Como sempre, acordei por volta das seis da manhã, de costas, olhando para o teto. Eu dormi cerca de duas horas, o que não foi muito diferente que a minha noite normal. Eu virei minha cabeça em direção ao som da respiração suave. Kiara estava enrolada em si mesma, com o rosto escondido sob o cabelo castanho escuro ondulado. Depois do pesadelo, ela dormira profundamente e, quando voltei ao quarto da conversa com Remo, logo peguei no sono. Eu não tive problemas para dormir ao lado dela, mesmo que fizesse anos desde que tinha compartilhado uma cama com alguém; naquela época tinha sido com meus irmãos porque só tínhamos duas camas.
Sentei-me, querendo preparar tudo para a apresentação dos lençóis - e Durant.
Kiara acordou abruptamente, os olhos arregalados e aterrorizados quando caíram em mim. Seu corpo se encolheu ainda mais antes de engolir visivelmente e finalmente relaxar. - Desculpa.
- Pelo quê? - Eu perguntei. Ela pedia desculpas pelas reações naturais de seu corpo. Eu não sabia por que ela achava que o medo me ofenderia. Depois do que ela passou, e considerando quem eu era, era natural ela reagir da maneira que fazia. Matar seu tio e não reivindicar seu corpo não mudaria isso.
Ela não disse nada e não consegui ler sua expressão. Eu balancei minhas pernas para fora da cama e me levantei.
Kiara engasgou atrás de mim. Olhei por cima do meu ombro para ela. Eu estava nu porque preferia dormir sem roupa. - Vou tomar um banho. Minha nudez incomoda você?
Ela moveu a cabeça em uma mistura inquieta de balançar e tremer, olhando para as cobertas.
- Isso é um sim ou um não?
Você é meu marido.
- Eu sou. Mas isso não responde à minha pergunta. - Eu me virei, totalmente de frente para ela, tentando coagir uma reação mais forte.
Ela engoliu em seco, suas bochechas vermelhas. - Isso não me incomoda.
Eu estreitei meus olhos. - Ser confiável significa não mentir, Kiara.
Seus olhos foram para o meu rosto, e ela franziu os lábios em...
frustração? - OK. Eu menti. Isso me incomoda muito. Você me assusta quando está nu. Feliz?
- Não imagino como isso me faria feliz.
Ela balançou a cabeça. Então seus olhos dispararam para a minha virilha e ela ficou tensa novamente e desviou o olhar.
- Minha nudez não representa um risco para você. Isso não me torna mais perigoso, nem as roupas oferecem qualquer tipo de proteção. É uma questão de força física, não de camadas de roupa.
Minhas palavras não tiveram o efeito pretendido. Ela afundou os ombros, tornando-se menor. Medo. Eu não sabia como lidar com ela. Minha falta de emoções nunca foi um grande problema ao lidar com meus irmãos ou Fabiano; eles não se ofendiam com facilidade, e muito menos se assustavam. Com outros, minha falta de emoções era um recurso útil.
- Kiara, - eu suavizei minha voz, algo que nunca tinha feito. Seus olhos castanhos cintilaram em meu rosto. - Eu sou mais forte que você. Isso é fato. Se eu quisesse te machucar, nada me impediria. Isso também é verdade. Mas como te disse, não tenho intenção de te machucar. Estar nu não muda isso de qualquer forma. Nem você estando nua ao meu redor mudaria isso. Sou mais do que capaz de controlar meus impulsos como qualquer outro homem faria.
- Meu tio, - ela murmurou.
- Seu tio não queria controlar seus impulsos, e pagou por isso com sua vida. - Para mim, o assunto estava resolvido, então me virei e fui para o chuveiro.
***
Quando estávamos os dois vestidos, verifiquei a hora. Eram apenas sete e meia. Ainda era cedo. - Por que não tomamos o café da manhã antes da apresentação dos lençóis?
Os olhos de Kiara se arregalaram. - Quais lençóis?
- Os lençóis onde seu tio sangrou, - eu disse a ela.
- Todo mundo vai saber o que aconteceu comigo, - ela sussurrou, franzindo o rosto.
- Você está envergonhada? - Eu perguntei, porque ainda tinha dificuldade em ler o rosto e os olhos dela. Levaria um tempo para ligar suas expressões faciais às emoções apropriadas.
Ela soltou uma risada e engoliu em seco. - Claro que estou.
- Você não tem nada para se envergonhar. Você não fez nada errado. Não se transforme na agressora quando você foi a vítima.
Ela balançou a cabeça para mim, os olhos arregalados. - Você não entende. Não importa que ele tenha feito isso comigo. Eles vão me culpar. De alguma forma, as vítimas sempre acabam sendo tratadas como cúmplices. Você é um homem. Você não entende.
Sua voz e palavras me fizeram perceber que a emoção que seu rosto mostrava era raiva. - Não é uma questão de ser homem. É fato que você não fez nada errado. Ele forçou você.
- Você não entende? Eu sou uma mulher. Sou culpada por padrão. É sempre assim. Eles vão dizer que eu pedi por isso. Um sorriso significa que estou flertando. Uma conversa agradável significa que estou pedindo por isso. Roupas reveladoras significam que estou convidando ao toque. Isso é fato, Nino.
Eu a observei surpreso com sua veemência. As mulheres com quem meus irmãos e eu lidamos não eram propensas a retornos verbais, mas Kiara era eloquente e inteligente, e ela podia se manter sozinha, se superasse o medo de mim e dos homens em geral.
Se você se sentir envergonhada, se permitir que eles a façam sentir dessa maneira, cimentará sua ignorância. Lute.
- Eu lutei uma vez na minha vida, e isso só fez com que ele me machucasse ainda mais! - Ela gritou. Ela engoliu em seco novamente. Eu assumi que era sua tentativa de controlar suas emoções, de impedir suas lágrimas, mas elas se reuniram em seus olhos de qualquer maneira. Talvez eu devesse ter prolongado a tortura de seu tio por alguns dias, mas nós deveríamos voltar a Vegas hoje.
Seus olhos cintilaram no meu rosto e ela endureceu. - Eu sinto muito.
Eu inclinei minha cabeça. - Pelo quê?
- Por gritar com você. Eu não deveria fazer isso, não deveria provocá-lo.
- Me provocar?
Ela franziu a testa para mim. Minhas palavras pareciam fazer pouco sentido para ela, assim como as palavras dela faziam pouco sentido para mim. Ela colocou os braços em volta do peito em um gesto protetor.
Ela estava com medo da minha reação?
- Expressar sua opinião não me provoca, Kiara. E como eu disse, não reajo a raiva. Você não precisa ser submissa. Não me sentirei se você me enfrentar. Estou ciente do meu status e poder e não preciso de sua submissão ou bajulação.
A carranca se aprofundou, mas ela baixou os braços. Seus seios se ajustaram bem contra seu top quando ela fez isso, mas mudei meu olhar para o seu rosto. Outro pensamento passou pela minha cabeça, algo que eu não tinha considerado antes. - Quando ele molestou você, deve ter havido sangue nos lençóis.
Ela empalideceu. - Sim. A cada vez.
- Por que as empregadas que recolheram seus lençóis não alertaram seus guardiões? Seu tio Félix teria agido quando Durant o desonrou sob seu teto. É o que a honra determina.
Ela estava visivelmente lutando consigo mesma, e eu permiti a ela alguns momentos para formar uma resposta. - Ele pagou uma das empregadas para me limpar e aos lençóis, depois... depois que ele terminou comigo.
Inconscientemente, toquei seu ombro, sabendo que muitas pessoas encontravam conforto na proximidade física. Seu corpo era agradável de olhar e gostoso de tocar. Ela não se afastou. Ela engoliu em seco novamente e me deu um pequeno sorriso.
- Qual é o nome dela?
- A empregada?
Eu assenti.
Kiara hesitou, seus olhos procurando meu rosto, mas o que quer que esperasse ver, não estava lá.
- Por que você quer saber?
- Qual é o nome dela? - Eu repeti a pergunta, mas tornei minha voz mais dominante.
Como esperado, ela cedeu ao domínio. Ela foi criada para obedecer. - Dorma. Ela trabalha para o tio Felix e a tia Egidia. - Os olhos dela se arregalaram. - O que você vai fazer com ela?
- Eu não vou fazer nada, - eu disse com sinceridade, e ela relaxou. Remo faria.
Eu estendi minha mão. - Vamos. Vamos comer alguma coisa. - Depois de um momento de hesitação, ela enfiou a mão na minha. Meus irmãos, Kiara e eu, e Fabiano e Leona fomos os únicos a passar a noite na mansão, mas as pessoas deveriam chegar para um brunch e a apresentação dos lençóis em algumas horas.
Kiara me seguiu silenciosamente pela casa.
- Isso pertencia a seus pais antes de serem mortos.
- Sim, agora pertence aos meus irmãos.
- Luca matou seu pai.
- Ele matou, - ela disse simplesmente.
- Você não sente falta dele?
Ela encontrou meu olhar brevemente. - Você sente falta do seu pai?
Inclinei minha cabeça. - Não. - Entramos na cozinha. Algumas empregadas domésticas das famílias Rizzo e Vitiello estavam ocupadas preparando tudo para o brunch.
Meus irmãos já estavam na mesa da cozinha, tomando café da manhã. Fabiano e Leona ainda estavam no andar de cima, provavelmente fodendo.
As empregadas se viraram quando entramos e, quando me viram, rapidamente abaixaram a cabeça. Uma delas, uma mulher de trinta e poucos anos com cabelo castanho curto, dirigiu seu olhar para Kiara, cuja pulsação acelerou sob o meu polegar. Essa deveria ser Dorma.
Eu a puxei para a mesa e afundei na cadeira ao lado de Remo. Ele estava de calça de moletom, nada mais. Provavelmente roupas de Savio desde que Remo não voltou para o quarto para pegar as suas. Kiara sentou-se ao meu lado com um sorriso hesitante. - Bom dia.
- Bom dia, - disse Adamo. - Como você dormiu? - Seus olhos dispararam para mim, e ele corou. Remo se inclinou sobre a mesa e bateu na sua testa com um sorriso. - Ela não dormiu. O que você acha?
Kiara me deu um olhar incerto, como se não tivesse certeza de como reagir. Ela teria que aprender a não procurar minha aprovação. Eu soltei seu pulso, peguei uma maçã e mordi.
- Teria sido uma manhã melhor se você me deixasse fazer parte da diversão, - disse Savio para mim.
Adamo olhou para Kiara novamente. - Las Vegas é realmente legal. Há muito que você pode fazer.
- Tenho certeza que vou gostar, - Kiara disse suavemente.
Remo levantou uma sobrancelha para mim enquanto me inclinava para ele e sussurrava em seu ouvido: - Depois que seu tio a estuprou, uma das empregadas da casa o ajudou a manter segredo. Ela limpou o sangue de Kiara.
Remo recuou, com a boca em um sorriso. - Onde eu a encontro?
Meus olhos foram para a mulher com o cabelo curto. Remo seguiu meu olhar, então olhou para mim, um brilho animado em seus olhos. - Eu vou cuidar dela depois da apresentação dos lençóis. Eu não quero perder isso.
- Devo dizer ao nosso piloto que vamos sair mais tarde?
Remo considerou isso. - Eu não vou demorar muito.
Dorma se aproximou com uma enorme panela. - Eu fiz ovos e bacon como você pediu, - disse ela para Remo.
Ele sorriu. - Sim. Eu preciso reabastecer minhas reservas. - Ela colocou alguns ovos e bacon na sua frente.
Ela olhou para mim. - Você quer um pouco? Tenho certeza de que vai precisar de um pouco depois da sua noite de núpcias. - Os olhos dela se moveram para Kiara, que afundou ainda mais na cadeira.
- Isso é verdade, - eu disse em voz baixa. Meu olhar parou no caro colar em volta do pescoço dela. - Uma joia requintada essa que você está usando. Os Rizzos lhe pagam bem?
Ela piscou e tocou o colar, seus olhos indo para Kiara mais uma vez. - Foi... foi um presente, - ela disse indignada.
Eu sorri friamente. - Você tem certeza? Ou alguém pagou um preço por isso, Dorma?
Ela empalideceu e deu um passo para trás. Remo a observou como um gato faria com um rato. Ela se virou e colocou a panela no fogão, em seguida, aproximou-se das outras empregadas. De vez em quando, ela olhava para Kiara, que se encolhia a cada vez.
- Ela está seriamente começando a me irritar, - Remo murmurou. Ele se levantou e se espreguiçou. Todas as empregadas olharam para ele. Este era o seu show. Sua calça de moletom pendia baixa em seus quadris, e elas olharam para o peito marcado. Remo, como eu, era rasgado por anos de luta. Você poderia dizer que nossos músculos não eram apenas de levantar pesos. Nós tínhamos sangrado por eles. Ele pegou o coldre de faca e colocou-o sobre o peito nu. Os olhos de Kiara se arregalaram. Então ela rapidamente desviou o olhar. As empregadas estavam apanhadas em algum lugar entre choque de boca aberta, medo e fascinação.
Savio revirou os olhos e murmurou. - Exibicionista.
Remo foi até as empregadas e parou bem atrás de Dorma.
- Isso parece delicioso, - disse ele sombriamente enquanto olhava por cima do ombro do que quer que ela e a outra empregada estivessem preparando. Claro que ele não estava se referindo à comida. Dorma se aproximou do balcão, mas Remo se inclinou para mais perto. - Eu mal posso esperar para provar. Estou morrendo de fome.
Adamo balançou a cabeça e fez uma careta para o prato.
Dorma sacudiu a cabeça. - É para mais tarde. Você não pode comer agora.
Remo aproximou a boca do ouvido dela. - Eu posso esperar. Não se preocupe. Vai valer a pena.
Ela estremeceu visivelmente, mas Remo recuou, pegando outro pedaço de bacon da panela antes de voltar para a mesa.
***
Kiara ficou na cozinha com Leona, Adamo e Fabiano enquanto Savio, Remo, e eu acompanhamos Luca e Matteo até o quarto principal.
Abri a porta para que Luca pudesse entrar. Ele e seu irmão observaram a cama e seus arredores.
- Eu não lhe disse para não sujar as paredes de sangue? - Perguntou Luca, aborrecido, mas havia um lampejo de outra coisa em seus olhos. - A única maneira de limpar esse quarto é com mangueira.
- Melhor ainda, queimando-o, - sugeriu Matteo. Ele balançou a cabeça e trocou um olhar com o irmão.
Remo ofereceu-lhe um encolher de ombros e um canto da boca inclinou-se para cima. - As coisas ficaram um pouco fora de controle no final.
- Não duvido, - disse Luca secamente, avaliando o outro Capo.
Savio caminhou ao redor da cama, em direção a Durant. - Cara, da próxima vez me chame quando estiver se divertindo. Por que eu tive que tomar conta do Adamo enquanto você ia com tudo?
Luca sacudiu a cabeça. - Foda-se, vocês Falcones são todos loucos.
Eu apontei para a cena. - Eu suponho que o quarto será suficiente para enviar a mensagem que você pretendia?
Matteo bufou. - Suficiente, minha bunda. É meio irônico que vocês foram os únicos a entregar uma mensagem contra o estupro.
Eu olhei para o outro homem com calma, depois olhei para Luca. - Você desaprova nossas maneiras.
- Sim, - disse Matteo, mostrando os dentes.
- Como você castiga as mulheres em seu território?
- Se possível, não o fazemos.
- O que você faz com traficantes do sexo feminino que roubam dinheiro ou traem você e vendem para a Bratva? Como você lida com prostitutas que não pagam para fazer ponto em suas ruas ou mulheres que pedem dinheiro emprestado e não o pagam?
Remo se aproximou de Matteo. - Você lida com elas como lida com os homens, eu suponho. Ou você encontrou um modo de torturálas de uma maneira feminina amigável? Você encontrou uma maneira de tornar a morte menos definitiva para elas?
A mão de Matteo se contraiu mais perto de sua faca, e eu descansei minha mão na minha arma, mas Remo podia se defender, e ele tinha visto o movimento de Vitiello. Ele sorriu. - Nós lhes damos uma escolha. E o que você acha que todas eles escolhem?
Matteo zombou. - Então você deveria reconsiderar seus métodos.
Remo riu. - Não se preocupe com meus métodos. Eu sou Las Vegas. Eu possuo todos os clubes e prostitutas e traficantes. E logo eu banirei cada maldito filho da puta da Bratva de todo o meu território, e depois disso, vou lidar com a porra dos mexicanos e então serei o Ocidente.
Não seria tão fácil assim. Las Vegas e Reno estavam sob nosso controle total, mas ainda tínhamos que compartilhar muitas das outras cidades do Ocidente com os russos e o Cartel. Bani-los de todas as cidades exigiria esforços e forças consideráveis. Forças que estávamos atualmente utilizando para nossa vingança a Outfit.
- Temos convidados que precisam ver isso, - disse Luca com firmeza. - Mas acho que vamos excluir as mulheres do espetáculo. Eu não acho que a maioria delas tenha a capacidade de aguentar isso.
- Talvez você devesse parar de mimá-las como frágeis bonecas de porcelana, - Remo murmurou.
Luca sorriu friamente. - Eu faço o que quiser no meu território e você pode fazer o que quiser no seu.
Nós voltamos para baixo. Na sala de estar, os Subchefes e Capitães de Luca haviam se reunido, assim como suas esposas e alguns soldados de baixa patente da Famiglia. Eles nos observavam com uma curiosidade aberta. Fabiano, Leona, Kiara e Adamo vieram até nós.
- Há uma ligeira mudança de planos, - disse Luca. - Vamos realizar a apresentação dos lençóis no quarto principal.
Um murmúrio passou pelos convidados.
- Eu recomendo firmemente que pessoas sensíveis a grandes quantidades de sangue fiquem aqui, - disse Luca. Algumas pessoas riram hesitantemente, mas ficaram em silêncio quando perceberam que ele não estava fazendo piada.
Todos os homens na sala o seguiram. Claro, eles nunca admitiriam ter um problema com sangue, mas algumas mulheres também o seguiam. Entre elas estavam Egidia e Giulia, tia de Kiara, apesar da evidente aversão do marido à ideia. A esposa de Durant, Criminella, não estava lá. Ela havia voltado para casa depois que Luca lhe contara o que seu marido fizera. Ela sabia qual era a penalidade por esse tipo de coisa. Todo mundo sabia.
Como esperado, a visão de Durant causou o efeito de choque desejado. Egidia correu para o banheiro e não voltou, e Giulia cambaleou até o marido, enterrando o rosto no peito dele. Ele considerou a cena com a mesma surpresa moderada que Luca e Matteo fizeram antes.
- Diga aos seus soldados, diga a todos que isso é o que acontece com molestadores de crianças no meu território, - disse Luca. Quando os convidados saíram e voltaram para o andar de baixo para almoçar, só Felix ficou com Luca, Matteo, Remo e eu.
- Eu não sabia, - ele disse baixinho, intencionalmente não olhando para Durant.
- Acho difícil imaginar que você não teria notado uma mudança no comportamento de Kiara depois do estupro. Ela ainda está horrorizada pela proximidade masculina. Eu acho que não poderia ter sido muito melhor quando ela tinha treze anos - eu disse bruscamente.
Luca levantou uma sobrancelha. - Isso é verdade, Felix. Você sabe que eu teria esperado ser informado de tal crime para que pudesse distribuir o castigo adequado.
Felix empalideceu. - Eu não sabia. Kiara não é minha filha e sempre foi peculiar. Se ela alguma vez agiu de uma forma estranha, atribui isso ao que aconteceu com o pai dela.
Eu estreitei meus olhos para ele. Mesmo alguém com percepção medíocre teria notado que algo estava errado se prestasse atenção. Mas Kiara, sendo filha de um traidor, provavelmente viveu a maior parte de sua vida nas sombras. Ela era uma Falcone agora. Ela aprenderia a manter a cabeça erguida.