Capítulo 5 Um aperto de mãos

O auditório tinha sido reformado e, nesse momento, parecia um livro com cantos arredondados. Esse lugar era limpo e tinha três andares, onde podia se albergar até mil pessoas ao mesmo tempo. Tinha assentos feitos com almofadas de algodão, as quais eram muito confortáveis para sentar, até mesmo por longos períodos de tempo. Também havia telas de LED's cobrindo a parede do fundo do palco. O mais notável do auditório eram os caros aparelhos de som que eram de primeira qualidade.

Em suma, aquele local contava com instalações de última geração.

A Caroline, que espiava por trás da cortina dos bastidores, apreciava todos esses detalhes. Ela ia a recuar quando viu os três diretores caminhando desde a frente do lugar com um sorriso. Os estudantes mais destacáveis estavam com eles, inclusive Edwin!

Ela congelou ao vê-lo, e sentiu o coração tremer depressa. O homem tinha o mesmo penteado e estava vestido com uma camisa casual branca e verde e calças jeans brancas. Com um olhar de indiferença, ele seguia ao diretor da Medical University. Em resumo, ele era a mesma pessoa de antes.

Em sua vida anterior, ela lembrava que todos tinham pensado que o penteado dele parecia duma estrela coreana, e muitos dos jovens da universidade o copiavam. De fato, Edwin tinha um relacionamento ruim com seus pais e não recebia a bolsa deles há vários meses, por isso decidiu não se cortar o cabelo para economizar dinheiro.

Quando ela tinha dito ele que muitas pessoas estavam imitando seu penteado, os cantos de sua boca haviam se contraído indiferentemente. No ponto de vista dele, o que os demais pensavam não valia a pena mencionar. Se as pessoas o apreciavam ou menosprezavam, não lhe importava. 'Aqueles que louvavam o Edwin naquela época eram realmente insípidos!', a Caroline pensou mesmo enquanto o olhava secretamente. Na vida anterior da jovem, seu marido sentou-se sem ler os materiais das equipes de debate e também não prestou atenção em ninguém outro.

Mas agora, Edwin tinha a cabeça levantada, e seus olhos estavam fixos no lugar em que ela tinha estado sentada naquela ocasião. 'Nesta vida e na anterior tem muitas pequenas diferenças, por isso, acho que é normal que o comportamento dele tenha mudado, também', pensou a jovem.

Quando o Edwin se deslocou ligeiramente em seu assento e estava prestes a voltar pra frente, Caroline rapidamente se escondeu atrás da cortina.

Por que ela se escondia do homem? Ela não tinha ideia. Emfim, ela não queria ter nenhum contato com ele. Ao pensar no encontro no portão da universidade alguns dias atrás, o coração dela gelou, como se estivesse segurando um grande pedaço de gelo.

A competição de debate começou dez minutos depois.

Caroline e as meninas da equipe de etiqueta conduziram os participantes para o palco de ambos os lados. Ele estava olhando em branco para o assento que a jovem ocupou durante sua vida anterior, como se estivesse distraído em pensamentos. Mas quando Edwin voltou a cabeça pra frente, de repente arregalou os olhos e a luz em seus olhos tremeluziu levemente. Ele a viu, vestida num delicado cheongsam branco e azul, entrar com um sorriso elegante no rosto.

A reação dele foi tomar as costas do assento à sua frente, afunando as unhas na almofada. A apertou com tanta força que as pontas de seus dedos quedaram brancas.

"Você tem algum problema?", perguntou o diretor da Medical University, olhando para o jovem com estranheza.

Com a pergunta, Edwin recuperou sua indiferente expressão num minuto. Ele negou com a cabeça e disse: "Nada. Pensei ter visto alguém que eu conhecia."

A voz dele era fria como o gelo, não deixando espaço para ter uma discussão.

Logo disso, tudo foi como a Caroline lembrava. A unica mudança era, que na vida anterior, ela estava sentada no auditório e assistiu à disputa renhida e, agora, ela estava sentada nos bastidores e só podia ouvir as vozes.

O que ela não sabia era que o tempo todo, ele olhou fixamente pras cortinas em que ela tinha desaparecido e nunca desviou a mirada.

No final do concurso de debates, a jovem apareceu novamente no palco, conduzindo vários estudantes a dar prêmios, reconhecimentos e certificados. Ela não sabia se era só sua imaginação ou não, mas sentiu os olhos frios do jovem nela, fazendo ela sentir rígida.

Quando a cerimônia de premiação acabou, todos saíram, exceto os membros do grupo de estudantes, que limpavam o auditório. O Ted se escusou de devolver a bandeja para a cantina, mas na verdade, era apenas uma mera desculpa para que ele pudesse vadiar por aí. A essa altura, todo o público já tinha ido embora. Os amigos saíram pela porta dos bastidores do auditório juntos.

Eles andavam pelo pequeno caminho, que era ladeado por filas limpas de árvores, que foram colocadas ali após a renovação do auditório. A Caroline e o Ted vinham conversando casualmente no caminho. Na esquina, eles avistaram o Edwin brincando com as folhas dum salgueiro. Ela parou, sentindo uma brisa de ar frio golpeá-la.

"É o Edwin!" O Ted ficou tão animado que cutucou a jovem com o cotovelo. "Ele falou comigo há uns minutos! É realmente ele!"

Depois de ter jorrado para ela em voz baixa, ele trotou até seu amigo.

"Oi!" Ele se inclinou cuidadosamente para o estudante de medicina e depois o olhou com admiração. "Como posso ajudar você, sênior?"

O Edwin espalhou as folhas em sua mão e se virou para enfrentar o Ted. Não sorriu, mas seu rosto se suavizou um pouco. Afinal de contas, não sorria nem para seu tutor porque ele nasceu com uma expressão impassível.

Ele tirou um cigarro de seu bolso e o entregou ao Ted. "Quero pedir um livro de palestras do segundo ano. Será melhor se tiver algumas notas nele. Você tem certeza de fazer esse favor por mim?" Enquanto falava, o Edwin tirou outro cigarro e o acendeu.

"Não tenho problema!" Segurando o cigarro com uma mão, o Ted deu um tapinha em seu peito com a outra. "Deixe comigo!"

Em surpresa, a Caroline ergueu a sobrancelha.

Na vida anterior, o Edwin não fumou até obter o grau de doutor e, mesmo assim, ele só tinha um pequeno desejo por cigarros e raramente os trazia consigo. No entanto, não era da sua conta se ele começou a fumar nesse momento ou depois. Por que ela tinha que pensar nisso? Com relutância, ela foi até eles passo a passo e, educadamente, acenou para Edwin em saudação.

"Oh, deixe-me apresentá-la", disse o Ted com um sorriso. "Ela é Caroline Feng, da Normal University. Alguns a apelidam de 'linda dinossauro'." Então, ele se virou para ela e disse: "Ele é Edwin Han, o candidato a mestrado mais bem-sucedido na Medical University."

"Sinto-me elogiado." Edwin estendeu sua mão educadamente para apertar a mão dela.

A jovem respondeu o gesto e tocou superficialmente os dedos dele.

Mas, ele não fez isso, agarrou a mão dela e segurou-a com força, até mesmo roçando as pontas dos dedos nas costas da mão dela. Porém, ele soltou a mão dela tão rapidamente quanto a pegou. Aos olhos do Ted, o aperto de mão foi impecável, mas a Caroline se sentiu desconfortável por algum motivo e silenciosamente franziu o cenho.

"Bem, garotos podem continuar com suas coisas. Tenho outros planos", disse ela, tentando se desculpar.

O Edwin assentiu. "Eu vou para os laboratórios. Nós..."

"Eu vou para o cibercafé!", ela o interrompeu antes que ele pudesse terminar suas palavras. Os laboratórios estavam na mesma direção do dormitório dela. Se ela dissesse a eles que estava voltando para lá, teria que caminhar todo o caminho com Edwin. E essa era a última coisa que queria!

"Tá bom. Tchau", o Edwin disse claramente.

O Ted sentiu que havia algo errado com sua amiga. Era óbvio que ela estava escapando do estudante de medicina como a peste, mas ele não sabia por quê. Depois de se despedir seu amigo, ele acompanhou a Caroline ao cibercafé. No caminho, ele ficou perguntando a ela sobre qual era seu problema com Edwin, e por que o tratava assim.

"Ele é seu marido? Por que você se preocupa tanto com ele?", a Caroline estalou. Ted não sabia como responder aquilo.

Depois que os amigos foram embora, o Edwin permaneceu na esquina e voltou a brincar com as folhas de salgueiro. A mão que tinha acabado de agarrar a mão da jovem fechou-se com força num punho e tremeu ligeiramente.