/0/14147/coverbig.jpg?v=b8543ebb3998b79b2b030c08a09c326f)
Capítulo 1
Quinze anos atrás
(Massimo, 20 anos)
- Todos de pé.
Ajusto o paletó do meu terno e me levanto lentamente do assento dos réus. Os punhos da minha camisa estão muito apertados, irritando a pele já irritada dos meus pulsos. Os filhos da puta que me escoltaram da cadeia do condado até ao tribunal fizeram questão de colocar em mim as menores algemas que puderam.
O juiz Collins entra de mansinho. Sua massa de cabelos e barba brancos
contrasta com seu traje preto. Tento chamar sua atenção, mas seu olhar se desvia persistentemente para outro lugar, quase como se fosse intencional. Acho que ele está tentando fazer com que ninguém suspeite que nos conhecemos. É hilário, considerando a quantidade de favores que ele recebeu da Cosa Nostra ao longo das décadas. Ele - junto com quase metade das elites de Boston, burocratas e os principais líderes da lei e da ordem - estava presente na festa de Ano Novo em que tudo foi por água abaixo.
Respiro fundo, aguardando a sentença. Após minha acusação e audiência pré-julgamento, e seguindo o conselho do meu advogado, aceitei um acordo. Uma confissão de culpa em uma acusação de homicídio culposo voluntário em troca de uma sentença prevista de três anos. Talvez quatro, se o juiz não quiser parecer que está pegando leve comigo. Com trezentas testemunhas, não há nenhuma maneira de negar que atirei no bastardo que matou o meu meio-irmão. Portanto, renunciei ao meu direito a um julgamento e evitei perder um monte de tempo e dinheiro nessa confusão, sem mencionar uma possível sentença máxima. Dessa forma, com a possibilidade de liberdade condicional em cerca de um ano, devo estar em casa em pouco tempo. Não é um mau negócio - um punhado de anos da minha vida por acabar com o maldito que matou Elmo. Saber que consegui acabar com aquele pedaço de merda naquele momento também é muito gratificante.
- Massimo Spada, você se declarou culpado da acusação de homicídio voluntário, conforme definido pelo estatuto e regido pelas Leis Gerais de Massachusetts, Capítulo 265, Seção 13. - A voz do juiz enche a sala, e seus olhos finalmente encontram os meus. - A justiça é cega, Sr. Spada. Todos os homens são iguais perante a lei. Dada a gravidade de suas ações e sua óbvia falta de arrependimento durante a audiência, eu o condeno a dezoito anos em uma prisão estadual de segurança máxima...
Um som agudo, como a estática de uma TV antiga, irrompe na minha cabeça. Ele se sobrepõe ao murmúrio alto que subitamente tomou conta da sala de audiências.
Dezoito anos? Dezoito anos, porra? Não, isso não pode estar certo. McBride me garantiu que quatro anos era o máximo que eu pegaria, considerando a ligação do juiz com a Família. Isso tem que ser um engano. Não há outra explicação. Viro-me para o juiz Collins. Olho fixamente para ele. Esperando que ele anuncie que cometeu um erro, enquanto o zumbido ecoa nas paredes internas do meu crânio. Ele não diz mais nada.
Alguém agarra meus braços, puxando-os para trás. Consigo ouvir vagamente o meu advogado falando comigo sobre uma apelação. De alguma forma, em meio ao tumulto que acontece dentro do meu cérebro atordoado e sem foco, ainda consigo ouvir o barulho das algemas se fechando nos meus pulsos. Isso não pode estar acontecendo. Deus sabe que não sou inocente nesse ou em qualquer outro crime que cometi, mas ele não tem o direito de arruinar minha vida dessa maneira! É um maldito pesadelo, e preciso que alguém me dê um soco na cara para que eu possa acordar!
Cravo os calcanhares no chão, ainda olhando para o juiz, que está
descendo os degraus depois de deixar seu assento.
Não. Não terei os próximos dezoito anos da minha vida roubados.
- Collins! - Meu rugido explode sobre o clamor de vozes abafadas.
O desgraçado nem sequer pisca. Apenas continua me ignorando completamente.
McBride está balbuciando alguma besteira de advogado para mim
novamente, seu tom é quase histérico. Algo sobre como eu estou piorando as coisas, mas as palavras apenas passam de raspão pela minha mente, presas no zumbido que está ficando cada vez mais forte na minha cabeça. Mãos, vários pares, agarram meus braços e me empurram em direção à porta na lateral da sala de audiências. Continuo olhando por cima do ombro, procurando o juiz Collins. Esperando que ele ponha um fim a essa loucura. Olhando para trás, a cada dois passos, mesmo quando estou sendo conduzido pelo corredor estreito em direção à cela onde vesti meu terno recém passado há menos de vinte minutos. Minhas pernas parecem estar se movendo apenas com a memória muscular.
- Dois minutos, Spada. - Um dos guardas pega meus pulsos algemados.
- Seu transporte está esperando.
- Dois minutos para quê?
- Para você mudar de roupa. - Ele me empurra para dentro da cela e
acena com a cabeça para o canto mais distante.
O ácido sobe pela minha garganta, queimando minha carne, enquanto sigo
seu olhar até o banco frágil.
Lá, em cima das tábuas de madeira cobertas de tinta rachada e descascada, há uma pilha de roupas bem dobradas.
Negação. Raiva cega. Desamparo. O caos de diferentes emoções me
atinge, todas elas me inundam ao mesmo tempo e, de repente, não consigo respirar. Não consigo me mexer. Não consigo pensar. A única coisa que consigo fazer é olhar para a pilha de roupas laranja brilhante naquele banco, queimando minhas malditas córneas.