Capítulo 2 Resgate

A ideia de ir para casa só durou até o momento em que eu vi uma menina andando sozinha na rua. Devia ter uns 17 anos, parecia sair de uma festa. Ela andava a passos largos e logo atrás dela três homens a chamavam.

Parei o carro um pouco mais à frente e desci, alcançando a menina.

"Me solta", falou, já se debatendo.

"Não. Calma. Não vou abusar de você. Esses homens estão atrás de você, não estão?", apontei com a cabeça para os dois homens que, agora, tinham parado a uma certa distância de nós. Ela assentiu.

"Sim."

"Vamos. Eu te levo em casa.", falei

Ela me olhou assustada, mas como não tinha muitas opções, aceitou. Ela entrou no carro e eu parti rápido dali. A menina parecia envergonhada.

"Qual seu nome?", perguntei.

"Marina."

"Sou Nicolas. Estava fazendo o que na rua a essas horas?"

"Festa de uma amiga. Mas me arrependi, como sempre."

"E onde você mora?", perguntei.

"Pode me deixar em um ponto de ônibus qualquer. Eu moro na favela e não é legal entrar com um carro desses lá, ainda mais a noite. Você já me ajudou muito."

"Não vou deixar você na rua. Eu sou vagabundo, mas não sou covarde. Fale, onde você mora?"

Ela me disse e eu fui até lá. Talvez eu tenha bebido um pouco demais pra entrar no Alemão assim, fácil. Mas também não ia deixar a menina na rua para ser estuprada.

Alguns minutos depois, e seguindo as orientações que ela me dava, eu estacionei em frente ao local onde ela disse ser a casa dela.

"Está entregue."

"Muito obrigada. Eu não tenho dinheiro, é... você..."

"Boa noite menina", cortei, para deixar bem claro que não me importava. "Mais cuidado na rua.". Ela me deu um sorriso fraco e saiu.

Saí dali e fui direto para o meu apartamento. Necessitava da minha cama urgentemente. Assim que cheguei comi uma coisa rápida, fiz minhas higienes e fui dormir.

No meio da madrugada, sirenes de um carro de polícia me acordaram. Cheguei da varanda e vi, a poucos metros do meu prédio, os policiais prendendo três caras, aparentemente os mesmos de horas atrás.

No chão tinha uma garota de uns 18 ou 19 anos com as roupas rasgadas, pareciam uniformes, no entanto ela ainda estava de roupas íntimas.

Senti um arrepio me subindo pela espinha, ao lembrar da menina que deixei em casa.

"Parabéns Nicolas! Você fez uma boa ação no dia."

Se aqueles homens não acharam ninguém depois da Marina, você evitou que eles estuprassem alguém nessa noite. Uma pena que só nessa, porque tenho certeza que em menos de uma semana essas pessoas estarão soltas de novo.

Resolvi deixar isso tudo de lado e deitar novamente. Um dia intenso, de aulas chatas, me aguardavam, e não tinha nada pior que enfrentar adolescentes morrendo de sono.

~ 7 de fevereiro de 2017

Na manhã seguinte eu acordei, pasmem, morto de sono. Minha cabeça doía e meu estômago roncava.

Fui até o banheiro e fiz minhas higienes, tomei um banho e me arrumei pra ir dar aula. Hoje eu tinha aula com o terceiro ano e não estava nem um pouco animado.

Pegar uma turma de adolescentes marrentos, iguais a mim quando estava no ensino médio, não era nem de perto o meu maior sonho. Já prevejo eu pagando todos os meus pecados nessa escola.

Tomei meu café e um remédio para dor de cabeça, peguei meus materiais e fui. Ainda eram 6:40, e as aulas começam 7:15, então eu não precisava correr. Não tinha trânsito e não era longe.

Assim que eu cheguei, vi um grupo de crianças correndo para dentro da escola. Graças a Deus, eu só dou aula para o ensino médio, porque com adolescente marrento eu posso até lidar bem, já que fui um, mas com criança birrenta eu não sirvo para mexer.

Cheguei na sala dos professores às 7:05 e não tinha ninguém lá, a não ser uma professora bem bonita, que eu por acaso nem tinha notado antes. Dei uma avaliada geral nela, mas parei na mão esquerda. Era casada.

"Bom dia", falei.

"Bom dia", ela abriu um sorriso cordial. "Nicolas, certo?"

"Sim. E você é?"

"Renata, satisfação."

"Igualmente. Não lembro de você quando estudava aqui."

"Ah! Eu entrei ano passado. Dou aula de história."

"Ah sim."

"Quando Marcello falou que haveria um professor novo, não imaginei que ele fosse tão jovem."

"Ah! Eu estou aqui meio que obrigado. Me formei ano passado em física."

"Entendi! Bom, está na hora da aula, vou indo. Foi bom te conhecer Nicolas."

"Idem."

Ela pegou as coisas dela e saiu da sala rebolando. Assim que o sinal tocou peguei minhas coisas e sai também.

Cheguei na sala onde eu daria minha primeira aula no exato momento em que o último aluno entrou. Eu conhecia bem aquela sala.

~Flashback

Entrei na sala aos beijos com a Sandra. Era uma sala que ninguém usava, e todos já tinham ido embora, então ninguém apareceria. Sandra é uma menina gostosa. Dá pra mim sempre que eu quero e dessa vez não foi diferente.

"Quanto fogo hein?", ela disse com um sorriso perverso no rosto.

"Você ainda não viu nada."

Eu tirei as roupas dela e não demorou pra estar entrando e saindo de dentro dela.

~Flashback

Foi uma foda boa, aliás quase todas são ótimas, mas ainda não achei a perfeita. Por enquanto a melhor delas é a Bruna, mas ela ainda falha muito.

"Professor?!", alguém gritou do meio da sala.

"Está viajando aí? A aula.", um outro completou.

"Desculpa. Estava tendo algumas recordações dessa sala, mas vamos ao que realmente interessa. Bom dia, meu nome é Nicolas, mas eu não sou esses professores caretas que não gostam de apelidos então podem me chamar de Nick ou Nico. Sou professor de física, e bom, espero que não sejam alunos tão ruins quanto eu fui."

"Que isso professor. Somos uns anjinhos", um terceiro aluno respondeu.

"Com certeza", eles concordaram, mas dava pra ver o sorriso travesso no rosto deles.

"Engraçado. No meu primeiro dia de aula do terceiro ano eu disse a mesma coisa", rimos. "Bom, vou começar minha aula. Daqui um tempo eu descubro e decoro o nome de vocês, ok?", eles assentiram e eu comecei minha aula.

Até que não foi tão difícil, para uma turma que era puro hormônio. Eu era dez vezes pior que todos eles juntos. Ainda mais no segundo dia de aula. Eu era o terror de aluno.

Na hora do intervalo eu estava quase dormindo em pé de tanto sono que sentia. Assim que entrei na sala dos professores, vi que tinha um café e aproveitei. Eu bebi praticamente a garrafa toda sozinho.

Entre uma xícara e outra, não sei quanto tempo depois, vi meu pai entrar na sala e se sentar ao meu lado.

"Como está se saindo com os alunos?", perguntou.

"Bem. Para o segundo dia de aula, eles até que são comportados."

"Mais do que você, pelo menos"

"Sim. Quase nem acreditei que estava lidando com o ensino médio."

"Isso é bom. Espero que cumpra com as suas obrigações."

"Pai, eu estava em uma festa ontem. Podia ter ficado lá e bebido todas, mas não. Eu fui pra casa cedo, porque eu tinha que estar aqui, e estou, não é? Então sem sermão."

"Tudo bem", ele levantou. "Sua mãe mandou chamar você pra almoçar conosco hoje."

"Eu apareço lá."

O sinal indicando o fim do intervalo tocou, encerrando nossa conversa, e eu voltei para as minhas aulas. Para um começo de experiência, até que não era tão ruim. Essa geração que não faz bagunça ajuda bastante.

Eu tinha a última aula com o terceiro de novo. Assim que entrei na sala quase me arrependi. Tinha bolinha de papel voando para todo lado. Que tipo de adolescentes são esses que ainda jogam bolinha de papel um no outro?

"Ei, ei, ei? Que isso aqui?", perguntei, batendo palmas pra chamar a atenção deles.

"Desculpa professor".

"Não, espera aí", falei com falsa irritação. "Que tipo de adolescentes são vocês? Caramba! Na idade de vocês eu estava dando uns amassos nas meninas da minha sala durante a troca de professores". Não houve um aluno sequer que não riu.

"Melhor professor, sem dúvida", alguém que não conheço soltou, me fazendo rir com eles.

"Vamos estudar, antes que meu pai passe aqui e me veja ensinando coisas erradas para vocês", falei.

"Ei professor, quer ir na festa que vamos dar na sexta?", um aluno perguntou.

"Quero, claro. Onde e que horas? Posso levar amigos?", que meu pai nunca me ouça.

"Você pode tudo professor. Só não vale fazer strip, se não, não sobra menina pra gente", um outro aluno zombou. Preciso decorar logo o nome deles.

"Não curto muito fazer strip. Relaxa. Depois eu quero detalhes dessa festa aí". Eles concordaram e eu comecei a dar a minha aula. Eu ainda não tinha reparado em todo mundo. Até agora.

No canto esquerdo da sala, na primeira cadeira, tinha uma menina morena. Acho que é a mesma que eu derrubei ontem. No fundão estava a turma da bagunça.

Tinha umas meninas até bonitas. Se eu ainda tivesse meus 17 anos, eu até acharia elas gostosas, mas hoje em dia o nível ficou muito mais alto. Sem contar que são muito oferecidas. Odeio mulher oferecida demais.

Os meninos eram os típicos filhos de papai. Tinha só um que era diferente, parecia estar em um nível de moral bem mais acima. Era, provavelmente, o inteligente da sala.

Mas ele também era gay, isso acarretava em algumas zoações sempre que eu perguntava algo e ele respondia. Isso me deixou nervoso, odeio esse negócio de bullying. Se o garoto quer ser assim, ninguém tem absolutamente nada a ver com isso.

Continuei dando minha aula e quando eu fiz mais uma pergunta e ele respondeu, zoaram ele. Isso foi o estopim.

"Ei. Você. Qual seu nome?", perguntei olhando para o garoto que estava fazendo piadinhas.

"Gustavo."

"Gustavo você tem alguma coisa contra o..."

"Felipe."

"Tem alguma coisa contra o Felipe?"

"Não professor."

"E está zombando dele porque então?"

"Aah professor! Vai dizer que não zoava os alunos insignificantes da sua sala?"

"Primeiro, na minha sala não tinha alunos insignificantes. Todos tinham o seu devido valor. Segundo, sempre odiei bullying. Eu era vagabundo, mas eu sabia respeitar as pessoas."

"Desculpa, Senhor Respeito", disse irônico.

"Sem ironias, ok? Mais uma palhaçada dessa com o garoto e eu vou complicar sua vida com meu pai. Isso vale pra todo mundo". Eles assentiram e eu vi a menina da esquerda sorrir. Deve ser amiga do Felipe.

Depois disso o resto da aula foi em paz. Sem problemas, sem zoeiras.

Quando o fim da aula chegou, os alunos saíram até correndo, não deu tempo nem de desejar boa tarde a eles. O único que ficou foi o Felipe. Ele levantou da carteira e veio timidamente até minha mesa.

"Queria agradecer. Por hoje", ele falou.

"Sempre foi assim?"

"Sim."

"E você nunca fez nada?"

"Sou sozinho contra a sociedade inteira Nick, não é tão fácil."

"Felipe, você é um ser humano como qualquer outro e merece respeito como qualquer outro. Não deixa uma sociedade de merda te diminuir."

"Obrigado. Boa tarde professor."

"Boa tarde."

Quando eu ia pegar minhas coisas, a menina que eu derrubei antes apareceu na porta.

"Licença. Posso entrar?"

"Entra. É comigo?", perguntei, já louco pra ir pra casa. Estava morrendo de fome.

"É sim. Eu preciso de ajuda."

"Com o que?"

"Eu estava estudando em casa ontem e teve um exercício que eu não soube fazer."

Ela me mostrou o livro. Tinha circulado o problema que ela tentou e no caderno como ela fez. Ela tinha uma caligrafia bonita, um caderno todo caprichado. Olhei o exercício e a ensinei como fazer.

"Obrigada. Desculpa tomar seu tempo."

"Tudo bem. Estou aqui para isso. Qual seu nome?"

"Marina."

"Até amanhã Mari", ela assentiu e saiu.

Finalmente, eu juntei as minhas coisas e fui para casa da minha mãe. Estava com saudade dela, já tinha um tempo que não ia à casa deles. Assim que cheguei, só estacionei meu carro em frente e já fui entrando.

"Mãe? Cheguei."

"Oi meu filho", ela me recebeu na porta. "Vem, entra. Que saudade."

"Tudo bem?"

"Sim. Tenho uma novidade para você", ela disse com um sorriso maior que o do gato da Alice no rosto.

"Boa?"

"Bom, para mim e para o seu pai é maravilhoso. Para você eu não sei dizer."

"Sem essa de esperar o almoço. Conta aí. O que houve? Está grávida?"

"Quando é que você vai parar de estragar minhas surpresas?", ela disse revirando os olhos.

"Quando você deixar de ser minha mãe. Parabéns dona Gisele Bittencourt, mamãe", ri. "Só não espere que eu troque fraudas ou faça arrotar. Eu não vou."

"Tão simpático", ela revirou os olhos outra vez.

"Também te amo mãezinha". Dei um beijo em sua bochecha e ela riu, me puxando pra cozinha logo depois.

Sentamos à mesa e logo meu pai apareceu também. Ele sempre foi muito rigoroso comigo, mas eu nunca o vi chegar em casa e não dar um beijo na minha mãe. Nunca ouvi uma briga entre eles. Já minha mãe sempre foi uma pessoa amorosa, carinhosa. Sempre deu carinho e atenção pra todo mundo. Eles são um belo casal.

"E você filho, quando vai trazer sua namorada aqui?"

"Que namorada, mãe?"

"A Bruna", respondeu como se fosse óbvio.

"Bruna não é minha namorada."

"Pois deveria. Bruna é uma menina bonita, e você vive com ela."

"Bonita só por fora. A menina é muito rodada. Eu só fico com ela porque ela é que transa melhor disponível no momento."

"Odeio quando você é fútil. Você devia arrumar uma mulher pra você. Já está na hora de casar."

"Mãe eu já disse, quando eu achar a mulher que tiver o sexo perfeito, aí eu penso em casar."

Ela negou com a cabeça e depois seguimos comendo em silêncio.

            
            

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