Capítulo 7 Melhorando a relação

Ao regressarem, a mãe de Kerem os observou ao notar que entravam juntos e, pela primeira vez, não estavam brigando.

Isso a agradou muito. Já era hora de aquela moça entender que seu filho era quem mandava. O dever dela como esposa era apenas obedecer, sem questionar.

Zeynep cumprimentou rapidamente e depois se dirigiu ao seu quarto. Kerem ficou com sua mãe.

-Vejo que as coisas entre vocês estão indo muito bem, isso é bom. Assim acabarão os problemas, já que os que você tem com os membros da tribo já são suficientes.

Kerem não respondeu. Era muito reservado sobre seus assuntos pessoais e, quanto aos problemas do clã, não podia comentá-los.

Depois do jantar, subiu ao seu quarto. Zeynep havia pedido que levassem o jantar ao quarto e adormecera na cama.

Kerem a cobriu com uma manta e depois deitou ao seu lado. A noite foi muito longa para ele. Sentia o calor do corpo ao seu lado. Virou-se de costas para a moça, resistindo ao desejo de fazer algo de que ela jamais o perdoaria.

Pela manhã, Zeynep acordou muito cedo. Era a primeira vez desde que chegara ali que sentia ter descansado de verdade. Após bocejar, alongou os braços.

Ao virar-se, levou um susto tremendo: Kerem estava deitado ao seu lado, usando apenas roupa íntima, quase nu.

Estava de barriga para cima, então ela pôde ver claramente sua ereção matinal. Gritou e lhe deu uma forte almofadada.

-Que diabos! -Ele acordou assustado.

-Como você ousa deitar ao meu lado quase nu? Cubra-se, não está mostrando essa coisa. -Zeynep cobriu os olhos enquanto apontava para a região entre as pernas de Kerem. Ele, longe de se envergonhar, começou a rir às gargalhadas.

-Hahaha, "coisa"? Por Alá, não diga que não sabe como chamar.

-Você é nojento. -Ela correu para se trancar no banheiro.

Kerem não parava de rir. Não havia motivo para se cobrir, afinal era seu marido. Ao estudar na grande cidade, tornara-se mais moderno do que as outras pessoas do povoado.

Nos casamentos tradicionais, era costume fazer amor sob as cobertas, para que a mulher não se envergonhasse. E, sendo sincero, achava aquilo entediante.

Zeynep saiu do banheiro pouco tempo depois. Estava vestindo um vestido que, embora não fosse justo, era um pouco curto para o gosto dela. Sua mãe teria um ataque. Ele a olhou de cima a baixo. Ficava bonito nela.

As únicas mulheres que usavam roupas assim no povoado eram as turistas que vinham à região para conhecer a cultura local e visitar as antigas construções.

Kerem levantou-se para entrar no banheiro. Ela virou o rosto imediatamente. Aquele homem não tinha vergonha nenhuma.

Ela esperou para descer junto com ele para o café da manhã. Não queria ter que aguentar sozinha sua querida sogra. Quando Kerem saiu, ela escrevia algo.

-Vai ligar para que enviem meus documentos?

-Faço isso mais tarde.

-Seria possível pedir também que me enviem meu computador?

-Sabe que ainda não pode usar meios de comunicação. Não vou arriscar que nos cause algum problema.

-Posso usá-lo sem internet. Só quero para anotar algumas coisas.

-Certo. Pedirei que o enviem, mas antes um técnico vai revisá-lo para remover a placa de rede. Prefiro não correr riscos.

-Tudo bem.

Desceram juntos para o café da manhã. A mãe de Kerem quase teve um ataque ao ver o vestido curto da moça. Para piorar, ela usava sandálias sem meias. Os pés estavam completamente à mostra.

A mulher começou a se abanar no rosto. Kerem sabia exatamente o que viria a seguir.

-Filho, como pode permitir isso? Essa mulher veste-se de forma provocadora. Com isso, está nos desrespeitando.

-Mãe, ela está dentro de casa. Aqui pode usar o que quiser. Se tiver que sair, então deve trocar por algo mais adequado.

"Sair?" Zeynep quase riu ao ouvir aquilo.

Tomaram o café em silêncio. O pai de Kerem não estava em casa. Estava numa reunião na casa do tio dele.

Os anciãos do clã se reuniam ocasionalmente para avaliar o trabalho dos descendentes. Kerem esperava que seu pai estivesse orgulhoso dele.

Esforçava-se para cumprir as leis, mesmo discordando de algumas delas. Esperava poder mudar, aos poucos, as velhas e arraigadas regras, especialmente as referentes às mulheres.

-Filho, espero que hoje você não volte muito tarde. Tenho uma surpresa para você. Tenho certeza de que vai gostar.

-Vou tentar, mãe.

Kerem saiu para suas salas de trabalho. De lá, administrava os assuntos da tribo e também os negócios familiares. Enviavam produtos da região para a sede em Istambul, por isso viajava até lá ocasionalmente.

Zeynep subiu para seu quarto. Era ali que passava os dias. Felizmente era espaçoso e tinha uma ampla e bela varanda, de onde podia assistir ao lindo pôr do sol.

Sentia saudade. Esperava ter chance de recuperar sua liberdade. Lembrava-se de ter lido em algum momento que um marido podia repudiar a esposa.

Naquele caso, ela ficaria livre, embora corresse o risco de ser apedrejada. Se houvesse amizade entre as famílias, outro homem do mesmo clã poderia se casar com ela, ou, com sorte, conseguiria fugir para um país vizinho.

Sabia também que homens podiam matar suas esposas com qualquer pretexto. Era como se, a partir do casamento, se tornassem seus donos.

Lembrou-se de seu namorado nos Estados Unidos. Ele devia estar muito preocupado com ela. Era tão diferente, tão alegre e gentil, sempre se certificando de que ela estivesse bem.

Kerem chegou duas horas antes do horário habitual. Queria agradar sua mãe, embora nem sempre concordasse com ela. Tinha por ela grande carinho e respeito.

Ao entrar na sala, viu que sua mãe estava acompanhada por duas mulheres. Uma mais nova do que a outra.

-Merhaba.

-Merhaba. -Respondeu sua mãe, assim como as outras mulheres.

-Filho, esta é minha amiga Nordum e sua filha Ayşe.

Kerem as cumprimentou educadamente. Não tinha certeza se aquela era a surpresa à qual sua mãe se referira.

-Bem, mãe, deixo você na companhia das suas amigas. Vou me retirar, com licença.

-Filho, não seja mal-educado. Elas vieram tomar chá conosco. Vou buscar.

-Te acompanho para buscar o chá, amiga.

As duas mulheres saíram, deixando Kerem sozinho com a jovem. Naquele momento, entendeu do que se tratava tudo aquilo.

-Minha mãe me contou que estudou em Istambul. É um lugar que espero conhecer um dia.

-É uma cidade muito bonita. Espero que possa visitá-la algum dia.

-Disse também que irá em alguns dias e minha mãe me deu permissão para acompanhá-lo.

Kerem não podia acreditar. Aquela mulher queria que a filha o acompanhasse, evidentemente para que depois ele se casasse com ela. Viajar sozinha com um homem que não fosse o marido ou da família era proibido. Se ele não assumisse a responsabilidade, poderiam até matá-la.

-Sinto muito, mas irá minha esposa comigo, e ela é um pouco ciumenta.

-Mas você é o chefe do clã, é você quem manda. -Não deveria sua mãe querer para segunda esposa uma moça pura e dócil? E ela não parecia sê-lo.

-Exatamente, sou o chefe e decido quem pode me acompanhar.

Kerem estava prestes a se virar quando Zeynep desceu para pegar um pouco de suco. Para ir à cozinha, precisava atravessar a sala. Podia entrar pelo lado de fora, mas a sala era o caminho mais curto dali.

-Minha querida, que bom que você desceu.

Zeynep notou que Kerem estava sentado ao lado da moça. Estranhou que a chamasse assim. Ele levantou-se e segurou sua mão.

-Ela é minha linda esposa, Zeynep. Esta é Ayşe. -Zeynep lembrava que aquele nome era comum por ali. A moça parecia simpática.

-Olá.

-Merhaba. -A jovem a cumprimentou da forma que considerava correta. Zeynep não lhe agradava. Já a vira no dia do casamento e sabia que estava ali por obrigação. Melhor seria se afastar e deixar o cargo de líder para alguém que realmente merecesse.

-Bem, nos despedimos. Não vejo minha esposa o dia todo e estou louco para ficar a sós com ela.

Kerem aproximou-se da esposa e beijou seu pescoço. A outra jovem corou de vergonha. Era algo muito ousado. Kerem sabia disso e por isso fez. Depois disso, despediu-se e foi para seu quarto.

Quando sua mãe e a outra mulher voltaram à sala, encontraram apenas a jovem, visivelmente irritada. Kerem não lhe dera atenção alguma. Sentia-se magoada. Acreditava que, sendo a segunda esposa dele, ela e sua família teriam uma vida garantida.

            
            

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