Capítulo 6 Fuja

Corro sem rumo pela floresta que fica ao redor da fundação, meu instinto só me diz para ficar longe.

O que eu sou? O que está acontecendo comigo? merda, merda, merda!

Paro perto de uma gruta e lavo meu rosto, o dia está quente, sento em meio a alguns troncos de madeira para recuperar o fôlego. Nesse momento a única coisa que passa pela minha cabeça são as cenas da noite anterior, misturadas com o que aconteceu agora pouco. Depois de alguns minutos sentado, tenho a impressão de ouvir galhos se quebrando, então rapidamente penso _ Só podem ser os guardas da fundação, querendo me prender por ferir os membros do conselho _ então mais uma vez me preparo para correr.

Meu corpo não aguenta mais, passei o dia inteiro andando nessa floresta, e por incrível que pareça, eu nunca havia andando por aqui antes. A noite já chegou e ainda não faço ideia de como vai ser minha vida daqui para frente. Tenho certeza que para fundação eu não volto mais. Sinto fome, sinto sede, sinto saudade, eu sinto tudo, mas só queria não sentir, queria estar seco por dentro, ou dentro de um caixão como meus amigos estão agora, não espere, eles não estão mais nos caixões, na verdade eu os deixei espalhados pelo chão, sem nem um pingo de comoção, eu corri, fugi da bagunça que eu mesmo fiz.

A floresta está escura, o único som que ouço é o uivar do vento, e o balançar das árvores que se chocam uma nas outras.

Com a vista turva pelo cansaço vejo uma pequena cabana a alguns metros a minha frente, caminho até ela, tento ser mais rápido, mas o meu corpo já não tem mais energia para tamanha agilidade.

O lugar é velho, fede a mofo, as tábuas carunchadas mostram que essa cabana está aqui a muito tempo. Me encosto em uma de suas paredes e desliso devagar até o chão, bom é aqui que eu vou passar a noite.

Abro os olhos de uma única vez, e só vejo escuridão ao meu redor. O barulho das árvores, o cantar dos grilos. Somos só eu e a floresta agora, acho peguei no sono, meu corpo estava precisando. Uma lembrança da adaga surge em minha mente, tiro a mochila das costas e ao tocar na arma, ela rapidamente se ilumina, clareando toda a cabana, e algumas árvores e arbustos que ficam por perto.

Passeio meus olhos pelo local, e vejo um colchão velho estirado no chão, passo à mão para tentar tirar ao menos a metade das folhas secas que estão em cima dele. Há uma mesa de plástico com algumas copos enferrujados por cima, embalagens velhas de mantimentos estão espalhados por toda a parte. Coloco a adaga de volta dentro da bolsa, me deito no chão abraçado com minha mochila, e fecho meus olhos, sem nem uma esperança de um novo amanhã.

_ Olha quem veio nos visar _ Disse o meu pai, abrindo a porta. Com pressa eu largo o quebra cabeça espalhado pelo chão, e corro par abraçar Kira e Diego _ Venham quero mostrar o que o pai comprou para mim _ falo com um enorme sorriso no rosto.

Corro com eles até o meu quarto, pego um pequeno baú que está em cima da cômoda e abro bem devagar, tentando gerar um suspense. Diego morde o lábio inferior de tão curioso que está, os olhos esbugalhados de Kira me arrancam sorrisos.

_ Abre logo _ Grita Diego _ É, Odeio quando você faz isso _ Acentuou Kira.

_ Tá bom, desculpa _ Abro o baú, e tiro uma adaga de bronze enrolada em um lenço branco _ Fecha porta _ sussurro

_ Meu pai disse que eu não posso mexer nela agora, só quando eu tiver 12 anos.

_ Então porque você tá mexendo? _ Indagou Kira

_ Porque eu tenho 11, e daqui a dois meses é meu aniversário, então eu já estou com quase 12 _

_ Alan, ter "quase" 12 não é mesma coisa de ter 12 _ Debochou Diego me jogando uma almofada.

Coloco a adaga dentro do baú, e começamos uma guerra infinita de travesseiro.

_ Espera, vamos fazer um juramento _ Disse Kira ainda recuperando o fôlego da batalha de almofadas

_ Juramento de que? Perguntou Diego

_ Vamos jurar ser amigos para sempre _ enfatizo

Kira suspira em um tom suave e prossegue _ Amigos nós já somos, e isso não tem como mudar, eu quero que juremos que no dia da prova final, nós vamos batalhar juntos e se caso nós três passarmos ... _ Ela nos olha procurando uma afirmação, Diego logo diz _ É Claro que vamos passar _ Eu concordo com a cabeça revirando os olhos. Kira continua _ Pois é então, depois de recebermos a marca nós três vamos caçar juntos _

_ É! assim vamos poder ficar juntos para sempre _ acrescento levantando o dedo mindinho

Diego franzi a testa e sussurra _ Para sempre não é muito tempo? Depois do olhar aniquilador de Kira, Diego rapidamente concorda _ Ta bom, para sempre.

Acorda, ei acorda _ Ouço no fundo da minha mente uma voz rouca chamar pelo meu nome, levo a mão rapidamente a minha costas, tem algo me cutucando, e dói. Me viro rapidamente quase que em um susto involuntário.

_ Sábio Lauses? O que faz aqui? E como me achou?

_ Eu conheço você, você é filho dela! Acentua o Sábio.

_ Do que você está falando? filho Dela? Você conheceu minha mãe?

_ Todos querem a adaga que você carrega nessa mochila garoto, mas o único problema é que você ... Ele encosta a bengala a qual usou para me acordar na mesa de plástico, e me observa meticulosamente da cabeça aos pés _ Você é o único que pode ativar o poder que ela tem, então todos, todos estão atrás de você também _ Continuou o Sábio _ Eu vim aqui lhe ajudar, Você precisa se esconder o mais rápido possível _ com uma voz turva e falha por conta da idade ele tosse assim que termina de falar

_ Como assim? Eu não tô entendendo _

_ Tenho um lugar para você se esconder, aqui está o endereço, quando chegar é só dizer que o mago mandou você, e eles o receberam, lembre-se garoto, isso é só até você se preparar, você não poderá se esconder para sempre, um dia sua batalhar vai chegar e você terá que lutar pela sua vida e pela a vida daqueles que você ama.

Pego o papel da mão do Lauses e nele diz " Casa Santa Helena número 101 bairro Embra Ville" assinado - Mago/

_ Mago? Pergunto. Ao levantar a cabeça para perguntar como ele chegou até mim, e também para perguntar o que estava acontecendo, ou o que eu sou. Eu tenho tanta perguntas, que nem sei por onde começar.. Ergui a vista e ele simplesmente sumiu. Corro para fora da cabana, olho pelos rios, árvores, arbustos, mas nem sinal dele.

Não estou entendendo nada, mas vou seguir o conselho do sábio Lauses, vou procurar a casa Santa Helena, e lá eu penso no que fazer depois.

            
            

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