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Ainda com a imagem daquela deusa na minha cabeça enfrento um novo dia. O Rui já está à minha espera para irmos até à pastelaria.
-Bom dia chefe! Estás com cara de quem não dormiu...
Apenas resmungo em resposta, não estou com paciência nem vontade de responder.
-Estamos de mau humor! -ele continua bem disposto e isso deixa-me ainda mais irritado. - Bom dia princesas! Laura podes trazer dois cafés?
-Bom dia! Já levo à mesa. - A voz dela entra como pólvora na minha cabeça, e sinto que vou explodir. Os nossos olhos cruzam-se e as memórias da noite anterior passam na nossa mente. Consigo ver o seu rosto corado com a lembrança.
-Sabes que podes ser educado e dizer olá à moça? - ouço a voz do Rui a interromper os meus pensamentos.
-Não sei de que estás a falar.
-Já viste como olhas para ela? Estás a babar por ela.
-Se gostas dos teus dentes para de dizer disparates.- O meu tom era sério e de aviso, o Rui gostava de me provocar.
-Eu só acho que devias permitir-te a viver um bocado, a distrair-te do trabalho. E a Laura é uma bela distração.
-Acho melhor pararmos com esta conversa sem sentido.
-Vais dizer que não gostavas de provar aquela doce mulher?
-Rui... limites... sabes o que significa?
-Sei, e tu sabes o que significa viver?
-Não preciso de uma mulher para isso!
-Mas ajuda muito, acredita...
-Se precisar de sexo tenho quem me satisfaça, tirando isso não vejo porque preciso de uma mulher. E vamos parar com isto, hoje não tenho paciência!
A manhã segue tranquila e decidimos continuar por ali a acertar alguns pontos dos nossos negócios que ficaram pendentes. Ocasionalmente o meu olhar cruzava com o da Laura a e demorava-se no seu corpo, provocando uma reação involuntária nas minhas calças. Eu tentava não lhe dar atenção, mas não estava a conseguir controlar-me. A toda a hora os meus olhos procuravam por ela.
***
Quando vi o JP entrar pela porta a minha mente viajou até à noite passada. Começou a crescer um calor só de me lembrar da forma que ele olhava para mim. Senti o meu rosto a queimar.
-Bom dia princesas! Laura podes trazer dois cafés?- o Rui cumprimentou-nos com a mesma simpatia e alegria de sempre.
-Bom dia! Já levo à mesa. - respondi um pouco mais animada do que queria parecer.
-Alguém ficou nervosa... -a voz da Sónia fez-me sair dos meus pensamentos.
-Não sei do que falas.-tentei disfarçar.
-Claro que não sabes!-disse a Sónia com uma piscadela de olho.
Durante toda a manhã o movimento foi agitado, não me permitindo ter tempo para pensar em nada, apesar da constante troca de olhares com o JP. Sentia a minha pele a queimar quando os olhos dele percorriam o meu corpo. Talvez devesse ficar desconfortável, mas a verdade é que não me incomodava.
Os pedidos não paravam de sair e havia uma grande azáfama na sala. Houve uma imagem que me paralisou. Eu estava cansada e por isso assumi como sendo uma alucinação. Não podia ser real...
Aqueles olhos azuis e frios atravessavam o vidro da janela alta da pastelaria. O meu corpo congelou por completo, mas o meu coração parecia querer saltar pela boca e a minha mente disparava para tentar encontrar um plano de fuga. Ele não é real, não pode ser! Um sorriso maquiavélico nasce no seu rosto e sinto as minhas pernas a tremer. O barulho do tabuleiro metálico a bater no chão despertou-me e chamou a atenção de quem estava por perto. Senti uma tontura quando a mão da Sónia tocou no meu braço.
-Laura, estás bem? -Ela olhou para mim preocupada. Eu não consegui responder e quando voltei a olhar para a janela ele já não estava lá. Era só uma alucinação, a minha cabeça a pregar-me uma partida. A Sónia voltou a chamar-me. -Laura?
-Desculpa, foi só uma tontura. Já passou, vou voltar ao trabalho.-A minha voz saía sem força, quase inaudível.
-Não vais voltar ao trabalho assim, estás pálida! Vamos para o meu escritório.-Não consegui contrariar e deixei que me levasse.
Entrei no escritório e sentei-me na cadeira do canto. A Sónia saiu para ir buscar uma água, deixando-me sozinha com os meus pensamentos. A minha cabeça não parava de tentar perceber a imagem que tinha visto. Aqueles olhos azuis pareciam tão reais que me provocavam arrepios. Preciso mesmo de descansar!
A porta abriu-se e vi a última pessoa que eu esperava. O JP entrou no escritório com uma garrafa de água na mão e entregou-me sem dizer uma palavra. A expressão dele estava diferente, as linhas do seu rosto estavam mais duras e os olhos inexpressivos.
-Onde está a Sónia?- A minha voz saía trémula.
-Está ocupada. Sentes-te melhor?-A voz dele era austera com um misto de preocupação.
-Sim, obrigada, acho que vou voltar ao trabalho.-Levantei-me e caminhei até à porta. Antes que pudesse alcançar a maçaneta senti a sua mão a segurar no meu braço. O seu toque provocou uma onda de eletricidade no meu corpo. Os seus olhos escuros penetravam os meus e pareciam conseguir ler tudo dentro de mim.
-Primeiro vais responder-me a uma pergunta, e quero a verdade! Quem era aquele homem?
-Que homem?-Tentei manter-me calma mas os olhos dele exigiam a verdade.
-O homem que te deixou neste estado.
Senti as lágrimas a formarem no meus olhos. Segurei-as com todas as minhas forças para não caírem. Ele era real, não era uma alucinação. Como é que conseguiu encontrar-me aqui? Eu consegui esconder sempre o meu rasto, como é que ele conseguiu? O que é que eu faço agora? Com a mão do JP ainda a segurar o meu braço, tentei falar com a calma que me era possível.
-Não vi homem nenhum, não sei do que falas. Já posso ir embora?
Ele não respondeu, apenas soltou o meu braço e eu assumi como um sim. Não consegui dizer nada. Saí do escritório e pedi à Sónia para sair mais cedo. Ela não levantou qualquer problema e eu saí dali direto para casa.