Capítulo 2 Novos caçadores

A multidão que nos assiste, grita em alvoroço. A sensação de estar no meio da arena depois da batalha não é bem como pensei que me sentiria. Percorro meu olhar por todo o local, e só vejo dor e morte, vários amigos meus que conheci desde criança estão mortos, e as pessoas ainda estão comemorando?

Apenas seis de vinte e oito alunos sobreviveram, isso não é assustador? Poderia ser eu entre os mortos. É tão estranho perceber isso só agora.

O muro que cercava a arena desce e some debaixo da terra, guardas e funcionários da fundação correm até nos, trazendo toalhas e limpando todo sangue que escorre em nossos rostos, eu quase não sinto o chão em meus pés, o som da multidão, e os abraços e sorrisos que Kira e Diego me dão, não são capazes de me fazer voltar para a realidade. Esperei tanto por isso, pensei que me sentiria extraordinariamente feliz, mas sei lá, me sinto meio estranho.

Passo a toalha em meu rosto, enquanto andamos para a sede da fundação escoltados pelos guardas, todas as famílias de caçadores estão aqui, eles esticam as mãos para nos tocar, as crianças vibram e chamam pelos nossos nomes. Um garotinho consegue passar pela barricada dos guardas e corri em minha direção, me assusto com seu impacto, olho para baixo, ele está abraçado em minhas pernas, passo à mão levemente em sua cabeça bagunçando todo seu cabelo, ele olha pra cima e fala __ Um dia serei igual você

Droga meus olhos estão cheios de lágrimas agora, me lembro de quando falei isso para o meu pai, eu queria tanto que ele estivesse aqui para me abraçar e dizer que esta orgulhoso de mim, eu queria tanto poder falar olhando nos olhos dele que eu consegui. Me tornei um caçador e vou me esforçar para ser o melhor, igual um dia ele foi. Eu juro por tudo o que é mais sagrado neste mundo, eu vingarei sua morte pai, procurarei a bruxa que tirou sua vida e farei ela pagar por isso.

_ Cara, vamos ficar nas suítes, nossa eu esperei tanto por isso. Diego está bem entusiasmado para chegar até os quartos dos vencedores que ficam no andar mais alto da fundação. Será que vamos ficar no mesmo quarto? Ele me pergunta, Ergo os ombros sem reposta, Kira sorri e diz _ Eu posso falar com meu pai para colocar nos três no mesmo quarto, que tal? Diego vira os olhos e dispara _ Se pra ficar no mesmo quarto com meu namorado, eu tenha que levar você pendurada, tudo bem eu aceito a tortura.

Kira dá um soco no braço de Diego, e fala com deboche _ Nossa muito obrigado por me deixar usufruir da sua presença, senhor idiota.

Eles começam a se implicar, e dar soco um no braço do outro. Paramos na porta do elevador dentro da fundação, eu estou tão disperso que nem percebo Kira estalar os dedos no meu rosto _ Alooo? Ei, tá aí?

Pisco os olhos várias vezes para me situar

_ Oi, tô de boa!

_ Cê tá bem? Pergunta Diego _ Tô, falei que tô de boa. Diego continua _ Amor não quero dormir no mesmo quarto que a Kira, cara ela ronca e ainda tem um mó chulezão. Kira soca o braço de Diego e exclama

_ Que mentira, quem tem chulé é você.

_ Mas você ronca, Diego começa a fazer o som do ronco de Kira _ roooonc, roooonc ...

Minha cabeça dói tanto, talvez porque acabei de matar um dragão, ou porque não consigo parar de pensar nas pessoas que morreram, por mais que eu tente me conformar, e pensar que está tudo bem, não, não está tudo bem. Eu conhecia essas pessoas. Eu sei o nome de cada uma delas, nem consigo imaginar como as famílias delas estão sofrendo.

Eu sei que já sabíamos que isso aconteceria desde a infância, fomos preparados para isso desde cedo, todos nós tivemos a escolha, e escolhemos lutar pela marca, mas isso não muda o fato de que perder alguém que se ama dói, dói tanto ao ponto de querer morrer também, dói como a dor de uma facada nas costas. Você sente seu corpo se destroçar por dentro, o seu sangue queima como galhos de uma fogueira que acabou de ser acesa. A dor da perda é algo que nunca se esquece, fica impregnada na alma, pode passar anos, mas ela sempre dá um jeito de aparecer, e fazer você se despedaçar mais um pouco.

Olho para Diego e Kira que gargalham _ É sério isso, acabamos de perder a maioria dos nossos amigos, e vocês estão brigando por quarto? Mano vocês são tão zuados.

As palavras saem da minha boca com tanta facilidade que me sinto leve, suspiro profundamente. A porta do elevador abre, eu entro, e os dois entram logo atrás, subimos para os quartos em total silêncio.

_ Esse aqui é o quarto, falei com meu pai bem antes da batalha. Fala Kira em um tom suave, mas que ecoa pelo corredor vazio, ela passa o cartão na tranca da porta, e entra em disparado.

O silêncio ainda toma conta de nós três, me sinto mal agora, acabei de deixar as duas pessoas que mais amo na maior bad, eles tem todo o direito de comemorar. Lembro de quando ainda éramos crianças, sempre falávamos sobre vencer a última prova, de como iríamos aproveitar os quartos dos caçadores, e a festa de recebimento da marca, éramos sempre nos três juntos, e agora o clima tá tão pesado que dá ate medo de falar.

_ Ei, olha só o tamanho dessa cama

Me jogo, esfregando meus braços no lençol de ceda, tento quebrar o silêncio, mas os dois ainda permanecem calados.

_ Aposto que tem banheira _ Olho para Kira e Diego, esboço um sorriso no rosto e continuou _ Quem chegar por último vai ter que puxar a peruca do Tenente Ulisses

Kira cruza os braços e diz _ Cara de novo essa? Ele é meu pai!

Em questão de segundos estamos os três correndo na direção da porta do banheiro.

Fala sério, eu sempre perco e sempre me lamento, mas estamos sorrindo de boa novamente, é isso o que importa.

Kira senta no chão e diz _ Eu sei que... a gente não devia estar comemorando, crescemos junto com todas aquelas pessoas, você tem razão.

Diego põe a mão em meu ombro _ É, nós perdemos nossos amigos, deveríamos estar de luto _

_ Não! Eu que errei, nós vencemos; eu tenho certeza que os nossos amigos iriam querer nos ver assim, comemorando por vencer a batalha que a gente sonhou e se preparou desde a infância, passamos tanto tempo treinando pra isso, e não podemos comemorar? eu que tô errado pra caralho, e sou eu quem tenho que pedir desculpas.

Estou tão cansado que nem consigo aproveitar todo todos os tipos de chocolates, e frutas que estão na mesa do quarto. A cama está me chamando, aquele lençol tão macio, e a almofadas tão fofinhas, me fazem adormecer em segundos.

Abro os olhos rapidamente, o quarto está tão escuro que não consigo enxergar nada. Nossa peguei no sono, só lembro de Diego falar alguma coisa sobre a roupa da festa de amanhã. Ligo a luz e Kira me joga uma almofada dizendo _ Apaga isso pelo amor de Deus!

Acordo Diego, e imploro para que ele vá comigo até o refeitório pegar água _ Sério, eu tô com tanto sono, leva a Kira _ ele fala entre os dentes

Kira sussurra _ Tô fora

_Por favor, gente sério, vamos? Por favor!

Depois de ser um completo chato e repetir a palavra por favor umas 100 vezes, eles concordam

Minha boca está salivando por um gole de água, como que eles enchem isso de chocolate, mas não deixam uma garrafa de água se quer, a comissão da fundação está precisando de umas aulinhas. Descemos o elevador e vamos até o refeitório, eu nunca tinha andado por aqui nesse horário, tudo é tão calmo e escuro.

_ Que barulho foi esse? Exclamo.

Retiro o que eu disse sobre ser calmo

_ Eu não ouvi barulho nem um _ murmura Diego

Kira anda se escorando em cada centímetro da parede _ Eu tô com tanto sono, que quase não consigo me segurar em pé

Um som de porta batendo ecoa no corredor onde estamos _ Ouviram agora? Pergunto.

Começo a andar em direção ao barulho, Diego segura meu braço _ Sério que você vai querer fazer isso? Solto um sorriso de canto e digo _ Não vai me dizer que tá com medo? Você matou um monte de vampiro hoje meu filho, relaxa

_ Não deve ser nada, vai ver é só alguém do conselho trabalhando até tarde _ acentuou Kira ainda escorada na parede.

A porta do escritório principal está fechada, mas por baixo dela é possível ver que a luz está acesa, tento entrar, mas parece que algo a impede de abrir, coloco um pouco mais de força, e ao entrar vejo um dos guardas virado de frente para a parede em pé, em cima da bancada, olho pra Kira e Diego, eles fazem a mesma cara de surpresos, Kira vira a cabeça em direção a porta e dá um grito e logo em seguida põe a mão na boca, antes de me virar em direção a Kira sinto um peso no ar flutuar sobre nossas cabeças, ergo os olhos e a luz amarela e densa do lustre reflete nos quadros de todos os fundadores da F.C.N que estão pendurados na parede, me viro e outro guarda está caído encostado entre a porta e a estante de livros que fica de canto, era ele, ou melhor o corpo dele que nos impedia de abrir a porta.

            
            

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