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Dou alguns passos, mas não chego tão perto do guarda caído _ Eu não conheço ele _ sussurro.
Kira se abaixa e levanta o rosto do guarda dizendo _ Eu conheço, ele estava sempre sorrindo e cumprimentando a todos _
Diego começa a me cutucar freneticamente
_ Galera? tem alguma coisa saindo desse guarda aqui _ A voz dele começa a falhar e ficar bem mais acelerada _ Eu tô falando sério, tem uma coisa saindo dele _
Me viro rapidamente para o outro guarda que está em pé, imóvel em cima da mesa, algo está saindo do ouvido dele, eu nunca vi nada igual, está saindo um de cada lado, é um tipo de... verme, nem sei dizer. Consigo ver nos rostos de Kira e Diego que eles estão mais confusos do que eu. O guarda se contorce inteiro, suas veias no pescoço estão tão inchadas que parecem que vão explodir, mas ele não emite nem um tipo de som, não grita, não geme. Apenas se contorce, é explícita a dor que ele está sentindo, mas só não consegue por para fora.
_ Que porra é essa? Grita Kira me puxando pela gola da camisa. Diego responde também se afastando _ Não sei, e acho melhor a gente não ficar aqui pra saber _
O corredor está estranhamente escuro, a única luz que ilumina um pouco é a que sai do escritório, a gente está correndo tão rápido mesmo sem quase enxergar nada, estamos de mãos dadas tentando um guiar o outro, a fundação está em completo silêncio, mas é um silêncio diferente quase que, mórbido. A única coisa que consigo ouvir além dos passos fortes que damos ao correr, é o batimento do meu coração que está tão acelerado que parece mais uma tambor tocando em noite de carnaval
Na Sapucaí, nem parece que matei dezenas de vampiros ontem. Uma dúvida acaba de passar pela minha cabeça, me dou conta disso só agora, como assim? _ Espera! Um grito sai do meu pulmão ainda ofegante _ Sério que a gente tá correndo de dois bichinhos daqueles? Porra a gente matou um dragão de duas cabeças _
Um _ É .. tem razão, sai da boca de Diego, mesmo que ainda falho, mas confiante.
Kira balança a cabeça em negação _ Eu acho melhor não, a gente nunca viu um negócio desse antes, a gente nem sabe o que ele faz. Cara eles estavam dentro do corpo do guarda, vai saber o que ele faziam lá dentro. Eu não quero um bicho desse dentro do meu corpo _
Dou um suspiro profundo concordando _ Você tem razão, melhor a gente chamar seu pai _
_ Alan, você acabou de dizer que são só dois bichinhos, a gente vai lá e chuta eles pra puta que pariu da caixa prego e pronto, bichinhos mortos _ disse Diego.
Intercalo meu olhar entre eles dois, eu sou um caçador, não posso ficar com medo do sobrenatural, tenho que enfrentar seja lá o for, mesmo eu conhecendo ou não.
Diego me olha esperando uma resposta, e logo em seguida diz _ Tá então eu vou lá, enquanto vocês vão chamar o Ulisses _ Arqueio a sobrancelha e seguro no braço dele _ Claro que não, eu vou com você _
Kira balança a cabeça e diz _ É sério que vocês já esqueceram o que eu disse a dois segundos atrás?
Nesse instante um barulho de grilo, misturado com chiado de rato ou.. esquilo, é talvez.. um som de esquilo, não consigo distinguir ao certo, mas está tão alto que ecoa pelo corredor, abro os braços entre Digo e Kira os puxando para traz de mim, os dois vermes estão se arrastando bem devagar. Quando eles se distanciam da luz que sai do escritório, o barulho acaba. O som da nossa respiração se mistura, consigo sentir a tensão subir pelos meus pés, não consigo enxergar nada, de repente Diego puxa o celular do bolso _ Porque você não fez isso antes _ Sussurra Kira, Diego responde enquanto com tremura nos dedos tenta liga a lanterna _ Eu esqueci _
No momento em que ele aponta a luz para a direção da porta, os dois vermes estão se unindo e crescendo, eles criam pernas e braços, agora são a forma exata de um corpo humano, mas sem olhos, sem nariz, com apenas uma boca enorme que vai de uma extremidade a outra do rosto. Diego por impulso rapidamente tira a luz do verme e a gente sai correndo.
O corredor parece não ter fim, paramos perto da parede de vidro onde estão as relíquias da fundação, a luz dos postes noturnos clareiam a entrada, por fim agora conseguimos enxergar alguma coisa.
_ A gente precisa chamar alguém _ Grita Kira, ela continuou _ Vou acionar o botão de incêndio, que inferno, tá emperrado _ Diego se distancia de mim para ajudá-la.
Sinto um impacto me empurrar para trás, uma coisa gelada e pegajosa está enrolada em meu corpo, sou atirado com tudo sobre a parede de vidro, com o baque a parede se estilhaça, e o estrondo é enorme, todas as armas históricas, troféus, e fotos de antigos e maiores caçadores da fundação estão espalhadas por todo o lugar.
Abro meus olhos de um vez só, seguido de um grande susto, estava sonhando? Penso, levo a mão na cabeça por conta da dor que estou sentindo, sinto o sangue voltar em meu dedos. Minha vista ainda esta escura e embaçada. Um grito me faz recuperar os sentidos, levanto com um único impulso.
Vejo o verme que já está enorme e robusto de costas debruçado, não sei o que ele está fazendo, Kira grita pausadamente _ Não-se-mexe _ Eu viro para ela que está encostada na parede sem um dos braços, com a mão ela tenta estancar o sangramento, mas é quase que inútil, o sangue jorra aos montes entre seus dedos. Me desespero, que merda, o que aconteceu? não consigo pensar direito. Eu tento rastejar até ela, mas não consigo, estou fraco demais para ficar em pé, minha cabeça ainda dói tanto; e tudo o que eu olho tem cor de sangue.
O verme vira para mim, e o que eu vejo destrói minha alma, as lágrimas rolam em meu rosto feito um rio imenso e incessante, elas se misturam com o sangue seco em minhas pálpebras.
O verme destrói o corpo de Diego com voracidade, ele rasga as tripas como se fossem de papel, todo o seu rosto tem sangue, suas mãos tem sangue, ele se levanta e vem até mim em passos pesados, tento me arrastar para trás, mas os cacos de vidro da parede estão por toda as partes, que droga, eu acabei cortar minha mão, olho para baixo e uma adaga de cabo branco está brilhando e vibrando freneticamente, algo nela me chama atenção, eu sinto ela implorar para que eu a pegue, eu não consigo parar de olhar, ela é tão linda e brilhante, estendo minha mão para pega-la, mas nem preciso me esforçar tanto. Ela mesma vem até mim flutuando, rapidamente, igual um boomerang. Ao toca-la uma luz pulsa entre meus dedos iluminado toda a entrada da fundação, agora eu consigo ver tudo nitidamente. Uma força surge dentro de mim, tirando meus pés do chão. Me sinto tão confortável sobre o ar, a luz envolve todo o meu corpo.
Quando o verme chega até mim, eu enfio a adaga no meio de seu peito, ele fica alguns segundos imóvel enquanto eu flutuo e brilho no ar. Seu corpo começa a rachar e vários raios de luz fogem de dentro para fora entre as rachaduras. A luz é tão forte que o corpo do verme explode jogando vários pedaços grossos e pegajosos por todo os cantos.
Meu corpo amolece, um peso insuportável surge em meus ombros, e antes de sentir meus olhos se fecharem, sinto a adaga cair da minha mão.