Capítulo 10 A Consequência de se distrair

Dizem que praticar boas ações traz bons retornos, o que nunca aconteceu para Nina até aquele dia.

Quando ouviu o grito da mulher do outro lado da rua e viu aquele homem caído no chão, morrendo de dor e pedindo ajuda, lembrou-se do olhar sofrido de seu irmão doente. Foi essa imagem que a comoveu, pois ela sabia que o máximo que poderia fazer por ele seria chamar ajuda.

Mesmo que ela perdesse a segunda entrevista de emprego, ver o sorriso aliviado daquele homem fez tudo valer a pena.

Ela decidiu ficar e acompanhá-lo até que algum familiar do homem procurasse por ele. Como o celular dele estava sem bateria, ele pediu que ela usasse o dela para pedir que algum familiar viesse buscá-lo. Foi assim que descobri que ele não era um homem qualquer, mas sim um empresário: dono de um hotel. Mas a grande surpresa foi quando o parente do homem ferido chegou, era exatamente o entrevistador que ela deveria ter encontrado naquela tarde. Naquele momento ela finalmente entendeu que o homem que havia ajudado e acompanhado todo esse tempo era o dono de onde ela trabalharia caso fosse aprovada na segunda entrevista, pois ele era o CEO do Garden Hotel.

Ela foi contratada em um piscar de olhos, era claro. E foi assim que aquela frase finalmente fez sentido para Nina, pois o bem se faz e com o bem se paga.

O homem ainda sorria para ela, deitado no leito, felizmente não aparentando sentir dor. Diferente de antes, o sorriso do homem parecia confortável e limpo.

"Me chamo Nixon Han, estou feliz em dar as boas-vindas a uma garota gentil e linda como você, fico feliz em tê-la em nosso quadro de funcionários. Não consigo encontrar uma maneira melhor de lhe agradecer!"

Com certeza era uma benção receber aquele trabalho, mas ela precisava deixar claro que ela poderia sair do trabalho para ir ao hospital a qualquer momento. Ela não queria que aquilo se tornasse um problema, assim deixou tudo bem claro desde o início. Nixon a ouviu com atenção e entendeu que Nina tinha de cuidar do irmão que acabara de ser transplantado, e propôs com empatia: "Eu entendo, não se preocupe. Se você trabalhar no restaurante do hotel, recebendo por hora trabalhada, você pode sair e cuidar do seu irmão sempre que necessário."

E assim foi. No dia seguinte iniciou o trabalho no restaurante do hotel e, em uma semana, já estava acostumada e feliz com o ambiente de trabalho.

Todos ali, seja durante o treinamento quando no dia a dia a tratavam bem, a fazendo sentir-se querida. Além disso, como Nixon sabia da situação de sua moradia, ele lhe permitiu utilizar uma das salinhas de funcionários enquanto não recuperava sua casa. Ela não conseguia expressar em palavras a gratidão que sentia por tudo aquilo. Se sentiu tão apoiada. Por isso trabalhou com muito afinco para mostrar o quão grata e feliz estava ali, e para expressar a enorme gratidão que sentia por todos a sua volta.

Um dia, Teresa se aproximou e perguntou:

"Nina, você pode me substituir na sala privada 'Lotus'? Estou com uma dor de estômago terrível." Logo Nina recebeu um tapinha nas costas em sinal de agradecimento da colega, que foi direto para o banheiro. Nina entrou imediatamente na recepção da sala 'Lotus', esperando a campainha tocar para atender os clientes.

Não foi a primeira vez que substituiu colegas, era parte da rotina.

Ela lidava com isso facilmente.

O Garden Hotel era um lugar pequeno, mas tinha excelente reputação pela comida requintada e serviço excelente.

Esse sucesso fez com que o hotel mudasse de categoria e não atendesse a todos os públicos: só oferecia quartos privativos e com reserva. Então, como seu serviço era do mais alto nível e exclusivo, tornou-se um lugar comum da alta sociedade, também era um local discreto para reuniões importantes. O planejamento dos quartos e dos funcionários era bem pensado: os garçons esperavam em uma pequena recepção a campainha tocar, solicitando seus serviços dentro da sala privativa, assim não era possível ouvir os funcionários e nem os clientes.

Em pé na recepção, Nina observou os pratos à sua frente imaginando como seriam os pratos, talheres e copos nas mãos daqueles ricos. Quando ouviu a campainha tocando, ela finalmente voltou a si e resumiu em sua posição de garçonete, imediatamente abrindo a pesada porta que dava privacidade ao quarto.

Assim que ela abriu a porta, o aroma do quarto tomou conta de seus sentidos, além da luz das lâmpadas de cristal dourada que refletia em todas as paredes. O belo som de piano animava a sala, enquanto Nina sorria ao se aproximar dos clientes e ver o que precisavam. Ela perdeu o ar ao ver quem estava lá: Bobby.

Ele se destacou entre todos os convidados como uma estrela no céu escuro, com seu rosto encantador, seus olhos intensos e sorriso conquistador de canto de boca. Mas... ela estava abraçando uma mulher elegante e bem vestida de traços delicados, cujo

lábios alaranjados eram chamas que queimaram os olhos de Nina com a visão.

"Sirva mais vinho!", comandou uma pessoa próximo a ela, a fazendo manter a cabeça abaixada, envergonhada.

Ela ficou com vergonha, perdida, sentindo um aperto dentro de seu estômago enquanto ela repetia mentalmente: 'Nós não nos conhecemos, não nos conhecemos, não nos conhecemos...'

Ele era o primeiro à mesa, então ele seria o primeiro de receber serviço. Ela pegou a garrafa e fingiu estar calma, mas ainda podia sentir o olhar penetrante dele.

Ela se aproximou dele e inclinou-se para servir o vinho, fazendo o máximo para manter a calma e continuar sorrindo como se ele fosse qualquer outro hóspede do hotel. No entanto, quando ao lado deles, ela sentia o perfume que a mulher ao lado dele exalava e, inexplicavelmente, ele se lembrou que Bobby havia falado naquela noite que passaram juntos: como ele odiava perfume.

Se ele detestava perfume tanto assim, o que estava fazendo abraçando a mulher? Talvez ele não odiasse todos os perfumes.

Ela não sabia a razão, mas aquela cena a deixou cabisbaixa. Sem pensar, ela tentou fazer contato visual e lançou-lhe um olhar rápido; ele estava olhando para um vidro, ignorando totalmente a presença de Nina. De repente, ele franziu a testa e Nina percebeu que tinha se distraído, a taça que ela enchera de vinho estava prestes a transbordar.

Se não fosse rápida, o vinho teria derramado na mesa por seu descuido.

"Qual é o seu problema?", reclamou a mulher nos braços de Bobby em reprovação, antes de sorrir ironicamente e dizer: "Mesmo que sejamos mulheres e estejamos distraídas por conta de um homem tão lindo, por favor, lembre-se que você é paga para trabalhar aqui, e não admirar!"

O comentário malicioso da mulher fez Nina se sentir muito envergonhada, ela sentiu o sangue corar seu rosto.

Nina pediu licença e serviu vinho a todos, afastando-se para perguntar se precisavam de mais algum serviço. Como não houve resposta, ela seguiu em direção à recepção, mas antes de chegar à porta, ela ouviu alguém provocá-la:

"Bobby, você sempre faz com que as mulheres à sua volta fiquem nervosas e sem jeito por causa do seu charme!"

A garota parou e voltou seu olhar para a mesa, vendo que ele levantou a mão e acariciou sensualmente a bochecha da mulher que abraçava. Com um sorriso no rosto, ele olhou fixamente para Nina, dizendo: "Você está errada. Elas não perdem a cabeça comigo, perdem a virgindade!"

"Hahaha...", a risada de todos na sala foi bloqueada pela pesada porta se fechando atrás dela, que saiu rapidamente. Parada no final da sala, ela respirou ofegante porque mesmo que ninguém a estivesse vendo ou ouvindo, ela se sentia nua na frente de todos.

Abraçou seu corpo com os braços estendidos como em uma tentativa de se cobrir, livrando-se da humilhação, evitando pensar no que Bobby havia dito: "elas perdem a virgindade." Só então Teresa voltou, com uma expressão calma no rosto:

"Querida, obrigada pela ajuda. Eles pediram algo a você?"

"Só me pediram para servir vinho uma única vez. Já que você está melhor deixo a mesa com você", respondeu Nina, forçando um sorriso.

Assim que ela saiu, o supervisor a abordou perguntando: "O que faz aqui?"

"Teresa se sentiu muito mal, dor de estômago, então eu a substituí por um tempo enquanto ela estava no banheiro."

"Ok, agora volte para a sala, alguém ligou para você no telefone." A expressão de Nina mudou completamente.

Como garçonete naquele lugar exclusivo, ela tinha várias limitações: ela não podia usar seu celular, ela não podia fazer nada além do trabalho atribuído a ela, e não poderia tirar fotos. Todos os celulares dos funcionários eram mantidos no salão principal do hotel, e se alguém recebesse uma ligação, seria notificado assim que possível.

Nina não tinha amigos, então seu celular só tocaria se fosse do hospital. Ela ficou angustiada.

Ela segurou o celular com força já que o tremor de seus dedos a impedia de fazer a ligação corretamente; ela esperou que alguém atendesse e em um segundo ouviu uma voz familiar do outro lado da linha.

"Alô? Doutor? Por favor, me diga o que houve com meu irmão."

"O teste físico de hoje mostrou uma reação adversa nele, a temperatura corporal subiu e ele também está resfriado, o que significa que sua imunidade está baixa. Suspeito que haja rejeição do rim transplantado, seu irmão precisa ser transferido para a Unidade de Terapia Intensiva imediatamente. Preciso da sua assinatura autorizando a transferência", explicou o médico rapidamente, no tom profissional que os médicos usam para dar más notícias.

"Ok, chego em breve ao hospital!", Nina desligou o telefone e pediu permissão ao supervisor para poder ir ao hospital. Como ela tinha licença especial do CEO e todos sabiam de sua situação, ele naturalmente a permitiu ir. Nina trocou de roupa em instantes e seguiu para a rua.

Na sala privada "Lótus", as pessoas conversavam e riam livremente. Com uma taça de vinho, Bobby seguiu até a janela para apreciar a vista. Por acaso, viu Nina correndo pela rua. Em menos de um piscar de olhos, ele entregou o copo à pessoa ao lado e disse: "Sinto muito, tenho algo urgente a tratar.

Falo com você amanhã." Ele pegou sua jaqueta e saiu correndo pela porta de fechar suave em direção à sala de estar.