Capítulo 7 Reclusas

Mary Ann foi até a casa de Luciana novamente, na esperança de vê-la e falar com ela, mas, mais uma vez, Andréa, que parecia estar de plantão na porta – pois abria a mesma quase imediatamente após o soar da campainha ou de uma batida – lhe disse o mesmo que lhe dissera a semana toda:

- Desculpe? A Luciana ainda não se sente bem e não sei quando vai melhorar, mas de qualquer forma, não precisa se preocupar em passar os deveres a ela porque ela não vai mais voltar ao colégio.

- Sim. - Disse Mary Ann desconfiada. - Só quero que entregue isso para ela, por favor?

Andréa pegou a sacola de plástico duro com estampa da Tinker Bell das mãos de Mary Ann e agradeceu pela gentileza com um sorriso forçado.

- Diz a Lucy que sinto saudades! E desculpe incomodar. - Falou Mary Ann antes de dar meia volta.

Andréa assentiu com a cabeça antes de fechar a porta. Mary Ann parou no jardim, pegou seu celular e ligou para Luciana. Mais uma vez caiu na caixa de mensagens. Mary Ann suspirou e foi embora, chateada. Quase meia hora depois, foi a vez de Amanda bater à porta da casa de Luciana e ser atendida por Andréa.

- Oi, tia? A Lucy tá melhor? - Falou Amanda com seu jeitinho de garota despojada, com um belo sorriso no rosto.

- Ainda não. Sinto muito. - Falou Andréa.

Ela estava se cansando de a toda hora ter de inventar desculpas às amigas de Luciana, mas não podia dizer a verdade porque Luciana não a perdoaria. Afinal que pior forma de queimar o filme de sua filha com as amigas que dizendo que ela estava tendo um surto porque era esquizofrênica? Andréa não faria isso... Não de novo. Na última vez que se atrevera, as antigas amigas de Luciana se afastaram dela.

- Humm... - Amanda disse chateada. - Pode entregar esses bolinhos a ela? Minha mãe me ajudou a preparar.

- Claro. Obrigada. - Andréa pegou o tupperware das mãos de Amanda.

- Espero que a Lucy melhore logo. Sinto saudades das nossas reuniões vespertinas. - Falou Amanda antes de se afastar, indo embora.

Andréa fechou a porta com um suspiro. Levou o tupperware até a cozinha. Kimberly, que já estava a um tempo na sala, fingindo assistir a um seriado chato, viu Andréa levar o tupperware assim como levou a sacola deixada por uma amiga de Luciana, sem avisar a menina. Kimberly achou aquilo errado. Sabia que Luciana estava mal e que, talvez se sentisse melhor se percebesse que suas amigas se importassem com ela. Mas então, por que Andréa estava sendo tão maldosa e escondendo de Luciana que suas amigas se importavam com ela? Ah, claro... Com certeza ela queria que Luciana desapegasse para não protestar na hora de deixar a cidade. Mas aquilo já passara dos limites! Kimberly esperou Andréa voltar para a sala e pegar seu notebook, para ir até a cozinha e pegar a sacola e os bolinhos que as amigas de Luciana deixaram para ela. Kimberly foi até o quarto de Luciana e bateu à porta.

- Ei, Lucy? Sou eu, a Kim. - Ela disse e não esperou que Luciana respondesse, girou a maçaneta e empurrou a porta, já entrando. Mas Luciana não estava no quarto. Kimberly até procurou no closet, no banheiro e no sótão, mas não encontrou Luciana, então, deixou as coisas que Mary Ann e Amanda trouxeram em cima da escrivaninha no quarto de Luciana.

† † †

Mary Ann foi até o apartamento de Harriet, que também andava sumida e tocou a campainha. Um homem alto, branco, com cabelos crespos e olhos azuis, usando terno, abriu a porta.

- Oi? Sou Mary Ann Simons. A Harriet está?

- Não. Minha filha foi passar uns dias com a avó dela, em outra cidade. Sinto muito. - Falou o homem.

Que avó? Harriet não tinha avó nenhuma! E era a primeira vez que Mary Ann via o pai de Harriet na vida! Que estranho! Tinha alguma coisa errada! Por que Luciana, Harriet e Jordana andavam sumidas?

- Entendo. Pode, por favor, pedir a ela para atender as minhas ligações? Porque se ela não se importa mais com a nossa amizade, eu me importo! - Mary Ann elevou um pouco a voz, certa de que Harriet estava ali, escondida, e só não queria recebê-la.

O pai de Harriet encarou Mary Ann como se ela fosse maluca. Mary Ann se virou e saiu brava. Ele fechou a porta e se voltou a Harriet que estava parada num canto, aborrecida.

- Por que está se escondendo da sua amiga?

- Porque sim, pai. - Respondeu Harriet e foi correndo para seu quarto.

Mary Ann bateu à porta do apartamento de Jake, mas ele foi outro que não atendeu. Ela ligou para Amanda.

- Mas que droga está acontecendo? Por que as meninas estão se escondendo de nós? E por que sempre as mesmas desculpas furadas? "ela não está" ou "está viajando" ou "doente". Ah! fala sério? Sabe o que o pai da Harriet me disse? Que ela estava passando uns dias na casa da avó, mas a Harriet não tem avó coisa nenhuma! Droga! Desculpa mais furada! - Disparou Mary Ann quando Amanda atendeu o celular.

- Começo a suspeitar que tenha algo errado. - Falou Amanda.

- Vamos procurar a Emma, com muita sorte, ela não foi abduzida também! - Falou Mary Ann

- Onde você está? - Perguntou Amanda.

- Estou saindo do prédio da Harriet. - Respondeu Mary Ann entrando no elevador.

- Estou perto da casa da Luciana. Podemos nos encontrar na lanchonete Vitória? - Falou Amanda.

- Está bem. Vou tomar um táxi, assim eu chego mais rápido. - Falou Mary Ann.

- Beleza. - Disse Amanda caminhando rapidamente para chegar à lanchonete antes de Mary Ann. Foi então que ela se lembrou que o maravilhoso dom de ser ligeirinha como o flash e saiu correndo, chegando onde queria em pouco menos que um minuto. Pediu um café. Dessa vez Maya estava trabalhando ali, mesmo que não tenha sido ela a atendê-la, mas aquele garçom lindo com sotaque russo.

† † †

Emma se cansou de esperar por Christopher e voltou para sua casa. Seus pais tinham saído para resolver um caso e James não estava por ali. Então, Emma pegou seu coelhinho e deitou-se no sofá enquanto brincava com ele.

† † †

Desesperada para fazer as vozes pararem e sem saber mais o que fazer ou a quem recorrer e temendo que sua mãe a mandasse de volta para o hospital psiquiátrico, Luciana colocara um moletom com capuz e saíra escondida pelos fundos de sua casa. Pegara sua bicicleta e fora até a casa de alguém que imaginou que poderia ajudá-la, mesmo não a conhecendo bem. Tocou a campainha e esperou, torcendo para que ela estivesse em casa.

- Lucy? - Disse Marion surpresa ao abrir a porta.

- Por favor, me ajude? Eu não sei mais o que fazer. - Falou Luciana chorando.

- Venha? - Marion a puxou para um abraço.

† † †

Mary Ann e Amanda se encontraram na lanchonete Vitória.

- Vem? - Disse Mary Ann quase a puxando de onde ela estava sentada.

- Ainda não acabei de comer meus biscoitinhos! - Falou Amanda sem querer ir naquele instante.

- Sério? O táxi tá esperando! - Mary Ann estalou os dedos e o garçom gostoso, com sotaque russo, veio imediatamente.

- Pois não, senhorita? - Ele disse sorrindo.

- Pode embalar os doces da senhorita comilona para a viagem?- Falou Mary Ann.

Amanda riu, vermelha.

- São maravilhosos, não? - Disse o garçom a Amanda enquanto pegava o prato com biscoitos. - Minha avó é uma excelente cozinheira.

- Vitória é sua avó?! - Falou Amanda. Ela conhecia de longe, a simpática velhinha, dona daquela lanchonete, que era a melhor da cidade.

- Sim, embora eu seja adotado. - Falou o rapaz.

- Hum, e qual o seu nome? - Perguntou Amanda sorrindo.

Mary Ann revirou os olhos. Tinha coisas mais importantes que flertar com o garçom russo, gostoso. Ah, se o Henry visse...

- Me chamo Viktor! - Respondeu o rapaz antes de se afastar sorrindo.

- Pensei que Henry e você estivessem juntos! - Falou Mary Ann se sentando de frente para Amanda e colocando as mãos na mesa.

- Ah, Mary! Por favor? Não é como se eu estivesse traindo o Henry! Só estou conhecendo melhor o meu garçom preferido! O que tem de mais nisso? - Amanda sorriu com ar travesso.

- Cuidado! - Mary Ann balançou a cabeça.

- Não estou a fim dele, embora ele seja um gatinho. É só que... Como explico isso a você? Parece que conheço ele de algum lugar, mas não consigo me lembrar de onde. Só estou tentando descobrir. Nada demais. - Falou Amanda.

- Tanto faz. Você quem sabe de sua vida. - Falou Mary Ann.

Viktor voltou e entregou uma sacola com o logo da lanchonete. A sacola estava cheia com mais biscoitos que o próprio Viktor colocara a mais para Amanda.

- Obrigada. Quanto te devo? - Falou Amanda tão feliz quanto uma criança quando ganha doces a mais.

- Nada. Hoje é por conta da casa. - Falou Viktor sorridente como sempre.

- Uau! Acho que nunca ganhei algo assim antes. Via as garotas bonitas nos filmes ganhando isso, mas não imaginava que... Espera? Isso significa que sou uma garota bonita?! - Amanda sorriu, corando. Levantou-se. Pegou o saco das mãos de Viktor e lhe deu um beijo na bochecha antes de sair com Mary Ann.

- Aquilo foi desnecessário! Maldade dar esperança assim ao rapaz! - Falou Mary Ann rindo enquanto a seguia.

- Por que você vê maldade em tudo?! - Falou Amanda balançando a cabeça

† † †

Emma estava tão cansada que havia pego no sono e seu coelhinho saiu saltitando pela casa. Foi a campainha que a despertou, assustando-a. Ela levantou-se tão rápido que caiu do sofá.

- Estou bem!

Correu e abriu a porta, dando de cara com Mary Ann e Amanda.

- Ah, graças a Hécate, você não foi abduzida! - Falou Mary Ann.

- Hein? - Disse Emma sonolenta. - Quem foi abduzido? E... Espera? Aliens não existem!

- Podemos entrar? Eu trouxe biscoitos! - Amanda mostrou o saco de biscoitos, sorrindo.

- Demorou! - Emma disse sorrindo.

- Sério? O que tem esses biscoitos da Vitória? - Falou Mary Ann espantada e entrou com Amanda.

† † †

Luciana explicou a Marion o que estava acontecendo com ela, enquanto Marion preparava um chá de ervas para as duas.

- Eu fico feliz que tenha me procurado. Veio ao lugar certo. Ao contrário de suas amiguinhas, eu sou uma bruxa de verdade e sei bem o que fazer. Confie em mim? Vou ajudá-la. - Falou Marion sorrindo e apertou as mãos de Luciana.

- Obrigada. - Disse Luciana mais calma.

Alexander apareceu nesse instante e chamou por Luciana. Ela não viu nem o ouviu por causa dos escudos espirituais repelentes contra espíritos que usava. Espíritos mais experientes conseguiam passar facilmente por aquela barreira invisível, mas não Alexander. Ele mal tinha noção das coisas que poderia fazer como espírito.

Marion o encarou com um sorriso maligno. Luciana não percebeu porque estava de cabeça baixa, soprando seu chá. Alexander soube naquele momento que Luciana estava em perigo e gritou o nome dela. Desesperado. Luciana não o ouviu. Marion moveu os dedos médio e indicador em círculo e aquele simples movimento foi o suficiente para fazer Alexander desaparecer da casa dela.

Luciana olhou para Marion, e inocentemente, sorriu para ela. Marion sorriu de volta.

† † †

- Então... Harriet e Luciana também estão agindo estranhamente? - Falou Emma depois que suas amigas elas lhe contaram sobre Luciana e Harriet.

- Você sabia da Jordana? - Falou Amanda.

- Sabia. - Falou Emma. - Pensei que ela ainda estava chateada por causa do mal entendido que houve aquela vez na festa.

- Sei. Ouvi Kentin comentando alguma coisa a respeito, embora eu não tenha entendido bem, naquele momento. - Falou Mary Ann.

- Acho que sei porque Harriet está se escondendo. - Falou Emma. - Estive na casa do Christopher mais cedo e falei com a Lorena. Ela me contou que o Jake tem um irmão gêmeo que até pouco tempo atrás estava se passando por ele para investigar sobre seu desaparecimento.

- Hein? Como é? - Amanda arregalou os olhos.

- E Jeremy foi embora porque o Jake voltou há alguns dias. Ele simplesmente apareceu na porta de Harriet e desmaiou. Lorena e Christopher investigaram a respeito e tem motivos para acreditar que Jake não é sincero e que está escondendo alguma coisa. - Continuou Emma.

- Meu deus! A Harriet deve estar arrasada porque acreditava namorar com Jake... - Falou Mary Ann.

- Ela precisa da gente! - Falou Amanda.

- Pensei em procurar ela, mas como não somos íntimas, tive medo de ser inconveniente. - Falou Emma.

- Não. Claro que não. - Falou Amanda. - Você é nossa amiga! Sabe disso, não sabe?

- Bem, é que não faço parte do grupinho de vocês, sabe? - Falou Emma sem graça.

- Porque você não quer. Mandamos a Jordana te convidar por mais de uma vez. - Falou Amanda.

- Sim. Jordana me disse, mas não quis ser inconveniente. - Falou Emma.

- Imagine? Você é quase uma bruxa. - Falou Amanda. - Quanto a Jordana... Eu imagino porque ela está nos evitando. Não é nada com você, Emma. Acredite? O que acontece é que Jordana descobriu que é filha de Tom e Kátia.

- O quê? Mas como? - Falou Emma surpresa.

- Pois é. Tom é irmão do professor James. - Falou Amanda mesmo sabendo que seria muita informação. - E a Kátia é irmã da Briana.

- Resumindo, a Jordana é criança da profecia que trará as trevas. - Falou Mary Ann.

- Não! - Falou Emma se recusando a aceitar. - Jordana não pode... Ela não...

- Eu também nunca imaginaria isso, mas é verdade, infelizmente. - Falou Amanda. - Raptaram a Jordana quando ela ainda era um bebê, e com a ajuda de uma fada, baniram a Kátia e Tom para o Umbral. Jody não confiava em Kátia por ela ser irmã de Briana e temia que ela entregasse a menina aos cuidados da tia. Por isso, achou que se ficasse com a criança poderia ensiná-la a ser boa, mas o que ela fez foi justamente o contrário.

- Não há nada que possamos fazer pela Jordana? - Perguntou Emma.

- Infelizmente, não. - Respondeu Amanda. - Não falei isso com a Kátia e com o Tom, mas sinto que já é tarde para fazer qualquer coisa pela Jordana. O que podemos fazer é torcer para que a outra escolhida, a que derrotará ela, consiga cumprir sua missão.

- E quanto às outras? Não podemos nos resignar tão facilmente! Pelo menos temos de tentar fazer algo por elas. - Falou Emma odiando se sentir impotente.

- A mãe de Lucy disse que ela está doente, mas eu acho que tem algo que ela não está contando. - Falou Mary Ann. - A Lucy não responde aos meus e-mails nem retorna as minhas ligações. Tentei contatar o Alex, mas até ele está fora de área. Tô preocupada. Pelo que ela nos disse uma vez, acho que ela pode estar sofrendo um ataque espiritual.

- Temos de dar um jeito de falar com ela ou com alguém próximo a ela. - Falou Emma.

- Tem a Kimberly, a irmã dela, mas ela também não tem ido ao colégio. - Disse Amanda.

- E se vocês fossem vê-la na forma astral? – Sugeriu Emma.

- Não tinha pensado nisso. - Falou Amanda. - Mas é uma boa ideia, não acha? Mary Ann.

- É, pode ser. - Falou Mary Ann ainda parecendo distante.

- Mary, o que foi? - Perguntou Amanda desconfiada.

- Eu tenho de falar com a Lorena. Parece que ela sabe mais que nós. - Disse Mary Ann levantando-se.

† † †

Danica estava tomando banho quando teve uma visão: Viu Luciana descendo a escada quando ouviu uma voz atrás dela. Parou e se virou, devagar. Deu de cara com uma garota idêntica a ela.

- Se eu não posso ficar nesse corpo, você também não pode! - Falou a outra Luciana e empurrou a primeira. Ela rolou escada abaixo, morreu ao torcer o pescoço na queda. Bem nesse instante, Andréa e Luíza chegaram. Gritaram, assustadas. Andréa correu e abraçou Luciana, chorando, implorando para ela não deixá-la. Luíza se aproximava de Luciana quando viu a outra Luciana parada na escada, encarando o corpo no chão.

A visão de Danica terminou aí.

- Lucy... Não! - Falou Danica chorando já sentindo a dor pela morte dela.

            
            

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