- Entendo, imaginei que isso poderia estar te incomodando. Descobri apenas hoje pela manhã, não tive tempo de te avisar.
- Tudo bem. Há! Já conhecemos o novo professor.
- E o que você achou dele?
- É difícil formar uma opinião baseada em apenas uma aula. - Minto, na verdade, detestei ele.
- Se algo te incomodar, não hesite em me contar. Achei estranha essa insistência do Gaspar em indicá-lo como substituto.
Iniciamos o jantar e mudamos o rumo da conversa. Meu pai sempre demonstrou interesse em saber tudo que acontece no meu dia a dia. Com quem eu converso, quem eu aprecio e quem eu não aprecio. No início, eu achava essa preocupação excessiva um tanto irritante, mas agora, vejo-a como algo maravilhoso. Isso apenas demonstra o quanto eles me amam e o quanto eu estou em seus pensamentos.
Após o jantar, meu pai se encarrega da louça. Eu me mantenho à distância, observando-o juntamente com minha mãe. Ela envolve seus braços ao redor da cintura dele, abraçando-o enquanto ele lava os pratos e eles conversam como um casal se se apaixonaram recentemente. É uma visão realmente bela.
- Pai, mãe, vou me recolher. Preciso descansar um pouco - anuncio.
- Vá, minha querida. Tenha uma boa noite de sono - eles respondem em uníssono. Até nisso, eles estão em sintonia.
- Amo vocês. Boa noite - despeço-me.Subo para o meu quarto e deitada na cama meus pensamentos voam para aquele homem tão arrogante, fecho meus olhos e por alguns minutos esqueço o quanto diferente ele é.- Como ele é lindo pessoalmente. Para Lupita, ele é um idiota.- acho minha própria atenção. Entre a negação e ver seu lindo rosto nas minhas memórias, inevitavelmente acabo adormecendo. Porém, diferente das outras noites, não sonho com ele.
Na manhã seguinte, dedico um pouco mais de tempo do que o habitual para me arrumar. Escolho um vestido preto que termina um pouco acima do joelho e um casaco vermelho, já que o frio tem sido bastante intenso este ano. Certifico-me de que meus cachos estão bem arrumados e aplico uma maquiagem leve, apenas para realçar meu rosto.
Não sei, algo aqui dentro quer acreditar que Frederic se tornará assim como é em meus sonhos.
Para ninguém desconfiar que estou sem carro venho pelo estacionamento, não quero incomodar meus amigos, cada um tem os seus problemas, e não vou morrer se andar de ônibus, é até divertido, venho ouvindo fofocas alheias haha e fico até atualizada do tempo.
Assim que adentro o estacionamento, traço meu caminho em direção à faculdade. No entanto, sou abruptamente interrompida ao me deparar com ele, minha amarga realidade.
- Veja só quem está aqui, a senhorita marrenta. Está me seguindo ou já se rendeu aos meus encantos? - ele provoca.
- Você acordou especialmente insolente hoje, não é? - retruco.
- Ah, quanta maturidade. - ele debocha, avançando alguns passos na minha direção. - Admita, marrenta, você não consegue me tirar da cabeça, não é? - Seus olhos me desafiam, mas mantenho minha expressão neutra.
- Pensar em você?- dou um sorriso sem humor.- Por nenhum segundo pensei em você. - Minto.- Além do mais. Eu não te dei liberdade para tanta intimidade. No final das contas, eu estava certa sobre o tipo de homem que você é.
- E que tipo de homem eu sou, segundo você? - ele dá mais um passo, me fazendo recuar instintivamente.
- Um tipo nada profissional, que insiste em me perseguir e me observar...
- E como exatamente eu te observo? - ele está cada vez mais próximo, sua voz carregada de provocação e sedução.
- Ah, você sabe muito bem. - respondo, nervosa, ao sentir meu corpo se chocar contra a parede. - Agora, se me der licença, preciso encontrar meus amigos.
- E se eu decidir não ceder? - Frederic avança, parando a uma distância perigosamente próxima. Estou encurralada contra a parede, sem ter para onde fugir. Ele posiciona uma mão de cada lado, me prendendo com seu olhar intimidante. Reviro os olhos frustrada, mas ao mesmo tempo tento disfarçar o nervosismo que ele me provoca, porém Frederic não me permite escapar. - O que você fará então?
- Já começou o dia com um gole de coragem, não é? Deve estar bêbado, ou pior. - Ele me avalia, seu olhar percorrendo cada centímetro do meu corpo.
- Todo esse esforço foi para atrair minha atenção?
- Por que eu precisaria chamar a atenção de um homem como você? - Aproveito sua distração momentânea e escapo por debaixo do seu braço, apressando meus passos em direção ao local onde meus amigos estão.
- Uau, você está deslumbrante hoje. - Rian me cumprimenta com um beijo no rosto. - Você parece ofegante, o que aconteceu?
- Nada de mais. - Disfarço, sabendo que se eu mencionar a pressão que o professor estava exercendo sobre mim, Rian seria capaz de confrontá-lo. - Vocês chegaram faz tempo?
- Sim, viemos mais cedo, pensamos que já estaria aqui. Você nunca se atrasa.- Renata fala desconfiada.
- Ah, é que vim com meus pais, Daí já viu como minha mãe é enrolada para se arrumar.- Minto.
- A senhora Sabrina sabe ser chique, nem parece que você é filha dela.
- Aí credo, eu sou a cara da minha mãe viu.- falo rindo, pois não me pareçoem nada com ela.
Assim que o relógio marca o início da aula, adentro a sala e me acomodo em meu lugar. Não demora muito para o professor fazer sua entrada.
- Bom dia, alunos! Hoje, proponho um desafio diferente. Com ele, pretendo avaliar quem realmente tem o potencial para se tornar um advogado, ou quem deveria reconsiderar suas escolhas.
- Acredito que a decisão de persistir ou desistir é uma prerrogativa de quem está investindo tempo e dinheiro nesse curso. - murmuro em resposta.
- Gabriel, troque de lugar com a senhorita Tavares. Parece que preciso começar por ela. - Ele diz, cruzando os braços e esperando que eu me levante.
- Vamos lá, Lupi. Você sabe que sou bolsista, não posso me dar ao luxo de entrar em conflito com ele. - Gabriel me implora com os olhos.
- Tudo bem. - Levanto-me e me acomodo diante do professor. Pensei em recusar, mas não quero prejudicar ninguém, especialmente Gabriel, que lutou tanto para conseguir essa bolsa. - Aqui está bom para você, estimado professor? - provoco.
- Perfeito! - Frederic me encara e se levanta. - Acredito que alguém que não respeita nem as leis de trânsito, não deveria estar em uma sala de aula de direito. Ou você é só mais uma daquelas pessoas que só querem um diploma de enfeite?
Encaro-o com um olhar confuso e decido ficar em silêncio. Não entendo qual é a dificuldade dele em agir profissionalmente comigo, assim como age com os outros alunos. As aulas se arrastam e eu olho para a porta, percebendo meu tio Alonso parado, me encarando.
- Professor Frederic. Preciso falar com a senhora Tavares. - meu tio diz com uma expressão séria.
- Tudo bem. Pode ir. - reviro os olhos, reparando no modo como ele me olha. Saio para o corredor e meu tio está encostado na parede.
- Senhor diretor, o que queria falar comigo?
- Lupi. Você foi escolhida para ajudar o professor após as suas aulas.
- Que professor?
- O Frederic. - quando ele fala, meus olhos se arregalam de surpresa.
- Eu não posso!
- Ele é um homem influente e poderá trazer vários investidores para nossa...
- Então é isso? - pergunto, indignada. - Estou sendo usada como moeda de troca?
- Não é bem assim, Lupi. - Meu tio tenta se explicar, mas eu já estou furiosa.
- Então como é? Porque para mim parece exatamente isso. - Cruzo os braços, encarando-o com raiva.
- Ele precisa de ajuda com um projeto e você é a melhor aluna que temos. - Ele tenta amenizar, mas eu não estou convencida.
- E por que eu? Por que não um dos outros alunos?
- Porque ele pediu especificamente por você. - Meu tio admite, e eu sinto meu estômago revirar.
- Ele o quê? - Pergunto, incrédula.
- Ele pediu por você, Lupi. - Meu tio repete, olhando para mim com um olhar que eu não consigo decifrar.
- Isso é ridículo. - Resmungo, balançando a cabeça. - Eu não vou fazer isso.
- Por favor, minha sobrinha. Ele é um homem bastante influente e poderá te ajudar a chegar onde quiser.
- O senhor sabe que não preciso de ajuda para isso! - Olho para meu tio e percebo um pouco de tristeza em seus olhos. - Mas por que sinto que isso não vai ser uma coisa fácil de negar?
- Porque não será. A empresa do pai dele faz generosas doações para a faculdade, e essas doações mantêm nosso projeto de bolsas de estudo em funcionamento. Além disso, ouvi dizer que, na última vez em que ele se sentiu contrariado, cortou completamente as doações. E, por algum motivo, tenho a sensação de que ele esteve envolvido no fechamento de outras escolas também. - Fico surpresa com o que ouço.
- Tudo bem, tio. Farei isso por você, pois sei o quanto isso significa para você. Mas se perceber que está além das minhas possibilidades, não continuarei.
- Obrigado, minha querida! Sabia que não me decepcionaria. - Meu tio me abraça e beija minha testa.
Logo, todos os meus colegas saem da sala. Pego minha bolsa, prestes a sair, quando o professor segura meu braço.
- Acha mesmo que facilitaria para você?