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O despertar de Evangeline naquela manhã foi marcado pela mesma angústia suave, mas persistente, que a acompanhava há dias. Era uma sensação difícil de descrever. Não exatamente medo, mas algo que pressionava seu peito, deixando-a com uma sensação de vazio. Aquela era uma daquelas manhãs difíceis, em que o ar parecia pesado e sem explicação. Contudo, como sempre, ela procurava se manter tranquila.
Ao sair do quarto, ela notou o movimento na casa: algo incomum estava acontecendo. Pessoas corriam de um lado para o outro, levando objetos, reorganizando quartos e espaços da casa. A casa parecia ainda mais agitada que o normal, sem razão aparente. Confusa, Evangeline foi até a empregada mais próxima para perguntar.
"Estamos aguardando uma visita especial esta noite", disse-lhe a empregada, com um sorriso, mas seus olhos pareciam estar em algum lugar distante, longe de sua conversa.
Evangeline não deu muita importância. Ela confiava que, fosse o que fosse, sua casa sempre oferecia esse tipo de distúrbio de vez em quando. Após alguns momentos de hesitação, ela se afastou da movimentação e se dirigiu ao jardim, seu refúgio pessoal. O som dos pássaros e a presença reconfortante das flores a acalmavam, como sempre. Ela pegou algumas flores, sem muito para pensar, absorvendo o ritmo calmo do jardim.
O resto do dia se arrastou. Quando a noite finalmente caiu, Evangeline se preparou para o jantar, ainda com aquela sensação de inquietação no peito. Ao entrar na sala de jantar, notou que algo havia mudado. Lá estava ele, o visitante.
A figura era alguém de presença incomum, uma mistura intrigante de suavidade e imponência. Ele estava vestido com um traje simples, mas de alta classe, quase como um mordomo, mas seus olhos, daqueles intensos e enigmáticos, davam-lhe uma aura misteriosa. Evangeline sentiu um pequeno desconforto, como se ele tivesse algo demais a esconder, mas, ao mesmo tempo, não conseguia identificar exatamente o quê.
O jantar seguiu um curso tranquilo. A conversa foi, em sua maioria, educada, sem grandes intromissões. O visitante se dirigiu a todos de forma calma, perguntando sobre os assuntos triviais da casa, sobre o trabalho de seu pai, mas sem se aprofundar em nada de significativo. A mãe de Evangeline, mais reservada do que o habitual, mantinha-se quieta, enquanto Eloise, sua irmã, olhava o visitante com um certo fascínio.
Foi durante uma conversa descontraída, quando todos trocavam elogios sobre a organização da casa e a vida social de cada um, que o visitante, ainda olhando diretamente para Evangeline, disse com um sorriso sutil:
"Eu soube que você gosta de momentos mais tranquilos, Evangeline. É um tipo raro de paz que muitos não sabem valorizar, não acha?"
Evangeline não ficou desconfortável com a pergunta, mas respondeu com a educação que sempre lhe foi ensinada. "Sim, gosto da tranquilidade que o jardim me proporciona", ela disse, sorrindo com um brilho tímido nos olhos.
O visitante fez um gesto como se estivesse aprovando sua resposta, mas nenhum dos dois insistiu muito nisso. Ele apenas olhou para seu prato e, com um sorriso frio, se afastou levemente, parecendo cada vez mais imerso em seus próprios pensamentos.
Aquela interação leve e superficial, no entanto, deu a Evangeline uma sensação estranha. Nada de excessivo, mas algo que parecia estar só à beira de se tornar algo maior. E ainda assim, ela não conseguia descifrar o que isso significava.
Mais tarde, após o jantar, o visitante se levantou com naturalidade. "Agradeço pela recepção", disse suavemente. "Foi um prazer conversar com todos." E sem mais delongas, a empregada o acompanhou para os seus aposentos.
Quando o último som da porta foi ouvido e o visitante já estava longe, o pai de Evangeline permaneceu em silêncio, o peso de alguma decisão ainda pairando no ar. Evangeline, sem querer levantar questionamentos, apenas retirou-se para o quarto com a mente vagando.
Na manhã seguinte, como sempre, a sensação de angústia voltou a invadir seus pensamentos. Ainda com o eco do jantar em sua mente, ela seguiu até o jardim. Lá, algo estava diferente. O visitante estava ali, novamente.
"Eu pensei que pudesse encontrar alguém como você aqui", disse ele, com um sorriso indecifrável. "Nos jardins, a natureza sabe quando se prepara para algo importante. Você já percebeu isso?"
O curioso encontro foi interrompido repentinamente pela figura imponente de seu pai, que se aproximou decidido. "Evangeline", ordenou ele. "Você deve retornar ao seu quarto. Eu preciso conversar com ele agora."
Evangeline sentiu o estômago revirar enquanto olhava, uma última vez, para aquele ser misterioso. Algo estava prestes a acontecer. Ela não sabia bem o quê, mas a sensação era de que, mais uma vez, sua vida estava prestes a mudar.