Capítulo 9 Ligados

- Entra! - disse Rebeca.

- Desde que te conheci que te imaginava assim. -disse Matteo.

- Assim como?

- Naturalmente linda.

Rebeca estava com uma toalha enrolada no cabelo, uma camisa de malha branca e um short velhinho de ficar em casa. O rosto limpo e com brilho natural; reflexo da iluminação que deixava a boca ainda mais rosada. O cheiro do sabonete de lavanda parecia invadir a sala. Era a típico de beleza que Matteo admirava...uma beleza pura, orgânica, ingênua.

- Você sempre faz tudo parecer poesia. - comentou ela.

- Será que não é você quem faz isso? - ele respondeu.

Ela o puxou pelo braço para que ele entrasse e fechou a porta.

- Vou fazer algo rápido para comermos. - disse Rebeca.

- Vou provar sua comida? sou bem crítico hahaha

- Bobo! Você se ofereceu para vir, então se for ruim não pode reclamar.

- Sei que vou gostar sua boba. - respondeu Matteo enquanto soltava a camisa que estava para dentro da calça.

- Você quer tomar um banho enquanto eu termino? Não tive muito tempo hoje, então vou demorar uns 15 minutos ainda.

- Seria ótimo. Não trouxe outra roupa, portanto terei que colocar a mesma hahaha. - respondeu ele.

- Nisso não tenho como te ajudar... minhas roupas não cabem em você hahahaha

- Não tem problema. Só o banho já melhora tudo. - disse ele aliviado.

Rebeca preparou o salmão com legumes salteados e arrumou a mesa para que eles pudessem jantar. Era tudo tão repentino e novo; ela ainda não conseguia acreditar que estava preparando o jantar para ele.

Matteo saiu do banho e estava tudo pronto.

- Adoro salmão. - comentou ele.

- Espero que goste da comida. Eu realmente improvisei! Tive tantos problemas no trabalho hoje que faltou tempo de pensar em algo.

- O que houve? se não se importa, podemos conversar sobre isso. - disse ele.

- Não tem problema nenhum.

Enquanto jantavam, ela lhe contava sobre seu dia, e os dois trocavam ideias sobre trabalho. Por um breve instante, ela olhou para ele e percebeu que, nas últimas vinte e quatro horas, estavam vivendo como um casal de verdade. Tinham acordado juntos, passado o dia conversando e, agora, estavam compartilhando uma refeição enquanto falavam sobre suas rotinas. Parecia que haviam vivido juntos a vida toda, pois tinham uma grande afinidade e se sentiam confortáveis um ao lado do outro.

- Vamos assistir um filme agora? - perguntou ela depois do jantar.

- Vamos sim.

Eles escolheram o filme juntos e ela se encostou no braço dele enquanto assistiam. Na metade do filme, Rebeca adormeceu. Matteo olhou para ela e pensou:

- Ela adormeceu... vou levá-la para o quarto. Deve estar exausta.

Quando ele a pegou no colo, Rebeca acordou.

- Vou te levar para o quarto...você dormiu no sofá. - Rebeca sorriu e encostou no ombro dele.

Ele a colocou na cama, sentou e deu um beijo nela dizendo baixinho:

- Vou te deixar dormir. Te ligo amanhã. - disse ele.

- Não...fica comigo. -pediu Rebeca ainda sonolenta.

- Não trouxe roupa Beck.

- Fica! - repetiu ela.

Ele não conseguia dizer não para Rebeca. Tirou a camisa e a calça e se deitou do lado dela.

- Te adoro! - disse ela suavemente enquanto deitada de frente para ele.

- Eu também... mais do que você possa imaginar, Rebeca.

- O que faremos, Matteo?

- Ainda não sei, Beck. Só sei que me sinto conectado a você desde o dia em que nos conhecemos.

- Também sinto o mesmo - respondeu ela, suspirando em seguida.

- Vou encontrar uma solução, Beck... Eu prometo.

Logo de manhã cedo Rebeca acordou e foi preparar um café, depois foi até a cama chamar Matteo.

Ela se aproximou e o beijou de forma bem terna, mas ele se assustou:

- Desculpas. Só vim te chamar para tomar café.

- Não tem problema. - disse ele.

- Você estava dormindo como uma pedra - comentou ela sorrindo.

- Vai me acordar assim todos os dias? - perguntou ele.

Rebeca se sentiu constrangida com a pergunta e mudou de assunto. Ela tinha muito medo de imaginar o futuro com Matteo e se frustrar.

-Você vai se atrasar. Ainda precisa passar na sua casa para trocar de roupa. Vou te esperar na sala para tomar café. - disse ela.

Durante o café, Rebeca perguntou:

- Vamos nos ver hoje de novo?

- Marquei com alguns amigos do trabalho no fim do dia para falarmos do fechamento do período. Não vou conseguir vir hoje. - disse ele.

- Ah, claro... sem problemas - respondeu Rebeca, sentindo-se corroída por dentro. Ela havia se acostumado a tê-lo por perto, mas ambos tinham suas próprias vidas e responsabilidades, e nos últimos dias viveram como se o resto do mundo não existisse. Depois de refletir, ela se sentiu egoísta, mas sabia que não podia negar aqueles sentimentos.

Matteo foi para casa, enquanto Rebeca seguia sua rotina.

Durante todo o dia, Rebeca olhava para o telefone, esperando uma mensagem dele. Ela não queria parecer desesperada ou sufocá-lo, então decidiu não enviar mensagens. A noite chegou e nenhuma mensagem. Antes de ir dormir, ela verificou o chat e nada... nenhum "boa noite". Rebeca ficou preocupada e começou a imaginar o que poderia ter acontecido, por que ele não havia dito nada como no dia anterior. As dúvidas e preocupações começaram a se acumular em sua mente.

-Será que ele realmente foi encontrar com os amigos? Será que estou sufocando ele?

No dia seguinte, Rebeca acordou e ainda não tinha recebido nenhuma notícia de Matteo. Ela criou várias explicações em sua cabeça para o silêncio dele. Sentia-se profundamente ligada a ele, mas sabia que não podia cobrar nada ou exigir algo, pois eles não tinham um vínculo definido. Para não se perder em seus pensamentos, Rebeca decidiu ligar para sua amiga e desabafar com ela.

Ligou para Anne e contou um pouco mais sobre os dias que passara com Matteo e como estava se sentindo com a ausência dele depois de sair da casa dela na quinta-feira pela manhã. Ao telefone Rebeca desabafou:

Beck: Eu não posso cobrar nada dele Anne. Não temos nenhum acordo, nenhum tipo de relacionamento oficial e agora estou aqui surtando.

Anne: Amiga, as coisas não funcionam assim! Vocês estão juntos a semana toda, você dormiu na casa dele e ele na sua, ele diz que gosta de você. Como pode achar que ele não tem responsabilidade sobre o que a faz sentir? Ele tem responsabilidade

afetiva sobre esta situação sim.

Nós, mulheres, estamos muito acostumadas a nos culpar por tudo numa relação e procurar motivos para livrar os homens de suas responsabilidades, seja julgando a nós mesmas como neuróticas, como ciumentas ou mesmo não querendo sufocá-los, apesar do impacto que isso possa ter em nossa mente. Não estamos vivendo na época de nossas mães e avós Beck.

Beck: Ai amiga...você tem razão. Eu não posso colocar ele na posição de vítima e estar no lado oposto. Eu não fiz nada de errado! meu único erro até agora foi acreditar que isso daria certo. Eu não vou procurá-lo. Quando ele vier falar comigo eu peço explicações. Vou encontrar maneiras para isso.

Rebeca estava se sentindo frustrada consigo mesma por estar chateada daquela maneira e incapaz de controlar a vontade constante de verificar a cada minuto se havia alguma mensagem. Ela começou a questionar se havia dado crédito demais a Matteo e se havia se iludido depois de ter resistido e cedido a tudo o que ele a fez acreditar. Afinal, era uma sexta-feira, como ele poderia simplesmente desaparecer assim? A incerteza e a ansiedade tomavam conta dela, deixando-a preocupada com o que poderia ter acontecido.

Rebeca ponderou se deveria enviar uma mensagem para perguntar se ele estava bem. Ela decidiu esperar até a noite, na esperança de que ele aparecesse ou enviasse algum sinal de vida. Ela não conseguia acreditar que ele simplesmente desapareceria dessa forma. A ansiedade tomava conta dela, mas ela tentou se acalmar e dar espaço para que as coisas se resolvessem naturalmente.

Foram horas intermináveis até que, às oito horas da noite, Matteo finalmente enviou uma mensagem. Rebeca sentiu um misto de alívio e curiosidade enquanto abria a mensagem para ler o que ele tinha a dizer.

Matteo: Você está em casa?

Rebeca leu a mensagem com raiva e pensou: "

- Ele só pode estar brincando. Não deu nenhuma explicação ontem e agora aparece me perguntando se estou em casa. Eu não vou responder! - Sentindo-se frustrada e desrespeitada, ela decidiu não responder à mensagem de Matteo. Ela queria que ele soubesse que não podia tratá-la assim.

Passaram-se exatos dez minutos e o telefone de Rebeca começou a tocar. Era Matteo ligando para ela. Rebeca sentiu seu coração acelerar e, mesmo relutante, decidiu atender a chamada para ouvir o que ele tinha a dizer.

- O que você quer? - atendeu agressivamente.

- Beck, sou eu.

- Eu sei que é você! - respondeu Rebeca.

- Você está em casa?

- Qual é o seu problema Matteo?

- Como? - indagou ele.

- O que você quer Matteo?

- Você está com raiva...ok. Vou passar aí para conversarmos.

- Não!!!! Eu não quero conversar hoje. -respondeu ela furiosa- e me faça um favor...continue em silêncio como fez ontem e hoje. Preciso de um tempo pra mim. -desligou o telefone.

Rebeca estava extremamente chateada e frustrada com Matteo por ligar como se nada tivesse acontecido, depois de ter passado um dia péssimo, preocupada com tudo o que poderia ter ocorrido.

Matteo, preocupado com Rebeca resolveu procurá-la para amenizar o impacto de seu comportamento com ela.

Era quase dez horas da noite quando o interfone tocou, e era Matteo do outro lado. Ela não sabia ao certo o que fazer, estava muito irritada para recebê-lo, mas, alguns instantes depois, decidiu abrir a porta...

                         

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