Capítulo 9 Revelação

Luciana entrou em seu quarto e enquanto tirava seu casaco, percebeu que tinha uma sacola e um tuppeware em cima de sua escrivaninha. Quem teria deixado aquilo ali? Uma de suas mães, talvez? Sim, quem mais seria? Ela estava indo ver mais de perto quando Emilie entrou em seu quarto, correndo e se aproximou dela, chorando.

- Lucy! Lucy, tem algo errado. O cabeça de tomate não vem quando eu chamo por ele!

- Ele deve estar ocupado. – Nem a própria Luciana acreditou naquela desculpa furada.

- Não. Ele sumiu! Para onde ele foi? – Disse Emilie.

- Não sei. Sinceramente? Não me importo. – Outra mentira... – De qualquer forma, é melhor você desapegar porque quando formos embora, ele não virá conosco. Ficará aqui que é o lugar dele.

- Não vamos sair daqui! – Falou Emilie elevando a voz, brava. – Não vamos deixar o cabeça de tomate sozinho. Ele só tem a gente, agora. Devemos cuidar dele, assim como ele cuida da gente.

- Olha, Emilie... Eu realmente não tô com saco para isso, e além do mais, minha cabeça parece que vai explodir. Por favor? Pare de agir como uma mimada e me deixe em paz! – Falou Luciana sem paciência.

- Por que tá falando assim com ela? – Disse Kimberly aparecendo de repente.

- Tá me espionando agora? É isso? – Perguntou Luciana zangada. Ela não entendia porque estava tão zangada. Tudo a irritava. Era a influência negativa dos espíritos que a acompanhavam. Eles a estavam deixando maluca.

- Espionando o quê, garota? Como se eu não tivesse mais nada melhor para fazer... – Falou Kimberly ofendida. – Vem, Emilie? Lucy tá na TPM. Não ligue para o que ela diz. Vou te ajudar a procurar teu amiguinho cabeçudo.

- Cabeça de tomate! – Emilie a corrigiu e fez biquinho, cruzando os braços.

- É... O que eu disse? Cabeça de tomate. Agora venha! – Kimberly pegou Emilie no colo e saiu do quarto de Luciana.

Luciana fechou a porta com uma batida e foi até a escrivaninha. Pegou a sacola da Tinker Bell e viu que dentro dela tinha uma caixinha de música azul com desenhos fofinhos de gatinhos. Luciana abriu a caixinha e viu que dentro dela tinha um gatinho branco, fofinho que dormia numa almofada vermelha. Sua barriguinha se mexia, como se ele respirasse. E a canção Soft Kitty tocava:

Soft kitty

Warm kitty

Little ball of fur

Seu pai costumava cantar aquela canção para ela quando ela criança e ela adorava porque toda vez que a canção chegava ao fim, ele fazia cócegas nela:

Happy kitty

Sleep kitty

Purr, purr, purr

Luciana só queria voltar àquela época quando tudo era mais simples e descomplicado. Ah, se pudesse voltar no tempo, teria ignorado as vozes (quando começaram) com todas as suas forças. Mas tudo bem. Aquilo não poderia durar para sempre, de qualquer forma, nada durava para sempre. Tudo tinha um final. Certo? De alguma forma, ela sentia que o fim estava próximo, que, em breve, tudo aquilo terminaria. Não via a hora! Estava cansada de lutar sozinha, de não ser ouvida nem compreendida. De sempre ser a estranha... Por que ela não podia ser normal?

"Só você pode fazer a dor parar, Lucy", sussurrou a colegial japonesa.

- Por que vocês me odeiam tanto? O que fiz a vocês? – Luciana perguntou às vozes.

"Eu não odeio você, Lucy. Somos irmãs, lembra? Juntas pra sempre", falou Hollie. "Me deixe entrar e eu prometo que vou proteger a gente como fazia antes".

- Não! Você não vai me enganar como da última vez, Hollie! Não vai! – Falou Luciana e derrubou a caixa musical no chão e tampou os ouvidos com as mãos.

"Não pode fugir de mim pra sempre, Lucy", disse Hollie rindo. "Você vai sumir e ninguém vai perceber".

- Não! Não! – Disse Luciana chorando e correu para a sua cama e cobriu a cabeça, repetindo seu mantra que já não funcionava como antes. – Os duendes são os ratos e os ratos são os duendes...

† † †

A "grande" ideia de Tom foi fingir que tinha outra filha – uma que Briana não poderia corromper nem que quisesse – para desviar a atenção de Briana e, dessa forma, Kátia poder se aproximar de Erin/Jordana. E quem ele escolheu para ser sua filha, com a ajuda de Celeste, foi Emma.

Emma estranhou a proposta vinda de Celeste, afinal, ela era uma caçadora. Como a filha de um vampiro podia ser uma caçadora? Era absurdo demais!

- Minha querida, todos sabem que Erin foi raptada justamente por caçadores... – Disse Celeste sorrindo.

- Mas os meus pais não vão concordar com isso! Meu pai odeia vampiros mais que tudo!

- E ainda assim você namora com um... Interessante. – Disse Tom sorrindo.

- Isso é problema meu! – Falou Emma séria.

- Ui! Ela morde! – Brincou Tom.

- Deixe que do seu pai, cuido eu. Ele está ciente da profecia, e como membro do Conselho deve fazer o que for preciso para nos salvar do caos iminente, mesmo que isso signifique emprestar sua filha para um vampiro e uma bruxa. – Falou Celeste.

- Se eu fizer isso é só pela Jordana, porque me importo com ela. – Falou Emma.

- Fico feliz que minha filha tenha uma amiga como você. – Disse Tom.

Celeste tratou de espalhar o falso boato de que Emma era Erin e isso logo chegou aos ouvidos de Briana.

Emma precisou ficar na casa de Celeste para que as bruxas do Clã Damballa não se aproximassem dela. Mesmo assim, muitas delas ficaram paradas do lado de fora da casa de Celeste, todas vestidas de branco, imóveis como estátuas, só esperando que Emma saísse para fora. Nas poucas vezes em que Emma se atreveu a colocar a cara na janela, primeiro, as bruxas se curvaram e abaixaram a cabeça em sinal de respeito. Depois, uma delas voou até a janela e ficou encarando Emma sem nem piscar. Claro que ela achou aquilo muito esquisito, puxou a cortina e se afastou da janela.

Jordana também ficou sabendo que todos acreditavam que Emma era ela e ficou revoltada. Então, seus pais achavam que podiam substituí-la assim? Eles não perdiam por esperar.

† † †

Michelle levantou no meio da noite e saiu do quarto. Tão logo ela se levantou e Brittany abriu os olhos. Não conseguira pegar no sono. Sentou-se na cama. Pegou o copo e a jarra de vidros que estavam em cima do criado-mudo e serviu um pouco d'água para ela. Ouviu um barulho estranho no corredor que soou mais como um bater de asas. Estranhando, levantou-se e foi ver o que era. Não tinha nada no corredor. Então, ela foi até o quarto de Catrina. Ela dormia como um anjinho. Brittany foi até a sala e depois até a cozinha. Não encontrou Michelle. Procurou-a no resto da casa, mas ela não estava em lugar algum. Que esquisito! Por que ela sairia aquela hora da noite sem avisá-la antes? Brittany ligou para o celular dela, e o ouviu tocando lá na cozinha, em cima do balcão.

Brittany se sentou no sofá. Esperaria Michelle voltar para saber onde ela fora. Por volta das três e meia da madrugada, Brittany ouviu mais uma vez aquele bater de asas e uma pesada no telhado. Pareceu que algo saltou sobre o telhado e depois se arrastou rapidamente. Foi assustador. Mais outra pesada como se alguém saltasse ou caísse do alto e Brittany viu a maçaneta da porta girando. Levantou, ligeiro do sofá e encarou a porta para ver quem passaria por ela. Ninguém mais ninguém menos que Michelle foi quem passou pela porta.

- Brit? O que tá fazendo acordada há essa hora? – Perguntou Michelle nervosa e fechou a porta.

- Eu é quem pergunto! Onde você estava? – Disse Brittany, mas não estava com ciúmes, estava preocupada.

- Eu... É que... Minha mãe teve um problema e...

- Como assim? O que houve? Ela está bem? – Perguntou Brittany.

- Hum rum. Agora sim. – Falou Michelle.

- Mas... Espere? – Disse Brittany desconfiada. – Como sabe que sua mãe estava com problemas? Ela ligou para você, foi isso?

- Sim! Isso! – Falou Michelle.

- Estranho, porque não ouvi o telefone tocar. – Disse Michelle.

- Ela ligou no meu celular.

- Ah, foi? Então, se eu olhar o seu histórico de chamadas vou confirmar isso. Certo? – Falou Brittany indo para a cozinha.

- Ei, Brit? Qual é? Tá duvidando de mim, é isso? – Falou Michelle ofendida, a seguindo.

Brittany parou, a encarou e disse:

- Não! É só que essa história está muito mal contada para o meu gosto.

- Pelo amor de Lili! O que você acha que eu estava fazendo? Te traindo, é isso? Não seja paranoica! Não preciso mentir para você. Confie em mim? – Falou Michelle.

- Então, me conte a verdade! – Falou Brittany.

- Eu contei! Droga! – Falou Michelle.

- Não. Não contou. E quem não deve, não teme! – Brittany foi até a cozinha e pegou o celular no balcão.

- Você sabe que tá sendo ridícula, né?! – Falou Michelle.

- É? Hum. – Brittany mexeu no celular dela.

- Pare com isso! Devolve! – Michelle tomou seu celular da mão dela. Brittany tentou pegar o celular dela e Michelle o lançou contra a parede, quebrando-o. – Satisfeita? Agora vai ter de confiar em mim... Ou não... A escolha é sua!

- Por que fez isso? – Perguntou Brittany a encarando, espantada.

- Porque você me deixou nervosa com essa desconfiança estúpida! – Falou Michelle brava.

- Tá. Se você não confia em mim... – Brittany deu de ombros e virou de costas.

- Ah, não! Não venha inverter o jogo agora! É você quem não confia em mim! – Falou Michelle a pegando pelo ombro e virando-a para seu lado.

- Não me toca! – Brittany a empurrou e se afastou dela. – Eu sempre contei tudo para você e esperava que fizesse o mesmo, mas você não quer me contar onde estava. Por que? O que estava fazendo que eu não possa saber? Estava com outra pessoa, é isso? Está me enganado?

- Não! Que absurdo você tá dizendo? Meu deus! Não! Pode ligar para minha mãe se quiser e ela vai te falar a verdade, que discutiu feio com meu pai e ele saiu de casa. Satisfeita? Não era o que você queria saber... A verdade? Essa é a verdade! – Falou Michelle e foi correndo para o quarto.

- Michelle, espere? – Pediu Brittany, mas Michelle não esperou. Brittany foi atrás dela e a encontrou na cama, chorando baixinho.

- Eu sinto muito. Desculpe? É que... Não sei. Fiquei preocupada com você. Devia ter me avisado. – Falou Brittany.

- Você já tem os seus problemas... Não queria te encher com os meus. – Falou Michelle.

- Você nunca me enche. – Disse Brittany deitando ao lado dela e a abraçando. – Vai? Me conta o que aconteceu?

- Por favor? Amanhã... Não quero falar sobre isso agora. Estou chateada. – Falou Michelle.

- Tá. Então, não fale nada. Não precisa. – Disse Brittany apertando os seios dela.

Michelle virou-se e a beijou. Brittany subiu em cima dela. Michelle sentou-se e deslizou suas mãos pelo corpo de Brittany. Então, beijou seu pescoço. Brittany gemeu no ouvido dela. Michelle tirou a camisola dela e a empurrou na cama, ficando por cima dela. Michelle adorava dominar. A beijou, enfiando sua língua na boca dela e apertando seus seios. Beijou sua barriga e enfiou sua língua em seu umbigo. Brittany riu. Michelle puxou uma venda preta que ficava presa a guarda da cama e usou-a para vendar os olhos de Brittany. Como sempre, ela protestou, mas Michelle a convenceu a ceder, com uma trilha de beijos por seu corpo.

Enquanto levava Brittany ao êxtase, Michelle não resistiu... Suas asas negras apareceram em suas costas e seus olhos mudaram de cor, ficando vermelhos. Ela se alimentaria da energia vital de Brittany mais uma vez. Precisava. Era a única forma de fazer a dor ir embora. Mas no meio do ato, Brittany decidiu puxar a venda dos olhos e viu Michelle em sua forma original. Se assustou muito. Gritou, a empurrou e recuou. Michelle desceu da cama num salto. Ocultou suas asas e seus olhos voltaram ao normal.

- Droga, Brit! Eu disse para não tirar a venda! – Falou Michelle.

Brittany gritou mais uma vez e quando tentou sair da cama, caiu. Tropeçou no lençol e caiu mais uma vez. Michelle se aproximou dela e estendeu a mão. Brittany se arrastou para longe dela, tremendo e chorando.

- Então... Eu sou uma súcubo. – Falou Michelle com naturalidade.

            
            

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