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No dia seguinte, o choque ainda estava presente no corpo de Evangeline, mas ela tentou esconder seu desconcerto de todos ao seu redor. A notícia de que Alaric não estava mais na cidade pegou todos desprevenidos, e no lugar do homem que parecia tranquilo na noite passada, restava um vazio desconcertante. Evageline procurou por ele, mas sem sucesso. No entanto, o mais intrigante foi a mudança no comportamento de seu pai: Ele estava inquieto, como se estivesse sendo consumido por algo que ele sequer sabia o que era.
O dia, que começava preguiçosamente, se transformou em um convite para Evangeline se distanciar do caos e escapar para o lugar que ela mais amava – o bosque à beira do rio. O local sempre fora uma fonte de tranquilidade para ela. Quando a água tocava a terra, parecia trazer com ela uma calma inexplicável.
Mas no momento em que ela se aproximava do rio, um silêncio desconcertante tomou conta do ambiente. Antes mesmo que ela tivesse tempo de se perder nas águas geladas ou relaxar na serenidade do cenário, lá estava ele.
Alaric. Aparecendo do nada, mais uma vez. E Evangeline, já perdendo a paciência com aqueles desaparecimentos misteriosos, pensou: "Começo a me fartar desses aparecimentos dramáticos. Já está começando a parar de me assustar."
Alaric deu uma risada baixa e sem humor, quase como se pudesse ouvir seus pensamentos. "Você só diz isso até começar a entender o que está por trás dessa bagunça."
Evangeline não perdeu tempo. "Eu preciso saber, Alaric. A verdade." Sua voz soou mais firme do que se sentia. Alaric a observou com o olhar intenso e, por um instante, o mundo ao redor parecia desaparecer, como se ele fosse o único ser vivo ali.
"Você quer saber a verdade?", ele começou, a expressão dele tornando-se sombria, quase sádica. "Há mais de 400 anos, um rei, desesperado ao ver seu império devastado por pragas, fome e calamidades, fez um acordo com o diabo. Ofereceu-lhe o que ele mais amava, sua própria filha, em troca da prosperidade para seu povo. O diabo atendeu, mas há algo que o rei e seus descendentes não cumpriram e agora ele vem atrás do que lhe foi prometido."
Evangeline sentiu o chão se mover sob seus pés, suas pernas fraquejando. "Mas o que minha mãe tem a ver com isso?" Ela já sentia o peso de cada palavra, cada revelação.
Alaric sorriu, como se fosse divertido ver o desespero dela. "Ótima pergunta, jovem. Desde aquele acordo, o sangue das gerações seguintes carrega tanto uma bênção quanto uma maldição. Todos os descendentes da filha do rei só poderão ter filhas. Mais conhecidas como as Bellie's... Elas são mais que mulheres comuns. Elas se tornaram tesouros. Familias inteiras, incluindo a sua, venderam-nas pela prosperidade. Sua mãe... Não foi exceção. Ela foi vendida aos 16 anos para a família Montclair, engravidou de você aos 20 e poucos anos, mas morreu antes de ver você crescer."
O silêncio pesado pairou entre eles, como se a revelação de Alaric estivesse semeando um terror que Evangeline nunca imaginara.
"Você provavelmente será forçada a seguir o mesmo destino, jovem moça. Até seus 21 anos. Se você não for entregue ao diabo..." Ele fez uma pausa e olhou nos olhos de Evangeline, "você morrerá." A verdade finalmente transbordava da sua boca com a frieza que ele poderia conter.
Evangeline ficou em choque. "Mas... mas isso não faz sentido! Sacrifício? Minha mãe foi forçada a fazer isso? O que eu sou? E você, o que é?"
Alaric respondeu sem expressão. "Eu já respondi a sua pergunta, mas agora cabe a você tomar uma decisão inteligente jovem moça ."
Evangeline tentou puxar ar para seus pulmões, sua mente em colisão com tudo o que acabara de descobrir. Mas antes que pudesse articular mais alguma palavra, Alaric se afastou, desaparecendo nas sombras com a mesma rapidez silenciosa com que surgira.
Ela ficou lá, sozinha mais uma vez, sem respostas definitivas, com o aperto no coração se tornando mais pesado a cada instante. Tentava compreender as implicações daquele destino sombrio, mas o pensamento não a aliviava. Seu pai, que a mantinha só pela prosperidade, sua mãe, que já estava condenada... E ela, sua vida já traçada.
A água do rio que uma vez a tranquilizou já não tinha o mesmo efeito. Antes que percebesse, seus joelhos cederam, e ela caiu no chão com o peso das palavras de Alaric. A consciência lentamente foi se esvaindo, deixando Evangeline se perguntar se havia mesmo um escape para todo esse enredo trágico.