Meus diplomas em Administração poderiam muito bem ter sido impressos em papel higiênico, de tanta merda que já tinham trazido para a minha vida. Eu era como qualquer outra garota que havia se mudado para cá depois de estudar Direito, com altas expectativas e grandes sonhos, percebendo que meu apartamento dos sonhos em Manhattan teria de ser um flat compartilhado no Brooklyn e que meu emprego dos sonhos na Fortune 500 teria de ser uma vida de ghostwriter freelancer, escrevendo em segredo histórias como Engravidada pelo primo do meu namorado: o dominador, cada uma me rendendo um mísero pagamento de uns três dígitos.
Apesar de conseguir fazer umas quatro ou cinco entrevistas por semana, era muito raro me chamarem de volta para a próxima etapa do processo seletivo. De modo geral, só me mandavam emails frios de rejeição.
Nos últimos seis meses, candidatei-me a mais de trezentas vagas, e todas as noites, entre lágrimas e a tigela de miojo comida pela metade, eu pesquisava: é possível processar a faculdade se não conseguir emprego depois de me formar?
Estava quase tentada a voltar a Pittsburgh, mas meu coração não me permitia. Tinha me esforçado demais para desistir agora e sabia que alguém, uma hora ou outra, acabaria me contratando.
– Quem desiste nunca ganha, e quem ganha nunca desiste, Tara. Hoje você com certeza vai conseguir este emprego – murmurei para mim mesma ao fazer um rabo de cavalo caindo para o lado. Olheime no espelho uma última vez, checando se o vestido azul-marinho de fato não estava amassado, depois peguei a bolsa e abri a janela para a saída de incêndio.
Do lado de fora, peguei um punhado de embalagens de camisinha da bolsa, enfiando-as com delicadeza entre a soleira e o vidro, para conseguir abrir a janela depois. Minha colega de quarto e eu estávamos com sete dias de atraso no aluguel e precisávamos ter acesso às nossas coisas caso o proprietário decidisse nos botar para fora.
– Você está aí, Tara? – Uma voz rouca bateu à porta enquanto eudescia pela saída de incêndio. – É você roncando, Ava? Cadê a porra do meu dinheiro?
Não respondi. Continuei descendo e saí correndo até a estação de metrô assim que meus pés tocaram o chão. Cheguei às escadas da estação e pulei a catraca, chegando bem a tempo de pegar o trem C até Manhattan.
Segurando na barra, fechei os olhos quando o trem partiu. Respirei fundo e repassei as falas que tinha ensaiado nas últimas horas.
Quero trabalhar na Bolsa de Valores da Russ porque acredito que serei um ótimo recurso para sua empresa. Fiz minhas pesquisas e criei uma apresentação sobre como acredito que podemos competir com os concorrentes. Se me derem uma chance, garanto que não vão se arrepender. Por favor, só preciso de uma chance...
– Você está chegando em Manhattan – anunciou o sistema dotrem, trazendo-me de volta à realidade.
Saí correndo assim que as portas se abriram e fui até as ruas abarrotadas, a caminho do meu próximo transporte: o ônibus turístico da Gray Line.
Colocando um par de óculos escuros, peguei um bilhete antigo do bolso e o mostrei ao motorista.
– Bem-vinda a bordo, senhorita – cumprimentou ele. – Bom passeio.
– Obrigada.
Peguei um assento próximo ao fundo e, nervosa, balancei o pé, esperando que ninguém viesse até mim para checar mais uma vez o carimbo de dia e horário do meu bilhete. Muitos turistas entraram no ônibus, ocupando os assentos ao redor, e eu suspirei de alívio.
– Sejam bem-vindos à Big Apple, pessoal! – O guia turístico ficouparado no meio do corredor quando o ônibus ganhou a rua. – Nosso tour dura metade do dia e vai nos levar à Times Square, à Broadway e ao rio Hudson. Vamos fazer algumas paradas em pontos turísticos ao longo do percurso, mas, antes que eu comece a entretê-los com piadas ruins e informações sobre a grande história de nossa cidade, preciso escanear cada um dos bilhetes de vocês. Podem me mostrar, vou passar verificando.
Merda.
Virei-me no banco, torcendo para que ele passasse reto por mim. Depois, olhei para o céu, que começava a ficar cinza, perguntandome se o universo enfim me daria uma trégua e faria um bilhete de verdade aparecer na minha mão. Isso ou apenas deixar o ônibus seguir caminho por mais cinco quadras, até que estivesse mais perto do local da minha próxima entrevista.
– Senhorita? – O guia turístico parou na minha frente, acabandocom toda a minha esperança. – A senhorita tem um bilhete para este tour?
Assenti.
– Posso escaneá-lo?
– Ah, eu perdi na última parada. Me desculpe.
– Ainda não fizemos parada nenhuma.
– Tem certeza?
– Deixe-me ver o bilhete. – Ele estreitou os olhos para mim. – Agora.
– Ok, olha só. Eu não tenho um bilhete, mas...
– Pare o ônibus! – gritou ele. – Temos uma trambiqueira a bordo!
– O quê? Eu não sou trambiqueira. – Minhas bochechas ficaramvermelhas. – Só não tenho dinheiro para pegar um táxi agora, então estou usando seu ônibus. Quando arranjar um emprego, prometo que vou devolver o dinheiro de todas as caronas que já me deram.
– Você já pegou caronas clandestinas com a gente antes?
– Vai chover já, já – falei, suplicando. – Não pode só me deixar iraté a primeira parada? Tenho uma entrevista muito importante e não quero causar má impressão.
– Não é problema meu. – Ele apontou para a porta. – Quantascaroninhas gratuitas você já pegou com a gente?
O ônibus freou com tudo. Levantei-me e passei pelo homem antes de responder à pergunta.
Colocando os pés na calçada, olhei por cima do ombro enquanto o guia indicava aos passageiros que olhassem para mim.
– Senhoras e senhores, se olharem à sua direita, verão um exemplo perfeito da escória de Nova York – falou ele no microfone. – Espero, de verdade, que isso seja o mais próximo que cheguem de encontrar esse tipo de gentalha por aqui. Rápido! Vejam se ainda estão com a carteira antes de seguirmos nosso caminho.
Houve uma explosão de risadas, e senti lágrimas brotando dos meus olhos.
Sem querer deixá-las cair, comecei minha longa caminhada pela Quinta Avenida. Ensaiei meu discurso para a entrevista repetidas vezes, convencendo a mim mesma de que hoje realmente era o dia em que conseguiria meu emprego dos sonhos.
Quando cheguei ao edifício certo, percebi que ainda tinha meia hora de sobra antes da entrevista. Meu estômago roncava intensamente, e, embora eu tivesse prometido que nunca roubaria comida de novo, minha fome estava me dominando.
Fui até o corredor e fiquei parada na frente da entrada dourada e magnífica do Hotel Grand Rose.
– Bom dia, senhorita. – Os dois porteiros sorriram em uníssono aoabrirem as portas e me deixarem entrar no hotel mais luxuoso de Manhattan.
Como sempre, fiquei abobada e boquiaberta no saguão por vários minutos, assimilando a visão.
Havia lustres brancos e reluzentes suspensos do teto, uma fonte de água no formato de uma rosa no centro e a letra "P" gravada em dourado no meio do chão de mármore.
Os gerentes na recepção da entrada estavam vestidos em ternos azuis e cinza, como sempre, e só levou cinco segundos para ouvilos repetindo o mantra do hotel:
– Não vendemos apenas quartos de hotel. Vendemos um estilo de vida.
Com as minhas "estadias" aleatórias e ilegais ali, tinha descoberto que havia seis restaurantes, quatro spas, uma piscina imensa e um lounge no terraço. Ainda assim, a melhor parte deste hotel era aquela que tinha salvado a minha vida nos últimos meses – o salão de café da manhã gratuito.
Ao contrário das filiais do Hampton Inn que eu frequentava de tempos em tempos, ali eles serviam um café da manhã gourmet. Morangos cobertos com chocolate, bagels com manteiga trufada, panquecas feitas com farinha à sua escolha, omeletes artesanais e uma equipe de funcionários que não fazia muitas perguntas. (Para o caso de fazerem, eu deixava uma chave do hotel "perdida" no bolso de trás, para garantir que daria conta de me passar por uma hóspede em qualquer momento que fosse
necessário.)
O som leve do trovão lá fora me fez perceber que precisava correr para dar logo o fora dali.
Fique calma e continue focada...
Com água na boca, fui até o bufê e olhei por cima do ombro, vendo a recepção e verificando se não havia ninguém me observando. Convencida de que a barra estava limpa, peguei um prato e o enchi com morangos frescos cortados e croissants. Besuntei um bagel com pasta de canela trufada e comecei a preparar uma xícara de café. Antes que pudesse atravessar o corredor e sair pela entrada lateral, como sempre fazia, um homem mais velho vestido com um terno cinza entrou na minha frente.
– Com licença, senhorita. Está hospedada aqui?
Eita. Desmascarada duas vezes num só dia?
– O quê? – enrolei, olhando em volta em busca de outra saída, sópara o caso de ele tentar bloquear minha passagem. – Estou ofendida com a pergunta.
– Que você ainda não respondeu. – Ele cruzou os braços. – Está hospedada neste hotel?
– Sim. Sim, é claro, estou.
– Ok, ótimo. – Ele pegou um aparelho no bolso. – Se importariade me dizer o número do seu quarto?
– Hum. – Senti minhas bochechas corando e meus dedos suandoao segurar o prato de café da manhã. – Por quê?
– Tenho meus motivos. – Ele clicou na tela. – Parece que estamostendo prejuízos sérios quando se trata de uma certa pessoa desconhecida que entra aqui e rouba do bufê de café da manhã, então queremos checar se todo mundo aqui de fato está hospedado.
– Mas será mesmo que é roubo, se o bufê é gratuito? – perguntei.
– Quero dizer, como se avalia esse tipo de coisa no dia a dia? – Ok. – Ele guardou o aparelho. – Vou chamar a segurança.
Assim que a palavra "segurança" saiu de seus lábios, larguei o prato e corri para as portas. Em pânico, empurrei os hóspedes de verdade e suas malas chiques, mas, antes que pudesse sentir o gosto do ar fresco, colidi de cara com um novo terno.
Meu corpo atingiu o chão com um baque, e senti uma dor instantânea nas mãos por ter tentado amortecer a queda. Levanteime com rapidez, pegando a bolsa e o celular.
Fui até as portas de novo, mas o homem de terno em que eu tinha batido estava parado na minha frente, bloqueando-me. E, então, ele me fez perder o ar.
Ai. Meu. DEUS.
– Acho que esqueceu uma coisa. – Ele pegou duas das minhas embalagens de camisinha e sorriu. – Com certeza vai precisar disso para usar com a pessoa na direção da qual você está fugindo. Não acha?
Sem conseguir falar, puxei-as da mão dele e as enfiei de volta na bolsa. Depois, só fiquei parada, atravessada pelos lindos olhos verde--acinzentados do homem. Com seu maxilar perfeitamente anguloso e o cabelo preto pelo qual eu estava tentada a passar os dedos, ele era o cúmulo da perfeição.
Enquanto eu o encarava, seus lábios se curvaram em um sorriso lento e sedutor, fazendo-o parecer ter saído da capa de uma revista da GQ.
Não precisei olhar duas vezes para concluir que a gravata que ele usava era de uma marca que produzia roupas sob medida e provavelmente custava mais do que eu ganharia em uma semana. O terno de três peças evidenciava os músculos bem definidos que ele ocultava, e logo reconheci o relógio prata cravejado de diamantes que ele usava. Já o tinha visto duas vezes na vida. A primeira tinha sido no pulso de um CEO da Fortune 500 durante uma entrevista e outra vez na minha pasta do Pinterest chamada "Coisas que nunca vou ter dinheiro para comprar".
O homem de terno me olhava com a mesma concentração com que eu olhava para ele, e eu não conseguiria quebrar aquela hipnose, mesmo que tentasse. Senti meus mamilos enrijecendo sob o vestido e tive certeza de que minha calcinha estava molhada.
Antes que pudesse me forçar a voltar à realidade e me lembrar de que precisava estar correndo, e não encarando alguém, o outro homem, do terno cinza, se aproximou.
– Senhor Parker! – Ele se colocou entre nós dois, ofegante. – Nãoesperávamos o senhor antes das dez. Ainda estamos preparando os relatórios.
– Aposto que sim – disse ele, ainda me encarando. – Queria estarpresente assim que terminassem, para que eu possa demitir o responsável por esses prejuízos inexplicáveis.
– Bem, o senhor está olhando para a causa número um dessesprejuízos. – Ele estreitou os olhos para mim. – A jovem à sua frente tem roubado nosso café da manhã gourmet já há dois meses. Ela vem de três a quatro vezes na semana, ocasionalmente mais de uma vez por dia, fingindo estar hospedada aqui, e depois vai embora antes que possamos abordá-la. Temos certeza de que ela tem uma chave de quarto perdida e que usa a entrada lateral vez ou outra. Ela espera algum hóspede entrar e mostra a chave falsa para conseguir entrar logo em seguida.
O homem de terno inclinou a cabeça para o lado, parecendo achar um pouco de graça, mas seu sorriso não perdurou.
– Você sabe que roubar é crime, não sabe? – perguntou ele, encarando-me. – Que a soma do total que roubou de mim configura mais do que pequenos furtos?
Assenti. Minha voz estava presa na garganta, e não consegui responder a tempo.
– Estou com a polícia na linha um, e a equipe de segurança jáestá descendo, senhor. Posso dar meu depoimento sobre esta criminosa que quase nos custou nossos empregos.
– Diga para que não venham – disse o homem de terno. – Agora.
– O quê?
– Você me ouviu – disse ele, olhando para mim. – Acho que podemos conversar sobre isso como adultos, não acha, senhorita... – Ele se deteve. – Qual é o seu nome?
– Ashley Smith.
– Seu nome verdadeiro – falou ele, sabendo muito bem que eu estava mentindo. – Aquele que você usa quando não é flagrada roubando. Se não quiser me dizer, posso obrigá-la a contar às autoridades.
– Tara – disse, rendendo-me. – Tara Lauren.
– Senhorita Lauren, sou Preston Parker – apresentou-se ele. –Gostaria de dizer que é um prazer conhecê-la, mas não gosto de pessoas roubando dos meus hotéis.
– Me desculpe – murmurei. – Acredito que seja o gerente?
– Não, eu sou o dono. – O jeito como ele pronunciou aquelas palavras me excitou, por algum motivo. – Vamos conversar. – Ele gesticulou para que eu o seguisse e me conduziu para longe do homem do terno cinza amarrotado.
Ele olhou para a comida que eu tinha derrubado no chão e foi até o bufê de café da manhã. Pegou um prato e o encheu de morangos frescos e croissants, depois passou manteiga trufada em um bagel sem glúten, antes de entregá-lo para mim.
Não tirou os olhos de mim enquanto caminhávamos para os elevadores, olhando-me de cima a baixo a cada passo, e eu honestamente não sabia se ele estava me levando a um lugar onde me faria prender longe dos olhos das outras pessoas.
Evitei seu olhar fumegante enquanto subíamos, grata por haver outros hóspedes entre nós dois. Quando chegamos ao terceiro andar, os hóspedes restantes desceram do elevador, e ele colocou uma chave contra o leitor, depois pressionou o botão que indicava Suíte Preston.
As portas se abriram segundos depois, revelando um chão dourado e cintilante que era ainda mais extraordinário que o do térreo.
– Bom dia, senhor Parker – disse uma mulher atrás do balcão. –Que bom tê-lo aqui hoje.
– Bom dia – ele respondeu sem olhar para ela, e todas as outraspessoas no andar se espalharam em direções opostas.
Por que todo mundo parece estar com medo?
– Por aqui, senhorita Lauren. – Ele abriu a porta para uma salaque era dez vezes maior que meu apartamento. Ao entrar, as luzes se acenderam e as persianas da janela subiram, revelando uma vista da cidade digna de uma pintura; ela parecia ter saído de um sonho.
Mordi a língua para me impedir de dizer algo poético sobre a paisagem e para me prevenir de dizer a ele que devia se sentir muito sortudo por ter tudo aquilo.
Dali de cima, a chuva caindo não parecia tão ruim. Dali, Nova York ainda parecia mágica, como eu antes imaginava.
– Pode se sentar – ele disse, puxando uma cadeira para mim.Esperou que eu me sentasse antes de ir para trás da mesa e, depois, reclinou-se na cadeira, encarando-me com aqueles olhos verdes lindos e deixando-me ainda mais molhada, contra a minha vontade.
– Então, senhorita Lauren – tamborilou os dedos contra a madeira–, tem alguma razão em particular para estar me roubando?
– Talvez.
– E pode, por favor, me dizer qual é essa razão para que "talvez"exista?
– Preciso de uma garantia de que não está me gravando em segredo para me entregar às autoridades assim que eu confessar.
– Se quisesse chamar as autoridades, jamais a teria convidado aomeu escritório, senhorita Lauren. – Ele continuou me olhando. – Teria acionado a delegacia do outro lado da rua, e você mal teria passado da esquina.
– Ah, certo. – Pigarreei, e ele imediatamente pegou o jarro de água em sua mesa, enchendo um copo para mim.
– Agora, onde estávamos? – Esperou até que eu tivesse dadoalguns goles. – Ah, sim. Você estava prestes a parar de me enrolar e responder à minha pergunta sobre por que tem roubado do meu hotel.
– Não achei que estivesse roubando do senhor, pessoalmente –falei. – Só está difícil segurar as pontas agora, e por coincidência seu hotel é perto de onde todas as minhas últimas entrevistas estavam marcadas. Eu tinha planos de devolver o dinheiro quando conseguisse um emprego. – Peguei o celular e abri o calendário, mostrando a tela para ele. – O xis vermelho indica todas as vezes que tomei café da manhã aqui. Ia multiplicar isso por quinze dólares e...
– O custo do café da manhã gourmet para quem não está hospedado nos meus hotéis é de oitenta e cinco dólares – ele me interrompeu. Silêncio.
– Hum, bem... – Pisquei. – Provavelmente ainda vou ter que multiplicar as marcações com o xis vermelho por quinze e mandar ao gerente... bem, a você um pedido de desculpas com um cheque.
– O que significam os xis em azul?
As vezes em que roubei o almoço gourmet daqui.
– São os dias em que vou à academia.
– Você já tem a palavra "academia" indicada em outros dias.
– Deve ser um bug. – Abaixei o celular. – Mas estou falando sériosobre devolver a grana. Farei uma terceira entrevista com uma empresa hoje e tenho certeza de que serei contratada.
Estou muito confiante em relação a isso.
– Em qual empresa vai fazer entrevista? – perguntou ele.
– A Bolsa de Valores da Russ. – Arquejei ao olhar de novo para omeu celular. Estava dois minutos atrasada para a entrevista.
– Algum problema, senhorita Lauren?
– Sim... estou perdendo a entrevista agora. Acha que poderia ligar para eles e dizer por que vou me atrasar?
Ele me encarou.
– Certo. Bem, eu... hum... – Engoli em seco. – Obrigada por nãochamar a polícia. Preciso ir.
– Nossa conversa não acabou. – A voz dele era firme. – Para qualcargo é sua entrevista?
– Era – falei, duvidando de que me dariam outra chance agora. –Era para ser a assistente executiva do CEO.
Ele levantou uma das sobrancelhas.
Você tem formação em Administração?
– Sim, e também em Direito. Não que sirva de alguma coisa.
– Onde foi seu último emprego?
– Ainda estou procurando o primeiro. – Ele me olhou com seriedade por um longo momento, sem dizer uma única palavra, e eu não sabia ao certo se ele diria mais alguma coisa. E, agora, pela primeira vez desde que tinha me mudado para Nova York, estava pronta para desabar e chorar. – Bem, muito obrigada por, hum, me ouvir falar sobre isso – disse, levantando-me. – Agradeço.
– Devia mesmo. – Ele se reclinou na cadeira de novo. – Possoficar tranquilo quanto ao fato de não roubar mais comida de nenhum dos meus hotéis?
– Só se você não for o dono do Grand Alaskan na Quinta Avenida.
– Por acaso eu sou o dono do Grand Alaskan na Quinta Avenida.
– Ah. – Merda. – Do The Loft na Wall Street também?
– Sim. – Ele estreitou os olhos para mim. – Você não tem familiaridade com o meu portfólio de hotéis?