Tamborilei os dedos na mesa. Por enquanto, ela parecia ser impressionante, mas tinha algo errado ali. Ela corava toda vez que seus olhos encontravam os meus – já esperado, mas, sempre que fazíamos uma pergunta, ela olhava para as mãos como se tivesse escrito uma cola na palma.
Que tipo de pessoa precisa fazer uma cola para uma entrevista?
– Sinto muito que, no final, a empresa tenha precisado fechar asportas – disse George. – O que acha que pode trazer da sua experiência no mundo dos brinquedos para o mundo dos hotéis?
– Ah, muita coisa. Tenho bastante experiência com satisfação declientes, certificando-me de que as metas sejam alcançadas a cada mês e fornecendo serviço da maior qualidade.
George assentiu, parecendo consideravelmente satisfeito.
– Já trabalhou em algum projeto com Tim Lause, um amigo próximo meu?
– Quem?
– Tim Lause – repetiu ele. – O chefe do departamento de vendas.Se atuou nesse setor, deve ter trabalhado em pelo menos alguns projetos com ele, correto?
– Ah, sim. Certo. Com certeza. Muitos projetos com o senhor Lause.
– Pode nos dizer de que natureza? – perguntei. – Descrever emdetalhes em que esses projetos consistiam?
– Ah, é... – As bochechas dela ficaram vermelhas, e ela abaixou oolhar para a mão de novo. – Eu... minha...
– Estamos muito impressionados com seu conhecimento de vogais, senhorita Jackson – falei. – Mas estou mais interessado nos detalhes dos últimos projetos dos quais participou. Ela não abriu a boca.
– Precisa que eu repita a pergunta? – falei. – Você não sabe dequais projetos estou falando?
– Certo, olha – ela arregalou os olhos quando ficou de pé –, sócoloquei a Toys 'R' Us no currículo porque eles declararam falência e pensei que não teria como vocês ligarem para alguém atrás de referências. Costumo usar outras empresas falidas como meu emprego mais recente e acho que deveria ter continuado com elas desta vez. Que saco.
– Então nunca trabalhou na Toys 'R' Us? – perguntou George.
– Eu comprava lá o tempo todo.
– Você é mesmo formada em Direito em Yale?
– Não, mas participei de um dos programas de verão deles quando estava no último ano do ensino médio. – Ela olhou para um ponto entre nós dois. – Minhas notas eram perfeitas. E, antes que perguntem, não menti sobre ser boa em serviço ao cliente. Podem perguntar para a minha gerente no Starbucks. Não tem ninguém que faça um pumpkin spice latte como eu.
– Ok. – Fechei a pasta dela. – Pode ir agora.
– Posso esperar uma ligação de vocês para agendarmos a entrevista da próxima etapa?
Nós dois só a encaramos.
– E, então, isso é tipo um não?
– É um nem a pau. – Apontei para a porta. – Cai fora. Agora.
A mulher bufou e pegou a bolsa, batendo a porta da minha sala ao ir embora.
– Se você sequer cogitar chamá-la para outra entrevista... – disse George.
– Estou é pensando em cobrá-la pelo tempo que me fez perder.
Enquanto riscava o nome dela da lista, uma das executivas financeiras, Linda, entrou no escritório.
– Desculpe a intromissão fora de hora, senhor Parker – disse ela.– Mas acabei de recalcular os relatórios de lucros e prejuízos do Hotel Grand Rose.
– E?
– Parece que os prejuízos recentes não podem ser atribuídos anada em particular e são bem ínfimos. Cerca de cinco mil e quinhentos dólares por mês. – Ela veio até mim e me entregou um papel com suas anotações.
Cerrei o maxilar. Nenhum prejuízo era "bem ínfimo" na minha empresa, e eu sempre precisava saber onde cada centavo estava sendo colocado.
– Posso presumir que tem alguém me roubando? – perguntei.
– Pelo contrário, senhor. Os gerentes do Grand Rose estão certosde que o prejuízo é por causa de um hóspede. Na verdade, dizem que a causa foi alguém que não se hospedou.
George e eu nos entreolhamos, e eu soube sem sombra de dúvidas que algum funcionário meu estava mentindo para mim e me roubando. Pensei que, ao arruinar pessoalmente a carreira das últimas pessoas que ousaram me roubar, nunca mais precisaria esquentar a cabeça com isso, mas alguém estava prestes a receber um lembrete grosseiro de quanto posso ser um pé no saco.
– Diga que irei até lá semana que vem para que me deem a honrade explicar como é que alguém que não se hospedou conseguiu me roubar milhares de dólares – falei, o sangue fervendo. – Diga que quero ver tudo impresso, e, se não houver uma explicação para cada centavo, vou demitir todos eles e me certificar pessoalmente de que nunca mais arrumem um emprego nesta cidade. E você será a próxima se eu descobrir que os está encobrindo. Tem mais alguma coisa que precisa me contar?
– Não. – Ela engoliu em seco e foi para a porta. – Só isso, senhor.
Repassei os números mentalmente e tamborilei os dedos na mesa.
Cinco mil e quinhentos dólares por mês em uma propriedade durante os doze meses do ano dá um pouco mais de sessenta mil dólares. Se isso se repetir em mais quatro propriedades, vão acabar conseguindo mais de um quarto de milhão. Que tipo de pessoa tentaria fazer uma merda dessas achando que não seria descoberta?
– Tive uma ideia, Preston. – George interrompeu meus pensamentos. – Bem, fora o fato de você ter acabado de ameaçar demiti-la, por que nunca pediu a Linda para ser sua assistente executiva?
– Já pedi, sim. Ela recusou. Disse que eu já a faço beber, e omarido dela não quer que ela trabalhe tão próximo a mim.
– E Cynthia?
– Ela só tem vinte anos. – E quer transar comigo.
– Bem, talvez ela pudesse se ajustar ao cargo com o tempo. Vocêsó tinha vinte anos quando comprou seu primeiro hotel, e olha só como transformou aquela espelunca. Olha só o tanto que você conquistou nos últimos dezenove anos. Talvez Cynthia seja a próxima Preston Parker a sair do forno.
– Eu te garanto que não é.
– Não está disposto a dar uma chance a ela?
– Não quero nem pensar nessa hipótese.
– Bem, eu acho uma boa ideia.
– Vou te mostrar por que não é. – Liguei para o ramal dela. – Cynthia, pode vir ao escritório, por favor?
– Com todo prazer, senhor Parker.
Em segundos, ela apareceu na minha sala. Suas bochechas estavam coradas, e a saia, definitivamente alguns centímetros mais curta do que estava mais cedo.
– Ah. – Ela parou quando viu George. – Achei que tinha me chamado para ficarmos a sós. – Pigarreou. – Como posso ajudálo esta tarde, senhor Parker?
– Como você bem sabe, estou procurando uma nova pessoa paraa posição de assistente executiva. Queria saber se teria interesse em ser minha assistente executiva interina, caso as próximas entrevistas não corram bem.
– Ah, mas é claro. – Ela mordeu o lábio inferior, corando aindamais. – Se um dia eu me tornar sua assistente executiva oficial, vou ser eu quem você vai procurar para tudo? Tipo, vamos passar bastante tempo juntos?
– Sim.
– Tipo reuniões privadas e viagens de negócios que vão durar várias noites longe de Nova York? Sozinhos?
– Sim.
– E vamos ter que dividir um quarto de hotel quando viajarmos?
– De jeito nenhum. Comumente, a pessoa na posição de minhaassistente executiva fica com um quarto separado nessas viagens.
– Nossa, mas eu não te daria o trabalho de pegar um quarto extra. Adoraria te poupar dinheiro, e nada na nossa relação precisaria ser como o habitual. – Ela chegou mais perto, os olhos se abrindo ainda mais a cada passo. – Ao menos não no começo. Eu pegaria leve, deixaria você ir com calma, mas preciso ser sincera e admitir que gosto de quando vai com tudo, sem aliviar para o meu lado. Se nos dermos muito bem, depois de alguns meses sendo sua assistente executiva, deveríamos discutir...
– Ok, basta. – George não a deixou concluir sua fala. – Obrigado por ter vindo, Cynthia. Te avisaremos caso as últimas entrevistas não rendam o que esperamos.
– Espero mesmo que não deem em nada. – Ela passou a língua pelos lábios como um animal faminto e, depois, sorriu para mim antes de sair da sala.
Quando ela fechou a porta, George olhou para mim.
– Ela está fazendo investidas sexuais diretas, e você ainda não ademitiu? Por quê?
– Porque o trabalho dela é excelente. E ela é uma das poucaspessoas na minha equipe que não choram quando eu peço várias coisas ao mesmo tempo.
– Bom saber. – Ele abriu o notebook e o colocou na minha mesa.– Antes de começarmos as tarefas do dia, estava para te perguntar. Vai viajar para passar as festas de fim de ano com sua família? Sei que não costuma fazer isso, mas estou planejando o calendário executivo e queria saber.
– Não tenho família – falei com voz tensa. – Já discutimos issoantes.
Não importava quanto eu fosse próximo de George, discussões sobre minha família (ou a falta de uma, no caso) eram proibidas. Nunca falava dos meus parentes com ninguém e não tinha planos de mudar isso em um futuro próximo.
– Sei como se sente sobre o assunto, eu só... – Ele mudou deassunto quando viu minha cara. – Tudo bem. Então, vamos à minha última pesquisa. – George me mostrou suas descobertas mais recentes e se ateve aos temas que eu preferia discutir. Depois de quatro horas revisando as ramificações legais do último negócio que fechei, ele saiu do meu escritório.
Ainda inquieto e precisando preencher meu tempo com trabalho, pedi a Linda que me repassasse por e-mail os números do Grand Rose para que pudesse vê-los por conta própria. Assim que terminei de recalcular o prejuízo, soube que algo não estava batendo.
As perdas aconteciam nos mesmos três dias da semana e, independentemente do motivo, sempre se davam pela manhã. Peguei a planilha de quando o dinheiro era retirado no hotel e vi que todas correspondiam àquelas datas.
Espumando, solicitei ao RH que fizesse cartas de demissão para os oito gerentes e pedi a George que reunisse a equipe jurídica e se preparasse para um processo.
Peguei o celular e liguei para o hotel.
– Aqui é Preston Parker, seu chefe. Vou passar aí amanhã para demitir quem está me roubando.