Capítulo 10 Um norte-americano em Diyat

No dia seguinte, Zeynep levantou-se para tomar café da manhã na varanda. Kerem sentiu-se muito bem ao ser informado disso. Achava que Ayşe era uma boa companhia para sua esposa e decidiu que a partir daquele momento ela estaria exclusivamente a serviço dela.

-Não, me recuso totalmente. Essa garota faz parte do serviço da casa, não está aqui para atender apenas a ela.

-Essa garota foi trazida pelos pais, conversaram comigo e fui eu quem paguei o salário dela. Sinto muito, mãe, mas não estou pedindo sua autorização, estou avisando.

-Por Alá, foi um grande erro trazer essa mulher aqui. Definitivamente, ela te mudou -disse a mulher completamente alterada.

-Não, mãe. Eu percebi que estava sendo injusto com ela. Afinal, tanto ela quanto eu fomos obrigados a nos casar.

-Alá me dê forças para aguentar tudo isso que estou ouvindo.

A mulher se abanava com força, escandalizada com o que acontecia. Seu filho havia ameaçado mandá-la embora de casa e agora dedicava um serviço exclusivo àquela estranha. O que mais ele seria capaz de fazer por ela?

Quando Kerem saiu, a mãe decidiu que era hora de conversar com seu marido. Ele sim, faria Kerem obedecer.

-Preciso falar com você. -Ela raramente o incomodava, pois a saúde dele não era das melhores desde a morte do outro filho.

-O que houve, mulher? Por que está tão nervosa? -Ele achou que algo grave estivesse acontecendo.

-É hora de você saber o que está ocorrendo. Nosso filho me faltou ao respeito, tudo por causa dessa mulher que o enfeitiçou.

-Enfeitiçou? Hahaha! Por Alá, mulher, agora você exagerou -ele riu divertido ao ouvi-la.

-Não ouse zombar de mim, nem tomar o lado dela. Preciso que você o repreenda. Ele vai te escutar, tem grande respeito por você. Vai obedecer.

-Está bem, mulher. Amanhã falarei com nosso filho. Vamos, venha, deite-se aqui ao meu lado e vamos lembrar dos velhos tempos, como quando nos apaixonamos depois de nos casarmos.

O homem sabia que esse era um dos assuntos favoritos da esposa para recordar. Assim conseguiria acalmá-la.

Zeynep, naquele dia, finalmente sentiu vontade de se arrumar. Tinha emagrecido demais. Sabia que jamais conseguiria perdoar Kerem, mas precisava fazer um esforço para tolerá-lo.

Pediu à moça que a acompanhava que o chamasse. Queria ir ver como estava o andamento da construção da escola.

Kerem deixou imediatamente tudo o que fazia para ir até ela. Seu melhor amigo estava com ele no momento em que foi chamado e se surpreendeu com sua reação: um grande sorriso havia aparecido em seu rosto.

-Deixa eu te dizer, amigo, que vejo que estou perdendo você. Você está se apaixonando.

-Nunca repita isso. Jamais vou me apaixonar novamente. O que sinto por Zeynep é um profundo remorso. Me doeu ver o medo em seus olhos. Não quero ser um monstro. Você sabe que lutei contra essas coisas por anos.

Seu amigo sabia exatamente sobre o que ele falava. Já havia ajudado muitas mulheres a fugirem sem que ninguém além de Kerem e Ayşe soubessem.

Kerem apressou-se para chegar em casa. Ao entrar no quarto, viu que Zeynep já o esperava.

Ela parecia muito bonita com aquele vestido longo cor-de-rosa claro, que ia até o tornozelo. Um laço na cintura dava forma ao vestido. Calçava sandálias, e ele gostou de vê-la sem meias, que considerava horríveis. Na verdade, pessoalmente, não gostava de ver as mulheres obrigadas a usá-las.

Tentou pegar a mão dela para descer as escadas, mas ela se afastou. Ele entendeu, não pretendia obrigá-la. Às vezes, surpreendia-se com suas próprias reações diante da moça.

Subiram na caminhonete. Ele preferiu sentar ao lado do motorista para não incomodá-la.

Ao chegarem à construção, Zeynep sorriu largamente ao ver o rápido avanço dos dois prédios, um ao lado do outro. Mas seriam separados por um muro para evitar problemas com os pais das meninas.

Sem pensar duas vezes, Kerem tirou o celular e fotografou a garota enquanto ela sorria. Ela nem percebeu que ele fizera isso.

Regresaram pouco tempo depois para casa. A mãe de Kerem viu os dois subindo pelo lado de fora da escada.

Planejava algo para que Kerem a repudiasse. Já não queria tê-la por perto. Nunca gostara dela como nora. Pensara que a tia da moça a tinha educado para ser a esposa do líder do clã, mas se enganara.

Enquanto isso, na rodoviária do povoado, chegou um norte-americano. Era um homem muito atraente. Carregava consigo uma foto de uma jovem e mostrava a todos que encontrava. Um homem reconheceu imediatamente que era a esposa do chefe e o chamou no mesmo instante.

-Chefe, um homem está procurando sua esposa. Anda por todo o povoado mostrando uma foto e perguntando sobre ela.

-Detenham-no, mas não façam nada. Estarei aí imediatamente. -Ele ainda estava ao lado de Zeynep no quarto, mostrando fotos do mobiliário. Saiu dali na mesma hora.

A moça pensou que algo sério estivesse acontecendo para ele sair daquele jeito. Kerem apertou os punhos assim que ficou frente a frente com o norte-americano.

-O que você está procurando? -perguntou, observando o homem à sua frente. Sentiu um aperto no peito. Não pôde evitar. Aquele era o homem que Zeynep amava.

-Olá, estou procurando minha namorada. Ela viajou para este lugar há alguns meses e estou preocupado. Visitei a tia dela, mas ela não sabe o que aconteceu. É ela, a mulher mais linda do mundo. Espero encontrá-la e que nada de mal tenha lhe acontecido. Planejávamos nos casar.

Kerem sentiu um calor percorrer seu corpo ao ver a foto e ouvir as palavras do homem. Zeynep era sua esposa e, de jeito nenhum, permitiria que ela fosse embora com ele ou com qualquer outro.

-Zeynep é minha esposa. Nos casamos -disse simplesmente.

Uma expressão de dor tomou o rosto do homem. Não podia acreditar. Recusava-se a aceitar. Zeynep o amava. Eles iam se casar.

-Não acredito em você. Zeynep me ama. Tenho certeza disso. Quero vê-la. É certo que estão mantendo-a aqui à força. Meu coração diz que deve ser isso. Ela jamais me abandonaria.

-Será melhor que você vá embora. Não é seguro andar por aqui. Este é um povoado estranho. As pessoas desconfiam de estrangeiros. Alguma coisa pode acontecer a você. Aqui não costumam ser muito amigáveis.

Soava como uma ameaça, mas era a pura verdade.

-Você está me ameaçando?

-Apenas dei um bom conselho.

-Quero vê-la. Tenho direito. Que ela me diga pessoalmente por que fez isso.

Kerem sorriu com malícia. Um plano cruel passou por sua mente.

-Está bem. Venha comigo.

O norte-americano subiu com ele na caminhonete. O pobre homem sentia o coração bater acelerado.

Ao chegarem, Kerem pediu que chamassem Zeynep imediatamente. Quando ela desceu, ficou extremamente surpresa. Seu coração acelerou. O que seu namorado fazia ali? Precisava que ele fosse embora logo, tinha certeza de que sua vida corria perigo.

-O que você está fazendo aqui? -perguntou tentando esconder o que sentia. Desejava abraçá-lo.

-Meu amor, finalmente consegui encontrá-la. -Ele tentou se aproximar, mas Kerem o impediu. Nunca permitiria que aquele homem tocasse nela.

-Por favor, vá embora. Já me casei. Não tem mais sentido. Se não me procurei, não precisa me procurar agora.

-Isso é sério? -Ele não podia acreditar. Todos os seus sonhos estavam desmoronando.

-Nunca falei tão sério. Vá embora.

-Não posso acreditar. Que tipo de pessoa você virou? Pelo menos poderia ter ligado. Depois de tantos anos juntos, de todos os nossos planos... você me decepcionou.

Zeynep sentia o coração partido em mil pedaços. Segurava o choro com todas as forças. Virou-se e, sem dizer mais nada, subiu para o quarto. O norte-americano estava desesperado.

-Você a ouviu. Agora vá embora. E azar o seu se eu souber que ainda está em Diyat.

Kerem sabia que Zeynep estava sofrendo. Quando entrou no quarto, ela chorava descontroladamente.

-Por que você o trouxe? Para nos vermos sofrer? Você é um maldito monstro. Eu te odeio.

Esqueceu-se de que ele havia alertado o que aconteceria se ousasse bater nele novamente. Aproximou-se e começou a socar seu peito com força, até se cansar. Ele permaneceu impassível, deixando que ela extravasasse todo o ódio que sentia por ele naquele momento.

Quando a moça caiu na cama, exausta, Kerem saiu do quarto. Pediu a Ayşe que levasse um chá quente para que Zeynep se acalmasse e que ficasse com ela. Depois, saiu para garantir que o norte-americano deixasse o povoado.

Sua mãe testemunhou tudo. Assim que Kerem subiu atrás de Zeynep, ela saiu de casa para falar com o norte-americano. Disse que o ajudaria a recuperar a moça, que ela havia sido obrigada a se casar. Pediu que se hospedasse em um povoado próximo e também pediu o número de telefone dele.

-Eu entrarei em contato com você. Não posso dar meu número, seria perigoso. E, aconteça o que acontecer, não volte a este povoado ou será um homem morto.

O norte-americano obedeceu cada instrução. Agora sabia que Zeynep o amava e que fora obrigada a se casar com aquele homem. Sorriu ao imaginar que logo voltariam juntos aos Estados Unidos.

            
            

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