/0/8111/coverbig.jpg?v=f9efb3dbbc73afefaf99d56ab26b6e03)
~Horas depois
"Ei, estou indo embora.", falei.
"Vamos ficar por aqui mais um pouco, ok?", Caio respondeu.
"Vocês que sabem. Fui."
Deixei meu décimo copo de vodka numa mesa qualquer e saí. Depois da decepção com a Renata, eu nem quis ficar com mais ninguém. Fiquei o tempo todo preparando meu plano pra levar Marina pra cama. Isso não pode demorar, não tenho paciência para enrolação
E falando em Marina, em um determinado momento da festa, pouco antes de eu vir embora, perdi ela de vista. Bom, encontrei agora, indo embora sozinha, de novo.
Desacelerei o carro e fui andando bem devagar até estar ao lado dela.
"Que mania é essa que tu tem de andar sozinha na rua à noite? Qual o teu problema com táxi?", ela levou um susto, mas quando viu que era eu, revirou os olhos.
"Não que seja da sua conta, mas meu problema não é com táxi, é com dinheiro."
"Aff meu! Entra aí."
"Não vou a lugar nenhum com você. Estou bem assim."
"Eu não vou estar aqui pra te livrar de novo quando alguém quiser te estuprar. Entra logo na porra do carro."
"Calma professor.", falou cheia da ironia. "Eu estou acostumada a andar sozinha. Me deixa e vai lá comer tuas putas."
Abri a porta do carona e depois desci do carro, peguei ela e coloquei no meu ombro. Que menina forte, credo! Ela me deu vários tapas até que eu a sentei no banco do carro e prendi o cinto dela. Depois dei a volta e sentei no meu lugar, dando partida no carro.
"Você é um idiota para idade que tem."
"E você é muito marrenta pra idade que tem."
"Eu, marrenta?", ela deu ênfase no 'eu'.
"Não, minha vó.", revirei os olhos. "Não, espera, minha vó morreu. Minha mãe, minha mãe que é marrenta."
"Nossa, que humor negro.", ela riu, mas eu permaneci sério.
"Isso não é humor."
"Tu sabe o caminho da minha casa?"
"Não lembro, mas você vai me dizer."
"Cara, você está parecendo um psicopata."
"Que ótimo. Me tenha como quiser, só fala o endereço."
"Para esse carro, eu vou sair!"
Para minha sorte, o sinal fechou bem na hora. Ela tirou o cinto e ia abrindo a porta quando eu segurei a mesma, passando o braço por cima da cintura dela. Ela me olhou, o rosto próximo demais do meu.
"Você não vai a lugar nenhum a não ser pra sua casa, no meu carro.", falei pausadamente.
"E você vai fazer o que se eu não for?"
Eu encarei sua boca por alguns segundos e ela a minha, quando eu fui beija-la o carro de trás buzinou. Porra sinal, precisava que abrir logo agora? Atrasou meu plano.
"Você é um chato bêbado.", ela falou depois de um tempo em silêncio.
"Posso ser pior sóbrio."
"Aff.", ela bufou, colocou de volta o cinto e falou o endereço da casa dela.
Nós fomos o caminho todo em silêncio. Ela encostada no vidro, olhando a rua e eu atento na estrada. Quando estacionei na porta da casa dela foi uma coisa meio estranha.
Ela estava dormindo tão linda no carona que deu até dó de acordar. Ajeitei ela pra não cair quando eu abrisse a porta e dei a volta no carro, pegando-a no colo.
Bati na porta da casa umas três vezes até um homem abrir. Ele levou um susto quando me viu com a Marina no colo.
"Ela dormiu.", dei um sorriso torto e o homem me olhou completamente desconfiado.
"Quem é você?", perguntou.
"Nicolas. Nicolas Bittencourt."
"O que está fazendo com a minha filha? Ela foi estudar, está com você por quê?"
Estudar? Que trouxa! Ela estava em uma festa!
"Sou professor dela. Eu estava passando na rua há pouco e vi ela passando sozinha. É perigoso andar sozinha essas horas, aí eu dei uma carona, mas ela dormiu. Acho que estudou muito, deve estar cansada.", expliquei.
"Não gostei de você.", igualmente, pensei.
"Obrigado. O senhor é muito simpático.", ironizei. "O senhor pega ela ou eu posso colocar ela lá no quarto dela?"
"Me dá."
Ele a pegou do meu colo e eu sorri irônico antes de entrar no meu carro e sair.
Depois que eu sai da casa dela, o caminho até a minha foi tranquilo. Começou a me dar sono e foi sorte eu não ter batido no muro de proteção da rua. Quando estacionei na minha vaga na garagem do prédio eu tive que lutar pra não deitar no volante e dormir.
Assim que entrei no meu apartamento eu fui direto para o quarto e me joguei na cama. Dormir depois disso foi um piscar de olhos. Literalmente.
~11 de fevereiro de 2017
No dia seguinte, acordei com minha cabeça doendo, por conta das várias bebidas de ontem, e eu só conseguia lembrar de três coisas.
Eu aceitando a aposta. Eu transando com a Renata e isso eu juro que queria esquecer. E aquele maldito rostinho bonito dormindo no meu colo.
Olhei meu celular e tinha várias mensagens dos meninos.
Caio:
Cara, a festa foi boa até. Os meninos se superaram
Bruno:
Com certeza.
As alunas do Nick são até boas.
Brenno:
Ele que não gostou muito da festa, não é?
Estava revoltado com a tal da Marina
Caio:
E que Marina né?
Só não agarrei ela por causa do nosso parceiro.
Bruno:
Não é mano?
Morena gostosa pra porra
Brenno:
Mas tirem o olho que a morena é do Nick
Aparentemente, depois disso eles dormiram todos. Aproveitei a deixa e entrei na conversa.
Eu:
Não é minha não
Mas vai ser
Caio:
Quero ver como tu vai fazer isso?
Eu:
Meu amigo, se não fosse a porra do sinal
Eu tinha beijado ela ontem mesmo
Bruno:
Nossa
Ligeiro você
Como foi isso?
Eu:
Ela estava indo embora sozinha de novo,
Aí eu dei carona pra ela de novo
Apesar de no início ela não querer aceitar
Ia sair do carro e eu impedi, mas meu rosto ficou bem perto do dela
Propositalmente, claro
Mas aí a porra do sinal abriu e cortou o clima
Bruno:
Isso vai ser melhor do que eu esperava
Brenno:
Só não vale se apaixonar hein
Eu:
Me apaixonar por essa menininha marrenta?
Até parece
Viaja não, cara
Caio:
Se tu diz
Quero só ver tu conseguir isso
Eu:
Só espera
Larguei o celular e fui tomar um banho gelado para ver se ajudava na dor de cabeça. O relógio marcava 12:37 e eu estava morrendo de fome, então vesti uma bermuda qualquer e fui comer.
Quando acabei lavei o meu prato e resolvi ir na casa da minha mãe. Com a gravidez agora, ela provavelmente vai exigir mais minha presença em casa.
Vesti uma roupa mais adequada pra sair e fui pegar meu carro. Levei um susto quando vi que ele estava parado todo torto na minha vaga. Me deu uma certa vergonha por ter parado ele assim.
Deixei isso pra lá e fui em direção ao condomínio dos meus pais. As pessoas devem se perguntar como meu pai é rico sendo só um diretor de escola, já que no Brasil as duas coisas juntas parecem impossíveis. A verdade é que ele foi arquiteto por anos, ganhou dinheiro demais assim. Depois que ele se aposentou da arquitetura e resolveu abrir uma escola e foi lá que eu estudei no meu ensino médio, e é onde eu trabalho agora. Além disso, ele fez uma poupança de investimentos para mim, que é de onde eu tiro todos os meus luxos hoje.
Cheguei na casa deles e já fui logo entrando. Meus pais estavam na sala encarando uma pasta dessas que se põem contratos ou coisas importantes, e choravam.
"Oi gente, o que aconteceu? Faliram?", perguntei, chamando a atenção deles.
"Oi meu amor, que surpresa boa.", minha mãe veio me cumprimentar toda sorridente.
"Nós fomos na primeira consulta de pré-natal da sua mãe.", meu pai falou.
"E por que esse choro todo? Isso não deveria ser bom?"
"Mas é.", minha mãe respondeu.
"É que eu lembrei que na sua gravidez eu não pude ir em quase nenhuma delas. Acho que só fui quando descobrimos que seria um menino e na última. De lá você já foi pra maternidade, sua mãe entrou em trabalho de parto no meio da consulta."
"E o senhor me fala assim, sem vergonha nenhuma, que não esteve presente na minha gravidez, mas que foi na da minha irmã?"
"Irmã?", minha mãe questionou.
"Ah, sei lá. Saiu."
"Desculpa filho."
"Marcello Bittencourt pedindo desculpas? Fiquem de olho que hoje cai um dilúvio."
"Não abusa filho.", minha mãe riu.
"Também amo vocês."
"Nicolas Bittencourt dizendo que ama alguém? Fiquem de olho que hoje cai um dilúvio."
"Plágio é crime pai.", nós rimos e nos abraçamos.
E sim, eu esperava que fosse uma menina, não sei porque. Gosto mais de mexer com mulheres. Sem colocar o lado pervertido nisso obviamente, porque eu não vou desejar minha irmã. Fico enjoado só de pensar.
"Só tem uma coisa que não mudou., meu pai falou.
"O que?", perguntei.
"Eu sempre sei quando sua mãe está enjoada."
Ele começou a andar em direção à escada e dois segundos depois minha mãe começou a correr pro andar de cima.
Sentei no sofá e fiquei esperando eles descerem. Quando isso aconteceu minha mãe estava com uma cara péssima e meu pai não tinha expressão no rosto.
"Tudo bem?", perguntei.
"Eu só coloquei todo o meu almoço pra fora, mas estou bem."
"Médico?", levantei.
"Não precisa, é um enjoo normal de gravidez.", meu pai respondeu. "Vou pegar o seu remédio."
Ela assentiu e meu pai foi pra cozinha. Minha mãe veio até o sofá e se sentou ao meu lado.
"E você, como está, filho?"
"Bem."
"Só bem? Nenhuma novidade sobre seu namoro? Nada?"
"Mãe, eu não tenho namorada.", revirei os olhos.
"E está esperando o que pra pedir a Bruna em namoro?"
"Iih, não vale à pena não. Ela fez a maior cena na porta da escola quarta.", meu pai falou, vindo da cozinha.
"Como foi isso?"
"Eu tinha ido caminhar na orla terça à tarde e fiquei até tarde lá. Quando cheguei ela reclamou por eu não ter respondido ela. Aí no dia seguinte foi fazer cena na porta do colégio. Me fez passar a maior vergonha."
"Eu só não entendi ainda porque ela chamou a Marina de vagabunda.", meu pai perguntou.
"Sabe aquela pedra que eu e os meninos costumávamos brincar na praia?", perguntei.
"Sei."
"Eu estava lá sentado, tomando água de coco, quando a Marina chegou pra estudar. Ela ia estudar física, então eu fiquei lá e ajudei ela."
"Filho você não está levando suas alunas pra cama não né?", minha mãe perguntou séria.
"Pelo amor de Deus. Se você fizer isso é demissão na certa.", meu pai completou.
"Não, não estou. Mas qual o problema se tivesse? A vida fora das paredes da escola não diz respeito a ninguém."
"Mas sempre você vai ser visto como o professor."
"Não concordo, mas também não faz diferença. Não quero levar nenhuma delas pra cama."
Só a Marina, mas ninguém precisa saber disso.
Fiquei ali conversando com eles por um bom tempo, até que a noite caiu e eu me despedi dos meus pais e fui pra casa.