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O vento cortava a pele de Sophie enquanto ela caminhava de volta para casa. As palavras de Cael e Dorian ecoavam como um feitiço preso em sua mente. Tudo parecia pesado - como se o ar ao redor tivesse se tornado mais denso desde que ela pisou em Vale Noturno.
Ela estava no centro de algo antigo, profundo... e perigoso.
Mas havia uma coisa que a mantinha firme: Ivy.
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Naquela noite, as duas se encontraram no chalé da bruxa. O ambiente, como sempre, estava envolto em aromas de ervas e velas acesas. Ivy a esperava com dois copos de chá de jasmim e um olhar de quem sabia que Sophie precisava mais de acolhimento do que respostas.
"Você viu os dois hoje, né?", disse Ivy, sem rodeios.
Sophie assentiu em silêncio.
Ivy sentou ao lado dela no sofá surrado da sala. "Eles têm esse efeito nas pessoas. Cael com sua intensidade, Dorian com aquele ar melancólico irresistível."
"Eu não sei o que sentir", confessou Sophie. "Com Cael, eu me sinto segura. Com Dorian... é como se ele me puxasse para algo mais sombrio, mas... eu não consigo resistir."
Ivy sorriu suavemente, como se entendesse mais do que dizia. "É como escolher entre a luz e a sombra. Mas, às vezes, a gente precisa das duas pra enxergar o que está no meio."
Sophie olhou para ela, surpresa com a profundidade da frase.
"E você?", perguntou. "Você nunca se envolveu com ninguém desse... outro mundo?"
Ivy bufou uma risada. "Ah, já me encantei por um vampiro uma vez. Foi intenso. Poético. E desastroso." Ela olhou para a chama de uma vela. "Aprendi que, quando lidamos com seres imortais, as cicatrizes também duram pra sempre."
Sophie riu, mas logo o riso se dissolveu em silêncio. Um silêncio confortável, como só existe entre pessoas que confiam de verdade uma na outra.
Ali, naquela sala com cheiros de magia e memórias, Sophie sentiu algo se fortalecer dentro de si. Não era apenas medo ou confusão. Era como se, ao lado de Ivy, ela pudesse encontrar equilíbrio. Como se Ivy fosse sua âncora.
"Obrigada", disse Sophie em voz baixa. "Por não me deixar sozinha nisso."
"Você nunca vai estar sozinha, Sophie. Eu prometo."
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Mas a paz não duraria.
Mais tarde, enquanto caminhava de volta para casa, Sophie sentiu novamente a presença de alguém - e não era Cael. Dorian estava à sua espera na esquina, como uma sombra projetada pela lua.
"Você não deveria andar sozinha por aqui", disse ele, a voz baixa como um feitiço.
"E você não deveria seguir pessoas sem serem convidado", retrucou Sophie, com o coração acelerado.
"Eu não sigo. Eu observo." Ele se aproximou lentamente. "Você está no centro de tudo, Sophie. E precisa entender que nem sempre o que parece seguro é o certo... e o que parece escuro é o errado."
"E você é qual deles?", ela desafiou, sem desviar os olhos dos dele.
Dorian sorriu, mas sem alegria. "Eu sou o que vai te mostrar a verdade. Mesmo que ela te assuste."
Antes que ela pudesse responder, ele se afastou - desaparecendo entre as sombras como se nunca tivesse estado ali. E Sophie ficou sozinha na noite, com a impressão de que seu coração havia dividido em dois.
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De volta ao quarto, ela se jogou na cama, o rosto enterrado no travesseiro. As emoções se misturavam: medo, desejo, dúvida, esperança. E por trás de tudo isso... a certeza de que o tempo dela como uma simples garota tinha acabado.
Ela não sabia ainda se escolheria o lobo ou o vampiro.
Mas sabia que havia mais em jogo do que só seu coração.