A Pérola Negra
img img A Pérola Negra img Capítulo 1 O divorcio!
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Capítulo 6 A carta dos vigaristas img
Capítulo 7 O charme do meu tutor img
Capítulo 8 Uma nova Equipe img
Capítulo 9 A Universidade Waltz img
Capítulo 10 Dezoitos anos img
Capítulo 11 O meu primeiro beijo img
Capítulo 12 Brincando com fogo img
Capítulo 13 Ela mexia comigo, já não podia negar. img
Capítulo 14 Um balde de água fria img
Capítulo 15 O resfriado img
Capítulo 16 A muralha img
Capítulo 17 Ansiedade inesperada img
Capítulo 18 Eu não preciso de fugir de ninguém img
Capítulo 19 Preocupação exagerada img
Capítulo 20 O desejo de um abraço img
Capítulo 21 Uma conexão intima img
Capítulo 22 A nova Alana img
Capítulo 23 O reencontro com o meu tutor img
Capítulo 24 Quatro anos depois img
Capítulo 25 Um soco no estômago img
Capítulo 26 Ela desobedeceu-me img
Capítulo 27 Uma noite fora do vulgar img
Capítulo 28 Ciúmes img
Capítulo 29 Ela me desarmava completamente img
Capítulo 30 Um beijo apaixonado img
Capítulo 31 Um segredo img
Capítulo 32 Humilhação img
Capítulo 33 Calúnia img
Capítulo 34 Solidão img
Capítulo 35 Mudança de planos img
Capítulo 36 O dia da Formatura img
Capítulo 37 O dia da Formatura 2 img
Capítulo 38 O dia da Formatura 3 img
Capítulo 39 Ele veio... img
Capítulo 40 O Reecontro Escaldante img
Capítulo 41 O testamento img
Capítulo 42 O testamento 2 img
Capítulo 43 Noivado Invulgar img
Capítulo 44 Era apenas um contrato img
Capítulo 45 O Casamento img
Capítulo 46 Dançando com a Sra. Waltz img
Capítulo 47 A lua de mel img
Capítulo 48 Amargura img
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A Pérola Negra

Maria Neto
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Capítulo 1 O divorcio!

- Evan... – chamei quando finalmente ganhei coragem.

Ele continuava a deslizar os seus dedos ágeis no seu computador portátil, como se não me tivesse ouvido a chamá-lo. Evan, sempre tão distante, tão concentrado na sua vida profissional, parecia ter se esquecido de que eu existia. Havia passado tanto tempo desde que ele olhara para mim com carinho. Hoje só havia indiferença. A imagem dele, sentado à mesa, envolto em seu mundo, era um lembrete constante de que eu não era suficiente. Que nunca fui.

- Vamos nos divorciar... – disse-lhe com firmeza forçada.

Finalmente ele parou de teclar, levantou o rosto lentamente e olhou para mim. Ele era um especialista em esconder as suas emoções e agora estava a voltar a fazê-lo. Fechou o portátil e cruzou as pernas com elegância, dando-me a entender que cativei a sua atenção. Uma linha fina formou-se nos seus lábios.

- Porquê? – perguntou friamente.

O ar a nossa volta tornou-se pesado, mas reuni forças para continuar.

- Porque sinto que já não faz mais sentido, continuarmos com esta farsa. O meu estágio está no fim, faltam apenas alguns meses para eu assumir as minhas ações dentro da empresa e receber o meu património na integra. Já se passaram cinco anos desde que me acolheste e acho que estou a te reter. – Sorri triste- Está na hora de te apaixonares por alguém e formares uma família e eu estou a ser um estorvo. – disse com amargura na voz. - Além de mais, a tua posição como Presidente da Airspace & Co., está mais do que salvaguardada.

A empresa triplicou os lucros nos últimos anos sob a tua direção, é óbvio que ninguém irá se opor a ti. O nosso casamento foi apenas um contrato que o teu irmão e o meu pai nos impulsionaram a assinar. Não é mesmo?

Ele fechou os olhos e levou a mão nas têmporas, apertando suavemente.

- É isso que pensas? Foi isso que o nosso casamento significou para ti? – perguntou sem emoção.

- Sim- baixei a cara para não demonstrar a dor que esta conversa me estava a causar. - Vou reformar a minha residência em Sunnville e vou me mudar para lá depois do divórcio.

Ele assentiu.

- Vou pedir ao Roger...

- Não precisas de pedir mais nada ao Roger por mim, já não sou a menina de 18 anos que recebeste há cinco anos, já sou uma mulher e sei cuidar de mim. Obrigada – cortei-o antes que ele pudesse terminar.

Fitamo-nos intensamente num silêncio avassalador. O meu peito arfava descontroladamente. Todo o meu ser implorava que ele demonstrasse pelo menos um pouco de tristeza, que contestasse o meu pedido. Eu queria que ele lutasse por mim. Mas ali estava, inabalado e sereno, como se estivemos a falar do tempo.

- Se for por causa da Alice...

- Não é por causa da Alice! Evan é por minha causa, eu não suporto mais ficar ao teu lado. – Gesticulei irritada – por favor me deixa ir embora - Saiu quase como uma súplica.

Ele era o gênio da aviação aérea, um prodígio. Era um bilionário de 29 anos, um homem multifacetado em todos os aspetos. Famoso e charmoso era muito cobiçado pelas filhas das melhores famílias do País. Ainda assim ele aceitou casar-se com uma órfã para honrar um pedido do meu falecido pai. Eu confundi gentileza com amor.

Por breves instantes eu vi um brilho no seu olhar, mas rapidamente voltou a fechar os olhos, e virou o rosto, para o outro lado.

- Esta bem, vou instruir ao David para preparar a papelada. – disse quase inaudível.

Levantou-se e saiu do escritório, ouvi os seus passos se afastando, deixando-me numa angústia desmedida. Senti a quentura das lágrimas no meu rosto. Tive um aperto no peito, um nó na garganta. Foi a minha última tentativa arriscada para ter a certeza que tanto evitei ter. Ele não me amava.

Essa confirmação foi um golpe fundo para o meu coração. Eu aprendi a amá-lo e queria fazer parte da sua vida para sempre, mas ele fechou-se e meteu uma barreira entre nós. Fazendo-me viver na expetativa de um romance que hoje sei que nunca irá acontecer.

Deixei-me escorregar pelo chão, tirei os sapatos, abracei os meus joelhos, e deixei-me embalar num choro copioso. Desde que o meu papá faleceu que não me sentia tão desolada, tão só. Não olhei para outro homem desde que o vi pela primeira vez, aos dezasseis anos. Ele era a família que aprendi a amar. Sentia-me sem forças para projetar um futuro sem ele. Sabia que teria de caminhar com as minhas próprias pernas, mas, não era o que eu queria. O que eu realmente precisava era de coragem para seguir em frente, para me reencontrar fora das sombras do que um dia sonhei que seria a nossa vida.

A dor que sentia era uma tempestade silenciosa, um furacão dentro de mim, arrasando tudo o que um dia construí em torno do amor que acreditava ser verdadeiro. As paredes do escritório que antes pareciam um abrigo acolhedor tornaram-se prisões que me isolavam daquela realidade insuportável. As lágrimas escorriam livremente, e eu me permitia chorar, sabendo que o grito silencioso da minha alma precisava ser ouvido.

Meus pensamentos devoravam a esperança que restava. O futuro parecia um caminho embaçado, repleto de incertezas. O que eu faria agora? Como reconstruir a minha vida a partir dos pedaços que sobraram? A ideia de me mudar para Sunnville se apresentava como uma luz distante, mas, ao mesmo tempo, quase como um castigo. Queria me libertar, mas estava presa a um amor que nunca será correspondido da forma que eu desejava.

Em meio ao meu desespero, percebi que precisava me levantar, que precisava me libertar daquela tristeza que só crescia em meu peito. Com um esforço monumental, consegui me pôr de pé, limpei o meu rosto com as costas da mão e respirei fundo. A primeira etapa já estava concluída – o pedido do divórcio. Agora era hora de dar o próximo passo.

A vida continua, pensei. E, a partir desse momento, decidi que seria forte. Que aprenderia a amar a mim mesma antes de buscar o amor dos outros. E, quem sabe um dia, encontraria alguém que me fizesse sentir novamente que era merecedora de ser amada. O futuro ainda era incerto, mas eu estava pronta para abraçar a mudança.

Ao dar dois passos em direção à porta, uma onda avassaladora de emoção tomou conta de mim. A minha visão ficou turva, os olhos se encheram de lágrimas que pareciam insurgir-se contra minha vontade de contenção. A fraqueza tomou conta do meu corpo, e uma vertigem me envolveu, como se o chão sob os meus pés estivesse se desfazendo. E então, em meio a essa tempestade interna, a perceção escorregou das minhas mãos, mergulhando-me em um vazio angustiante, onde não consegui lembrar de mais nada. Segurei-me numa cadeira, mas foi muito tarde com um estrondo o meu corpo caiu para o chão.

            
            

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