Capítulo 2 Segredos na Névoa

Sophie acordou cedo no dia seguinte, ainda com a sensação estranha do sonho. Algo estava diferente. Como se o mundo tivesse ganhado uma nova camada de significado. Quando ela se olhou no espelho, não foi mais só a imagem de uma garota tentando se ajustar a uma cidade estranha. Havia algo mais ali, algo que ela não podia explicar.

O dia na escola passou devagar, mas a sensação de que algo estava prestes a acontecer a perseguia. Na hora do almoço, Sophie encontrou Ivy na praça central, sentada em um banco, como se estivesse esperando por ela. A bruxa estava com um sorriso travesso, como se soubesse de um segredo - e Sophie não tinha dúvidas de que sabia.

"Você tem jeito de quem está cheia de perguntas. Vem cá, vou te mostrar algo", disse Ivy, puxando-a pela mão com um brilho misterioso nos olhos.

Sophie hesitou por um momento, mas seguiu a amiga. Elas se afastaram da escola e caminharam até o fim de uma rua estreita, onde as casas eram mais distantes e as árvores mais densas. A neblina parecia mais espessa ali, como se a cidade estivesse tentando esconder algo.

"Aqui é onde as coisas ficam interessantes", Ivy disse com um sorriso de canto. "Essa é a linha que separa o mundo dos humanos e o nosso. Se você olhar de perto, vai ver a diferença."

Sophie olhou ao redor, mas não viu nada de especial. Apenas mais árvores e mais névoa. "Eu não estou vendo nada."

Ivy se aproximou de uma árvore antiga, com uma casca de aparência gasta. Ela tocou a árvore, murmurou algo incompreensível, e, antes que Sophie pudesse perguntar o que estava acontecendo, a árvore começou a brilhar suavemente. Sophie deu um passo para trás, surpresa.

"Essa árvore faz parte do círculo da magia. Ela é... como uma chave. Quando você souber mais, vai entender como tudo se conecta."

"Você... você é uma bruxa de verdade", Sophie murmurou, mais uma vez tentando processar a ideia de que sua melhor amiga não era uma garota comum.

"Sim, e você também tem algo. Não sei o quê, mas há uma energia em você que é... diferente. Talvez seja por isso que você está aqui."

Sophie queria perguntar mais, mas uma sensação estranha a interrompeu. Como se alguém estivesse observando.

Ela olhou para o lado, seus olhos encontrando os de um garoto que estava deitado em uma cerca à distância. Cael. Seu sorriso era fácil, mas os olhos dourados estavam fixos nela, intensos e inquisitivos.

"Ele é o Cael. Um dos lobos. O mais... complicado", Ivy disse com um tom irônico, notando sua atenção. "Ele é todo músculos e intenções boas, mas tem um temperamento selvagem."

"E o que ele está fazendo aqui?", Sophie perguntou, tentando disfarçar o nervosismo.

"Procurando por alguém, provavelmente. Sempre está."

Sophie deu de ombros, tentando não parecer desconfortável, mas, antes que pudesse dar mais atenção, algo mais chamou sua atenção. Um movimento entre as sombras da floresta ao fundo. Alguém mais estava ali. Ela não conseguiu ver direito, mas os olhos brilhando na escuridão eram inconfundíveis.

"Ivy, quem é... aquele?" Sophie perguntou, com um arrepio percorrendo sua espinha.

"Dorian", Ivy respondeu, sem muito entusiasmo. "O vampiro da cidade. Sempre por aqui, mas sempre sumindo quando alguém se aproxima demais."

O vampiro estava lá, em pé à distância, observando-as com seus olhos penetrantes. Ele não sorriu. Não se moveu. Só as observava. Como se estivesse esperando que Sophie fizesse o primeiro movimento.

"Ele não fala muito, mas eu diria que está muito mais interessado em você do que em qualquer outra pessoa por aqui", Ivy disse, com uma leveza que disfarçava a tensão.

Sophie sentiu um calafrio, mas ao mesmo tempo, algo em seu peito pulsava com uma curiosidade incontrolável. Quem era aquele vampiro? Por que ele parecia tão familiar?

"Ele... ele me olha de um jeito estranho", Sophie admitiu, tentando entender a sensação que ela mesma não conseguia descrever.

"É assim com ele. Ele gosta de observar, mas não gosta de se envolver." Ivy deu uma risada curta. "Dorian e Cael têm... uma história complicada. São quase opostos, mas com o mesmo objetivo: manter o equilíbrio. Ou destruir, dependendo do dia."

"Eles... se conhecem?"

"Conhecem. Mas não é algo que você quer saber em detalhes. Eu sugeriria que ficasse longe dos dois até entender um pouco mais sobre o que está acontecendo aqui."

Sophie não conseguia afastar o olhar de Dorian, que continuava ali, parado na escuridão, como uma sombra esperando para se mover.

"Mas... se eu ficar longe deles, vou entender o quê? O que está acontecendo aqui?", ela perguntou, mais para si mesma do que para Ivy.

Ivy hesitou por um momento, antes de responder com um olhar sério.

"Que sua vida acabou de se tornar bem mais complicada do que você imagina."