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Uma boa noite de sono era tudo de que eu precisava para me livrar dos pensamentos do dia anterior. A canção ainda martelava em minha mente quando finalmente me levantei. Todos os dias meu despertador tocava uma pequena música padrão, e junto dele, chegavam notificações de mensagens dos grupos de amigos que acordavam no mesmo horário, ou antes. A maioria de nós não se importava com muita coisa, definitivamente não.
Era comum que estudantes como nós apenas nos preocupássemos com os estudos; embora fosse uma forma direta de respeitar os esforços dos nossos pais, já que a maior parcela de nós, não era tão independente, o que me incluía, de certa forma.
Estava chovendo muito quando sai de meu dormitório. Andando pelos corredores, pude observar a quantidade de estudantes que, assim como eu, carregavam seus guarda-chuvas transparentes, muito comum em qualquer cidadão de Seattle.
Não era comum faltar à faculdade, na verdade, dificilmente veria alguém gastando suas faltas, principalmente nas grandes universidades. Todos sabíamos o peso que desistir de um lugar como àquele tinha.
Correndo discretamente, em algumas partes de meu caminho até a Universidade, pude notar, de longe, a figura do garoto que eu procurava na noite anterior. Me surpreendi por ele estar usando um guarda-chuva preto e não transparente como a maioria das pessoas. Tentei correr até ele, mas quando finalmente cheguei na entrada, ele já havia sumido. Procurei ao redor tentando encontrar alguns dos rostos familiares do site, a fim de tentar localizar a sala de aula, onde poderia finalmente encontrar o garoto, mas não tive sucesso. Tinha minha própria batalha para lutar.
Meus colegas de sala estavam sentados em grupo quando finalmente cheguei. Eu era um pouco descolada, então apenas seguia a vibe dos outros estudantes. A aula se seguiu normalmente e fiz pequenas anotações, como de costume, mas a minha mente estava além. O garoto me perturbava, seu rosto era tão claro em minha mente, que sequer havia notado que ainda não o havia visto pessoalmente, ao menos não de forma tão clara, mas parecia real demais para mim.
"Você vai?", perguntou-me uma voz familiar. A aula havia terminado e eu não tinha sequer notado. O que estava acontecendo comigo?
"O quê? Onde?", perguntei, fingindo que não estava divagando sozinha minutos antes.
"Post Alley. Ver aquela parede nojenta e tal?", disse Sophie, mantendo contato visual. Estava vindo, mais um daqueles encontros questionáveis que os universitários gostavam de fazer.
"Os chicletes, de novo?", questionei, me esquecendo completamente da regra número um dos coitados do campus, "sempre fazer presença em todas as festas". Sophie me encarou por alguns segundos, notei que outros colegas do grupo fizeram o mesmo. Considerei complementar a frase antes que pudesse ser interpretada erradamente, mas fui interrompida antes mesmo de tentar.
"Somos veteranos, Heather", começou ela. "É como obrigação puxar os calouros para lá. Pense, vários cursos, vários rostos e vários gatos. Pense positivo, estamos livres, podemos nos divertir", finalizou ela, esboçando um sorriso malicioso, que com o batom vermelho que usava, contrastava bem com seus cabelos vermelho maçã. Sophie era bonita demais para ser psicóloga, quer dizer, qualquer um teria medo de mandar um garoto se consultar com ela, a chance de a sessão terminar em amassos e coração adolescente partido era alta; principalmente se alguma namorada reparasse no quanto ela era linda, carismática e levemente provocante. A pior parte é que Sophie tinha muito interesse na área clínica, então nós do grupo já sabíamos que cabeças iriam rolar em poucos anos, talvez até rolassem literalmente. Alguns de nós zoávamos da possibilidade de precisar encontrar um caso que ela estivesse envolvida, caso se formassem na área jurídica ou criminal. Estudantes veteranos tinham muitas piadas internas e essa era uma das nossas.
"Calouros? De todos os cursos?", perguntei, curiosa.
"Se for o que você precisa para dizer que vai, sim, calouros de todos os cursos", riu ela. "Vai ser mais tarde, por volta das 19h. A maioria já está se ajeitando, só vamos nos reunir no muro, beber um pouco e depois você sabe, aventuras duvidosas, sexo, drogas e tudo mais que Seattle promete", bradou ela, levantando-se da mesa, acompanhada de mim e dos outros.
"Nessa chuva?", perguntei, senti um olhar de reprovação quase que instantâneo. "Não estou negando, apenas confirmando se está tudo bem para a galera", expliquei-me, apaziguando a situação.
"É Seattle. Se formos esperar parar de chover para nos divertir, estamos ferrados", zombou Josh, um de nossos colegas que andava conosco, e morava no mesmo dormitório que eu. "Vamos decidir a questão dos carros depois, são 10 min de carro, 25 min se forem de metrô. Posso dirigir na ida, mas na volta não contem comigo".
"Ele vai beber todas e fazer um de nós dirigir até a casa dele e dormir lá", brincou Sophie, rindo. Era uma de nossas piadas internas zoar Josh por fazer aquilo, e ele fazia sempre, mas por alguma razão mencionar sempre era divertido, e eu me divertia de verdade em alguns momentos.
"Você adora isso", disse ele, envolvendo Sophie em seus braços e dando-lhe um beijo de tempo mediano. Sophie e Josh eram ex namorados que finalmente entenderam que serem amigos coloridos seria mais proveitoso para ambos, que aparentemente eram incapazes de não trair. No meu primeiro semestre fui uma das garotas que ficou com Josh, consequentemente uma das que teve que o deixar levemente bêbado em sua casa. Naquela noite, nós transamos, mas nenhum de nós chegou a terminar, estava tudo muito horrível e eu não queria ter uma lembrança ruim de sexo. Eu não era mais virgem, mas também não podia dizer que gostava de transar, por alguma razão todas às vezes que fazia eu sentia que tinha algo de errado, como se eu já soubesse o que era um sexo bom, mas eu nunca tivera um que fosse. Meu corpo e mente me pregavam peças desde sempre.
"Certo, nossos horários estão um pouco diferentes agora, mas vamos ao Gorditos de novo, então quem tiver interesse, nos encontre no lugar de sempre, na mesma hora", avisou Sophie, saindo com Josh e mais dois colegas do grupo da sala.
Caminhei pelo corredor, pensando no encontro. Todo semestre a galera inventava de ir ver os chicletes na parede e tentar colar mais. Os veteranos vibravam com a ideia, a maioria deles nunca fora conhecer, principalmente porque Seattle recebia muitos alunos de outros lugares. Antes de começar a faculdade, eu não havia conhecido a Post Alley, mas não me senti surpresa quando a visitei na minha primeira festa de calouros. Foi como se estivesse vendo algo que já havia visto e já tivesse sentido tudo o que tinha para sentir. O fato era que eu tinha um compromisso e eu precisava ir.