Capítulo 7 7

Davi batia na porta pela terceira vez. Tinham de recebê-lo dessa vez. Ficar espiando atrás das cortinas era coisa de criança com algum tipo de culpa. Gritou que era da polícia. Bateu com mais força. Uma jovem abriu. Olhava para baixo. Envergonhada, pediu desculpas. Explicou que tinha alguns problemas de ordem psicológica. Além de uma forte ansiedade. O convidou para entrar.

Davi sentou no sofá com o intuito de ser direto. A jovem cortou. Disse que sua mãe chegaria logo e ficou muda.

Davi perguntou se ela era Liza Ximenes.

A mãe surgiu da cozinha pedindo para Liza – era ela mesma – assumir o fogão. Se o doce de leite queimar, seria sua culpa, mais uma vez. Liza saiu.

A mulher era confeiteira. Vendia doces caseiros na feira. A pensão não dava para muito mais hoje em dia e precisava complementar. O que você quer, perguntou.

Era sobre o investigador Ximenes. Sobre o desaparecimento. O caso havia sido reaberto, disse Davi e – mentiu – tinham novas pistas.

A mulher arregalou os olhos. Um par de talheres caíram na cozinha. Ele se foi. Decidiu nos abandonar e começou a explicar tentando esconder algum sentimento, talvez raiva, no tom da voz. Essa era a realidade, continuou. E por mais que machuque pensar nisso, era bastante comum de se acontecer.

Você não gostaria de saber o que aconteceu com ele?

Você já parou para pensar que talvez ele não queira que a gente saiba, retrucou a mulher.

O seu marido, continuou Davi tentando uma outra abordagem, começou uma investigação de assassinato na cidade onde trabalhava. O caso havia sido reaberto devido a esse crime ficar sem solução.

A mulher ficou sem paciência. Se acomodou no sofá esperando por mais informações que não estava afim de ouvir.

O crime que ficou sem resolver foi o um assassinato, explicou Davi. O assassinato de uma mulher trans.

A mulher não se segurou. Começou a chorar. Explicou que ele havia ido trabalhar longe para dar um tempo – sabe? Um tempo na relação. Aí, de repente, ele desapareceu.

Davi quer saber se ele falava sobre o trabalho e se chegou a comentar da possibilidade de ter inimigos.

A mulher não respondeu. Rompeu em prantos. Gritou por água. Água! Faltava-lhe o ar, mas conseguiu formular, com desgosto, que tudo isso era injusto. Tudo isso, de novo, gritou na cara de Davi. Liza chegou com um copo d'água. A mulher pediu, entre soluços, para Davi ir embora.

Davi se desculpou, mas precisava fazer um par de perguntas a mais.

Chega, gritou a mulher e bateu no peito com força, se jogando para trás no sofá. O copo se estilhaçou no chão.

Por favor, pediu Liza. Vá embora.

Conseguir informações dessa família não parecia uma tarefa fácil. Davi entrou no carro e ligou para Pedro. A chamada não concluiu. Pedro estava fora da área de cobertura. No instante em que Davi dá partida no carro e sai da vaga de estacionamento, Liza aparece na frente do carro.

Precisamos falar, disse.

Liza estava cansada. Cansada de tanta mentira e de tantas encenações.

Davi suspeitou de toda aquela encenação, mas guardou o comentário. Para ele, era óbvio que a mulher escondia alguma coisa, mas o quê?

Amanhã, disse Liza cansada de secar as lágrimas. Precisavam se ver. Tinha coisas para mostrar. Ela queria saber onde estava o seu pai.

                         

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