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João e Maria sentaram-se em um dos bancos da praça, sob uma árvore que balançava suavemente ao vento.
O reencontro era tão surreal que, por um momento, ambos apenas ficaram em silêncio, ouvindo seus próprios corações baterem.
- Você mudou - disse João, finalmente, olhando-a com ternura.
Maria sorriu, um sorriso que falava de saudade e de maturidade.
- Você também. - Ela tocou sua mão. - Mas seu olhar ainda é o mesmo.
As palavras simples carregavam anos de distância, dor, saudade e esperança.
Ali, sob o céu da primavera, eles sabiam: aquele era apenas o começo de algo novo - e desta vez, mais forte.
Nos dias seguintes, Maria e João redescobriram um ao outro.
Saíam para caminhar pelas ruas da cidade, revisitavam antigos cafés e novos lugares que surgiram enquanto ela esteve fora.
Falavam sobre tudo: os livros que leram, os sonhos que cultivaram, as feridas que curaram.
Cada conversa era um tijolo colocado com cuidado na reconstrução de sua história.
Não era fácil.
Havia medos, inseguranças, e perguntas silenciosas que pairavam no ar.
- E se não der certo de novo?
- E se o tempo tiver mudado tudo demais?
Mas o amor verdadeiro não é ausência de medo. É a coragem de enfrentá-los juntos.
Numa noite fria de sexta-feira, João levou Maria até a cafeteria.
O local estava diferente - agora mais colorido, com quadros nas paredes e uma pequena estante de livros doados pelos clientes.
- Abri espaço para autores locais - explicou João, sorrindo nervosamente.
Maria percorreu a estante com os dedos.
Parou em um livro familiar.
Era o dela.
Ele havia comprado uma cópia, mas não apenas para si - havia deixado disponível para qualquer visitante ler.
As lágrimas encheram os olhos de Maria.
- Você sempre acreditou em mim - sussurrou.
João a puxou para um abraço.
- E sempre vou acreditar.
Algumas semanas depois, sentados à beira do lago onde tinham passado tantos domingos juntos anos atrás, João tomou coragem.
Puxou do bolso uma caixinha simples de veludo azul.
O coração dele batia tão forte que parecia ecoar no silêncio da noite.
Maria olhou surpresa.
- João...?
Ele se ajoelhou.
- Maria, eu não quero apenas reatar o que tivemos. Eu quero construir o que sempre sonhamos.
Eu quero enfrentar medos, celebrar vitórias, envelhecer rindo ao seu lado.
Quer casar comigo?
As lágrimas de Maria já caíam antes mesmo dela conseguir falar.
- Sim! - disse, a voz embargada, o sorriso iluminando o rosto.
Ele deslizou o anel em seu dedo - não era nada extravagante, mas era perfeito, como tudo que era verdadeiro entre eles.
Naquele momento, sob o céu salpicado de estrelas, eles selaram um novo capítulo de sua história - não um conto de fadas, mas uma escolha diária de amor.
A organização do casamento foi simples, íntima e cheia de significado.
Quiseram casar sob uma grande árvore no parque central, com poucos convidados - apenas os mais importantes.
Clara ajudava com os convites. A avó de Maria costurava o vestido, cheio de detalhes em renda que ela mesma bordava à mão.
Cada escolha refletia quem eles eram: sinceros, intensos, conectados àquilo que realmente importava.
E, no meio dos preparativos, João e Maria enfrentaram seus primeiros testes como noivos:
- As diferenças de gosto.
- A dificuldade de decidir onde morar.
- As pequenas frustrações do dia a dia.
Mas cada desafio era resolvido com conversas, risos, paciência.
Porque, agora, ambos sabiam: o amor não elimina as dificuldades. Ele apenas torna a luta mais leve.
No grande dia, o céu parecia abençoá-los.
Era fim de tarde, e a luz dourada filtrava-se pelas folhas da árvore onde João a esperava.
Maria caminhou até ele, descalça, com o vestido de renda fluindo ao vento.
Quando seus olhos se encontraram, o tempo parou novamente.
O padre - um amigo da família - não precisou dizer muito.
As promessas que eles trocaram foram simples, sinceras:
- "Prometo escolher você, todos os dias."
- "Prometo construir o nosso lar, mesmo nas tempestades."
- "Prometo amar até que as estrelas deixem de brilhar."
E, sob aplausos e lágrimas, João e Maria se tornaram oficialmente marido e mulher.
A vida a dois foi tudo menos perfeita.
Houve discussões sobre quem lavaria a louça.
Houve noites de silêncio, onde palavras feriram sem intenção.
Houve domingos preguiçosos em que apenas se abraçavam no sofá, deixando o mundo lá fora.
Mas o amor deles era feito de escolha diária.
De pedir desculpas primeiro.
De surpreender o outro com pequenos gestos.
De respeitar espaços e, acima de tudo, de nunca deixar de sonhar juntos.
João expandiu a cafeteria - agora com uma pequena livraria.
Maria publicou mais livros - alguns baseados na história deles, outros completamente novos.
E, no meio de tudo isso, nunca deixaram de voltar ao lago aos domingos, sentados lado a lado, rindo dos velhos medos.
Um ano depois, em um dia de outono, Maria caminhou até João, segurando um pequeno teste de gravidez nas mãos.
O mundo girou.
Eles riram, choraram, se abraçaram.
E souberam: mais uma aventura estava apenas começando.
Sob o mesmo céu onde tudo começou.
E desta vez, com ainda mais amor.
Porque quando duas almas destinadas se encontram, nem o tempo, nem a distância, nem o medo podem separar.
E o amor deles, tão simples e tão profundo, continuaria florescendo, estação após estação.
Para sempre.