Capítulo 6 A noite do jantar

A atitude de Matteo foi um golpe baixo para Rebeca, mas discutir com ele naquele momento não parecia apropriado. Afinal, estavam na entrada do prédio e não seria educado iniciar uma briga ali. Rebeca o encarou furiosa, enquanto Matteo parecia não se importar com sua expressão de raiva.

- Eu vim para conversarmos. Como assim você vai cozinhar? -perguntou ela inconformada.

- E vamos fazer isso. Depois de jantarmos, conversamos. -ele parecia achar engraçado a reação dela.

Matteo segurou a mão de Rebeca e começou a conduzí-la em direção ao elevador do prédio. Ela mal podia acreditar no que estava acontecendo. Ele destrancou a porta e pediu que ela entrasse. Parecia ser o apartamento onde ele estava hospedado. Rebeca entrou com certo receio, sentindo medo de que fosse uma armadilha. Percebendo sua preocupação, ele falou:

- Beck, não fique assim. Eu só queria ter uma conversa com você sem ninguém por perto. Vou preparar nosso jantar e você pode se sentir à vontade. Se preferir ir embora, eu vou respeitar. Mas me dê a chance de conversar com você - disse Matteo, parecendo sincero.

Rebeca respondeu:

- Eu ainda estou aqui, não estou?

O ambiente era extremamente aconchegante, e Rebeca se sentou no sofá de onde podia observar Matteo preparando a refeição. A bancada da cozinha ficava em frente, e ela não conseguia parar de admirá-lo enquanto ele se organizava para cozinhar. Para Rebeca, cozinhar para alguém era a maior demonstração de carinho que se poderia ter.

- Gosto de cozinhar escutando música. Você se importa?

- Não. Eu não me importo! -respondeu ela

- Você gosta de carbonara? -perguntou ele puxando assunto.

- Sim! -respondeu ela evitando estender a conversa.

- É o meu prato favorito. Apesar de existirem excelentes restaurantes aqui e não estarmos tão longe da Itália, não comi um carbonara decente ainda. Hoje vou preparar um carbonara de verdade pra você. -depois de falar, olhou pra ela e notou que Rebeca também olhava para ele e então sorriu- Vou abrir um vinho. Você quer?

- Por enquanto não! - Beck lembrou das coisas que teve coragem de falar no domingo depois que tomou vinho e não queria que se repetisse.

Matteo parecia extremamente tranquilo enquanto cozinhava, como se estivesse acostumado a fazê-lo com certa frequência. Seus movimentos eram precisos e fluidos, revelando habilidade e familiaridade com a cozinha. Era evidente que ele tinha prazer em preparar uma refeição para Rebeca.

- Você precisa de ajuda? Perguntou ela.

- Sim. Poderia levar os talheres e as taças pra mesa?

- Claro que posso. Assim não fico aqui só olhando enquanto você faz tudo.

- Eu gosto. Isso não é um problema pra mim Rebeca.

- Eu percebi - afirmou achando graça da resposta dele.

- Podemos jantar agora. Está pronto! -afirmou ele

Rebeca decidiu dar uma trégua durante o jantar para que pudessem desfrutar de um momento tranquilo juntos. No entanto, ela continuava com pensamentos inquietantes em sua mente, questionando se ele agia da mesma forma com todas as mulheres que conhecia. Ela lutava para relaxar, pois não conseguia tirar da cabeça a possibilidade de que Matteo só a queria na cama e que, após conseguir o que desejava, partiria como se nada tivesse acontecido.

Durante o jantar, os dois conversaram sobre comida e Matteo ensinou a Rebeca a fazer um carbonara perfeito. A conversa fluiu de maneira agradável até que começou a tomar um rumo diferente.

- Você faz jantares assim para todas as mulheres com quem sai?

- Do que você está falando? Claro que não! Você sabe muito pouco sobre mim Rebeca.

- Então me conta...

- O que quer saber? - respondeu Matteo olhando sério para Rebeca.

- Por que estou aqui? Por que me chama pra sair, me liga, manda mensagens sabendo que vai embora? Imagino que seja porque não conseguiu o que quer ainda. Estou enganada?

Você não tem responsabilidade afetiva, não pensa nas consequências...

Matteo permitiu que Rebeca falasse, mantendo-se em silêncio e ouvindo atentamente. Ele tomou um gole de vinho e continuou olhando para ela. Por dentro, sentia-se irritado com as palavras que ouvia, mas compreendia a importância de deixá-la expressar sua raiva. Era necessário permitir que ela desabafasse e colocasse para fora suas frustrações. Matteo não era o tipo de homem que buscava debates acalorados; ele preferia ouvir e esperar até que Rebeca se acalmasse. Ele sabia que, naquele momento, qualquer coisa que ele dissesse não seria realmente escutada por ela.

- Não vai dizer nada? -perguntou ela.

- Não. Quero ouvir o que pensa. - Matteo respondeu bem sério encarando-a.

- Eu não vou falar sozinha! - se levantou aborrecida caminhando até o sofá para pegar sua bolsa.

- Você está sendo infantil agora - disse ele indo atrás dela.

- Eu quem sou infantil? Só vim te falar que eu não vou mais me encontrar com você. Não vou participar desse jogo. E gostaria que respeitasse isso.

Ele segurou ela pelo braço furioso enquanto ela andava. Matteo, percebendo que ela não ia parar, se colocou na frente dela, usou um pouco mais de força e segurou os dois braços, afim de impedir que ela se fosse.

- Agora é você quem vai escutar Rebeca.

Eu escutei você me insultando, falando coisas que você criou sobre mim na sua cabeça e agora quer ir embora...não! Agora é minha vez de falar.

- Você está me machucando. - Ela estava paralisada e assustada com a força com a qual ele a segurava.

Ele a soltou arrependido, pediu desculpas e olhou pra ela com raiva e tristeza ao mesmo tempo.

Depois de ponderar um pouco, ele disse:

- Eu não saio com outras mulheres como você pensa. Eu odeio que me julguem sem que eu possa me defender. Por que você faz isso comigo o tempo todo?

- Você não me deixa outra opção! - respondeu ela.

- Como não Rebeca? Eu tenho vivido intensamente esses últimos cinco dias. - ele estava tão irritado que falou alto e grosseiramente. - Desde que te conheci que me preocupo, te ligo, envio mensagens; sou eu quem te procuro. E você está falando de responsabilidade afetiva comigo?

- Sim. Eu estou! Com que finalidade está fazendo isso se sabe que vai embora? - retrucou ela.

- Esse é um outro problema. Eu não tenho controle do futuro...eu controlo o que faço agora. E neste momento você está estragando tudo. - virou de costas pra ela e se debruçou na janela olhando para fora.

- Você só quer me levar pra cama e depois vai embora e eu vou ficar aqui lidando com isso. Eu sou assim Matteo...essa sou eu. Sou intensa; não quero um homem pra ir pra cama num dia só. Não quero um encontro! Eu não preciso e nem quero isso. Não busco isso!

- Porra Rebeca... para de falar como se soubesse o que eu quero. Não aguento mais essa merda! Você está conseguindo me chatear.

- Se estou mentindo, então porque não consegue explicar o que você quer? Você sabe que existe verdade no que eu digo. Vai dizer que não achou que me trazendo aqui seria mais fácil conseguir o que você quer?

- Então é isso que pensa de mim. Agora ficou claro! Mas vou te contar uma coisa: Eu realmente te comeria agora, nesse sofá.

Eu beijaria você inteira! Queria e quero muito ter você, mas eu não sou o tipo de homem que aceitaria ter uma mulher como você em meus braços sem ter a certeza que você também estaria confortável com isso.

Eu fui casado também Rebeca, assim como você. Passei onze anos da minha vida com a mesma pessoa.

Eu a amava! Ela engravidou e durante sete meses eu cuidei e a amei com todas as minhas forças. Por causa de complicações no parto, ela e a criança não suportaram. E sabe por qual motivo estou contando isso agora? Pois tem três anos que isso aconteceu e pela primeira vez eu senti vontade de estar com outra pessoa e você estragou tudo com seu egoísmo. Sempre tem que ser tudo sobre você? É sempre sobre o que você quer? Você não me conhece Rebeca!

Ela estava completamente desolada olhando para Matteo. Seus olhos se encheram de lágrimas e não havia nada que ela pudesse falar que fosse amenizar aquela situação.

- Eu não sabia disso. Eu não sei o que te dizer. - respondeu Rebeca.

- Não estou te contando para que tenha pena de mim. Te contei para que você não faça com outra pessoa os mesmos julgamentos que fez comigo. Você foi egoísta Rebeca. Está muito focada em si mesma e enxergando o mundo apenas através da sua perspectiva.

- Eu não tinha como saber de nada disso. Por que você não me contou antes de isso tudo começar?

- Está sendo egoísta de novo. Aff! Você se importa com a dor dos outros? Com o tempo dos outros que pode não ser igual ao seu?

- Você vai continuar me ofendendo Matteo?

- Não...não vou. Você pode ir embora agora. Eu não vou mais te segurar aqui. E vou respeitar o seu espaço como me pediu. -respondeu ele olhando pra ela.

Rebeca sentiu-se completamente perdida, mergulhada em uma profunda decepção consigo mesma. Um sentimento de desespero a invadiu, fazendo com que soltasse sua bolsa e caminhasse em direção a Matteo...

            
            

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