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Depois do almoço, eu fui pra casa e assim que entrei, encontrei Cida limpando a cozinha.
"Ei Cida!", cumprimentei.
"Oi Nick. Tudo bem? Não veio almoçar."
"É, fui comer com meus pais hoje. Minha mãe está grávida."
"Sério? Parabéns!"
"Obrigado. Vou tomar um banho e dar uma saída. Se procurarem por mim hoje, diz que morri", ela assentiu rindo e eu fui pro meu quarto.
Entrei logo pra tomar um banho. Acho que vou dar uma caminhada hoje. Assim que saí do banho fui conferir meu celular e tinha mensagem de um número desconhecido.
~Mensagem
Desconhecido:
Ei professor, aqui é o Gustavo
Consegui seu número na secretaria
Vai na festinha mesmo?
Eu:
Depende
Vai ter bebida?
Gustavo:
Festa nossa tem de tudo
Só não tem droga
Eu:
Isso é bom
Vou levar três amigos comigo
Beleza?
Gustavo:
Belezaaaa
E sei que nossas gatinhas novinhas
não passam no seu pente fino
Mas você vai se surpreender em como
algumas conseguem ficar gostosas
Eu:
Não vou não
Meu amigo, eu transei até com a nerd da minha sala
Sei o quanto uma novinha pode ficar gostosa
Gustavo:
Tu é o foda professor
Eu:
Mas novinhas não me interessam mais
Elas são muito...
Não profissionais
Prefiro as maduras
Gustavo:
Vou anotar isso
Te vejo lá
~Mensagem
Ele mandou o endereço da casa e eu ri. Esses garotos não sabem o que é ser vagabundo. Tão inocentes.
Depois que deixei meu celular de lado, eu peguei os meus materiais da escola e fui preparar minhas aulas. Hoje eu estava no meu dia de ser responsável.
Física é uma coisa muito legal, mas não serve para ser estudada por mais de três horas. Quando acabei, coloquei uma bermuda mais leve, um tênis e fui correr na orla da praia. Preciso manter o corpo decente e parado em casa ninguém consegue isso.
A brisa do mar era ótima para o calor que fazia. Durante minha corrida eu fiquei pensando no que minha mãe disse. Pensar em mim casando parecia uma grande piada. Está aí uma coisa que nunca pensei em fazer.
Não serve pra mim aqueles clichês todos de casais. Apelidos carinhosos, romantismo, declarações. Nunca fui assim, menina nenhuma me fez ser assim e mulher nenhuma acredito que fará. Amor não é pra mim.
Corri por toda a orla. Estava exausto, suado e com sede, mas satisfeito. Parei em um quiosque para comprar água de coco e depois me sentei em uma pedra mais isolada que tinha ali no fim da praia.
Estava tranquilo tomando minha água quando de repente senti um peso sobre mim. Meu coco caiu e saiu rolando pedra abaixo. Uma menina teria feito o mesmo, se eu não tivesse feito, com incrível habilidade, o trabalho de segura-la em meu colo.
"Ai meu Deus, desculpa! Eu não tinha te visto, desculpa."
"Calma. Está tudo bem, machucou?"
"Graças a você não. Nossa. Desculpa mesmo", ela me olhou toda envergonhada.
A menina não me era estranha, e logo entendi o porquê.
"Ei... você não é a menina da escola? Como é seu nome mesmo... é... Ma..."
"Marina. É sou eu sim. Eu não tinha visto você aí professor, desculpa."
"Me chame de Nick."
Ela se levantou do meu colo e ajeitou o cabelo. Usava uma calça legging rasgadinha, blusa de mangas compridas e tênis. Gente? Quem vem assim pra praia?
"Ok. E obrigada. Eu estaria em uma enrascada se caísse ali."
"Que nada. Eu mesmo, vivia brincando de pular daqui quando era menino."
"É que eu não sei nadar."
"Ah. Realmente isso seria um problema."
"Sim."
"Veio fazer o que aqui com essa mochila?", perguntei o que estava me intrigando desde que ela chegou.
"Estudar."
"Na praia?"
"Tem lugar que traz mais paz do que praia?", perguntou e eu assenti sorrindo.
"Não. Só que... as pessoas costumam usar roupas mais frescas na praia", ela riu.
"Não gosto de usar roupas curtas. Sei lá. Acho meu corpo estranho. Complexo de beleza. Não é fácil ser a nerd."
Que menina mais pessimista. Nem a nerd da minha sala, que não tinha um rosto tão bonito, era assim.
"Deveria se mostrar mais garota. Faz bem se libertar."
"Haam... acho que eu prefiro estudar física."
"Você vem pra um lugar lindo desse estudar física?", essa menina é o que? Um ET?
"Sim."
"Aluna preferida eleita no segundo dia de aula. Parabéns", nós dois caímos na gargalhada.
"Não deveria. Física é a única matéria que eu não me dou bem."
"Não estou ofendido", falei em tom de ironia, mas com um sorriso que entregava que era brincadeira, o que a fez rir.
"Desculpa. Mas é porque... sei lá. Não me dou bem sabe?"
"Sei, eu também não me dava bem com biologia."
"Você estudava?"
"Claro que sim. Dona Gisele fazia questão de ficar pelo menos uma hora todos os dias sentada na sala me vendo estudar."
"Aah! Então você estudava obrigado, não porque queria."
"Nunca disse que gostava", brinquei.
Ela riu e começou a tirar os livros da mochila e eu fiquei ali ondando as ondas se quebrando na pedra. Meu coco estava lá, boiando.
De repente eu lembrei de uma coisa que ainda não tinha pensado.
~Flashback
"Qual seu nome?", perguntei.
"Marina."
"Sou Nicolas. Estava fazendo o que a essas horas na rua?"
"Festa de uma amiga. Mas me arrependi, como sempre."
~Flashback
"Ei, você é a menina da festa", falei.
"Ham?"
"A menina... que os homens estavam perseguindo. Eu te levei em casa ontem."
"Ah! Sim, sou eu."
"Nossa, nem parecia você."
"É. Uma das únicas vezes que eu tento sair, bom. Você viu o que acontece", eu ri sem jeito.
"Entendo."
Fez-se um silêncio por alguns minutos. Marina olhava para o livro, mas dava pra ver o ponto de interrogação enorme na testa dela.
Eu ia oferecer ajuda, mas antes que eu pudesse fazer isso, ela se virou para mim e me olhou com uma cara bem parecida com a do gato de botas.
"Pode me ajudar?"
"No que eu puder, menina Mari". Ela riu e eu me virei para ela.
Tive que explicar tudo de novo, mas ela era boa em ouvir, aprendia rápido. Ela me olhava atenta, enquanto eu fazia alguns exercícios para ensiná-la. Tinha razão de ser a nerd, ela aprende tudo muito fácil.
"Ei! Você não é ruim em física", comentei.
"Com o professor do lado, não mesmo". Eu ri.
"Boba. Você é inteligente garota. Agora precisa só tirar esse monte de roupa aí e os garotos vão cair em cima."
"Acho que não vou querer, não", riu. "Homem só dá trabalho. Os livros são mais legais."
"Obrigada pela parte que me inclui", rimos.
"Desculpa, de novo."
Ela voltou a estudar e quando terminou ficou ali comigo, conversando. Passar o tempo ali com a Marina foi tão relaxante que eu nem percebi quando a noite caiu.
"Nossa. Ficou tarde, eu preciso ir", ela levantou.
"Vai sozinha? De novo?"
"Meu ônibus passa em... 10 minutos, no ponto que tem aqui perto."
"Tem certeza? Se quiser eu te levo, sem problemas."
"Ei, você é meu professor não meu pai", ela brincou e nós rimos.
"Não custa nada te levar."
"Não precisa. Vai, que tua mulher deve estar te esperando."
Ela apontou com a cabeça pro meu celular que não parava de acender no bolso. Era a Bruna mandando mensagens perguntando onde eu estava, porque não esperei ela ontem e blá, blá, blá. Quando acabei de ler bufei e guardei de novo o celular.
"Não tenho mulher. Dá muito trabalho. Prefiro dar aulas", parafraseei ela mesma, que riu.
"Nem é vingativo você", nós rimos. "Agora eu vou. Até amanhã. Muito obrigada, mas uma vez."
"Gostei de conversar com você. Meninas da sua idade normalmente não têm o papo tão bom."
"Obrigada. Tchau."
Dei um tchau somente acenando e ela saiu. Pouco depois eu fui também. Estava cansado e com fome.
Cheguei em casa e fui direto pro chuveiro relaxar. Quando acabei fui na cozinha preparar minha comida e praticamente devorei ela. Só então fui responder a Bruna.
~Mensagem
Bruna:
Oi amor!
Como você está?
Porque não me esperou ontem?
Queria tanto ter ficado com você
Nicolas?
Onde você está Nicolas?
Não vai me responder?
Eu:
Estava correndo na praia
Bruna:
Não estava, não!
Não te vi
Eu:
Está me seguindo agora?
Bruna:
Você me deve uma explicação
Sou sua namorada
Eu:
Primeiro, você não é minha namorada
Segundo, não devo explicação nem para minha mãe
Terceiro, não enche!
~Mensagem
Larguei o celular e fui ver se passava algum filme na descente na tv. Peguei uma dose de whisky pra relaxar e me sentei no sofá.
Hoje foi um dia tão normal e ao mesmo tempo tão estranho. Eu, que costumo só sair para festas, até fiz amizade temporária com a minha aluna.
Depois que minha dose de whisky acabou e o filme também eu fui fazer minha higiene pra dormir. Bruna deve estar muito brava comigo, mas... não ligo também.
~ 8 de fevereiro de 2017
No dia seguinte fui para a escola até mais relaxado. Me exercitar, ir à praia. Tudo tem um dom de me deixar melhor. Assim que cheguei, dei de cara com a Bruna e sua cara bonitinha toda emburrada.
"Agora você vai conversar comigo."
"Bruna, me erra. Eu estou indo trabalhar."
"Não antes de me falar quem era a vagabunda que estava com você ontem. Vai, fala."
Nessa mesma hora vi Marina passando e olhando pra mim, como se questionasse se eu deixaria a Bruna chama-la de vagabunda.
"Não estava com vagabunda nenhuma, Bruna. Para de ser doida e chega dessa palhaçada."
"Acha que eu sou idiota?". Acho, respondi mentalmente.
"Eu estava com a minha aluna Bruna, estudando. Será que dá para parar de fazer vexame?"
"Não sabia que puta agora é aluna."
"Lava sua boca para falar da Marina. Ela tem muito mais QI que você e você é a única puta que eu estou vendo aqui. Agora sai da minha frente e me deixa trabalhar. Vai dar a bunda e me erra. Que saco", me exaltei.
Eu hein! Garota doida!
Eu saí dali e fui tentar me desculpar com a Marina, mas não a vi então deixei pra lá. É por essas e outras que eu não namoro. Sem paciência pra essas crises de ciúme ridículas que a Bruna tem. Para mim já deu isso. Arrg.
Fui para sala dos professores e como aqui não tinha whisky, tive que beber café mesmo.
"Sua namorada é bem ciumenta né?", Renata me abordou assim que chegou perto de mim.
"Não é minha namorada", revirei os olhos.
"Ficante fixa?"
"Foda fixa. Fico com ela só para transar."
"Bem delicado você", Diego, um outro professor, se aproximou rindo.
"Ah, é verdade. Bruna só serve para sexo."
"Você sempre fala assim das mulheres que pega?"
"Sempre! É só para isso que eu pego, então, sim." Fiz careta logo depois de falar, notando o quanto isso é escroto.
"E o que tu vai fazer com essa Bruna?"
"Já mandei dar a bunda. Mulher doida! Daqui a pouco bate na porta dos meus pais me pedindo em casamento. Estou correndo disso."
"E faz muito bem."
Nós rimos e continuamos conversando até o sinal tocar indicando o começo as aulas do dia.
Hoje o dia já começou ruim, e continuou pior um pouco.