Benício tem 23 anos. Ele é muito inteligente, bonito e sedutor. Apesar de Renata e eu termos crescidos juntas, conheço ele a 7 anos. A primeira impressão que ele teve ao meu respeito, foi acreditar que era uma patricinha metida. Com a nossa aproximação criamos um vínculo especial.
- O que deu em vocês? Se for de novo um dos meus desenhos que está circulando por aí, pode deixar falar, eu não ligo!
- Você já sabia? - Renata pergunta surpresa.- Por que não contou? Somos seus amigos, precisamos saber se estão te incomodando.
- Claro que já sabia, colocaram até num grupo do WhatsApp, vocês acham mesmo que isso vai me afetar? Eu não sou mais uma criança, vocês não precisam ficar me protegendo toda hora.
- Mas eu ligo, eles têm que aprender a respeitar as pessoas. E pra mim você continua a mesma baixinha, nada vai mudar.
- Rian, não fica se estressando à toa, lembra na quarta série que implicaram com o meu cabelo e você queria bater em todo mundo, eu não deixei e não demorou dois dias e as crianças pararam. Eles vão arrumar outro assunto e vão esquecer disso.
- Não estamos na 4ª série, somos adultos, e as pessoas deveriam se comportar como tal! Elas são cruéis e eu não vou deixar ninguém te fazer mal.
- Eu sei, Rian. Obrigada por sempre cuidar de mim, mas sabe, deixa serem cruéis. Na verdade, às vezes até eu tiro sarro de mim. - Falo rindo. - Pensa que loucura, a pessoa é apaixonada por alguém que não existe e com a pessoa que sonha, faz planos de casar e construir uma família e a única coisa que tenho dele são meus desenhos dos nossos momentos. É loucura. - Falo tentando acalmá-lo.
- Realmente, amiga, você está a um passo de ser internada com camisa de força. - Renata fala gargalhando.
- Nem me fala, é loucura demais. - Benício ri, mas para ao olhar para o Rian.
- Imagina você sonhar que está grávida e acordar grávida.
- Credo, Raffa, aí não vale. - falo rindo.- Mas vamos ser sinceros, ele é gato, não é?
- Tenho que concordar, um desses ,só em sonho mesmo.- Renata brinca.
- Parem de rir, não tem a menor graça. Ilusão ou não, isso só diz respeito a você, Lupita. Ninguém tem o direito de fazer chacota ou espalhar coisas sobre você.
- Tem sim, cara. - Benício bate no ombro do Rian. - Eu sei que você está rindo por dentro.
- Veja se eu tenho cara de que estou achando graça!
Rian sempre foi o mais ranzinza da turma, o mais cabeça, o mais educado e o que pega minhas dores, como se fossem dele. Ele tem 26 anos, também está estudando direito, está no último ano. Sempre fomos como se fôssemos um só. Apesar da diferença de idade, ele é o homem mais incrível que conheço.
Amo ele demais, mas não é amor como vocês pensam. É um amor de irmãos, como ele sempre fala. Ele me ama mais que seu próprio irmão, pois aquele está perdido na vida. Os dois nunca se deram bem.
Entro na sala de aula e começa minha saga. As pessoas me julgam muito, pois meu pai é dono da faculdade em que estudo. Eles dizem que eu sou privilegiada por causa disso, mas não. Eu estudo muito para que eu possa, pelo menos nos estudos, dar orgulho a eles.
- Bom dia, turma! - meu professor preferido nos cumprimenta com um sorriso. Como se fosse ensaiado, todos nós respondemos ao mesmo tempo.
- Bom dia!
- Bom, vejo que não faltou ninguém. Assim posso me despedir de todos vocês.
- Como assim se despedir? Não vai não. - falo me colocando de pé.
- Obrigado, Lupita, pelo carinho! Mas acho que vocês já viram que eu já não sou mais um menino, né?
A turma toda fica chateada e começa a reclamar todos de uma vez. Eu, principalmente. Ele é o melhor professor que alguém poderia ter. Vou na sua direção e dou um abraço nele, os outros também fazem o mesmo.
O estranho foi meu pai não ter me dito nada, por mais que seja meu tio Afonso que é o diretor, nada passa sem a autorização do meu pai.
- Meus queridos alunos, continuem assim, vocês têm um futuro incrível pela frente. Vou levar cada um de vocês para sempre na minha memória. - Ele sorri um pouco triste. - O novo professor está um pouquinho atrasado...
- Já estou até vendo o tipo de professor que ele é! - Falo, interrompendo-o, demonstrando toda a minha frustração. - Ninguém pode tirar seu lugar.
- Saiba que eu não vim tirar o lugar de ninguém! Ele mesmo me procurou! E antes de me julgar, me conheça. Sou o tipo de professor que detesta aluno mal educado.
Ouço aquela voz que me parece familiar. Quando levanto a cabeça para responder, não consigo acreditar no que está diante dos meus olhos. De imediato, sinto minha boca secar, meu corpo tremer. Todos na sala estão olhando diretamente para mim. Por um ano, todos tiraram sarro por desenhar o homem dos meus sonhos, e ele está bem aqui na minha frente.
- Oras, o gato comeu sua língua?