Capítulo 8 O esperado (des)encontro

Era um dia Especial, o aniversário da minha mãe, convidei a Clara para acompanhar-me e ela aceitou. Eu estava trajado de uma forma elegante, fato preto da Pierre Cardin, sapatos pretos e a camisa azul da Porche.

Nas últimas desanove semanas, ela tem me ajudado muito, não é muito de rir, mas a sua intelectualidade sobrepõe a de muitas mulheres que já conheci, é uma óptima amiga, é impossível sermos mais do que isso, já que ela disse-me que está apaixonada pelo José, o meu amigo diplomata (como costumo chamá-lo), e eu não senti atração alguma pelo seu ser femenino, acho que o respeito continua sendo muito, ou ainda aumentou, mas para fazer-me companhia e alegrar-me, mais ainda para conselhos, sei que a tenho como a amiga ideal. Estávamos na festa sentados na mesa.

«Isso é azar? porque só pode mesmo ser, ela havia chegado, e estava linda, as tranças, o corpo marcado no vestido hazel da Chanel, o colarinho preto, as perólas nas orelhas, tudo, tudo perfeito, Esmeralda.» Pensei.

-Não acredito!

-O que foi Hélio?

-Vês a sra. de vestido hazel que acabou de entrar?

-Sim, quem é? é giríssima.

-É a Esmeralda.

-A sua esposa, ou melhor, ex-esposa?

-Sim, eu não estava seguro que ela viria, se bem que já deveria ter desconfiado porque ela não deixou de relacionar-se bem com a minha família mesmo depois da separação.

-Mas ela veio sozinha, acho que não tem namorado ainda.

-Talvez, mas queres saber, já não me importa.

-Olha, lá vem ela.

-Boa noite Hélio, boa noite sra. -Saudou-nos, a mim e a Clara.

-Boa noite Esmeralda, quer dizer, Sra.- Respondeu Clara.

-Boa noite Esmeralda, tudo bem?

-Tudo e você?

-Eu também.

-Que óptimo, e vejo que a sra. ao seu lado me conhece.

-Apenas o nome, prazer, sou a Claristia.

-Prazer! Esmeralda, bem eu vou sentar-me naquela mesa.- retirou-se para uma mesa que distava dois metros da nossa.

-Licença!

-Toda, querida! - respondeu Clara.

-Viste como ela reagiu fria comigo? de certeza até hoje ainda não me perdoou.

-Esqueça-a por agora e aproveita a festa.

E ficamos calados durante alguns longos minutos enquanto o Dj tocava a música de Paulo flores "Boda", alguns dos convidados eufóricos dançavam na pista. Após algumas horas continuei sentado a olhar para Esmeralda que dançava na pista com alguns convidados, meus tios, irmãos e anónimos, Clara já tinha ido embora, a vontade de abraçá-la e pedir para dançar era grande, mas não consegui, não com todos comentando sobre nós, sobre a nossa separação, o meu orgulho de ouro não me permitiu, permaneci sentado a olhar para ela, sem que ela percebesse.

***

«O seu orgulho permaneceu, ele ficou sentado, e na verdade, tanto queria que ele mostrasse que se importa comigo, que sente saudades, e dançássemos, mas nada, apenas ficou com esta tal de Clara, ou Clariste ou quê. Sinto o meu coração gelando novamente, estou no bar, bebendo, nos últimos meses ganhei o vício, a solidão mo ensinou, pus-me bonita hoje, na verdade para que ele me visse, vim pela mãe, mas também por ele, por nós, sei lá, e ele nada.»

-Boa noite linda.

-Boa noite. - retorqui.

- Estás sozinha?

-Não.

-É que pareces triste.- insistiu, é um homem anónimo, alto, magro, até que é lindo, mas... estou sem vontade para " papos" hoje.

-É impressão sua, senhor.

-O meu nome é Lucas, Lucas Alexandre.

-Prazer! Esmeralda.

-Nome lindo, como a dona do mesmo.

-Lisonjeada!- respondi sorridente e conversamos durante alguns minutos até que ele retirou-se para atender o telefone, e aproveitei fugir.

***

Saindo da festa um pouco embriagada, ao atravessar a rua, Esmeralda escapa do carro que para bem na sua frente.

-Meu Deus! você está bem, Esmeralda?

-Estou! Hélio.- disse assustada. Hélio saiu do carro e correu ao encontro dela.

-Bebeste? mas não bebes, quer dizer, não bebias.

-As pessoas mudam, tu és a prova viva disto.

-Será que algum dia vais me perdoar?

-Esqueça!- E ia a caminho de casa. -Esqueça tudo, esqueça-me!- gritou e seguiu caminhando.

-Para onde vais?... deixa pelo menos levar-te a casa, por favor. - insistiu Hélio, mas Esmeralda não voltou a responder, continuou o seu trajeto, balançando nos saltos altos, chorando.

« Veio-me a memória tudo, a forma como sinto a sua falta, e a forma como ela ainda está encantadora, mas...o que estou a pensar? » pensava Hélio.

No dia seguinte acordou triste, aliás, quase não dormiu, não conseguiu adormecer até as 3h00, decidiu enviar uma mensagem a avisar a sua ausência, mas depois pensou « A Clara leva o serviço muito a sério, se eu explicar que não vou por causa dos meus problemas pessoais, ainda se chateia, aliás, ela nem é a responsável do departamento de recursos humanos, incomodá-la para quê?»

                         

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