Capítulo 5 A Construção de Um Para Sempre

João e Maria sentaram-se em um dos bancos da praça, sob uma árvore que balançava suavemente ao vento.

O reencontro era tão surreal que, por um momento, ambos apenas ficaram em silêncio, ouvindo seus próprios corações baterem.

- Você mudou - disse João, finalmente, olhando-a com ternura.

Maria sorriu, um sorriso que falava de saudade e de maturidade.

- Você também. - Ela tocou sua mão. - Mas seu olhar ainda é o mesmo.

As palavras simples carregavam anos de distância, dor, saudade e esperança.

Ali, sob o céu da primavera, eles sabiam: aquele era apenas o começo de algo novo - e desta vez, mais forte.

Nos dias seguintes, Maria e João redescobriram um ao outro.

Saíam para caminhar pelas ruas da cidade, revisitavam antigos cafés e novos lugares que surgiram enquanto ela esteve fora.

Falavam sobre tudo: os livros que leram, os sonhos que cultivaram, as feridas que curaram.

Cada conversa era um tijolo colocado com cuidado na reconstrução de sua história.

Não era fácil.

Havia medos, inseguranças, e perguntas silenciosas que pairavam no ar.

- E se não der certo de novo?

- E se o tempo tiver mudado tudo demais?

Mas o amor verdadeiro não é ausência de medo. É a coragem de enfrentá-los juntos.

Numa noite fria de sexta-feira, João levou Maria até a cafeteria.

O local estava diferente - agora mais colorido, com quadros nas paredes e uma pequena estante de livros doados pelos clientes.

- Abri espaço para autores locais - explicou João, sorrindo nervosamente.

Maria percorreu a estante com os dedos.

Parou em um livro familiar.

Era o dela.

Ele havia comprado uma cópia, mas não apenas para si - havia deixado disponível para qualquer visitante ler.

As lágrimas encheram os olhos de Maria.

- Você sempre acreditou em mim - sussurrou.

João a puxou para um abraço.

- E sempre vou acreditar.

Algumas semanas depois, sentados à beira do lago onde tinham passado tantos domingos juntos anos atrás, João tomou coragem.

Puxou do bolso uma caixinha simples de veludo azul.

O coração dele batia tão forte que parecia ecoar no silêncio da noite.

Maria olhou surpresa.

- João...?

Ele se ajoelhou.

- Maria, eu não quero apenas reatar o que tivemos. Eu quero construir o que sempre sonhamos.

Eu quero enfrentar medos, celebrar vitórias, envelhecer rindo ao seu lado.

Quer casar comigo?

As lágrimas de Maria já caíam antes mesmo dela conseguir falar.

- Sim! - disse, a voz embargada, o sorriso iluminando o rosto.

Ele deslizou o anel em seu dedo - não era nada extravagante, mas era perfeito, como tudo que era verdadeiro entre eles.

Naquele momento, sob o céu salpicado de estrelas, eles selaram um novo capítulo de sua história - não um conto de fadas, mas uma escolha diária de amor.

A organização do casamento foi simples, íntima e cheia de significado.

Quiseram casar sob uma grande árvore no parque central, com poucos convidados - apenas os mais importantes.

Clara ajudava com os convites. A avó de Maria costurava o vestido, cheio de detalhes em renda que ela mesma bordava à mão.

Cada escolha refletia quem eles eram: sinceros, intensos, conectados àquilo que realmente importava.

E, no meio dos preparativos, João e Maria enfrentaram seus primeiros testes como noivos:

- As diferenças de gosto.

- A dificuldade de decidir onde morar.

- As pequenas frustrações do dia a dia.

Mas cada desafio era resolvido com conversas, risos, paciência.

Porque, agora, ambos sabiam: o amor não elimina as dificuldades. Ele apenas torna a luta mais leve.

No grande dia, o céu parecia abençoá-los.

Era fim de tarde, e a luz dourada filtrava-se pelas folhas da árvore onde João a esperava.

Maria caminhou até ele, descalça, com o vestido de renda fluindo ao vento.

Quando seus olhos se encontraram, o tempo parou novamente.

O padre - um amigo da família - não precisou dizer muito.

As promessas que eles trocaram foram simples, sinceras:

- "Prometo escolher você, todos os dias."

- "Prometo construir o nosso lar, mesmo nas tempestades."

- "Prometo amar até que as estrelas deixem de brilhar."

E, sob aplausos e lágrimas, João e Maria se tornaram oficialmente marido e mulher.

A vida a dois foi tudo menos perfeita.

Houve discussões sobre quem lavaria a louça.

Houve noites de silêncio, onde palavras feriram sem intenção.

Houve domingos preguiçosos em que apenas se abraçavam no sofá, deixando o mundo lá fora.

Mas o amor deles era feito de escolha diária.

De pedir desculpas primeiro.

De surpreender o outro com pequenos gestos.

De respeitar espaços e, acima de tudo, de nunca deixar de sonhar juntos.

João expandiu a cafeteria - agora com uma pequena livraria.

Maria publicou mais livros - alguns baseados na história deles, outros completamente novos.

E, no meio de tudo isso, nunca deixaram de voltar ao lago aos domingos, sentados lado a lado, rindo dos velhos medos.

Um ano depois, em um dia de outono, Maria caminhou até João, segurando um pequeno teste de gravidez nas mãos.

O mundo girou.

Eles riram, choraram, se abraçaram.

E souberam: mais uma aventura estava apenas começando.

Sob o mesmo céu onde tudo começou.

E desta vez, com ainda mais amor.

Porque quando duas almas destinadas se encontram, nem o tempo, nem a distância, nem o medo podem separar.

E o amor deles, tão simples e tão profundo, continuaria florescendo, estação após estação.

Para sempre.

                         

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