Capítulo 6 Heather

Não é divertido ir para a Post Alley. Não é divertido ir em um carro com um casal falando coisas pervertidas, cujo cara você já transou. Não é legal ir em festas por obrigação social. É legal ir a uma festa para ver uma pessoa. Eu queria ver o Alfie. Quando saí da sala, percebi que não havia pedido o contato dele, sequer o e-mail. Ponderei voltar, mas mudei de ideia. Eu tinha que ir com calma.

Quando finalmente chegamos ao local, havia uma quantidade considerável de universitários bagunçando. Alguns já mastigavam chicletes e tentavam colar nos pequenos espaços. Muitos flashs de câmeras aconteciam também. Meu grupo estava interessado na música que havia perto, bem como um pequeno bar com uma fila consideravelmente grande. Recusei acompanhá-los, dizendo que já tinha algo para fazer, então adentrei a multidão e cheguei na parte mais vazia que consegui. Queria que Alfie me encontrasse o mais rápido possível.

Encostada na parede, observando os pequenos grupos, vi meu celular mudar as horas para 19h30. Eu já não sabia se ele viria, ou se talvez estivesse me procurando em meio a todos aqueles estudantes. Senti um impulso intenso de gritar seu nome, mas sabia que aquilo soaria muito estranho e eu não queria ser uma adulta que parecesse que estava chamando por uma criança perdida. Algumas universitárias já eram mães. Eu nada tinha contra a maternidade cedo, mas não queria me enquadrar na contagem.

Fui tentada a pegar uma bebida para afogar as mágoas e entender que o homem estranho que eu tinha interesse não iria. Depois de alguns goles de alguma coisa que eu não tinha conhecimento da procedência, eu finalmente consegui cambalear até o meu grupo, ao menos da parte que reconheci dele. Aparentemente eles deviam estar piores do que eu, ou não se importavam muito comigo, porque eu claramente não estava bem, muito menos de consciência tranquila.

Tive a brilhante ideia de sair para caminhar ao redor da Post Alley, sozinha. Quando se está bêbado, você não sabe o que está fazendo ou falando. Eu estava dando voltas pelo local, quando alguém esbarrou em mim e não pediu desculpas. Continuei andando, ignorando todo mundo e esperando um milagre acontecer. Alguns universitários fumavam e vomitavam ao meu redor, se divertindo. Eu estava apenas andando.

Fazia dez minutos que eu estava andando quase sem rumo. Já estava um pouco afastada da Post Alley, mas ainda perto de universitários. A Universidade realmente levava a sério aquele lugar. Evitei tentar atravessar alguma rua, pois sabia que não daria certo. Entretanto, precisei fazer isso quando notei dois homens me seguindo. Estavam tão bêbados quanto eu, mas ao contrário de mim, pareciam saber exatamente o que queria fazer. Eles me queriam. Não demorou muito para o primeiro rapaz conseguir segurar o meu braço e me pressionar contra a parede. Eu estava mole demais para tentar fazer qualquer coisa contra eles. Eu sabia o que iria acontecer, meu corpo sabia, por isso, tentava se debater sozinho, sem minhas coordenadas. Quando o segundo rapaz começou a me alisar, as lágrimas rolaram pelo meu rosto. Felizmente, no segundo seguinte eu me vi ao chão. O rapaz havia me soltado. No minuto seguinte, eu pisquei e vi alguém se aproximando de mim. Minha visão estava embaçada demais para entender qualquer coisa.

"Você está bem?", perguntou a voz masculina, estendendo a mão. Quando toquei a mão do rapaz, senti ela quente, não de temperatura humana, mas de sangue. Ele estava sangrando. Aquilo me despertou completamente. Me assustei quando vi que era Alfie, com suas mãos sangrando e uma parte de seu rosto. Me levantei rapidamente, e o abracei, agradecendo por ter me salvo, mas perguntando sobre seu estado e o obrigando a ir a um hospital. "Não antes de te deixar segura em casa". No impulso que tive com o que ele disse, o abracei mais uma vez, mas terminei aquilo com um selinho rápido. Não reparei na reação dele, pois ainda estava embriagada e só queria a minha casa.

Estávamos num táxi. O motorista trocou algumas palavras comigo durante o caminho, mas não com Alfie, que me acompanhava do lado de trás, quase me deitando em seus ombros. A viagem levou uns vinte minutos, ao menos foi o que o motorista me disse quando se despediu de mim. Eu estava na frente dos dormitórios, com Alfie. Informei o número do meu quarto e ele me levou até lá. "Está em condição de tomar banho?", perguntou ele, eu disse que sim. "Não, você não está", disse ele, me carregando até a cama e preparando tudo bem rápido para que eu pudesse me deitar. Eu não conseguia entender tudo com clareza, mas sentia algo tão bom. Uma parte do meu cérebro começou a cantar a melodia do primeiro dia, mas não foi isso que eu disse em voz alta.

Como num filme, ele me deitou na cama e alisou meus cabelos de uma forma ridiculamente familiar. Achei que ele tivesse dito alguma coisa, mas eu não estava no melhor de mim para prestar atenção, pois aquele gesto estava reconfortante demais. Ele me deixou ali, com o abajur aceso. "Tem um homem na neve chegando. Estou no carro", disse em voz alta, de olhos fechados. Quando os abri, Alfie já não estava mais lá.

                         

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