De repente, todo o peso do mundo caiu sobre os ombros frágeis de Katherine.
Os anos que se seguiram quase a quebraram por completo. Ela trabalhava sem cessar, tentando segurar os cacos de uma vida que desmoronava mais a cada dia.
Quando se casou com Julian, por um breve instante acreditou ter encontrado uma tábua de salvação, mas até essa esperança se desfez.
A lembrança puxou algo enterrado profundamente dentro dela e seus olhos se encheram de lágrimas.
Enquanto o céu lá fora mudava de dourado para cinza, sua mãe, Ivy Clarke, se aproximou.
Ivy trabalhava no hospital e vinha cuidando de Austin lá, garantindo que ele permanecesse seguro. "Está ficando tarde. Julian já deve ter saído do trabalho. Você deveria voltar para casa. Não dê motivos para ele se irritar."
Katherine mantinha a voz firme, mas sem agressividade: "Eu não vou voltar. Estou me divorciando dele."
Ivy congelou e perguntou, com a voz incerta: "Foi ele quem pediu isso?"
"Não, fui eu...", Katherine respondeu.
Antes que ela pudesse continuar, Ivy a interrompeu, num tom que misturava desespero e urgência. "Por que você faria uma coisa dessas? Mesmo depois do que aconteceu ontem à noite, ele não tentou te afastar. Katherine, você precisa entender - gente como a gente... não pode esperar ser tratada como igual pelos Nash. O orgulho deles é profundo. Às vezes, as pessoas cometem erros."
Atônita, Katherine olhou para sua mãe e perguntou lentamente: "Quem te contou o que aconteceu?"
Ivy fitou o rosto pálido e exausto da filha. Apesar da dor em seu coração, ela não conseguiu ser direta. "Eu falhei com você. Não consegui te proteger. Mas pense bem, minha filha. Se você se afastar de Julian agora... o que vai ser de mim? De Austin?"
Ivy não respondeu à pergunta, mas Katherine já sabia a resposta.
Só poderia ter sido Eloise por trás do que aconteceu na noite anterior. A mulher sempre era capaz de manipular tudo ao seu redor. Provavelmente ela havia corrido até Ivy com meias-verdades, alimentando-a com palavras envenenadas para manter Katherine submissa.
Afinal, Eloise nunca gostava dela.
Enquanto observava o rosto abatido da mãe, algo dentro de Katherine estalou. Uma amargura silenciosa cresceu em seu peito - tão absurda que, por um segundo, ela quase riu.
A casa onde ela havia apostado tudo nunca era um lar de verdade.
Katherine cerrou os punhos, o corpo inteiro tensionado. Ela balançou a cabeça devagar, com mais tristeza do que desafio.
Ela já havia suportado mais do que qualquer um poderia imaginar. Mas agora, finalmente tinha forças para viver por si mesma. Sem responder, ela se virou para ir embora.
Antes que ela desse mais de dois passos, Ivy segurou seu braço e, com a voz trêmula, insistiu: "Você tem um emprego agora, claro, mas e seu pai? Sem Julian, quem vai ajudar a provar a inocência dele? Vai mesmo ficar parada enquanto ele apodrece vinte e cinco anos na prisão?"
A resposta de Katherine veio baixa e exausta. "Mãe, se Julian realmente quisesse ajudar, não acha que ele já teria feito alguma coisa?"
Era a mais pura verdade. O casamento deles nunca era só sobre amor.
Naquela época, ela não tinha mais ninguém, nenhum outro apoio. Mas, assim que os votos foram trocados, ela soube que ele não a suportava. Ainda assim, ela nunca implorara, nem mendigara por atenção ou ajuda.
Agora que tudo tinha chegado ao fim, ela não reabriria antigas feridas.
Ao ver a firmeza nos olhos da filha, Ivy recuou, enxugou discretamente as lágrimas e sussurrou: "Kathy, a família Nash não é gente com quem se deve bater de frente. Só não faça nenhuma besteira, por favor."
Katherine se aproximou do leito onde Austin dormia, o observando. Depois, se virou e caminhou para fora, sem olhar para trás.
Quando alcançou o saguão do hospital, ela viu uma figura conhecida de pé junto à entrada.
Cayson, o assistente de Julian, se aproximou com sua calma habitual. "O senhor Nash já assinou o acordo de divórcio."
Por um instante, a mente de Katherine ficou em branco. Sem dizer uma palavra, ela ergueu lentamente a mão e aceitou os documentos.
......
À noite, Julian voltou para casa e encontrou uma nova governanta à sua espera.
Katherine havia escolhido bem - uma mulher discreta, experiente e eficiente.
Mas, sem pensar duas vezes, Julian dispensou a nova governanta, que não ficou nem até o fim do dia.
No fundo, ele acreditava que Katherine acabaria voltando e não queria se acostumar com uma estranha ocupando o espaço dela. Ainda assim, os dias que se seguiram foram amargos, pois três anos de rotina não poderiam ser desfeitos do dia para a noite.
Seu humor azedou a atmosfera da casa e da empresa.
Poucos dias depois, Eloise surgiu em seu escritório. Mal ela cruzou a porta e já deu de cara com Julian repreendendo duramente um dos coordenadores.
Ela entrou rapidamente, com um sorriso cuidadoso no rosto. "Julian, você precisa se acalmar. Desse jeito vai acabar se esgotando."
Julian ergueu os olhos, frios como gelo. "O que você está fazendo aqui?"
O brilho nos olhos de Eloise era astuto, quase provocador. "Fiquei sabendo da discussão com Katherine... Não me diga que vocês estão mesmo se divorciando?"
Julian estreitou os olhos, a mandíbula tensa. "Quem te contou isso?"