Capítulo 5 Plano de fuga

Quando vi o olhar assustado dela procurei pela sala a origem do seu medo. Do outro lado do vidro estava um homem alto. Os seus olhos azuis estavam cheios de raiva. Quando abriu um sorriso demoníaco pude ver o pânico e o terror a tomar conta do corpo da Laura. Senti o meu coração a apertar e resisti à vontade de ir ter com ela e abraçá-la. Ao perceber o seu estado a Sónia levou-a para o escritório. Eu dei indicação imediata para reforçar a segurança e procurar aquele homem. Mesmo não sabendo quem é tenho que proteger a Laura e o nosso bairro.

-O que está a acontecer? - O Rui estava confuso com a minha urgência ao dar indicações aos seguranças.

-Não sei, mas vou descobrir.- Caminho em direção à Sónia que se dirigia para o escritório com uma garrafa de água na mão. -Deixa que eu vou ver como ela está.

-Não sei se é boa ideia, a Laura está muito nervosa. - O tom preocupado na sua voz aumentou o meu estado de alerta.

-Eu já disse que vou ver como ela está. Tens a sala cheia de clientes. - A brusquidão na minha voz deu a entender que não aceitaria que fosse de outra forma.

-Tudo bem, mas tenta não ser uma besta! - repreendeu, entregando-me a garrafa de água.

Quando entrei vi que estava sentada no canto da sala. Não lhe dirigi uma palavra, avaliando a expressão dela e a forma como se comportava.

-Onde está a Sónia?- A sua voz transparecia medo.

-Está ocupada. Sentes-te melhor?

-Sim, obrigada, acho que vou voltar ao trabalho.-Levantou-se e dirigiu-se à porta. Rapidamente agarrei o seu braço. Lembrando-me do aviso da Sónia, o meu toque era suave. Procurei respostas no seu olhar mas apenas encontrei medo.

-Primeiro vais responder-me a uma pergunta, e quero a verdade! - A minha voz era austera. - Quem era aquele homem?

-Que homem?- o seu pânico aumentou.

-O homem que te deixou neste estado.- Automaticamente senti a sua pulsação a aumentar. Não sei se pelo facto de eu saber que havia um homem ou se por constatar que ele era real.

-Não vi homem nenhum, não sei do que falas. Já posso ir embora? - respondeu com a voz embargada.

Não consegui responder, apenas soltei o seu braço e deixei-a ir. Quem quer que fosse aquele homem, provocou um medo que nunca presenciei em ninguém. Peguei no telemóvel e liguei para o Rui.

-Acompanha a Laura até casa e não a percas de vista. Ninguém entra nem sai do bairro sem ser identificado. Alguma movimentação fora do normal informa-me.

Precisei de um tempo para processar o que estava a acontecer. Aquela mulher é um mistério. Em toda a investigação que fiz não encontrei movimento dela nos últimos anos. É como se tivesse evaporado da face da terra. Parece andar a fugir de alguma coisa ou de alguém. Provavelmente do homem que estava lá fora. Resta saber quem é ele e o que aconteceu para ela ter tanto medo. Os meus pensamentos são interrompidos por uma Sónia furiosa.

-Podes explicar-me o que aconteceu aqui? O que disseste à Laura para ela sair daqui tão transtornada?

-Não aconteceu nada, eu não disse nem fiz nada para aborrecê-la.

-Alguma coisa aconteceu para ela estar assim.

-Então tens que fazer essa pergunta à tua amiga! -Somos interrompidos pelo som do meu telemóvel.- Rui, o que aconteceu?

-Está aqui um táxi para a Laura, o que faço?

-Manda-o embora e não a deixes ir a lado nenhum. Eu vou já para aí. -Desligo a chamada e preparo-me para ir embora.

-Podes explicar-me o que está a acontecer com a Laura?- a voz da Sónia fazia notar o quanto estava aflita.

-Também gostava de saber.

Saio da pastelaria e vou para a casa da Laura o mais depressa que consigo. Ao chegar em frente do prédio deparo-me com uma Laura que parecia um furacão. Tinha uma mochila às costas e reclamava com o Rui que não a deixava sair dali.

-Não tinhas o direito de cancelar o meu táxi! Muito menos de confiscar o meu telemóvel! Preciso que mo devolvas agora, preciso de chamar outro! -Ela estava furiosa, mas acima de tudo estava nervosa.

-Tu não vais a lado nenhum. -A minha voz fê-la saltar.

-Mas o que é isto agora? Estou presa aqui? -Saltavam faíscas dos seus olhos.

-Não estás presa, mas nós precisamos de ter uma conversa! Vamos para o ginásio!

-Tu não me dizes o que fazer! Eu não vou a lado nenhum contigo. -Confesso que admiro a determinação desta mulher e a coragem em me afrontar.

-Tu vens comigo nem que tenha de te levar ao colo. -A minha paciência estava no limite. Sem dizer nada ela começou a andar em direção ao ginásio.

-Vais ficar aí ou vamos despachar isto? Tenho mais que fazer! -Os seus passos faziam notar toda a raiva acumulada.

-Acho melhor apressares-te. -Conseguia ouvir um riso abafado na voz do Rui. Ele estava a adorar a cena. Não lhe respondi e apenas enviei um olhar de reprovação.

Segui atrás dela até chegarmos ao meu escritório. Sentei-me calmamente na minha cadeira atrás da mesa, irritando-a ainda mais. Fiz sinal para ela se sentar, o que fez questão de recusar. Permaneci em silêncio durante um bom tempo, observando o seu nervosismo a aumentar.

                         

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