Capítulo 6 Ecos do invisível

atrás dos arbustos, o coração batendo com força no peito. Embora seu pai tivesse lhe ordenado para se retirar, ela não podia simplesmente sair. Algo a mantinha ali, observando-o, tentando entender o que acontecia.

O visitante estava impassível, mas suas palavras eram incisivas, carregadas de urgência. "Não há mais tempo, o caos está perto." Ele falava de maneira vaga, misteriosa, como se soubesse algo que ninguém mais pudesse compreender, mas suas palavras carregavam o peso de uma grande responsabilidade. Seu tom era frio, intransigente.

"Não pode ser. Mais um mês eu lhe peço só mais um mês..." A voz do pai de Evangeline se rompeu pela primeira vez, implorando por mais uma chance, mas o visitante apenas o olhou com uma expressão implacável.

"Se preferirem enfrentar o caos, é uma escolha vossa, mais deixe-me lembrá-lo que ele é implacável", disse o visitante, sua voz firmando-se na última palavra, como um aviso. Ele não parecia apenas ameaçar; parecia responder a algo mais profundo, como se ele não fosse a última instância de um plano já em andamento.

Nesse momento, ele olhou rapidamente na direção onde Evangeline estava escondida, mas não disse nada. A sensação de ser descoberta foi instantânea e ela prendeu a respiração, esperando ser exposta. Mas, para sua surpresa, ele não falou nada a respeito. Parecia que ele não tinha a intenção de se aprofundar mais naquela pequena falha. Mas Evangeline sabia que ele a tinha visto - aquela troca silenciosa foi o suficiente.

Seu corpo reagiu impulsivamente, e ela se levantou rapidamente, quase tropeçando. O instinto a conduziu para dentro de casa, correndo para o conforto do seu quarto, onde poderia tentar juntar as peças da conversa e processar tudo o que ouvira.

No silêncio de seu quarto, Evangeline se deitou sobre a cama, os pensamentos turbilhando em sua mente. Seu pai havia suplicado, e o visitante não mostrara nenhum sinal de ceder. Suas palavras ainda reverberavam em seus ouvidos: "caos", "não há mais tempo". E o que ele quis dizer sobre ser enviado por algo mais? Algo muito poderoso, algo que talvez estivesse além da sua compreensão.

A fome inesperada a arrancou desses pensamentos. Ela se levantou, seu estômago roncando, e seguiu para a cozinha, tentando distrair sua mente com algo simples como um copo de leite e biscoitos. Mas no momento em que pegava os biscoitos, ela se estremeceu. Ele estava lá. A presença do visitante, mais uma vez. Mais próxima, mais palpável. Ele estava ali, no canto da cozinha, mas parecia não ter vindo de nenhum lugar visível.

Evangeline engasgou, surpreendida, quase derrubando o copo de leite. "Evangeline..." Ele sussurrou seu nome, a voz carregada de algo que ela não conseguia identificar. Seus olhos encontraram os dele, mas a conversa não parecia natural. Ele tentava mudá-la, mudar o rumo das palavras, talvez para encobrir suas intenções. Mas Evangeline não se deixou enganar. Algo estava muito fora de lugar, algo que ela precisava entender.

"De onde você vem?", ela perguntou, tentando controlar seu nervosismo. Ele olhou de relance, mas seus olhos não revelavam nada. Ele não ia contar. Evangeline sabia disso. Tudo o que ele fazia era se esquivar, se manter em um círculo de respostas vagas, quase filosóficas. "Ouvir conversas dos mais velhos é feio menina. ", ele falou, mais uma vez, com sem pressa. Mas, apesar de todas as suas perguntas, ele não a respondia.

Antes que pudesse insistir mais, o pingente que ela usava há muito tempo caiu de seu pescoço. Ela desviou o olhar para pegá-lo, mas ao olhar para cima novamente, o visitante havia sumido. O vazio ocupava o espaço em que ele estivera, a presença dele evaporando no ar. Assustada, Evangeline chamou por ele. "Ei! Onde você...?" Mas não houve resposta. O silêncio a envolveu de uma maneira que pareceu cortar a respiração. Não era possível. Ele não podia ter desaparecido assim tão rapidamente.

Ela, sem saber como lidar com a situação, saiu da cozinha atordoada. Tentou convencer a si mesma de que talvez o visitante tivesse apenas se movido mais rápido do que ela poderia perceber. Mas a sensação de desconcerto permaneceu.

Mais tarde, em seu quarto, Evangeline já estava deitada, prestes a dormir, quando uma rajada de vento cortou a quietude da noite, vindo de lugar nenhum. Ela se levantou, os braços arrepiados, movendo-se instintivamente em direção à janela para ver de onde o vento teria vindo. Não havia ninguém. Nenhuma explicação racional para o ar gelado que agora preenchia seu quarto.

Mas a sensação... algo em sua pele a fez se virar, como se alguma coisa estivesse atrás dela. Algo, ou alguém, se aproximava com uma suavidade assustadora. O ar ficou mais pesado e os seus sentidos mais aguçados. Ela podia sentir a tensão acumulando-se ao seu redor. Ela sabia que não estava sozinha.

Mais uma vez, ela se virou, rapidamente, tentando ver o que, ou quem, estivesse por trás dela. Mas não havia nada. O vazio era palpável, o silêncio devastador. Ela congelou no lugar, ainda ouvindo o leve sussurro que parecia ecoar por toda a casa.

Era a sensação de estar observada, de ser o alvo de algo que não estava mais na realidade que ela conhecia. E, mais uma vez, Evangeline soube. A linha entre o que ela entendia como real e o que se aproximava de um outro mundo estava começando a se borrar. Algo estava se movendo, algo que não podia ser ignorado, e algo muito maior do que ela imaginava.

            
            

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