Capítulo 7 7

Drago

Estaciono minha motocicleta a algumas vagas de distância do carro branco que venho seguindo há uma hora e observo o motorista abrir a porta traseira. Sienna DeVille sai, com um sorriso largo e a roupa mais bizarra que já vi. A princípio, eu me pergunto se ela saiu de pijama, porque é assim que esse conjunto de calça e blusa se parece. É branco, com manchas pretas por toda parte, fazendo com que pareça que ela vestiu um couro de vaca. Seus saltos são laranjas como o casaco, e ela tem um grande laço laranja no topo da cabeça, preso em um rabo de cavalo alto. Ela diz algo ao motorista e entra em uma livraria que fica de frente para a rua. Espero por alguns instantes, tiro meu capacete e a sigo.

A livraria é enorme, com várias mesas grandes carregadas de livros

empilhados na frente e estantes de parede inteira nos fundos. Não preciso procurar muito para encontrar minha futura esposa, pois é impossível não notá-la com essa roupa. Ela está parada em uma das prateleiras, segurando um livro grosso nas mãos. Olho para a grande placa suspensa no teto, esperando que ela diga beleza ou moda. Não diz. Parece que ela está navegando na seção de negócios.

Uma vendedora da loja se aproxima dela, uma mulher mais velha com

um rosto amargo. Sienna sorri e se inclina para a frente para sussurrar algo em seu ouvido. A atendente sombria arregala os olhos e depois começa a rir. Elas passam alguns minutos discutindo algo e, quando a vendedora retorna ao balcão, ela está com um sorriso brilhante no rosto. Minha futura esposa verifica mais alguns livros da seção antes de dar uma volta pela loja. Eu me escondo entre os mostruários de livros sobre política e continuo a observá-la.

Uma adolescente está agachada na prateleira de títulos de romance

quando Sienna se aproxima dela e se inclina, dizendo algo. A garota dá de ombros e balança a cabeça. Sienna se senta no chão, com as pernas cruzadas, e começa a tirar os livros da prateleira um a um e a passá-los para a adolescente. Toda vez que tira um novo livro de bolso, ela se inclina em direção à garota e faz comentários enquanto estende o livro. Com a mão cobrindo a boca, a garota dá uma risadinha.

Eu me escondo atrás da estante do outro lado delas, e agora tenho uma visão direta do rosto de Sienna através do vazio sobre os livros mais curtos alinhados em uma fileira, permitindo que eu me concentre em seus lábios sem ser visto.

- ...meu favorito. Ele é um CEO mal-humorado, e ela é sua secretária, que é apaixonada por ele desde que eram crianças. - Sienna sorri e pega o próximo livro. - Ah, e esse aqui é muito bom. Ela é modelo e tem um psicopata a importunando. Então, seu pai contrata um guarda-costas que é um SEAL aposentado, mas o cara não a suporta. É um tema de diferença de idade , com um cara tenperamental e taciturno e uma garota risonha e otimista. Você vai adorar.

Passei quase uma hora seguindo minha futura esposa pela loja, observando como ela conversava com pessoas aleatórias como se as conhecesse há anos. Algumas não parecem interessadas no início, mas, mais cedo ou mais tarde, todas acabam sendo puxadas para uma conversa com ela. Quando saem, os sorrisos iluminam seus rostos. É como se ela os tivesse enfeitiçado. E parece que também estou caindo em seu feitiço, porque esqueci o encontro que tenho com o irmão dela hoje.

Dou meia-volta e saio da livraria, deixando minha futura esposa espalhar

a felicidade obviamente contagiante ao seu redor.

* * *

- Não haverá recepção de casamento, Arturo, - eu digo. - Vamos

assinar os papéis na prefeitura e pronto.

O irmão de Sienna me encara do outro lado da minha mesa, com o maxilar cerrado. Arturo e eu tínhamos um relacionamento comercial bastante agradável antes de toda a confusão com Pisano.

- Por quê? - pergunta ele entre dentes.

- A cerimônia de casamento civil será realizada no sábado. Não há

tempo suficiente para organizar mais nada.

- Por quê tão cedo?

- Porque eu digo.

Ele me encara. - Quem diabos você pensa que é?

- Alguém que concordou em trabalhar com você novamente, apesar de Rocco Pisano ter matado um dos meus homens.

- Você enviou seus motociclistas para invadir a festa de Natello. Havia civis lá! Só Deus sabe como nenhum deles acabou morto.

- Não há civis em nosso negócio, Arturo. Temos pessoas mortas em ambos os lados, mas a Cosa Nostra começou essa merda. Se quiser uma trégua, será nos meus termos.

Arturo me olha fixamente, com as narinas dilatadas. Posso ver que seu controle está se perdendo enquanto o fogo arde em seus olhos. Um batimento cardíaco. Um estalo invisível, e ele bate com a palma da mão no tampo da mesa. - Tudo bem. - Ele se vira e sai do meu escritório.

Tiro meu telefone da mesa e envio uma mensagem para Filip, dizendo

que a data do casamento foi confirmada e que estamos prontos.

Minha insistência em realizar o casamento no sábado não tem nada a ver com o fim da disputa entre nós e a Cosa Nostra. Mas o momento é perfeito e, se formos em frente com a trégua, quero que ela entre em vigor antes que nossa primeira entrega de armas cruze a fronteira no domingo.

Com alguma sorte, os romenos levarão pelo menos uma semana, talvez

mais, para perceber o que está acontecendo. Nesse meio tempo, não estou disposto a arriscar que alguém fale. Assim que Bogdan descobrir que estou planejando tomar o mercado dele, os romenos atacarão. Nós revidaremos. Em menos de um mês, teremos uma guerra total. E eu preciso que a Cosa Nostra não se meta nisso.

Mas o mais importante é que quero ter em minha posse, o mais rápido

possível, o pequeno tesouro que é a irmã de Arturo.