Capítulo 4 Frios desvios.

Na manhã seguinte, Evangeline não conseguiu mais conter os pensamentos turbulentos. Depois de tantas palavras não ditas, a tensão que preenchia a casa, a sensação de que tudo poderia explodir a qualquer momento... Ela sentia que algo estava prestes a mudar, e a conversa com os pais foi apenas o começo.

Ela passava pelas correntes do silêncio da mansão Montclair quando foi chamada para uma reunião, convocada por seu pai e, inexplicavelmente, por sua madrasta. Evangeline deu um último suspiro e se dirigiu à sala de estar, onde encontraria, inevitavelmente, o abismo de acusações e sentimentos reprimidos.

Sua mãe havia falecido alguns anos antes, deixando um vazio ainda maior em sua vida. A ausência da mulher que lhe dera vida intensificava a frieza de seu pai e a indiferença de sua madrasta.

Ao entrar na sala, seus olhos se fixaram nos dois, e ela imediatamente percebeu que algo grande estava para acontecer. A mansão estava muito quieta; o vazio era preenchido apenas pelos ecos distantes das batidas do coração de Evangeline.

"Evangeline", o pai disse, sua voz áspera, sem nenhuma emoção. "Você vai se mudar."

Evangeline sentiu uma ondulação no estômago. "Para onde?", ela perguntou, sem esconder o desconforto na voz.

Sua madrasta, Vera, a olhou com desdém, começando o seu tradicional drama. "Sabe o que fazer. Você vai para o outro lado, como uma maneira de resolver essa situação toda", disse ela, com os olhos ardendo de indignação. "Até depois do que tudo o que fizemos por você, esse é o reconhecimento."

Evangeline congelou. A indignação fez com que ela apertasse os punhos. Ela nunca teve nenhuma falsa percepção de que estava genuinamente desejada ali, mas aquele tom e aquelas palavras agora faziam a realidade parecer ainda mais dura.

"Vai me mandar embora para um lugar distante? O que eu farei lá , como você espera que eu viva ?", Evangeline questionou, seus olhos agora fixos nos do pai.

"Você precisa ir, está nos dando mais problemas do que pode imaginar," disse ele, ríspido, se levantando. Sua mandíbula estava tensa, como se soubesse o peso da decisão que estava tomando. "Além disso, é sua obrigação lidar com isso. Não me faça repetir."

Evangeline não acreditou no que estava ouvindo. Mais problemas do que pode imaginar? O que exatamente isso significava para ele?

Com uma raiva contida, ela deu um passo à frente, finalmente se decidindo a entender mais sobre o que estavam planejando.

"E essa dívida?" Perguntou com força, sabendo que a questão pairava sobre ela, mas que nunca tinha sido completamente explicada. "O que essa mudança tem a ver com isso?"

Mas, antes que os pais pudessem falar, Eloise, sua irmã, entrou na sala e, ao ver a tensão no ar, se aproximou rapidamente de Evangeline. Ela tinha sempre um tom irônico, mas isso parecia em outro nível, como se estivesse aproveitando a chance para colocar ainda mais pressão.

Eloise olhou para Evangeline com um sorriso malicioso: "Talvez, maninha, você tenha que considerar que você nunca foi bem-vinda de fato. Essa casa, os bens, nem seus pais... nada realmente te pertence. E você será 'grata' por essa mudança. Talvez a vida lá fora te faça finalmente entender a sua posição."

Essas palavras acertaram Evangeline como um soco no estômago. Como assim? Ela também é filha desta casa , então porque ela ? Ela sempre sentiu os olhares gelados de sua irmã, mas agora isso parecia mais profundo, como uma acusação que não conseguia se calar.

"Eloise, se acha que isso muda quem eu sou, está muito enganada", respondeu, o controle de sua voz já se quebrando por conta da fúria. "Esse lugar, essa casa, tudo isso nunca foi sobre mim, e agora vejo que minha partida é apenas o resultado daquilo que sempre foi claro."

De repente, o pai, que até então mantivera o silêncio, deu um passo à frente e a empurrou de forma ríspida, forçando Evangeline a cair no chão prendendo seu pescoço em seu punho . Ela levou um susto imediato, sentindo a dor da queda e incapaz de respirar com eficácia , para sua surpresa, as palavras que saíram de sua boca foram ainda mais cruéis.

"Cale a boca, Evangeline. Tudo o que se passa por essa casa está além do seu controle. Não está pronta para nada." Ele disse essas palavras com ódio. Aquilo foi demais. Ela sentiu as lágrimas fervendo nos olhos, mas não as derramou. No fundo, uma parte sua sabia que a dor nunca seria superada. Tudo estava bem claro naquele momento.

Evangeline levantou-se rapidamente, não querendo dar satisfação mais nenhuma para eles. Ela saiu da sala e subiu rapidamente as escadas para o seu quarto, sem olhar para trás, sem mais palavras.

            
            

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