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Nova cidade. Novo trabalho. Velho fantasma.
Lincon O'Brien caminha em minha direção com passos largos e seguros. Ele é bonito de um jeito que deve funcionar muito bem para as câmeras - alto, sorridente, aquele tipo de charme que parece natural demais para ser inocente.
- Senhor O'Brien, sou Caitlin Jones, sua nova RP. - Estendo a mão, mas ele me puxa para um abraço.
Fico rígida. Odeio isso. Não gosto de contato com desconhecidos, principalmente sem aviso.
- Desculpe. - Ele recua, as bochechas vermelhas. - Cresci no interior, ainda tenho o hábito de abraçar todo mundo.
- Está perdoado. - Mantenho o tom profissional. - Mas vamos nos limitar a apertos de mão... quando necessário.
Ele concorda, desconfortável.
- Se tiver um tempo, gostaria de conversar com você. Serei breve.
- Na verdade, ia encontrar os caras do time. Quer vir? Como sua RP, você vai precisar conhecê-los, e esse é o momento ideal.
Ele me lança um sorriso encantador, que sem dúvida deve baixar muitas calcinhas e arrancar suspiros, mas sou imune a esse tipo de coisa.
- Prefiro conversar agora. Será rápido. - Indico um canto mais reservado da recepção. Ele me segue.
- Primeiro: não sou RP do time inteiro, só sua. Imagino que os outros tenham seus próprios profissionais. - Ele assente. - E não, não vou ajudar seus amigos com dramas de relacionamento, nem tirá-los da cadeia. Há uma cláusula específica no contrato sobre isso. Sugiro que leia com atenção.
Seu sorriso desaparece por um instante. Ponto para mim.
- O que me leva à pergunta: por que me contratou? Sua imagem é impecável. Qualquer iniciante daria conta. Isso significa que o problema real ainda não estourou. E você precisa de alguém que saiba conter uma bomba antes da explosão.
Ele passa a mão pelo cabelo, se inclina levemente e abaixa a voz.
- A lesão do Ty atraiu atenção demais. Fãs, mídia, fofoca. E... uma garota com quem estive esta grávida. Preciso da melhor para lidar com isso. Preciso de você.
- Vamos falar disso com calma, em um lugar reservado. - Ele acena. - Só vim me apresentar antes de ir para o hotel. Cheguei um dia antes do previsto.
- Uau, você está linda para alguém que passou horas em um avião. - Ele sorri e logo tenta corrigir - Digo... com todo respeito. Me deixe levá-la para o hotel, se quiser pode ficar na minha casa até que a sua esteja pronta, não fica longe daqui.
- Obrigada. Mas não vou aceitar. Vou direto para o hotel hoje e amanhã mudo para a casa que sua equipe alugou.
- Ok. Só pensei em facilitar. Posso guardar suas malas. Quer beber algo com a gente?
- Prefiro descansar. E conhecer seus amigos em outro momento.
Ele sorri como quem apronta.
- Está interessada em algum deles? - pergunta com aquela energia de irmão mais velho intrometido. - Suas bochechas estão vermelhas...
- Estão vermelhas de raiva, não de vergonha. E não, não sou fã do time. Nem do esporte.
Antes que ele responda, um grupo se aproxima. Suas risadas são altas. Os "famosos" Rebels.
A cadeira faz um barulho agudo quando ele se levanta em um pulo e abre um sorriso enorme.
- Essa é Caitlin Jones, minha nova RP. Tratem-na bem. - Fico de pé. Sorrio por educação. - Jones, esses são: Ethan o "Bunny", James o "Demon", Sebastian o "Sugar" e Ryan o "Killer", mas como você é uma fã, já conhece nomes e apelidos. - Todos me lançam sorrisos amistosos.
- O prazer é meu. E não, não sou fã do time nem de vocês. Só para deixar claro.
- Garotas bonitas geralmente são fãs. - James sorri, um sorriso que deve ter aprendido com o próprio diabo, não é à toa que é conhecido como Demon. - Quem sabe a gente mude sua opinião?
- Não sou uma garota. Sou uma mulher. E não estou à procura de ídolos - especialmente se forem atletas com excesso de ego.
Eles caem na gargalhada. A maioria acha que estou brincando.
- Tiger, seu desgraçado das pernas finas, deveríamos estar no bar, não aqui! - A voz me paralisa. Não ouvia há anos. Não queria ouvir. Ainda assim, reconheço de imediato. - Que droga estão fazendo parados aí? Mexam suas bundas gordas...
Tyler Abbott para de andar ao me ver. Seu sorriso desaparece.
- Mais um de seus ídolos, Jones, como já sabe, esse é o famigerado Crush. Tyler, essa é a Jones. Minha nova RP. - Lincon apresenta.
- Já faz um tempo, Cat. - Tyler diz meu apelido como se ainda tivesse esse direito. - É uma enorme surpresa saber que vai trabalhar comigo.
- Não vou trabalhar com você, Abbott, estou aqui pelo O'Brien.
- Vocês se conhecem? - Sebastian pergunta, curioso.
- Sim. Desde crianças. Namoramos durante alguns anos. - Tyler responde antes que eu possa cortar, e resisto a vontade de lhe acertar um soco no meio dos olhos.
- Que coincidência! - Ethan se anima. - Tomara que tenham terminado bem.
- Uma enorme coincidência, de fato. - Tyler responde seco.
- Preciso da melhor para lidar com a situação. - Lincon sorri. - E aqui está ela.
- Você é a garota que o traiu? - Ethan pergunta, como se estivesse falando sobre o placar de um jogo.
Sinto o estômago virar. Os anos de terapia, os treinos de respiração, os mantras silenciosos. Tudo ativa de uma vez. Não vou quebrar aqui.
- Isso é irrelevante. E não conheço nenhum de vocês. - Minha voz permanece firme. Sem tremer.
Encaro Lincon.
- Vamos marcar nossa reunião. Agora que você tem meu contato, use-o. Só você. Quando você precisar. Tenham uma ótima noite, senhores.
Agarro minhas malas. Dou as costas e caminho para longe deles.
Não. Não sou fã de vocês.
É a minha cara, ter uma sorte de merda e encontrar Tyler no meu primeiro dia na cidade, é claro que imaginei que o veria, mas sério? Mal desci do avião e aqui está ele!
E claro que a voz atrás de mim insiste.
- Cat! Espera! - Como disse, sorte de merda.
Continuo andando.
- Sei que me ouviu.
Paro. Melhor resolver isso de uma vez.
- Como posso ajudá-lo, Abbott? - meu tom é profissional, ele é um estranho.
Ele para ao meu lado.
- O que está fazendo aqui? - seu tom parece conter uma dose de irritação, como se ele tivesse motivos para estar irritado.
- Trabalhando. O que parece que estou fazendo?
- Você não pode voltar assim. Não depois do que fez. - ele fala rápido e dessa vez sua raiva é nítida. - Fique longe dos meus amigos. - ele fala rápido e dessa vez sua raiva é nítida.
- Engraçado. Eu poderia dizer o mesmo.
- Você me destruiu, Cat. E agora está aqui, no meu time, na minha vida?
- Abbott... até onde eu sei, você é um jogador. Não o dono do time. E posso ficar onde quiser. E vou. Porque não estou aqui por você. Estou aqui por trabalho. Você e seus amigos podem continuar bem longe de mim. - Mantenho meu tom calmo, frio, o rosto em branco.
- Você não pode fazer isso...
- Sente-se e observe.
E eu vou embora. Sem olhar para trás.
Sem outra palavra volto a caminhar, e tudo o que disse é verdade, no que me diz respeito, eles podem ir para o inferno.