Capítulo 8 VII - Capítulo 7

4 MESES ANTES

Semião abriu os olhos e ouviu o som da máquina que parecia possuir a sua vida em ondas de som, com ritmo que mantinha-se constante em cada segundo que passava. Ele ainda não conseguia entender o que havia acontecido consigo mesmo e nem porquê estava ali naquele quarto com cheiro forte da morte. O quarto era todo branco assim como a sua cama e quase tudo que se encontrava no interior do cômodo. Piscou muitas vezes como uma forma de testar a realidade. Tentou virar vezes repetidas para poder ver tudo ao seu redor, mas uma dor de cabeça acabava com ele.

Ninguém estava no lugar e isso lhe deixava preocupado.

– Olá, está alguém para me explicar o que está acontecendo aqui? – disse Semião e a única resposta que recebeu foi o som contínuo da máquina perto da sua cama que para ele era assombrosa, pois ele sentia o objecto controlando a sua vida, trazendo uma sensação desconfortante que ele tentava ignorar, porém parecia não funcionar.

De repente um som de uma fonte desconhecida soou, assim chamando atenção do homem que sentiu a sua respiração falhar depois do que os seus ouvidos detectaram. Lentamente os seus olhos foram exactamente para a porta sem nenhum motivo forte. Ele não sabia de onde soara o som, mas sem saber como teve uma urgência de olhar na direcção da porta, poré depois do movimento dos olhos e esforço para poder olhar com coragem e segurança, ele ficou atento.

A porta abria-se continuamente com um som irritante e lento que era capaz de convidar arrepios para passearem pelo corpo inteiro e por cada pêlo existente na pele. Com movimentos lentos, Semião tentava levantar por perceber que o que estava prestes a acontecer era de assombrar a mente, ele não soube como teve a sugestão na mente, no entanto sentia a necessidade de sair do quarto o mais rápido possível.

O fragor quase inexistente da porta continuou e de uma forma repentina parou. Uma onda de arrepios assolou ao Semião que ao conseguir virar para o lado direito, pôde ver uma cama com um homem pútrido. Os olhos de Semião ficaram arregalados afundados no terror que o seu corpo transmitia, os batimentos cardíacos dispararam de uma forma infinita, batucando como se fosse o último dia de vida.

A dor de cabeça piorou e aí foi suficiente para ter mais detalhes do que não imaginaria que aconteceria aos seus olhos como se se tratasse de um truque de mágica dos infernos. Semião saltou da cama quando viu o cenário de impressionar a qualquer um e a qualquer alma. O homem sobre a cama exalava vermes e o cheiro de podridão se espalhou em apenas segundos.

– Porcaria de merda, tenho que sair daqui o mais rápido possível. – O homem disse para ninguém, mas a situação parecia piorar e as suas palavras não pareciam suas, pois era raro ele pronunciar palavras sujas, todos na cidade, igreja e no bairro torre de bronze sabiam disso, ele era mais considerado como o "homem de Deus" não só ao padre aquele apelido pertencia.

Os vermes provenientes do homem na cama caíam na superfície. A barriga do produtor de vermes estava completamente aberta, expondo todas as entranhas decompostas e o crânio também estava aberto, porém sem nenhum cérebro. Semião guiado pela curiosidade que naquele momento tornava o homem num autêntico burro, aproximou-se do corpo para ver com mais detalhes o homem na outra cama, ao seu lado direito. Claro que ele estava acostumado a ver infortúnios, mas daquela natureza era um desafio em que ele se encontrava.

O corpo sem vida e cuspidor de vermes e odores era gigante e a imaginação de qualquer mente puxaria o peso para algo como 300kg, era um homem obeso ali, aberto, numa exposição de causar enjoos e vómitos contínuos por uma considerável soma de tempo. Como se fosse uma estrela, os seus braços e pertas estavam espalhados, talvez por ter sido vítima de alguns golpes grotescos e fatais.

Semião segurou-se diante da situação, mas tomou um grande susto quando de uma forma inesperada caiu algo sem nenhuma importância, causando um barulho que acelerou mais os batimentos cardíacos que já se encontravam acelerados. Organizou-se para sair do quarto a uma velocidade da luz, porém para o seu maior susto o corpo morto sentou na cama num movimento brusco.

Semião não pensou duas vezes antes de sair do quarto correndo com todas as suas forças sem virar o seu rosto para trás. Ele era corajoso, mas ali ele não tinha outra ideia além de deixar o instinto lhe guiar, mas a coisa seria diferente se ele tivesse algo em mãos para usar como instrumento de defesa contra o inimigo peculiar que estava diante dele. Uma arma de fogo faria com que ele se sentisse corajoso, confiante para enfrentar o agora morto vivo. Na verdade quando ele tivesse uma arma de fogo sentia-se muito seguro, ou talvez um herói indestrutível. Durante a sua corrida pela vida, ele teve a chance de acessar a gaveta que tinha a memória inerente ao incidente que o fez chegar até ao hospital. Primeiro, ele não acreditou na própria memória, mas depois conseguiu se reconectar com o seu cérebro.

O hospital estava vazio, o que era, muito, mas muito estranho. Ele correu e encontrou um quarto aleatório onde não se deu o trabalho de pensar e de imediato entrou e fechou a porta.

Ficou em silêncio por alguns minutos ainda na porta, tentando criar algum plano de sobrevivência antes de se aperceber que na verdade no quarto estava uma idosa sentada na cama com um olho vermelho e o outro normal.

– Oi, meu filho. O que te apoquenta? – Colocou a questão a estranha velha com uma calma tão irreal na sua voz.

Surpreso Semião nada disse além de olhar para ela com mil e duas questões fervendo a sua mente.

– Oi... – disse Semião com uma hesitação e logo em seguida fez a coisa que deveria ter feito antes de pronunciar a única palavra. – Perdão.

– É disso que todos precisamos, meu filho.

Sons de passos gigantes soando pelos corredores do hospital ficaram em segundo plano e os olhos do jovem e a velha se encontraram na incredulidade de uma das partes. A lógica estava abandonado a mente de Semião.

Continua...

            
            

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