- Faça isso! Quem vai acreditar em você? Esqueceu que foi você quem desenvolveu uma obsessão por mim? Você se tornou uma stalker, parecia uma maníaca sexual com aqueles desenhos que guarda no seu armário.
- Qual é o seu problema? - Eu pergunto, minha voz tremendo de indignação.
- Você é o meu problema. Desde o momento em que te vi, você se tornou o meu problema. - Eu puxo meu braço e ele finalmente me solta. Começo a caminhar em direção à porta, mas ele se coloca em meu caminho. - Aonde você pensa que vai? Seu trabalho começa agora. - Eu me viro para encará-lo, minha expressão indiferente.
- O que preciso fazer? - Ele me entrega uma pilha de livros. - Para que tudo isso?
- Você precisa fazer cópias das páginas que marquei em vermelho. Preciso delas em meia hora.
- Ok, vou almoçar primeiro e depois faço.
- Não! - antes dele terminar a frase interrompo-o, apresso meus passos já me aproximando da porta, mas paro quando ouço ele falar. - Desculpe por ter te segurado assim! - Ouço suas palavras, mas não respondo. Deixo a sala sem olhar para trás e me dirijo ao refeitório, onde meus amigos me esperam.
- Lupi, você demorou! O que aconteceu? - Rian pergunta, claramente preocupado.
- Estive resolvendo alguns problemas. Vocês não vão acreditar, mas vou ter que ajudar aquele professor insuportável depois das minhas aulas!
- Você? Por quê? Eu ouvi dizer que só fazem isso quando o aluno está com dificuldades nas aulas, mas sabemos que esse não é o seu caso.
- Não faço ideia! - Respondo, tentando evitar detalhes sobre o que realmente está acontecendo. - Agora, vou comer, porque estou faminta.
- Aqui está. - Benício traz a bandeja com o almoço. Quando estou prestes a pegar o garfo, Rian puxa a bandeja para longe.
- Você está louco, Benício? Deveria prestar mais atenção.
- O que? - Nós olhamos para ele, confusos. - O que houve?
- Tem pimenta na comida, Lupi. Você é alérgica a pimenta, esqueceu?- Ele se levanta e eu fico atônita, sem acreditar que não percebi isso. - Aqui, prova isso. - Ele desliza outra bandeja na minha direção, seus dedos habilmente corta a carne e separando as cebolas, sabendo bem da minha aversão por elas.
- Quer casar comigo? - Brinco, um sorriso travesso nos lábios.
- Não preciso ser seu marido para cuidar de você, sempre estarei aqui para isso. - Ele responde, um sorriso terno em seu rosto.
- Ah, Rian, como eu te amo! Amo todos vocês. - Por algum motivo inexplicável, sinto uma emoção repentina me invadir. - É a cebola. - Disfarço rapidamente.
- Uau, agora cebola frita faz chorar? - Renata entra na brincadeira.
Começo a comer, rindo entre garfadas, enquanto observo meus amigos. Não importa o tempo, a idade, ou mesmo o humor do dia, eles são os melhores amigos que alguém poderia ter. Sempre ao meu lado, repreendendo-me quando necessário, ajudando-me, sempre me incentivando a seguir em frente.
- Não consigo entender o que tanto esse homem olha. - Sigo o olhar fixo de Rian e percebo que ele está encarando Frederic. - O refeitório dos professores nem é por aqui. Por que ele insiste em te perseguir? Não pense que esqueci do incidente de ontem!
- Rih, esqueça-o. Ele não vale a pena. Vamos aproveitar o tempo que temos, pois preciso voltar em cinco minutos.
Ele concorda e começa a falar sobre o estágio que está prestes a começar. Passo mais alguns minutos com ele e, em seguida, vou ao banheiro para escovar os dentes. Aproveito a oportunidade para usar a cabine, pois estava apertada. Quando estava prestes a sair, ouço risos e três meninas conversando em alto e bom som.
- Vocês notaram o quão atraente é o professor Fred?
- Sim, é uma pena que ele nem sequer me notou, mesmo quando eu estava claramente tentando chamar a sua atenção.
- Vocês acham que ele está agindo de forma arrogante porque está saindo com Lupita Tavares? Não acredito na história dela de que não o conhecia. Não seria possível ela desenhar cada detalhe do rosto dele sem conhecê-lo, até as pequenas rugas que se formam no canto dos olhos quando ele ri.
- Pois é, a única coisa que falta descobrirmos é se ele tem uma tatuagem de dragão nas costas.
- Se ele realmente tiver, isso só prova o quão dissimulada ela é. Ela se passa por uma santa, mas na verdade é uma descarada. Aposto que ela faz isso com todos os professores.
- É difícil acreditar que alguém seja perfeito em tudo, basta olhar para as notas dela, certeza que é usando outros meios que ela conseguiu te-las.
Escuto tudo com a cabeça baixa, desejando poder sair dali e contar a minha versão da história. No entanto, à medida que fui crescendo, percebi que as pessoas tendem a acreditar apenas no que querem acreditar. Não importa o quanto eu me esforce para explicar, o quanto eu me defenda, elas simplesmente não estão dispostas a ouvir. Após alguns minutos, decido sair de lá, lavo minhas mãos e me encaro no espelho. Uma jovem se aproxima e me observa através do reflexo do espelho.
- Não acredite em tudo que dizem sobre você. Em breve, outro assunto surgirá e eles vão se distrair com outra coisa. Não permita que a opinião de quem não te conhece te afete. - diz a jovem, cujos olhos azuis são de um tom tão intenso que nunca vi igual.
- Obrigada! - Respondo, a tristeza evidente em minha voz.
- A propósito, meu nome é Alexia Laurent. É um prazer te conhecer.
- O prazer é meu, Alexia. Meu nome é Lupita Tavares.
- Eu sei. - Ela sorri discretamente.
- Mais uma vez, obrigada pelas suas palavras.
Saio do banheiro ao lado dela, Alexia me lança um último olhar e, sem dizer mais nada, desaparece entre a multidão de alunos no corredor. Ela é uma mulher poderosa, sua postura, voz e olhar são enigmáticos.
Entro na sala e o professor já está lá.
- Ah, finalmente decidiu aparecer, está atrasada!
- Desculpa, tive um imprevisto.
- O que aconteceu? Estava chorando?
- Isso não é da sua conta. - Respondo friamente, pego os livros e separo o que preciso para fazer as cópias. Depois de organizar tudo, me sento de frente para ele. - Mais alguma coisa?
- Não, só fique aí.
- Ok! Se precisar de algo, me avise.
- Com certeza farei isso! - Fred lê alguns testes e vai corrigindo, meus olhos não conseguem desviar dos dele. Não sei por quê, mas bateu uma saudade do homem dos meus sonhos. A voz é a mesma, mas o tom é diferente, a maneira como ele passa o lápis nos lábios é exatamente igual. - Me passa o corretivo, por favor.
- Claro! - Estendo a mão para entregar a ele, quando sinto um toque em minha mão. Seus olhos se encontram com os meus imediatamente e, por alguns segundos, ele me olha com ternura.
- Se continuar me olhando assim, será difícil continuar aqui.
- Assim como? Estou te olhando normalmente, é você que me encara com tanta intensidade.
- Por que é tão difícil me entender?