Confusões do Amor
img img Confusões do Amor img Capítulo 2 Meu salvador °
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Capítulo 10 Altos e baixos ° img
Capítulo 11 Perseguida ° img
Capítulo 12 Salva por ele ° img
Capítulo 13 Medo ° img
Capítulo 14 Em apuros ° img
Capítulo 15 Um pedido ° img
Capítulo 16 Tal mãe, tal filho ° img
Capítulo 17 Vencendo mais um medo ° img
Capítulo 18 Desconfiança ° img
Capítulo 19 Certo, Thomas ° img
Capítulo 20 Apaixonada img
Capítulo 21 Confusa ° img
Capítulo 22 Então é assim ° img
Capítulo 23 Estou apaixonado ° img
Capítulo 24 Ele sempre me encontra ° img
Capítulo 25 Minha namorada ° img
Capítulo 26 Fim da lua de mel ° img
Capítulo 27 Homem misterioso ° img
Capítulo 28 Meus pais estão aqui ° img
Capítulo 29 Jantar em família ° img
Capítulo 30 Caos em família ° img
Capítulo 31 O que está acontecendo img
Capítulo 32 Estou presa ° img
Capítulo 33 Descoberta ° img
Capítulo 34 Desespero ° img
Capítulo 35 Rumo ao desconhecido ° img
Capítulo 36 Fuga ° img
Capítulo 37 Caçador de anjos ° img
Capítulo 38 Descobertas ° img
Capítulo 39 Vivo ° img
Capítulo 40 A avó fofa ° img
Capítulo 41 Toda a verdade ° img
Capítulo 42 Arrependimento ° img
Capítulo 43 Amigos para sempre ° img
Capítulo 44 Família em apuros ° img
Capítulo 45 Conversa necessária ° img
Capítulo 46 Um lapso de sabedoria ° img
Capítulo 47 Nas mãos do homem cruel ° img
Capítulo 48 De frente com o inimigo ° img
Capítulo 49 No covil do vilão ° img
Capítulo 50 Ele me salvou ° img
Capítulo 51 Você é preciosa ° img
Capítulo 52 Verdades ° img
Capítulo 53 Foragido ° img
Capítulo 54 Acabou... img
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Capítulo 2 Meu salvador °

°° Um mês depois °°

Pensei que o tempo me ajudaria, mas a cada dia que passa, tudo fica pior. Saber que Mickael não está mais aqui, me deixa tão esquisita. Que para acordar, precisarei de despertador e não será mais ele me balançando ou até derrubando da cama, por minha dificuldade em despertar. Ou, do seu café incrível que jamais experimentei igual. Acho que me habituei mais a ele do que aos meus próprios pais.

Sempre tive tudo que poderia querer, tanto material quanto sentimental. Meus pais são incríveis, mas, ainda assim, não estavam sempre presentes, porém tentavam suprir todas as nossas necessidades. Eles vivem mais em outros mundos, estudando e se entupindo de conhecimento, do que em nosso próprio mundo. Antes, era só minha irmã e eu a maior parte das vezes, até ela conhecer meu cunhado.

Ele tem quase quinze anos a mais que ela, mas eles se dão tão bem e o cuidado dele com ela é notável. Os dois estão juntos há quase seis anos, foi algo que começou logo após ela completar dezoito. Desde que começaram, ele passou a ser o centro da atenção dela, e eu fiquei de lado. Acho que desde sempre tenho esse meu lado carente de atenção, é horrível, mas é mais forte do que eu.

Conheci meu amigo em um dia de correria, com minha típica lerdeza do dia a dia. Eu estava saindo de um corredor da biblioteca e ele de outro, o resultado foi um encontrão que fez todos os livros caírem. Ele se desculpou, me ajudou e desde então, a amizade começou. Um café para recompensar pelo tombo, interesses em comum e assim começou a melhor amizade que tive em toda a vida, a única sincera e verdadeira.

Poucos meses depois, após eu completar a maioridade, fomos morar juntos e tem sido isso há dois anos. Bom, até um mês atrás, quando ele se foi.

Estou sentada frente ao computador, com os olhos cheios de lágrimas e o nariz em uma situação deplorável. Eu tentei, juro que tentei, mas não consegui. Me isolei do mundo nesse meio tempo, sofrendo e tentando me adaptar. Fui fraca demais, confesso, pelo menos tenho consciência disso.

Vejo meu rosto estampado na tela, com a setinha mostrando o vídeo que gravei ainda a pouco, agora em pause. Uma bela despedida, para aqueles que amo e merecem uma explicação. Não consigo pensar claramente por esses dias, isso tem dificultado muita coisa.

Já não bastava ter perdido meu amigo, meu emprego, a vida se encarregou de me tirar o restante que ainda tinha. Acordei tarde demais para fazer a matrícula da faculdade, com minha tremenda dificuldade em acordar cedo. Não que eu tenha dormido cedo, fiquei vagando pela madrugada até o sono vir, o que tem acontecido bastante e quando dormi, o alarme não foi necessário para me acordar. Hibernei praticamente, acordei só pela tarde e já não tinha mais tempo.

Outra coisa que acabei findando foi meu breve flerte com um menino da minha cafeteria preferida. Ele é atendente lá e depois de muito tempo enrolando, tomei coragem e falei com ele. Um erro, pois agora que ele se interessou, fiz questão de pôr um ponto final. Me sinto uma pessoa horrível, mas não tenho condição alguma de ser sociável e retribuir qualquer expressão de carinho.

Meu celular toca pela milésima vez hoje, mas, apenas desligo, sem ao menos olhar. Talvez seja minha irmã, ou meus pais, o número desconhecido não me faz ter certeza.

Hoje é meu aniversário, finalmente completo vinte anos. O que era para ser uma data de alegria, só me trouxe choro. Meu amigo e eu faríamos uma viagem, já estava tudo certo. Seria como um mochilão, sairíamos sem rumo, deixando a vida nos apresentar ao que de melhor tem. Agora a vida parece tão fútil, sem sentido e prestes a ter um fim.

- Aaaah! - Jogo a cabeça para trás, fechando os olhos e levando a mão à boca, para abafar outro grito. Me sinto instável, ficar sozinha não ajuda em nada. O apartamento é pequeno, mas parece tão grande e sem alegria, as cores se foram.

Me levanto, completamente agitada e ansiosa. Ando de um lado para outro, coloco as mãos na cabeça e solto um longo suspiro. Encaro o frasco de remédio ao lado do teclado, minha cabeça começa a teorizar coisas insanas.

- Respira. Você é forte. Para de pensar besteira! - Sussurro, enfiando os dedos no cabelo e apertando.

Movimento os dedos, causando um atrito no couro cabeludo. Meu corpo todo está estranho, além do meu coração acelerado, parece que to com pulgas cobrindo cada parte da minha pele. Sinto que estou prestes a enlouquecer.

Olho ao redor, a casa parece que vai me engolir a qualquer momento. Uma sensação de medo, um pânico sem tamanho começa a tomar conta de mim. Fiz um vídeo de despedida, mas o pensamento de fazer algo contra mim me assusta, não sei se consigo fazer isso, ou melhor, sei que desistir não é a melhor opção, mas parece o mais fácil agora.

Não aguento mais a pressão sobre mim, pego meu robe sobre o sofá e corro em direção a saída, enquanto coloco e cubro meu corpo, que estava coberto apenas com uma calcinha short e um top. Abro a porta quando atravesso a sala correndo, e saio. Me sentindo mais segura, mesmo que do lado de fora.

Escoro na porta, fechando os olhos e cobrindo o rosto com a palma da mão. Deixo meu corpo escorregar até ficar sentada, abraço minha perna, mas não consigo parar com o tremor. Estou em meio a uma crise, às vezes passa rápido, outras demora mais que o normal.

- Solar? - Para completar meu dia maravilhoso.

Era só o que me faltava. Choramingo, ainda com a cabeça inclinada. Escuto os passos se aproximando, mas não me mexo. Quem sabe se eu ficar bem quietinha, ele desiste e vai embora. Ou melhor, fico invisível.

- Você está bem? - Não ajudou em nada, deixei até de respirar e não surtiu efeito. Agora, não sei se me concentro em não surtar ou no homem ao lado.

- Quem te deixou entrar? - Minha pergunta sai como um resmungo.

- O porteiro bonzinho, muito divertido, aliás. - Sua animação me faz choramingar novamente. Não estou com ânimo para socializar.

- O que quer?

- Boa tarde, moço bonito. Você está bem? Eu estou na medida do possível, e você? Está um belo dia para sair e aproveitar a vida, não? - Não responde o que perguntei, apenas faz uma menção do que eu deveria falar. - Comemorar, se divertir.

- O que quer? - Repito a pergunta.

- Te parabenizar. Eeeeh! Você ganhou o sorteio, uma das que ganhou, na verdade. - Levanto o olhar, finalmente, encarando o homem.

Hoje sua roupa não está colorida, mas mantém o mesmo padrão de um mês atrás. Uma estampa neutra, com preto e marrom, já a faixa que carrega na cabeça, é rosa. Hoje o brinco não é de pena, são duas bolinhas pretas, uma em cada orelha. Desço o olhar até o pé, ele está de chinelo, isso não é tão estranho, o fato de estar usando meias também, que é. Acabo soltando uma risada espontânea, ele não liga muito para aparência, pelo jeito. E ainda assim, consegue ficar bonito. Infelizmente, ou felizmente, me sinto distraída e o surto anterior parece que sequer existiu.

- O que foi? - Pergunta, franzindo a testa. - Está caçoando do meu estilo? Isso é feio. - Chama minha atenção, mas em tom de brincadeira.

- Desculpa. - Me retrato, levemente constrangida. - O que é isso em sua mão? - Pergunto, querendo mudar de assunto. Tem uma caixa pequena, ocupando as duas mãos do homem. Não consigo ver o que tem em cima, mas parecem papéis.

Ele não me responde, apenas estende a mão para mim. A princípio, arqueio a sobrancelha, mas logo seguro e aceito sua ajuda para levantar. Com certeza estou horrível, o coque preso está mal feito e o rosto inchado pelo choro, com o interior uma bagunça, mas por algum motivo, agora, me sinto bem. Ter alguém para conversar parece bom, ser lembrada quando todos parecem ter esquecido também.

- Feliz aniversário! - Estica a mão, me entregando a caixa, após pegar os papéis em cima.

- Como você... Ah, entendi. - Penso em questionar, mas lembro do nosso primeiro encontro e dele ficar com meu documento por uns minutos. Me distraio abrindo assim que pego, com tanto cuidado que parece ter uma pedra preciosa rara aqui dentro. - Um bolo, que fofo! - Resmungo encantada. Levanto o olhar para ele, que deve estar brilhando de emoção. - É lindo. Obrigada! - Com um braço seguro o bolo, com o outro, rodeio a cintura do homem em um abraço, recostando a cabeça em seu peito. Se ele soubesse o meu nível de carência, não cometeria esse ato extremamente fofo.

- Não tem de quê. Precisava me desculpar pela inconveniência do outro dia. - Responde, retribuindo meu abraço, me sinto tão acolhida e protegida. É surreal a segurança que um desconhecido está me dando. Acho que cheguei ao nível máximo de fundo do poço.

- Está mais do que desculpado. - Abro um sorriso, me afastando e voltando a olhar meu bolo. É pequeno, acho que umas dez fatias, e sua decoração é tão minimalista, pelo menos o que vejo em cima. É azul, com borboletas no topo. - Quer entrar? Podemos dividir. - Convido, voltando a olhar para ele e não entendendo bem sua expressão quando foca em mim. - E posso assinar os papéis do sorteio que eu não queria participar. - Completo minha fala, totalmente entretida com o presente.

- Tem certeza?

- Olha, do jeito que as coisas estão para mim. Não me surpreenderia se fosse algum tipo de psicopata.

- Não sou. - Se defende.

- É o que um psicopata falaria. - Retruco, ele ri. Isso me faz esquecer totalmente do assunto.

- Por que todas as vezes que te vejo, parece que chorou até se desidratar? - Sua pergunta, um tanto direta, me faz fazer careta. Ele entra, faço o mesmo, fechando a porta atrás de mim.

- Perdi uma pessoa muito importante para mim. - Não entro em detalhes. - Isso me deixou péssima. - Dou de ombros. - Pode sentar. Não repara na bagunça. - Digo, sem nem me importar com as caixas espalhadas pelo lugar. Sarah mandou para empacotar as coisas de Mickael, não consegui.

Coloco a caixa sobre a mesa de centro, me sentando no chão só para tirar o bolo e poder apreciar os detalhes. Coloco sobre a mesa, ficando encantada com o que vejo. Ele tem a base branca, e por cima tem os detalhes azul, tipo uma camada que vai até o meio, fazendo uma transição degradê. O topo tem umas bolinhas brancas espalhadas, além de várias borboletas azuis e roxas, como se tivessem pousado e outras voando.

- Esse é o bolo mais lindo que já vi! - Comento, olhando para cima, pois o homem ainda não se sentou. Apenas me encara, analisando minha expressão. Um simples gesto, de alguém que ao menos conheço, mas que causou uma súbita mudança em meu humor.

- Sério? - Pergunta, se sentando ao meu lado. - Tinha roxo também, não sabia qual trazer.

- Esse é perfeito! - Olho para ele, que agora está com o rosto bem próximo ao meu. Nossos olhos se encontram, acabo fechando o sorriso, engolindo seco e sentindo uma sensação esquisita. Perto demais.

Coço a garganta, me levantando apressada e afastando meu corpo do dele. Ele fica sem entender, me olhando como se tivesse um grande ponto de interrogação sobre nós.

- Sinta-se à vontade. Eu vou... Hm.. tomar um banho. Já volto! - E saio correndo da sala. Entrando em meu quarto e trancando a porta.

Como se tudo já não estivesse na pior, meu notório estado de carência quase me fez beijar o homem. Ele me olhou, eu olhei para ele e um certo nervoso se apoderou, as borboletas que estavam no bolo, parecia até que estava dentro de mim.

- Merda! - Eu nem precisava tomar banho. Não estou bem. Isso é nítido.

Antes de ter a brilhante idéia de fazer um vídeo de despedida, tomei um banho e até tentei ficar apresentável. Só que ao decorrer do dia, o choro acabou me deixando com a expressão da derrota. Agora, pro homem não pensar besteira, que eu fiquei excitada, por exemplo, vou ter de tomar banho, pelo menos pro cheiro de sabonete ficar e provar que tomei banho. E não apenas uma desculpa para fugir.

Se ele for um bandido, corro o risco de sair daqui e não ter nada no apartamento. Do jeito que estou abalada, seria até uma ajuda, ele levaria as coisas que não consigo me desfazer. Ou, se ele for um doido e eu a vítima, faria até algo que não tenho coragem de fazer. Mas, no momento, aquele pequeno bolo me deu um ânimo que mal sei explicar. Em um mês, só isso conseguiu me trazer um sorriso verdadeiro ao rosto.

Tomo um banho rápido, coloco uma roupa apresentável, uma calça moletom e uma blusa de alça. Só quando me olhei no espelho, percebi que estava praticamente nua. Ai eu entendi o olhar dele em mim assim que fiquei observando o bolo, deveria estar pensando que sou algum tipo de safada, pois estava no corredor, somente de calcinha e top, com o robe aberto. Minha cabeça estava no sistema solar, por isso não focou nesses detalhes.

Pude refletir sobre algumas coisas no banho, sempre penso que esse é o melhor lugar para reflexões. Dá para analisar a condição atual e planejar coisas futuras, caso necessário. Me ajudou a clarear um pouco a mente e colocar em ordem.

Saio do quarto, encontrando o homem jogado no sofá mexendo no celular. Ao ouvir a porta, ele se senta e vira, me olhando e sorrindo.

- Pensei que tivesse fugido pela janela. - Comenta.

- E eu, que tinha roubado minhas coisas. - Retruco, fazendo ele rir pela minha rapidez ao responder.

- Sou totalmente inofensivo, te garanto. - Faço um som em concordância, tudo que posso fazer é confiar em sua palavra, mesmo sabendo o quão doida estou sendo.

Vou até a cozinha, pego o necessário para partir e colocar o bolo para comer. Levo para a mesa e ajeito, me sentando no sofá ao lado do homem.

- Vou ficar te devendo a bebida. - Digo, fazendo careta em seguida. - Só tenho água.

Quase não comi nesse mês que passou, estou bem mais magra que o normal, isso de ficar triste ou ficar sem comer e emagrecer é péssimo. Quando sentia fome, pedia alguma coisa em delivery ou comia cereal e biscoito.

- Tudo bem. Beber água ajuda na minha dieta. - Me tranquiliza, com um sorriso fofo. - Aqui, preciso da sua assinatura nesses papéis. São referentes ao sorteio. Pode ler, mas diz basicamente que vai ajudar na divulgação em redes sociais enquanto estiver hospedada lá.

- Preciso assinar agora? Queria ler para saber se não estou vendendo minha alma ou coisa parecida. - Minha expressão séria, faz ele rir, mas não estou brincando. - É sério, não gostaria de pertencer a outra pessoa. Pertencer a mim já é difícil, imagina sendo de outro. Pavoroso. - Faço careta.

- Certo. Você vai levar esse documento assinado quando for para o hotel, tem três meses de validade. Começa a partir de hoje. - Assinto. - E não, não estará vendendo sua alma. Ainda não nos conhecemos o suficiente para eu te propor algo assim. - Acabo rindo novamente, acho que é a terceira vez desde que ele chegou. Eu gosto.

- Obrigada! - Pego os papéis, colocando ao lado e voltando a olhar para ele. - Você é hippie? - Questiono, curiosa.

- Eu sou feliz.

- Que inveja. - Sussurro, afundando no sofá. - No momento, estou vivendo no automático. Sem vontade alguma. - Lanço o olhar para o computador, onde tem evidências da loucura que estava pensando em fazer. Ele está desligado, não lembro de ter feito isso, deve ter sido sozinho, por inatividade.

- Aqui. - A voz dele me chama atenção, olho em sua direção e vejo um papel, além de uma caneta. - Você me passa uma vibe tão depressiva. É triste. - Seguro no que me estende, sem me importar com o que disse, pois é verdade. - Você é nova demais para ser assim, tem tanto para fazer e conhecer. Anote aí dez coisas que ainda não fez, mas que quer fazer. Pode ser qualquer coisa, mas tem de ser concluída antes do seu próximo aniversário.

- Isso é ridículo. Como isso pode ajudar em algo? - Jogo as coisas no sofá, só para ficar de pé e encerrar essa palhaçada. Esse cara é totalmente louco. Minha ação é impedida, pois assim que levanto, ele segura em meu braço, me puxando para trás.

Por não esperar, acabo caindo sentada em seu colo, mas por segurar minha mão ainda, não me mexo e mesmo que estivesse solta, não faria isso. A proximidade com ele, me deixa de uma forma que jamais fiquei. E eu gosto da sensação.

Ele me solta, mas continuo imóvel. Sinto seu dedo tocar meu ombro, puxando o cabelo caído e jogando tudo para um lado. Meus pelos se arrepiam quando roça a mão em meu pescoço agora exposto, isso me faz inclinar para trás, firmando minhas costas em seu peito.

- São só dez itens, não estou te pedindo algo absurdo. - Sussurra, me desestabilizando mais ainda. - Aceite esse incentivo como um presente de aniversário. É bem interessante, se pensar por outro lado. Vão ser dez motivos para tentar tomar o controle de sua vida, em um ano. - Umedeço os lábios, sentindo eles secos, assim como a garganta. - Qual seria o primeiro item?

Definitivamente, não consigo pensar em nada, além de querer sentir as mãos dele tocando em mim. Só posso estar ficando louca. A mão dele toca em minha cintura exposta, pois a blusa acabou subindo na queda. Isso acaba me dando uma leve descarga elétrica, me fazendo pular de seu colo para o lado.

- Meu Deus! - Me expresso, exasperada e sentindo meu coração acelerar. Me arrasto no acolchoado, tomando distância do homem e só parando quando minhas costas batem no braço do sofá. - Eu não sei. - Consigo sussurrar, respondendo de forma incerta sua pergunta.

- Pense, não deve ser tão difícil. - Comenta, se ajeitando e consigo observar o volume em sua calça, mesmo que ele tente disfarçar, se mexendo desajeitadamente. Não sou só eu que estou afetada.

Fico encarando o homem, tentando pensar em como responder. Somente uma coisa fica rondando em minha mente, e quero tanto fazer. A primeira coisa que eu colocaria em minha lista, seria perder a virgindade, mas, não quero que me ache mais patética ainda. Não o conheço bem o suficiente para saber como reagiria. Na verdade, tudo que sei sobre ele é que se veste de forma estranha, pois é feliz e consegue ser fofo quando necessário.

- Eu... - Começo, mas não consigo terminar. Jamais cheguei nesse grau de proximidade com alguém, ainda mais com uma certa tensão rolando. Respiro fundo, tomando coragem. O que pode piorar? Acho que nada, já estou ferrada mesmo.

Hoje é meu aniversário de vinte anos, nunca cometi nenhuma imprudência e pela manhã, estava com pensamentos completamente errados. Acho que qualquer coisa que eu cometa hoje, pode ser perdoado e entendido. Fiz em uma fase ruim. Justificável.

- A primeira coisa que eu colocaria... - Mordo os lábios. Vai, você consegue Solar. Não deve ser tão difícil tomar iniciativa, já fez isso um vez, mesmo que tenha sido só uma conversa e não o que planeja agora. - Fazer sexo com um desconhecido. - Consigo falar, tão rápido que não sei se ele entendeu, a expressão do homem denota seu pânico. Acho que não esperava isso, ou esperava, ele me atiçou.

- Oh, isso é ... bom. - Começa a balançar a cabeça. - Digo... pra quem for o felizardo. - Ele parece sem graça, ficando mais fofo. O homem abre a boca para falar, mas seu celular começa a tocar. Ele olha, faz careta, mas desliga a chamada. Voltando a me encarar.

- Você... Rum.. - Coço a garganta. - Você é o desconhecido. - Acrescento. - Se quiser, é claro. - Comento já começando a ficar em desespero. Onde eu estava com a cabeça? Acho que nem no sistema solar, estava além disso. - Meu Deus, como eu sou patética. Me perdoa, esquece que eu disse isso. - Começo a balançar a cabeça, me sentindo completamente ridícula e querendo me esconder embaixo da cama. - Céus, que vergonha!

Me levanto novamente, prestes a correr do lugar, mas, o homem faz o mesmo que antes. Sou puxada com mais força e agora, não caio de costas para ele, mas de frente, quase deitada sobre seu corpo. Estamos tão perto, e tudo que consigo observar é sua boca, pois uma vontade enorme me faz querer beijar.

- Eu aceito. - Diz, abrindo um sorriso que me deixa derretida. - Tem certeza?

Ignoro sua pergunta, apenas para impulsionar meu rosto para frente e juntar nossos lábios. Não sei quem é essa pessoa dentro de mim hoje, mas ela é mais corajosa. A mão dele segura em minha nuca, enquanto a outra ajusta melhor meu corpo e o beijo, antes desesperado, se torna calmo.

Não conseguimos evoluir, pois o celular volta a tocar bem alto. Mesmo tentando ignorar, ele para, mas volta a tocar de novo em seguida. Nos afastamos, ele pega o celular e resmunga uma palavra feia. Consigo ler o nome na tela, Dereck.

- Tudo bem? Podemos parar, se tiver compromisso. Não precisa fazer isso.

- Jamais deixaria uma linda mulher na mão. - Volta a me olhar, abrindo um sorriso sacana. - É só do trabalho, nada importante.

Deixa o celular na mesa, e percebo que tirou o som, pois logo começa a vibrar. Quase começo a rir, já que esse Dereck está insistente. Uma mensagem chega, consigo ler o início 'Eu vou te matar se...' não consigo ler o restante, pois o homem segura em meu rosto e vira para ele.

- Quarto? - Aponto para a porta que sai antes, respondendo sua pergunta com um gesto. - Não quer saber mesmo meu nome antes disso? - Nego.

- Isso anularia o título de desconhecido. Vamos deixar assim por enquanto.

- Seu pedido é uma ordem, Sol. - Diz, segurando minha bunda com certa pressão, só para me erguer junto quando se põe de pé.

O celular continua dando sinal de vida, mas já estamos entrando no quarto, deixando qualquer barulho que atrapalhe para trás.

Tento ficar tranquila quanto ao que vai acontecer, e não ficar nervosa. Dizem que só atrapalha, mas como estou convicta do que quero e excitada demais, acho que vou conseguir que seja algo bom.

Sempre imaginei minha primeira vez cheia de fluflu, com meu amor verdadeiro, em um local perfeito e com um ar romântico nos rodeando, o típico clichê que muita garota imagina. Na realidade, me entregarei a um desconhecido, no dia do meu aniversário, no apartamento frio e sem vida, com um ar de tensão sexual nos rodeando. Às vezes, a realidade é até melhor e mais excitante do que o imaginado.

Iniciei o dia mal, muito mal e sem expectativa alguma de ficar bem, mas, no momento, me sinto como a Solar de um mês atrás, só que mais confiante e convicta do que quer. Espero manter ela por mais um tempo em mim, pois o pensamento que tinha ao iniciar o dia, está cada vez mais distante. Isso é bom, parece que eu tenho salvação, no fim das contas.

            
            

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