Capítulo 10 Portal mágico

Foi como atravessar uma porta, só que com uma energia mágica cobrindo toda a minha pele, é bem difícil de explicar, é como se todo o meu corpo estivesse fora do chão, em um instante flutuando e depois ao atravessar a luz, não mais.

Agora não consigo acreditar que passei por um portal, e fico mais incrédulo ainda quando vejo que estou de volta a fundação, pensei que nunca, nunca mais iria pôr os pés aqui.

O portal me trouxe para o mesmo lugar onde tudo começou, para o corredor em frente a estante de vidro, agora com menos relíquias e sem a famosa adaga branca, solto a mão de Jackson e caminho até a estante, deslizo meus dedos por ela lembrando cada momento do dia em que sofremos o ataque, o dia em que vi Diego sendo devorado por aquele mostro que nem faço ideia de onde veio ou como entrou na fundação.

Jackson quebra o silêncio _ Porque desejou vir para este lugar, se ele te trás péssimas lembranças?

_ Porque aqui é a minha casa, e mesmo me trazendo essas pessimista lembranças foi aqui que encontrei felicidade, amizades leais e amor verdadeiro, não tem como deixar pra trás isso tudo, eu nunca vou deixar pra trás _ o respondo enxugando as lágrimas do rosto

_ Eu te entendo, mas acho que precisamos voltar _

_ Como assim voltar? Pergunto

_ Aqui deve haver guardas, se nos pegarem nunca mais sairemos daqui, esqueceu que eu não sou humano e você... você também não é _

_ É! Que loucura não é mesmo? Tomo um susto inesperado _ Espera! você ouviu tudo o que eu falei no quarto? Pensei que estivesse dormindo _

_ Eu dormi, mas consegui ouvir boa parta da história, bom acho que até a parte do hospital _ Respondeu Jackson

_ Então você sabe o porque eu quis voltar neste lugar _

_ Entendo, mas você também entende que talvez não seja mais bem vindo aqui não é?

Suspiro profundamente enquanto corro meu olhar por todo o saguão da fundação, Jackson tem razão, todos já devem saber que eu não sou como eles, e pelo que bem sei, nem um deles exitaria em me matar se me encontrasse aqui no mesmo lugar onde tudo foi destruído por minha culpa.

_ Tudo bem, mas eu só preciso pegar uma coisa, aí a gente vai eu juro _

_ Tá certo, mas a gente tem que ser rápido _ Concorda Jackson

Subimos as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível, observo atentamente o carpete vermelho com bordas pretas que cobre cada degrau, as paredes pintadas com um leve tom de cinza agora já desbotado. Ainda é possível ver manchas de sangue em alguns cantos das paredes, no chão e no corrimão da escada. O estrago foi enorme, principalmente na entrada, algumas coisas estão em seus lugares, acho que tentaram arrumar do jeito que podiam.

Ao mesmo tempo que tento ser imperceptível, minha cabeça borbulha com várias lembranças que passei nesses corredores. Quando me dou conta já estamos passando pela porta do quarto que eu dormia quando morava na fundação.

_ Espera! É aqui _ Sussurro para Jackson

Tento rolar a maçaneta, mas a porta está trancada

_ Droga, eu deveria ter imaginado que isso iria acontecer _

_ O que houve? Pergunta Jackson

_ A porta está trancada _

_ Deixe me ver _

_ Eu já tentei, não dá _ me afasto abrindo espaço para ele tentar destranca-la

Ele realmente está confiante que pode abrir a porta, me afasto e espero ele falhar para poder dizer "eu avisei" Mas ouço o som da maçaneta destravar

_ Como você fez isso? Pergunto intercalando meu olhar entre Jackson e a porta que agora está aberta.

Ele responde somente com o olhar, como se já soubesse que conseguiria fazer aquilo.

Ao abri-la, encontro o quarto todo revirado, acho que esse foi o primeiro lugar em que vieram me procurar quando eu fugi, ou talvez nem estavam atrás de mim, mas sim da adaga.

_ Vai conseguir achar o que procura em meio a essa bagunça? Pergunta Jackson

_ Eu preciso achar _ Começo a vasculhar por toda parte até encontrar no meio de um amontoado de roupas jogadas no chão perto de uma poltrona.

_ É isso! Sussurro pegando o pingente.

_ O que é isto? Pergunta Jackson se aproximando de mim

_ Era do meu pai, esse pingente me deu tanta sorte, mas no dia da última prova eu tirei do pescoço fiquei com medo de perder, sei lá, e aí tudo aconteceu _

Jackson pega o pingente da minha mão e o olha meticulosamente se sentando na cama _ Alan, as vezes as coisas acontecem nas nossas vidas porque tem que acontecer, você acredita em Deus?

Pego o pingente da mão dele e coloco em meu pescoço _ Sim, acredito _ Respondo.

_ Dizem que antes mesmo de nascermos nossa vida está todo escrita por ele, e que não adianta tentar desviar, você sempre vai voltar para o caminho que ele escolheu pra você _

_ Hum, mas você acha que Deus criou os monst... digo.. a gente? Abaixo a cabeça depois de perceber quase chamei Jackson de mostro, e a mim também, ainda estou me acostumando a ser um deles.

_ Claro que sim, ele é o criador do mundo, pode até não ter nos feito como somos hoje, mas como eu disse ele sabe de tudo, escreve tudo antes de acontecer, e afinal, tudo tem que ter um equilíbrio, o dia e a noite, o Animal e o homem, o bem e o mal.

Um barulho ecoa direto do corredor, um dos guardas aparece na porta apontando uma arma _ O que fazem aqui, você? Grita ele ao me ver

Jackson cria uma chama em sua mão e joga na frente do guarda fazendo seus trajes pegarem fogo assim abrindo espaço para que a gente possa fugir, antes de chegar a escada, os gritos do guarda fazem com que os outros ouçam e dezenas deles começam a nos perseguir atirando várias vezes contra nós.

Tentamos fugir correndo o mais rápido possível, Jackson está na minha frente se baixando e correndo pelos degraus da escada, estou logo atrás fazendo o mesmo. Ao chegar no portal que está parado em frente a parede de vidro que guarda as relíquias dos fundadores, ele segura a minha mão, mas eu a solto quando escuto a voz do tio Ulisses chamar pelo meu nome _ Alan _ Ele grita

Freio meu pé a alguns centímetros perto do portal, viro e vejo nos seus olhos o espanto e a tristeza de me ver mais uma vez fugindo, Jackson segura novamente minha mão e me puxa através do portal me levando de volta para a casa Santa Helena, e deixando o tio Ulisses para trás outra vez.

            
            

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