Capítulo 3 II - Capítulo 2

Conseguiram agarrar no jovem possuído pelas forças do além e imobilizaram. Mil participava da acção, mas sentia algo que não conseguia explicar, não era coisa boa. Semião começou a gemer e a sua voz tornou-se grotesca no momento que pronunciou palavras excêntricas. Mas o pior veio quando olhou para os olhos de Mil.

– Ha, ha, ha, homem fraco. Tu achas que podes fazer alguma coisa contra mim? Idiota. Acho que a sua esposa já não confia mais em ti e tem mais, o vosso filho morreu por tua irresponsabilidade.

Mil arregalou os olhos e de imediato soltou o membro superior direito do homem possuído. Na queda, o indivíduo endemoniado, numa acção impossível derrubou a todos e de imediato deu um murro na face do padre e outro na face do Mil. Lika ficou com muito medo e a sua ansiedade subiu pela sua mente e o corpo estava prestes a ter sinais.

Mil não conseguia acreditar no que acabava de acontecer. Com a mão na bochecha ele olhou incrédulo para aquela coisa que já fora uma pessoa. O que mais lhe doía naquele momento era a verdade, sim, aquela coisa dissera a verdade e ainda tinha a intenção de continuar a contar tudo que tinha a ver com ele. A situação era comparável a uma pessoa despida em frente de outras, assistindo a sua nudez, arrancando uma vergonha de causar trauma.

Agora o homem possuído estava no chão gemendo e com uma expressão de causar um arrepio na espinha e na alma. Parecia um cão raivoso prestes a atacar a qualquer momento e todos tinham que se cuidar para que o pior não acontecesse.

Os olhos da Lika viam uma coisa mais além do que a maioria via ali. Um grupo correu para poder socorrer os homens que estavam prestes a ser agredidos novamente, e de certeza que desta vez severamente.

De repente, ignorando a todos, o homem possuído agarrou um dos pés do padre e o puxou com uma força sobrenatural que fez com que todos os crentes diante daquilo sentissem um medo cortante. Ilda arregalou os olhos e se aproximou da Lika para poder lhe proteger do horror que estava aquela situação.

O calor aumentou ainda mais e os homens que tinha o intento de ajudar o padre ficaram sem nenhuma acção quando viram o padre no chão se recuperando depois da queda que foi agressiva. Os olhos do Semião mudaram para uma cor negra, já não existam escleras, tudo estava da cor da escuridão.

– Vamos agarrar o homem e fechar os olhos dele com um pano. – disse um dos homens presentes.

Enquanto isso, quando Ilda estava prestes a abraçar a Lika, sua filha, esta esquivou o abraço e com uma amargura nos traços do seu rosto gritou com todas as forças dos pulmões, olhando para a direção do homem possuído, de certeza que ela estava vendo algo que mais ninguém além dela estava vendo. Ficou aterrorizada.

Muitos olhos viraram para a direção da adolescente. Uma preocupação assolou a Ilda que ficou assustada com o grito da filha. Mil virou imediatamente para o lado onde se encontram as mulheres que mais amava. Viu Lika e Ilda abraçados. Quase engolido pela multidão, o enfermeiro intentou dirigir-se à sua família, no entanto no mesmo momento, antes de sentir um gancho embater-se contra a sua mandíbula e o derrubar, ouviu um riso grotesco dos infernos soando.

Ele se viu no chão com o sangue escapando da sua boca, sentindo um enjoo provocado pelo sabor do líquido viscoso e vermelho que circula pelas veias.

– Ninguém vai me escapar, todos vão morrer nesta maldita igreja. Bando de hipócritas. Eu conheço a todos aqui. Vivem apenas fazendo a mesma porcaria, fingindo que vêm fazer alguma coisa de útil aqui. Idiotas. – disse a voz do além vindo da boca do Semião, porém agora não era ele, mas uma força que dominou o seu corpo.

Semião lutava, mas a força era tão forte.

Os homens que tentavam ajudar o padre aos poucos começaram a recuar quando viram o demónio levitar umas dez cadeiras no salão em simultâneo sem tocar em nem sequer uma delas. Todos agora estavam cientes que estavam diante de uma força diabólica e toda a confiança e esperança jogavam nas mãos do padre que juntamente com o Mil estava no chão, a pensar na melhor ideia para vencer aquela maldição.

Alguns crentes sentiam o medo transbordar do interior deles e por isso a coragem moria aos centavos e sentiam que era crucial uma fuga para salvar as suas vidas. Então, fugiram em grupinhos naquela aglutinação que estava mais que uma salada mal feita.

Mil cuspiu o líquido com o sabor metálico na boca e com apoio dos seus membros superiores levantou-se para poder continuar com o seu intento, porém para a sua desgraça, já não conseguia ver a sua esposa e a sua filha. A multidão de crentes estava numa confusão autêntica, cada um tentando proteger a sua vida.

Era primeira vez a igreja presenciar uma força como aquela e muitos acreditavam que certamente tratava-se acerca de uma legião.

– Todos vão morrer. Ninguém vai salvar-se, ha, ha, ha – disse a coisa que já apresentava traços excêntricos no rosto de garrafas e facas que passaram e cortaram a carne da face.

Jogou todas as cadeiras com toda violência em direção dos crentes que usavam os seus braços como escudos. O medo já estava se transformando em fobia para alguns que tentavam resistir.

Mil se afastou do inimigo de todos ali na igreja e padre levantou do chão. O homem de Deus com toda a sua coragem tentou contra-atacar a força diabólica, no entanto mais uma vez foi agredido no rosto, porém desta vez diretamente no nariz que quebrou sangrou de imediato e caiu no chão ruidosamente.

Lika e Ilda haviam sido engolidos pela multidão e os valentes que queriam parar o corpo possuído recuaram todos quando outras cadeiras foram levitadas e em seguida a porta da frente e a traseira fecharam-se de repente como se de vento se tratasse. O impacto foi tão pujante que rachas nas portas desenharam-se numa velocidade da luz, pareciam dedos de um corpo cheio de maldade, em veias de danças satânicas.

Aos poucos a escuridão tomou o salão onde era suposto se adorar o altíssimo e se vencer o morador dos abismos e das sombras.

– Rendam-se ao vosso rei, pois o vosso padre não tem fé suficiente para me encarar e nenhum de vocês pode me parar. Coloquem os vossos joelhos no chão e façam o que eu digo, antes que eu acabe com todos num só movimento. – disse a voz diabólica do corpo possuído e depois dessas palavras os seus olhos ficaram amarelos, um amarelo carregado e um riso seguiu.

Continua...

            
            

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