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Quando a verdade explode, o silêncio vira arma.
A pior sorte de todas. Já disse isso antes, mas vou repetir.
O motivo? Ao entrar na sala de reuniões dei de cara com cinco homens grandes demais, seguros demais, me encarando como se fossem donos do mundo. E da minha história.
- Vocês precisam sair, minha reunião é com o senhor O'Brien. - Repito pela quinta vez.
- Eles só vão ouvir, prometo. - Lincon sorri, se sentando com aquela confiança de quem está acostumado a ser perdoado antes mesmo de errar.
Ignoro os outros quatro. A sala está gelada demais, o ar-condicionado ligado ao extremo ou talvez seja só a presença deles que me deixa assim. Gélida por fora, fervendo por dentro.
- Tudo bem. - Sento com elegância ensaiada e abro meu notebook. - Li os resumos da situação. Mas quero ouvir de você, O'Brien. A criança é sua?
- É. - Sua resposta vem firme, sem hesitação. - Isso não está em discussão.
Ele desvia os olhos, respira fundo. Há cansaço nos ombros largos, um peso que não combina com a imagem pública que exibe nas redes.
- Eu e a mãe, Kendra, namorávamos há meses. Era um relacionamento discreto. Terminamos recentemente... - Ele hesita. Não precisa dizer que foi ela quem colocou um ponto-final.
- O que pessoas decentes fazem quando não querem mais estar em um relacionamento, sem trapaça ou essas merdas. - James fala alto o suficiente para eu ouvir, os outros concordam.
Olho para o engraçadinho, ele sustenta meu olhar por segundos, posso ser legal quando quero, mas posso ser uma filha da puta com ainda mais facilidade.
A temperatura da sala parece cair alguns graus, então ele desvia os olhos com um sussurro que dessa vez não consigo entender.
- Me desculpe por eles, somos um grupo muito unido, e esses caras são uns babacas quando querem. - Balanço a mão dispensando suas desculpas.
- Continue. - Peço gentilmente.
- E agora ela está grávida. De 4 meses. - Confirmo. - E quer entregar o bebê para adoção.
Um silêncio desconfortável se instala. Um dos amigos faz um barulho com a garganta, contrariado.
- Eu não vou permitir isso. - Lincon aperta os punhos. - Minha filha não vai ser tirada de mim.
- Entendo. - Começo a digitar notas rápidas. - Já tem advogado?
- Ainda não. Só falei com os rapazes... e com você.
Levanto os olhos. Ele está perdido. Aquele tipo de homem que nunca teve que lutar por algo sozinho. Que sempre soube que, com um sorriso certo, abriria qualquer porta.
- Kendra é uma boa pessoa, Caitlin, tentei fazer da maneira fácil, acreditei que no fim ela ia querer a filha.
- Você pode estar certo sobre querer criá-la, mas o processo precisa ser cuidadoso. Discreto. Legal.
Ele assente. Pela primeira vez, parece pequeno na própria cadeira.
Os outros, no entanto, ainda me encaram como se eu fosse um problema a ser resolvido e não a solução que contrataram.
- Isso vai interferir na sua imagem. Em contratos. Na carreira. - Continuo. - Mas há formas de transformar vulnerabilidade em proximidade com o público. E sim, isso pode ser positivo se for feito da maneira certa.
- Você está falando em usar a criança como publicidade? - Ethan se inclina, voz carregada de veneno.
- Em que momento eu disse isso? - Minha voz afunda a sala num gelo seco. - E o que, exatamente, você está fazendo aqui?
- Somos uma equipe. - Ryan responde, ríspido. - A gente se protege.
- Isso aqui é trabalho, não uma reunião de escoteiros. E se vão agir como crianças, podem sair pela mesma porta que entraram.
Ninguém se move. Silêncio. Conto até três, respiro. Minha mão treme ligeiramente ao tocar o mouse. Eu a firmo. Ninguém vai perceber. Não mais.
- Vou chamar a polícia e registrar boletim de assédio se não saírem em dois minutos. - Minha voz é tão fria quanto o ar da sala. Ryan se levanta. Em vez de sair, se aproxima.
Meu coração acelera. Minhas costas retesam. O corpo responde como aprendeu. Posiciono-me para contra-atacar se for preciso. Os treinos de defesa não foram em vão.
Ele para à minha frente.
- Se encostar em mim, vou te machucar. - sussurro, com o olhar afiado como lâmina.
- Encostar em você? - Lincon parece chocado. - Ninguém aqui machucaria você, Cat.
- Ótimo. Então fiquem longe. - Viro-me para Ryan. - O que querem, afinal?
- A verdade. - Ele diz.
- Sobre o quê? - é claro que sei do que está ele está falando, mas não lhes devo explicação, não mesmo.
- Sobre por que traiu o Ty com o melhor amigo dele. - O tapa não veio. Mas as palavras doem como se tivessem acertado o rosto.
Respiro. Uma. Duas vezes.
- Em que universo eu devo explicações para vocês?
- Ele te amava. - Sebastian diz, como se isso justificasse a violência de todas as suposições.
Odeio ser julgada pelo que aconteceu, odiei cada vez que tive que falar sobre isso, minha melhor amiga não sabe a verdade, mas aqui estão esses quatro idiotas gigantes exigindo respostas por algo que não é da conta deles.
Sinto vontade de caçar Tyler e lhe dar um chute nas bolas, como ele pode inventar essas merdas sendo que ele é quem foi embora sem olhar para trás? Sem me deixar explicar.
- Ele te daria a lua, Caitlin. - Ryan está ofegante. - E você...
- Fui estuprada. - Digo, simples. Cruel. Verdade.
O silêncio que segue a minha confissão é frio, vazio, devastador.
- Eu tinha dezessete anos. Foi em uma festa. Nós discutimos e ele saiu. Não lembro como fui parar naquele quarto, só lembro de acordar machucada, com sangue entre as pernas e minha calcinha rasgada jogada no chão. - Um deles solta um xingamento. - Ignorei o sangue e vesti minhas roupas, só precisava sair dali e acreditar que foi um pesadelo, queria que Tyler me dissesse que tudo ficaria bem, que mataríamos o desgraçado, mas sabe o que encontrei no celular quando consegui ligar? Uma mensagem. Me chamando de traidora. Me apagando da vida dele. Então, sete anos de terapia, aulas de defesa pessoal e muitos remédios depois, aqui estamos nós, onde sou chamada de vagabunda e traidora, por ser estuprada.
James afasta o olhar. Ethan fecha os olhos, como se quisesse desaparecer.
- Ele não sabe. - Ryan diz, atordoado.
- Não. Não sabe. Eu não contei. Não consegui. E depois passou tanto tempo... contar já não mudaria nada.
- Mudaria tudo para ele! - James está mais branco que um fantasma.
- Não me importo. E espero que não conte a ninguém, e quando digo ninguém estou incluindo Abbott. - Vejo a troca de olhares - Se essa conversa vazar... qualquer palavra, qualquer ruído... eu acabo com a carreira de cada um aqui dentro.
Todos assentem. E eu continuo.
- Vocês queriam a verdade? Agora lidem com ela. E saiam daqui. - Lincon abre a boca, mas não deixo que fale - Você também, todos, saiam, agora.
A porta se abre. Tyler está parado ali. O olhar dele está fixo em mim, e pela primeira vez em muito tempo, ele não tem nada a dizer.
Acho que agora ele entendeu.