Capítulo 4 III - Capítulo 3

As palavras do possuído chocaram a todos crentes no interior da casa de Deus e a maioria parou sem saber o que fazer, apenas escutando as palavras daquele que arrepiava a qualquer um que o ouvisse ou o escutasse. Mas felizmente alguns homens, juntos coletavam a sua coragem para poder tentar derrubar o homem habitado pelas trevas.

Lika estava longe do endemoniado, sentada no chão com as mãos em volta dos seus joelhos e com o rosto escondido, numa crise de ansiedade que ela tentava controlar. O seu pé direito batia no chão de uma forma repetida, mostrando a sua impaciência que fazia parte das suas crises. Ilda tentava proteger a sua filha. Falava palavras confortantes para poder ajudar a adolescente a se acalmar.

– Filha, apenas preste atenção na sua respiração e tente pensar em coisas positivas. Eu sei que você consegue. Respire, respire com muita calma. Tudo vai ficar bem, está bem querida. Tudo vai ficar bem. – dizia Ilda na tentativa de melhorar a situação que só piorava a cada minuto que passava.

De repente Semião falou:

– Há uma rapariga que é um obstáculo a ser destruído agora mesmo.

Os olhos de todos ali ficaram arregalados. Cada um pensava na possibilidade de ser sua sua filha. O medo era gritante e não tendo mais para onde fugir, os gritos soaram, gritos de desespero.

Lika tirou as suas mãos dos seus joelhos, abriu os olhos repentinamente como se estivesse prestes a responder a um chamado.

– Filha, o que foi? Está tudo bem? Está me assustando.

– Estou bem, mãe. – depois da Lika responder a sua mãe, ela começou a levitar.

Admirada, Ilda não soube o que fazer, apenas olhava para a sua filha a ganhar alturas, mas depois tentou a impedir de avançar para os céus.

Mas na verdade a ação não era dela, porém do endemoniado que até usava gestos que denunciavam que era ele que elevava a adolescente para cima.

Lika já estava com um medo que ultrapassava a razão e enchia os seus pulmões para fazer algo que ninguém estava a espera naquele espaço sagrado. Todos olharam para ela quando já estava prestes a chegar ao teto, inclusive o seu pai.

Mil gritou de imediato com uma grande ousadia na voz, nem pesava mais com quem estava lidando:

– COLOQUE A MINHA FILHA NO CHÃO AGORA!

– Porcaria de merda, com quem acha que está falando, imbecil? – Semião que agora não era Semião disse com uma calma na voz, mesmo sendo uma grotesca.

Virou os seus olhos amarelos para a direção do Mil e o fez levitar também, como se de plástico se tratasse.

– NÃO... – gritou Ilda em negativo, mas foi ignorado pelo maldito, continuando a aumentar a distância da altura do Mil e Lika estava praticamente no teto.

O teto estava a uma distância de quatro metros do chão.

Lika olhou diretamente para o homem possuído e gritou com todas as forças do seus pulmões e com essa acção, Semião, como se fosse atingido por algo fatal caiu no chão. Pai e filho foram para a superfície.

Ninguém entendeu o que aconteceu, apenas interpretaram o ocorrido como uma coincidência. Lika logo que chegou no chão desmaiou e repentinamente a porta da igreja abriu-se fazendo com que todos os crentes acreditassem que o que possuíra o corpo do Semião saiu naquele exato momento.

Um homem chamado Roland correu na direção da Lika e Ilda para poder lhes ajudar. Padre foi até ao Semião com a esperança de a situação ter sido resolvida. Logo que chegou perto do homem o padre percebeu que o homem havia desmaiado.

– Filha, filha... – Ilda tentava acordar a filha, a chamava e também levemente a sacudia, porém ela não respondia.

– Sr. Ilda deixa eu te ajudar. – disse Roland.

Felizmente a situação terminou bem, só que a Lika torceu o pé e alguns outros crentes contraíram ferimentos ligeiros. Aos poucos foram saindo dali, evacuados para hospital, inclusive o padre, Lika e outros.

Aquele dia ficou marcado na memória de todos como o dia mais peculiar na igreja, mais frequentada na cidade de Virginy.

...

No hospital, Lika já havia despertado e os seus pais estavam no quarto dela, muito preocupados para ver como é que ela estava. Felizmente ela estava bem. Não demorou e Roland,o esforçado escritor pediu permissão para entrar no quarto e para a surpresa dos pais da Lika, ela o recebeu com um abraço e em seguida disse:

– Muito obrigado, professor por estar aqui.

– Como assim professor? – Ilda colocou a questão espantada.

– Mãe, ele é meu professor de literatura.

– Sério, Roland. Eu não sabia que você era um professor de literatura além de... – ela pausou como se estivesse prestes a dizer algo sem nenhuma importância, mas depois continuou – ser escritor.

– Pois sou, Sr. Ilda.

– Amor, sabia sobre isso? – Ilda pergunta ao esposo.

– Sabia sim e você sabe que a nossa filha sempre teve uma inclinação peculiar.

– Sei sim, mas não imaginava que Roland fosse professor de literatura, ainda mais professor da nossa filha. – disse Ilda como fosse um sinal de desaprovação e também como se o indivíduo não tivesse habilidades suficientes para ser um professor daquela arte.

Roland com um sorriso no rosto virou para a Lika e disse:

– Não quer contar?

– Mãe, pai. Na verdade eu é que mantive em segredo, por conta dos meus colegas que...

– Que acham que você é uma estranha por gostar de escrever prosas e poemas. – completou Mil.

– Exatamente pai.

– Que bom. – com um ar seco disse Ilda.

Na verdade, Roland era um escritor que ainda precisava amadurecer, mesmo ele achando-se o melhor escritor de Moamba. Depois de ter tido algumas polémicas que mancharam a sua imagem, ele acabou se isolando de tudo e de todos e aí perdeu o fascínio pela arte de ler, apenas escrevia, mas isso não era suficiente, coisa que fez com que ele escrevesse obras horríveis que ninguém teria vontade de ler, mesmo que tivesse direito a remuneração.

– Bem eu só vinha visitar a Lika e saber como está... Espera, e contar algo chocante. – disse o escritor.

Continua...

            
            

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