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- Que tipo de café você quer? - perguntou Matteo.
- Expresso, curto e sem açúcar. - respondeu Rebeca.
Matteo achou engraçado e seguiu até a atendente para fazer os pedidos. Ele solicitou dois expressos puros, como Rebeca havia pedido.
Logo, retornou para a mesa onde Rebeca o aguardava com os cafés e disse:
- Gostamos do mesmo tipo de café - forte, intenso e amargo.
- Sim, no meu caso, vale para o café e para a vida também. - resmungou Rebeca baixinho.
Matteo ouviu e sorriu timidamente.
- Me fale de você. - disse ele.
- Não tenho o que falar", respondeu ela chateada.
- Sempre temos! - retrucou ele.
- Então pode começar você. - respondeu ela com deboche.
Matteo colocou o café no pires, levantou seu olhar e encarou Rebeca como se quisesse desestabilizá-la, e perguntou: O que você quer saber, Rebeca? Tenho tempo para responder.
Rebeca se sentiu desafiada e achou engraçado, mas ao mesmo tempo tentava fugir do olhar fixo dele, que a deixava totalmente tímida.
- Seu sotaque não é daqui. Sou latino-americana, mas moro aqui faz bastante tempo e reconheço bem sotaques de fora. De onde você é? - perguntou ela.
- Você tem razão, senhorita Rebeca. Sou de uma cidade chamada Jesi, que fica na Itália. Meu pai é italiano e minha mãe portuguesa. Logo, falo bem as duas línguas, mas sempre fica um pouco de sotaque entre elas. Respondi sua pergunta? - respondeu Matteo.
- Sim -respondeu ela visivelmente sem jeito.
- Agora é minha vez. - sorriu Matteo - Há quanto tempo você vive aqui?
- Moro aqui há seis anos... quase sete. - respondeu Rebeca e se calou como se não quisesse falar mais nada.
- O que você faz aqui? - perguntou ele.
- Trabalho aqui. Sou administradora de empresas. E você, o que faz? - questionou ela.
- Trabalho com gestão de riscos e nos tempos vagos sou professor em duas universidades. - respondeu Matteo.
Ela havia respondido várias perguntas que tinha feito a si mesma sobre ele com aquela resposta. E se calou.
- Trabalha nos tempos vagos? Que tipo de pessoa aproveita os tempos vagos para seguir trabalhando?
Matteo sorriu diante da pergunta direta de Rebeca.
- Entendo que possa parecer estranho para algumas pessoas, mas para mim, trabalhar nos tempos vagos vai além de apenas realizar atividades profissionais. É algo que me traz satisfação e me faz sentir realizado. Gosto de compartilhar meu conhecimento e ajudar os outros a aprender e crescer. Além disso, considero importante me manter atualizado e me aprimorar.
Cada pessoa encontra sua própria forma de equilibrar o trabalho e o tempo livre.
Rebeca sorriu, apreciando as palavras de Matteo.
- As perguntas acabaram, Rebeca? Você tem bastante curiosidade - provocou Matteo.
- Sim, acho que não precisamos mais saber sobre a vida um do outro. - respondeu ela.
- Você tem um senso de humor interessante! - comentou ele, soltando uma risada longa e suave.
- É comum em seu país os homens falarem assim com as mulheres? - perguntou ela, irritada por ele estar debochando dela.
- Eu gosto de ver como seu rosto muda quando você está irritada. Parece que não está acostumada com pessoas que te tiram da sua zona de conforto. Estou errado?
Ela arregalou os olhos, extremamente irritada, enquanto pensava em uma resposta. Tentava compreender como ele poderia ser tão irritante e, ao mesmo tempo, tão encantador. Em seguida, deu mais um gole em seu café, olhando para o lado como se não o tivesse ouvido.
- Desculpe. Não pretendia ser inconveniente, Rebeca. Não quero que fique aborrecida ou que tenha uma má impressão de mim. Peço desculpas. - disse ele, olhando para ela com sinceridade e realmente chateado por vê-la ignorando-o.
-Desculpas aceitas. -respondeu ela, sem olhar para ele.
Pela primeira vez, ele notou que o rosto dela ficou corado enquanto abaixava a cabeça, sem saber o que dizer. Ele continuou observando-a, imaginando como seria seu cabelo solto. Se era longo ou curto, sem aquele coque alto. De repente, Rebeca levantou a cabeça e percebeu que ele estava olhando para ela. Naquele momento, seus olhares se encontraram e, por alguns segundos, eles conseguiram se encarar.
Imediatamente, eles desviaram o olhar e mudaram de assunto. Rebeca comentou sobre o café, tentando disfarçar, e Matteo, percebendo a intenção dela, aceitou a mudança de tema. Conversaram por cerca de meia hora sobre cafeterias onde seria possível encontrar bons cafés, compartilhando o gosto mútuo por explorar esses lugares. Matteo contou várias histórias de suas viagens, descrevendo em detalhes o aroma de cada uma das cafeterias que visitou. Rebeca ouvia encantada, imaginando tudo aquilo em sua mente. Parecia que ambos compartilhavam a paixão por viagens, cafés e experiências gastronômicas, como se fossem amigos de longa data. Estavam muito à vontade ao falar sobre suas experiências quando, de repente, o silêncio se instalou entre eles.
Matteo olhou para Rebeca e perguntou:
- Por que está sozinha, Rebeca? Por que não quis chamar alguém para acompanhá-la?
- Você faz muitas perguntas para um homem, senhor Matteo - respondeu Rebeca.
- Você fala muito pouco para uma mulher, Rebeca.
Nesse momento, ambos já estavam gostando das provocações mútuas.
- Eu vivo sozinha neste país, minha família não é daqui, e estou separada há um ano e meio. Isso responde sua pergunta? - disse ela com um ar de desprezo.
- Compreendo.
Matteo percebeu que a mulher diante dele não era comum. Ela era intrigante, forte e diferente. Não era uma situação em que qualquer pessoa se envolveria.
- E você? Mora aqui? - perguntou ela.
- Agora está interessada em saber mais sobre minha vida? - respondeu ele, rindo dela.
- Arghhhhh! - ela resmungou, sentindo ódio pela resposta dele.
- Desculpe, Rebeca. - disse ele rindo ainda mais.
- Você me irrita! - respondeu ela, com um tom de perturbação, mas dessa vez parecia mais íntima ao responder daquela maneira.
- Venho para cá duas vezes por ano para lecionar na Escola de Negócios. Moro na Itália, onde trabalho na maior parte do tempo - respondeu ele.
- Meu Deus... esqueci completamente da hora de buscar os exames de imagem - comentou Rebeca, percebendo que ficaria conversando com Matteo o dia todo se pudesse.
Matteo levantou-se e segurou-a, ajudando-a a se levantar. Passando o braço por trás dela, segurou sua cintura com firmeza, e Rebeca, completamente sem jeito, apoiou-se nele para andar. Ela não conseguia acreditar na força com que ele a segurava.