o prazer de notar meu estado de ânimo. Ao menos tenho comigo o orgulho de ter terminado com ele, que havia me implorado que não o fizesse. Jurou-me amor, caiu de joelhos e até mesmo chorou. Nunca contei que descobri sua traição. Disse apenas que estava colocando um fim ao relacionamento porque já não o amava mais. Noah pareceu chocado. Realmente não esperava por aquilo. Também não aceitou com facilidade, procurando-me insistentemente, ligando o tempo todo. Isso até se descobrir a gravidez de Esther, que, por coincidência, é filha do patrão dele, num dos mais renomados escritórios de advocacia de San Francisco, Califórnia. Então o casamento foi organizado às pressas e aqui estamos nós. A notícia chocou muitos no meio em que vivemos. Não fiz um único comentário a respeito. Não queria me ver envolvida ainda mais naquela situação.

Assim que paramos no lugar que devemos ocupar, ao lado do padrinho no altar, Dominic tratou de resgatar-me o braço, o levando de volta para a curva do seu. Pode ser impressão minha, mas minha proximidade com ele parece incomodar meu ex. que não consegue evitar de nos encarar, inclusive detendo seus olhos nos nossos braços.

Continuo a ignorá-lo.

- Juro que não entendo por que se submetem a isso - Dominic sussurra a certa altura.

- Do que fala?

- De todo esse circo. Meses de planejamento, ansiedade... ficar no altar, exposto a todos, à espera de uma mulher...

- A espera de uma mulher? - murmuro, incrédula. - Se supõem que ela seria aquela com quem você vai passar o resto da vida... Não que esse vá ser o caso aqui! - acrescento, cáustica, mais baixinho, para mim mesma...

... só não contava que ele fosse ouvir:

- Então acha que esse casamento não vai durar? - Seu tom é divertido.

Como não tenho mais como voltar atrás, concluo:

- Eu tenho certeza disso! Uma relação que começa errada, tende a terminar errada! - A amargura deve ter escapado em meu tom, pois ele não responde de pronto.

- Outra razão para que tudo isso seja considerado desperdício.

Curvo a cabeça de lado, ponderando um pouco:

- Não se há amor. Se existe o sentimento, tudo é válido...

- Mesmo todo esse circo?

Suspiro. Merda, aquele devia ser o meu circo...

- Sim, até isso... - Nesse momento, meu olhar cruza com o de Noah e fico preso.

Tantas lembranças me vêm à mente. Antes de sermos namorados, amantes, éramos amigos, cúmplices. Ao menos era no que eu acreditava, até Melissa me mostrar uma série de fotos dele aos beijos com Esther dentro de um carro.

Limpando a garganta, Dominic chama minha a atenção, parecendo incomodado:

- Isso foi... bem estranho.

- Apenas ignore...

- E pensar que quase passei por tudo isso!

- Você já foi noivo de alguém? - Foi minha exclamação incrédula.

Dom bufa um riso, fingindo-se de ofendido:

- Fala como se me ter como noivo fosse uma maldição!

- Não é isso. É só que não imagino você em um compromisso desse tipo.

- Pois é, não caio mais nessa! Por sorte, saí fora a tempo... - Aquela última declaração dele soou amarga, mas preferi não comentar.

Então a marcha nupcial começa a soar. Logo a noiva aponta na entrada do salão. Todos se colocam de pé e a minha vontade de desaparecer aumenta ainda mais.

Para meu desgosto, Esther está linda. Como é muito magra, a barriga de quase quatro meses de gestação ainda não aparece, mesmo no vestido justo, imaculadamente branco e adornado de pequenos cristais. Flores naturais enfeitam seus cabelos loiros. O sorriso largo em sua boca diz que está feliz. O que só me faz ter de conter o ímpeto de correr até ela, agarrá-la pelas madeixas claras e os arrancar de sua cabeça.

Noah fica inquieto, a respiração irregular, os dedos coçando o pescoço sob o colarinho.

- É impressão minha ou o noivo parece louco para fugir do próprio casamento? - Dominic sussurra ao meu ouvido, seu tom divertido.

Não posso evitar que um largo sorriso se espalhasse por minha face. É, ao que tudo indica, nem tudo são flores por aqui.

            
            

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