/0/10291/coverbig.jpg?v=2f6eed6b03799b21d4a3249452d2fbe9)
– Não soltem o homem de jeito nenhum, pois temos que terminar de fazer o exorcismo. – disse o Padre com a sua testa cheia do líquido que já escorria.
Aquilo poderia ser chamado de exorcismo informal, visto que a forma mais conhecida e usada era de se ter o azarado na sua casa para todos os processos formais e complexos. O calor começava a intensificar-se como se fosse resultado das trevas que encontraram abrigo no corpo do homem que tinha algo por contar, algo que explicasse o motivo de ser o escolhido para carregar a maldição.
Todos estavam diante de uma luta infinita contra as forças das trevas que habitavam o corpo do jovem que era um dos crentes mais ativos da igreja, coisa que levantava muitas questões aos outros crentes que conheciam a conduta do jovem em causa. Agora ele era tão forte que foi necessário que mais de dois homens lhe segurassem para não causar um caos, mas mesmo assim a força parecia aumentar a cada segundo que passava, numa luta que todos já estavam ficando alarmados.
Mil estava sentado no penúltimo banco da igreja, assistindo a situação que lhe deixava com algumas questões que ele preferia colocar ao padre para poder ter uma resposta certeira. O homem possuído pelo abismo gritava como se estivesse sendo assassinado a facadas frias nas costas. Fizeram mais força para o conter, no entanto de uma forma pujante derrubou a todos e olhou bem no fundo dos olhos do padre que estava prestes a fazer o exorcismo.
Mil estava perto da sua esposa, e ela estava claramente com um certo grau de medo do que via. Todos os crentes cantavam as canções santas ajudando os outros que encaravam o homem, chamado Semião que ainda olhava para o padre como se quisesse acessar a sua alma para um intento dos infernos. Lika, o filho do casal, Mil e Ilda, havia ido a casa de banho e felizmente estava perdendo aquele acontecimento que de certeza visitaria a sua mente quando fosse a cama.
– Venha nos ajudar a agarrar o... – Um dos homens que lidavam com o Semião disse olhando na direção do Mil que naquele dia, mais parecia um segurança contratado para fazer um trabalho mais sério e perigoso que um homem possuído.
A coisa estranha era que o Mil estava bem lá no fundo, mas mesmo assim escolheram a ele para ajudar na luta contra a coisa do outro lado.
Mil, nada disse e nada fez além de olhar para o indivíduo com quem ele falava. A única coisa que fez foi apenas o ignorar como se ali não estivesse, isso era o normal dele, ele sabia ignorar quando de repente a sua louca mente decidisse.
Naquela manhã de Domingo com o céu nublado, era mais um dia em que o Mil não gostaria de estar na igreja e a coisa piorava por ver a situação do exorcismo que ele apenas gostava de ver em filmes de terror, mas agora era real e ele estava diante daquilo, a sua mente não tinha nenhum prazer em tudo que observava e sentia. Passou a sua mão nua pela sua cabeça sem nenhum cabelo e percebeu que estava transpirando numa temperatura que mesmo estando nublado era de fazer a cabeça doer e o corpo ferver.
Ilda olhou para Mil e traçou algumas palavras na mente e na boca, porém estava a espera do melhor momento para poder falar. Mil olhou de volta para a sua esposa, diretamente para os olhos dela como se estivesse em busca de uma aprovação dela para poder participar do exorcismo, mas dentro dele sentia-se não merecedor de participar naquilo por que o seu senso comum o dizia que não tinha fé suficiente para poder ajudar aquela alma em sofrimento.
– Não vai? – Ilda questionou ao seu marido.
Ele calou por um tempo, mas a sua expressão facial mudou quando conseguiu visualizar Semião com clareza.
– Não pode ser. – ele disse descrente.
Os seus olhos ficaram arregalados e de imediato respondeu a sua esposa, surpreso.
– Vou sim.
Ilda não estava entendendo nada, por isso não demorou para logo perguntar:
– O que foi?
– Eu conheço aquele homem. – o seu dedo indicador voou para a direção de onde estava o homem sofrendo, numa luta contra algo do além.
– Venha, meu filho. – Com os olhos fitados no Mil o padre disse e este não demorou a caminhar junto do grupo que lutava para conter o Semião que agora não era Semião, mas algo entendido por aqueles que tem dom, como a maioria imaginava.
Lika ainda estava na casa de banho e assistia ao seu último vídeo de como fazer maquiagem perfeita. Na verdade ela estava ali por conta dos pais, não sentia-se a vontade naquele espaço cheio de gente "perfeita" e principalmente os seus colegas da escola, a mesma escola que tivera problemas que a ciência não conseguiria explicar, ela não gostava deles, pois sentia-se ameaçada, sem nenhuma explicação.
Repentinamente, a porta da casa de banho abriu-se com uma força invisível e absurda, deixando a Lika assustada, levantou numa velocidade impossível e puxou as suas calças jeans juntamente com a sua calcinha. O coração dela batucou com força e o seu corpo congelou por um tempo, enquanto ela tentava entender o que acontecera, mas não viu ninguém por perto que carregaria a culpa de a porta da casa de banho estar aberta agora. Lika se organizou.
– Olá? – Ela disse quando viu alguém a passar rapidamente em frente da porta, mas depois ignorou achando que fosse apenas uma impressão dela.
Finalmente, ela saiu da casa de banho e quando passava perto da casa de banho masculino se cruzou com um menino que aparentava ter 13 anos de idade. O pequeno homem era muito bonito, de olhos cinzentos e pele de chocolate pálido.
– O melhor é aceitar e sair daqui. – O menino disse e quando Lika tentava entender o que significavam aquelas palavras, o pequeno já havia indo embora.
Incrédula Lika ficou ali parada, piscando muitas vezes como se a ação lhe trouxesse uma resposta e depois se movimentou e foi ao encontro dos seus pais. Quando chegou lá, não pôde acreditar no que os seus olhos estavam vendo.
Continua...