A PROMETIDA DO SULTÃO LIVRO 2
img img A PROMETIDA DO SULTÃO LIVRO 2 img Capítulo 6 6
6
Capítulo 8 8 img
Capítulo 9 9 img
Capítulo 10 10 img
Capítulo 11 11 img
Capítulo 12 12 img
Capítulo 13 13 img
Capítulo 14 14 img
Capítulo 15 15 img
Capítulo 16 16 img
Capítulo 17 17 img
Capítulo 18 18 img
Capítulo 19 19 img
Capítulo 20 20 img
img
  /  1
img

Capítulo 6 6

O vômito de Aisha foi só o começo. Dois dias depois, a diarreia começou e ela ainda estava febril. Mais tarde naquela noite, Amy ficou junto dela enquanto lia uma história. O médico não conseguiria chegar até o final da semana e o orfanato não tinha recursos para levar a menina ao hospital. Shatha tinha quase certeza de que era rotavírus e, até aquele momento, nenhuma outra criança tinha ficado doente. Esperando o melhor, elas limparam tudo com desinfetante, e Amy estava diligentemente usando álcool em gel.

Um ataque de tosse acometeu Aisha, e Amy parou de ler para pegar o chá com mel.

- Não. – A menina enrugou o nariz e balançou a cabeça. – Muito quente.

- Eu sei que está quente, querida, mas vai ajudar com a tosse. Vamos acabar a história e tentar voltar pra cama, ok?

Aisha concordou e bebericou o líquido quente. Estava chegando perto da meia-noite. O resto das crianças tinha ido dormir há horas, e Natasha e Shatha estavam encerrando as tarefas do dia, junto com outra rodada de limpeza da área de brincar com desinfetante. Shatha tinha vindo ver a menina uma hora atrás, mas Amy queria passar a noite com ela.

Depois de terminar a história, ela ajeitou Aisha na cama e beijou sua testa. O remédio para tosse estava quase acabando e ela teria que providenciar mais pela manhã. Ela também queria comprar mais aspirina infantil para a febre.

No caminho para a casa principal, onde pegaria um travesseiro e cobertor, ela parou por um momento para apreciar o céu da noite. A ausência de luzes urbanas permitia que, acima, o céu noturno brilhasse. Algumas semanas atrás a lua cheia esteve reluzente, mas ela tinha diminuído para uma fatia e, agora, as estrelas roubavam a cena.

Ela se sentiu pequena. Tão pequena. Depois de se formar, ela tinha se candidatado a um emprego no jornal Miami Herald. Ela tinha um plano. Ficaria alguns anos em um jornal da cidade e, quando James terminasse a dissertação, eles viajariam o mundo. Ela ia fazer a diferença.

Então James terminou com ela, e Amy começou a refletir sobre que tipo de impacto ela teria. Tinha crescido no sistema de lares adotivos, portanto não tinha família para encorajá-la; e as palavras de James a tinham machucado mais do que poderia explicar.

Você não nasceu pra ser mãe, não é?

A verdade é que Amy não podia ter filhos e James sabia disso. Ele nunca tinha mencionado que queria filhos e, a princípio, a sua vida juntos seria preenchida com aventura e romance. Apenas depois que ele a deixou, sozinha e humilhada, é que ela realmente sofreu por sua infertilidade.

Talvez por isso ela tivesse ficado tão apegada à Aisha. Viu um pouco de si mesma na menina. Uma lutadora, sozinha no mundo.

Abriu silenciosamente a porta dos fundos da casa e entrou na ponta dos pés para não acordar nenhuma das crianças. Quando Shatha converteu a casa em um orfanato, mandou derrubar algumas das paredes para fazer dois dormitórios, um para os meninos e outro para as meninas. Apesar de um pouco espartanos, os quartos eram tão limpos que chegavam a brilhar, e cada criança tinha uma cama confortável e espaço para manter suas roupas e seus parcos pertences.

Sem querer acordar nenhuma das mulheres, caso já estivessem na cama, Amy se moveu furtivamente até o armário no final do corredor e pegou um travesseiro e um cobertor.

Contudo, ao se preparar para sair, ela ouviu vozes próximas da porta da frente. Segurando o travesseiro e o cobertor contra o peito, foi ver o que estava acontecendo. Encostada na parede, no escuro, espiou pela quina e viu Shatha discutindo com dois homens na frente da casa. Quando viu as armas, bateu as costas com tanta força na parede de estuque que chegou a arquejar.

- A gente não sabe como você chama a menina. – Um dos homens perdeu a paciência. – Ela tem olhos azuis e uma marca de nascença em forma de coração. É a filha da minha irmã e eu exijo que você a traga aqui agora.

Aisha! Amy segurou vigorosamente o travesseiro e o cobertor. Será que a menina tinha mesmo uma família?

A voz da mulher mais velha estava calma, mas firme.

- Eu já disse que não posso divulgar informações pessoais sobre nenhuma das crianças daqui. Vocês têm que formalizar o pedido à administração. Se têm um problema com isso, podem voltar com as autoridades em uma hora decente.

Shatha manteve sua posição. Não havia o menor sinal de medo em sua voz, ainda que o coração de Amy estivesse saindo pela boca. O que estava acontecendo?

- Nós vamos voltar – ameaçou um deles. – Nem pense que isso acabou.

Amy espiou pela quina novamente, observando enquanto os homens retiravam-se devagar. Os olhos deles fulgiam de raiva e, no momento em que foram embora, Shatha fechou a porta energicamente e desabou.

- Shatha! – Largando o travesseiro e o cobertor, Amy correu para o lado dela. – Você está bem?

- Estou bem – Shatha anuiu, endireitando a postura. – Não percebi que você estava aqui, Amy. Você não devia ter ouvido isso.

- Não sei direito o que ouvi – ela começou, mas em seguida explodiu. – Mas eles querem a Aisha! Você acha que eles são mesmo da família?

- Não. – A outra mulher estreitou os olhos. – Se fossem da família, saberiam o nome dela. Aisha tinha três anos quando chegou aqui. Tinha idade suficiente para saber o próprio nome.

- Mas, então, por que eles iam querer a menina?

Shatha balançou a cabeça e seus olhos ficaram nublados.

- Quando se vive uma guerra constante, os orfanatos se tornam locais de pilhagem por meninos saudáveis que possam ser ensinados a lutar. Conheço homens daquele tipo. Mas não consigo entender porque eles iam querer a Aisha. Só sei que pra boa coisa não é. – Levantando a cabeça, ela mudou de assunto. – Como ela está?

- Está piorando, mas não precisamos nos preocupar ainda. Ela é resiliente.

Shatha sorriu.

- Isso ela é mesmo. Quero manter a menina aqui e quero olhos nela o tempo inteiro. Até que a gente saiba o que esses homens querem, ela não está segura.

- Não vou sair do lado dela – Amy prometeu, indo pegar suas coisas. - Será que chamamos as autoridades?

- Não. Não até que a gente saiba o que está acontecendo. Amanhã vou enviar a Natasha para ver se ela consegue conversar com alguém e identificar os homens que vieram aqui. – A voz dela endureceu. – Deixe que eu me preocupo com isso. Você, fique de olho na Aisha.

Amy atravessou apressadamente a área dos fundos e entrou na casa de hóspedes em silêncio.

Aisha ainda dormia em sua cama. Não havia tranca, mas Amy não queria correr nenhum risco e estendeu o cobertor no chão, na frente da porta. Ninguém entraria sem ela saber.

- Mas eu não estou me sentindo bem – Aisha tentou tapear ao ver que Amy colocava os livros da escola em cima da cama.

Amy sorriu maliciosamente.

- Que interessante, porque não faz mais do que meia hora que você me disse que estava ótima e que queria brincar com as outras crianças lá fora. E agora, de repente, está muito doente para ler?

Aisha ficou quieta por um minuto, como se contemplasse suas opções antes de balançar solenemente a cabeça.

- Sim.

- É uma pena que a sua saúde tenha subitamente piorado. Acho que é melhor você tirar uma soneca.

Aisha imediatamente pegou um dos livros.

- Tudo bem – falou com um suspiro. – Vou ler.

- Foi o que eu pensei. – Amy riu. – Vou fazer um pouco de sopa para o almoço.

Dois dias tinham se passado desde a visita dos dois homens estranhos à meia-noite. Shatha tinha relaxado e Amy fez o mesmo.

Natasha não tinha conseguido descobrir nada sobre os visitantes. Só se falava de uma informação dizendo que os rebeldes tinham descoberto algo que podiam usar contra a família real.

Amy se sentiu um tanto inquieta com os rumores que circulavam. Tinha escolhido Haamas porque era um reino relativamente pacífico e não sabia se queria ficar aqui se estavam à beira de uma rebelião em larga escala. Seja como for, ela tinha feito uma promessa a Aisha e não pretendia abandonar a criança agora.

Aisha ainda estava lutando contra a febre e a diarreia, e Amy estava preocupada com a desidratação, mas o médico estava para fazer uma visita naquela tarde. Até que enfim. Shatha tinha garantido que era rotavírus e que não havia nada que elas pudessem fazer a não ser tratar os sintomas, mas Amy queria ter certeza. Não era a primeira vez que ela ansiava pelas conveniências médicas modernas às quais estava acostumada, certa de que Aisha estaria rapidamente curada se fosse examinada em um hospital adequado.

Um grande sedan preto espalhou areia ao estacionar no orfanato. Presumindo que fosse o médico, Amy caminhou para encontrá-lo, mas parou, consternada.

Quatro homens, três deles carregando armas, saíram do carro.

Não foram os indivíduos armados que quase fizeram seu coração parar. Foi o quarto homem, que lhe parecia familiar. Onde ela o tinha visto? Era bem vestido e incrivelmente bonito, mas seu olhar deixou Amy apreensiva. Ele estava nitidamente no comando e sua expressão traía uma raiva fervilhante.

Amy congelou ao sentir o perigo que emanava dele.

Quando os olhos dele finalmente a encontraram, ela pensou ter visto neles surpresa e desconfiança.

- Você trabalha aqui? – Ele exigiu saber.

Amy não trabalhava lá, propriamente falando. Não recebia salário, mas também não era hora de explicar essas circunstâncias.

- Posso ajudar? – perguntou em vez disso.

- Você é americana – ele afirmou.

- Sou – ela respondeu lentamente. – Como posso ajudar?

- Estou procurando por uma menina. Sete anos. Olhos azuis e uma marca de nascença em forma de coração. Tem alguma criança assim aqui?

Receando pela segurança de Aisha, Amy escolheu com cuidado as palavras.

- Que pedido curioso. Por que está procurando por ela?

- Não é da sua conta – grunhiu o homem, e seus homens na mesma hora puseram as mãos sobre as armas, como um lembrete de como seria fácil dominá-la.

- Essas crianças estão sob a proteção desta casa. É sim da minha conta – ela replicou, empertigando-se. Talvez ele estivesse acostumado à covardia dos habitantes do povoado em face do peso da sua evidente riqueza, mas ela não se comportaria assim.

O homem finalmente abrandou um pouco.

- A criança é minha parente. Eu apenas recentemente soube da existência dela. Ela deveria ficar com a família.

Amy fez tudo que podia para não bufar. Esse homem queria que ela acreditasse que ele reivindicaria uma criança pobre qualquer como parte da família?

Ela queria acreditar que ele estava mentindo, mas havia algo perturbador em seus penetrantes olhos escuros. E por que parecia que ela já o conhecia? Podia ser que ela tivesse visto a foto dele em algum lugar. Não era como se ela passasse todo o seu tempo de folga na internet. Seja como for, ela não entregaria Aisha antes de saber mais sobre ele. Mesmo ciente de que não conseguiria simplesmente mandá-lo embora, ingenuamente acreditando que ele não voltaria.

- Todas as crianças menores de dez anos estudam aqui mesmo no orfanato. Se você prometer não perturbar o estudo delas, é bemvindo pra dar uma olhada rápida e verificar se a menina que procura está aqui. Mas tem apenas duas meninas estudando e nenhuma delas tem sete anos. – Ela olhou para ele com desconfiança. O homem moveu a cabeça, concordando, e Amy gesticulou para os guardas armados. – As armas vão assustar as crianças. Vou ter que te pedir para deixar seus homens aqui.

Os três homens caminharam na direção dela, em uma ameaça silenciosa, mas o chefe levantou a mão para fazê-los parar.

Depois de examinar a mulher detidamente, ele aquiesceu.

- Eles vão ficar aqui. Mostre o caminho.

Com uma olhadela inquieta na direção dos guardas armados, Amy rezou para que não começassem a fuçar a propriedade, onde poderiam dar de cara com Aisha.

Ela conduziu o homem pela frente do terreno até a casa principal. As crianças estavam lendo em voz alta, em uníssono, quando Amy abriu cuidadosamente a porta. Elas imediatamente pararam e olharam para os recém-chegados, e Amy sinalizou para que Natasha continuasse a aula. Quando a porta foi fechada, a leitura tinha recomeçado.

- E então? – Amy cutucou enquanto se afastavam. – Viu a criança que estava procurando?

- Não – respondeu o homem, com a decepção estampada no rosto.

- Sinto muito que não tenha encontrado a menina, mas você é obviamente um homem de recursos. Quem sabe, agora que viu as condições em que vivem essas crianças, não fique motivado a fazer mais do que procurar uma única menina. – O olhar dela era contundente. – Talvez fique motivado a ajudar.

Os olhos dele a mediram de cima a baixo e, desta vez, as borboletas em seu estômago não tinham nada a ver com medo. O interesse dele era nítido.

- A maior parte das pessoas fala comigo com mais respeito – ele afirmou com a voz baixa. – Da próxima vez que eu estiver aqui, sugiro que você mude o tom.

- Se você vier pra ajudar, prometo que vou ser tão agradável e dócil quanto você deseja – ela disse brincando, com uma voz mais aguda, acrescentando um tremular de cílios como bônus.

Um traço de sorriso surgiu em seu rosto e ele rodopiou o dedo para controlar seus homens. Eles o levaram até o carro e, em uma nuvem de poeira, foram embora.

No mesmo instante, Natasha chegou correndo.

- Amy, o que ele estava fazendo aqui?

- Está procurando Aisha. Veio com uma conversa fiada sobre ela ser da família. – Amy, desgostosa, sentia a determinação crescer a cada palavra. – Não sei o que está acontecendo, mas não vou deixar aquele homem, nem ninguém, levar a menina.

Os olhos da amiga se arregalaram.

- Você não o reconheceu. – Ela colocou uma mão sobre o peito. – Amy, ele não faz parte da rebelião. Ele é o Sheik Bahir Karawi e é um dos irmãos mais novos do rei. Você não se lembra dele, do aquário?

Amy encarou Natasha, incrédula. Era de lá que o conhecia.

- Por que ele ia querer uma pobre órfã?

- Não sei, mas você tem que entregar Aisha pra ele. Ele tem mais poder e dinheiro do que você sonha. Com uma única ordem, ele pode fazer com que seus guardas destruam esse povoado para encontrar a menina.

Amy balançou a cabeça.

- Não estou nem aí. É uma criança inocente. Não me chamo mais Amy se entregar uma menina para que ela fique no meio de uma luta política. – Ela endireitou completamente a postura, irradiando propósito. – Se ele quiser a Aisha, vai ter que passar por cima de mim.

Natasha respirou profundamente.

- Você fala como se isso fosse difícil pra ele.

Ela tinha razão, mas Amy não cederia agora. Tinha prometido a Aisha que não a abandonaria e pretendia cumprir essa promessa a qualquer custo.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022